RELAÇÃO ENTRE O BRUXISMO E O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202501171348


Fernanda Belo da Fonseca Josino1; Thamyris Eric de Carvalho2; Lorena Montenegro Maranhão Silva3; Tiago Wanderley Da Silva Santos4; Melyssa Leite Agnelo Pires5; Renata Kelleen Correia Oliveira6; Quiteria Maria da Silva Lucas7


Resumo: O bruxismo é um hábito oral parafuncional e auto prejudicial de alta prevalência, sobretudo em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os principais desconfortos engendrados pelo bruxismo são cefaléias crônicas, dores nos maxilares, nos dentes e entre outros desconfortos que culminam na menor qualidade de vida dos pacientes acometidos por tal disfunção na articulação temporomandibular (ATM). Assim, esta pesquisa busca identificar maneiras de mitigar as descomodidades orofaciais decorrentes do bruxismo em pessoas com TEA, tendo em vista a redução dos sintomas e o aumento inversamente proporcional da qualidade de vida de indivíduos neuroatípicos. Por se tratar, essencialmente, de uma revisão bibliográfica, foram utilizadas as bases de dados LILACS e PubMed empregando-se os descritores relacionados à temática, sendo obtidos em uma seleção primária doze artigos correlatos ao tema e selecionadas quatro pesquisas por adesão à proposta do objeto de análise, estabelecendo-se o período máximo de seis anos da data de publicação, observando-se preliminarmente que o bruxismo, caracterizado principalmente pelo apertamento ou atrição (ranger) dos dentes sem um propósito funcional, está interseccionado a distúrbios do sono, sendo o bruxismo noturno mais frequente em indivíduos com TEA, ao estresse, à ansiedade, à baixa higiene dental e gengival, e que, quando associadas ao adequado acompanhamento odontológico considerando-se o sugestivo uso de placas oclusais, as intervenções com equipes multidisciplinares, com acompanhamento ativo de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos, possuem alto potencial no tratamento do bruxismo, reduzindo os desconfortos orofaciais e promovendo um efetivo aumento da qualidade de vida dos indivíduos com TEA.

Palavras-chave: Disfunção temporomandibular; Bruxismo; Neurodiversidade; Ortodontia.

Abstract: Bruxism is a highly prevalent parafunctional and self-harmful oral habit, especially in individuals with Autism Spectrum Disorder (ASD). The main discomforts caused by bruxism are chronic headaches, pain in the jaw, teeth and other discomforts that culminate in a lower quality of life for patients affected by this dysfunction in the temporomandibular joint (TMJ). Therefore, this research seeks to identify ways to mitigate orofacial discomfort resulting from bruxism in people with ASD, with a view to reducing symptoms and an inversely proportional increase in the quality of life of neuroatypical individuals. As it is essentially a bibliographical review, LILACS and PubMed databases were used using descriptors related to the theme, with twelve articles related to the theme being obtained in a primary selection and four studies selected for adherence to the proposal of the object of analysis, establishing a maximum period of six years from the date of publication, preliminarily observing that bruxism, characterized mainly by the clenching or grinding of teeth without a functional purpose, is intersected with sleep disorders, being the most frequent nocturnal bruxism in individuals with ASD, stress, anxiety, poor dental and gingival hygiene, and that, when associated with adequate dental monitoring considering the suggestive use of occlusal splints, interventions with multidisciplinary teams, with monitoring active by speech therapists, physiotherapists, psychologists and physical educators, have high potential in the treatment of bruxism, reducing orofacial discomfort and promoting an effective increase in the quality of life of individuals with ASD.

Keywords: Temporomandibular disorder;  Bruxism;  Neurodiversity; Orthodontics.

Resumen: El bruxismo es un hábito oral parafuncional y autolesionador de alta prevalencia, sobre todo en individuos con Trastorno del Espectro Autista (TEA). Los principales malestares causados por el bruxismo son cefaleas crónicas, dolores en los maxilares, en los dientes y otros malestares que culminan en una menor calidad de vida de los pacientes afectados por esta disfunción en la articulación temporomandibular (ATM). Así, esta investigación busca identificar maneras de mitigar las incomodidades orofaciales derivadas del bruxismo en personas con TEA, teniendo en cuenta la reducción de los síntomas y el aumento inversamente proporcional de la calidad de vida de individuos neuroatípicos. Por tratarse, esencialmente, de una revisión bibliográfica, se utilizaron las bases de datos LILACSy PubMed, empleando descriptores relacionados con la temática, obteniéndose en una selección primaria doce artículos correlacionados con el tema y seleccionándose cuatro investigaciones por su adhesión a la propuesta del objeto de análisis, estableciéndose el período máximo de seis años desde la fecha de publicación. Se observó preliminarmente que el bruxismo, caracterizado principalmente por la apretación o atrición (rechinar) de los dientes sin un propósito funcional, está intersecado con trastornos del sueño, siendo el bruxismo nocturno más frecuente en individuos con TEA, relacionado con el estrés, la ansiedad, una baja higiene dental y gingival, y que, cuando se asocia a un adecuado seguimiento odontológico considerando el uso sugerido de placas oclusales, las intervenciones con equipos multidisciplinarios, con el seguimiento activo de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos y educadores físicos, tienen un alto potencial en el tratamiento del bruxismo, reduciendo los malestares orofaciales y promoviendo un aumento efectivo de la calidad de vida de los individuos con TEA.

Palabras clave: Disfunción temporomandibular; Bruxismo; Neurodiversidad; Ortodoncia.

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o bruxismo são duas condições de saúde distintas que, eventualmente, podem se apresentar de modo interseccionado em alguns casos. 

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, interação social e comportamento do ser humano, cujos sintomas podem se relacionar a comportamentos repetitivos e restritos, por exemplo. Essa condição se manifesta em diferentes graus de suporte e varia amplamente de uma pessoa para outra. Os indivíduos com TEA podem enfrentar desafios significativos na compreensão e na interpretação de sinais sociais, o que pode dificultar a formação de relacionamentos e a participação em interações cotidianas.

Além dos comportamentos repetitivos, como balançar as mãos, alinhar objetos ou repetir frases, muitas pessoas com TEA também podem apresentar hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como sons, toques e luzes. Essa sensibilidade pode levar a experiências desconfortáveis ou até dolorosas.

O diagnóstico do TEA geralmente ocorre na infância, embora alguns sinais possam ser identificados ainda no primeiro ano de vida. O diagnóstico precoce é fundamental, pois permite a intervenção e o suporte adequados, que podem ajudar a maximizar o potencial da criança e facilitar o seu desenvolvimento. 

As abordagens de tratamento variam e contam com um acompanhamento multidisciplinar, sendo o profissional dentista um dos membros da equipe de tratamento de um paciente com TEA, na medida em que o TEA pode se relacionar com algumas reverberações no sistema estomatognático do paciente.

Estudos sugerem que crianças com TEA podem ter um risco aumentado de desenvolver bruxismo, exatamente pelos fatores multicausais presentes no Transtorno do Espectro Autista como a ansiedade, o estresse, a baixa qualidade do sono se interseccionarem com os fatores presentes no bruxismo, na medida em que o bruxismo é uma condição multicausal, isto é, um hábito decorrente de diferentes causas e fatores como estresse, a ansiedade, os problemas implicados com a oclusão ou com o aspecto funcional dos dentes e do sistema estomatognático, no qual o sujeito range ou aperta os dentes de forma inconsciente, sobretudo durante o sono, embora os casos de bruxismo em vigília também ocorram. 

OBJETIVO

O objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar, no amplo aspecto, as relações que se interseccionam no bruxismo em pessoas com TEA, tendo em vista fomentar o debate acerca do tema com foco na qualidade de vida dos indivíduos neuroatípicos. 

METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se, essencialmente, de uma revisão bibliográfica. Para a elaboração deste trabalho foi utilizada a base de dados LILACS e PubMed empregando-se os descritores “DTM e Autismo”, “Bruxismo e TEA” e “Disfunção na ATM no TEA”. A busca resultou em uma seleção primária de dezoito pesquisas sobre a temática, das quais onze foram criteriosamente selecionadas por adesão ao tema. Por fim, como critério de exclusão, não foi estabelecido um período máximo de anos da data de publicação. Os idiomas trabalhados foram português, espanhol e inglês. 

DISCUSSÃO

Evidenciou-se que o bruxismo é um hábito oral parafuncional e auto prejudicial de alta prevalência sobretudo em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Conforme estudo realizado com 200 pessoas, 100 neuroatípicas (todas com TEA) e 100 neurotípicas, os resultados apontaram que 32% das pessoas com TEA possuem bruxismo, enquanto, em contrapartida, apenas 2% dos neurotípicos possuíam a mesma disfunção. Os principais  desconfortos, apontados pelas literaturas, engendrados pelo bruxismo são dores orofaciais crônicas e descomodidades que culminam na menor qualidade de vida dos pacientes acometidos por esta disfunção na articulação temporomandibular (ATM).  

Observou-se ainda que o bruxismo, caracterizado principalmente pelo apertamento ou atrição (ranger) dos dentes sem um propósito funcional, está interseccionado a distúrbios do sono – sendo o bruxismo noturno mais frequente em indivíduos com TEA – ao estresse, à ansiedade, à baixa higiene dental e gengival

Em casos severos, compreendeu-se que o bruxismo pode afetar e ocasionar problemas na ATM e desgaste excessivo dos dentes, cujo tratamento, em geral, envolve múltiplas abordagens, desde o acompanhamento inicial até eventuais tratamentos da articulação temporomandibular. 

Além disso, tendo em vista a diminuição dos desconfortos orofaciais em neuroatípicos, evidenciou-se que, além do acompanhamento odontológico e o sugestivo uso de placas oclusais que evitam o contato direto entre a arcada dentária superior e inferior e absorvem o impacto e a sobrecarga de força ocasionadas pelo apertamento e pela atrição dos dentes, preservando assim a estrutura da dentição dessas agressões, é de suma importância que o tratamento seja realizado através de intervenções multidisciplinares, combinando exercícios físicos e comportamentais, visto que em conjunto tais práticas revelam-se com alto potencial à mitigação das cefaléias, das dores nos dentes e nos maxilares devido ao bruxismo, assim como no aumento da qualidade de vida dos indivíduos com Transtorno do Espectro Autista, visto que os desconfortos orofaciais crônicos associados ao bruxismo não se limitam apenas a dores locais, mas podem se estender a uma série de problemas sistêmicos que impactam a qualidade de vida do paciente. 

Assim, a relação entre bruxismo e distúrbios do sono é particularmente preocupante, pois a privação de sono pode exacerbar comportamentos ansiosos e estressantes, criando um ciclo vicioso que prejudica ainda mais a saúde geral do indivíduo. O bruxismo noturno, comum entre aqueles com TEA, é um reflexo desses desafios, e seu manejo adequado é essencial para promover um sono reparador e, consequentemente, um melhor funcionamento durante o dia.

Além das intervenções odontológicas a abordagem multidisciplinar se mostra fundamental. A integração de terapias vocais, físicas e comportamentais pode não apenas ajudar na redução das dores, mas também na promoção de habilidades de enfrentamento e na regulação emocional. Os exercícios físicos, por exemplo, são conhecidos por liberar endorfinas e podem ajudar a aliviar a tensão acumulada. Já as intervenções comportamentais podem ajudar a desenvolver estratégias para gerenciar o estresse e a ansiedade, fatores que frequentemente contribuem para o agravamento do bruxismo.

CONCLUSÃO  

A conscientização sobre o bruxismo em indivíduos com TEA deve ser uma prioridade não apenas para profissionais de saúde, mas também para familiares e cuidadores. O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas pode facilitar a busca por tratamento adequado, promovendo um ambiente de apoio que valorize a saúde oral e mental. Assim, ao adotar uma abordagem holística e colaborativa, é possível não apenas tratar o bruxismo, mas também melhorar significativamente a qualidade de vida das pessoas com Transtorno do Espectro Autista, proporcionando-lhes uma existência mais saudável e equilibrada.

Além disso, os estudos voltados às mitigações dos desconfortos crônicos presentes em indivíduos com bruxismo são vastos, todavia os tratamentos com equipes multidisciplinares, com acompanhamento ativo de fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos, ortodontistas e especialistas em dores orofaciais, são de suma importância, tendo em vista um efetivo aumento da qualidade de vida em pacientes com TEA. 

É importante destacar que, apesar dos desafios associados ao TEA, muitas pessoas no espectro têm habilidades notáveis e podem se destacar em áreas como matemática, arte, música e tecnologia. A aceitação da diversidade neuropsicológica é essencial para criar um ambiente mais inclusivo, onde indivíduos com TEA possam prosperar e contribuir com suas singularidades. A empatia e o entendimento por parte da sociedade são fundamentais para garantir que todos tenham a oportunidade de viver plenamente, respeitando suas diferenças e potencialidades.

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1Graduada em Odontologia
Universidade Federal do Maranhão

2Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau

3Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau

4Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau

5Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau

6Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau

7Graduanda em Odontologia
Centro Universitário Maurício de Nassau