RELAÇÃO ENTRE NÍVEL SOCIOECONÔMICO E CONSUMO DE PROTEÍNA DE MULHERES COM CÂNCER DE MAMA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8250622


Luiz Gabriel Cerqueira Passos Carmo 1
Millena Angel Silva Rodrigues 1
Josiane de França Vieira 1
Luana Rocha Prado 1
Kamille Costa Nunes 1
Gisele Maria Nunes Silva 1
Laura Delle Vedove Levita 1
Suelen Soares d’Ávila Silveira 1
Cynthia Barbosa de Albuquerque 2
Talita Kizzy Oliveira Barbosa 2


Resumo

De fato, o câncer de mama é uma das doenças relacionadas ao câncer mais prevalentes entre as mulheres em todo o mundo. Estudos mostram que cerca de uma em cada 20 mulheres em todo o mundo será diagnosticada com câncer de mama durante a vida. O objetivo do estudo foi de avaliar o aspecto socioeconômico, escolar e consumo proteico de pacientes com câncer de mama atendidos no ambulatório do Hospital de Urgência de Sergipe. Estudo de campo transversal, incluindo 25 mulheres com diagnóstico de câncer de mama, sendo avaliados por questionário socioeconômico e questionário de frequência alimentar. Os dados foram analisados no SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences), versão 21 e tabulados no Google Sheets. Os dados foram descritos através de frequências absolutas e percentuais. Para comparar as médias, foi utilizado o teste – T de student. Foi observado que a população estudada apresentavam idade  > 41 anos, 60% possuíam ensino fundamental completo, 50% tem renda de 1 a 2 salário-mínimo. Além disso, houve uma frequência elevada no consumo de ovos, leite e carne bovina. Esses produtos em específico apresentaram uma relação com o risco aumentado para o câncer de mama. Pessoas em situação socioeconômica desfavorável podem enfrentar dificuldades para obter alimentos frescos, nutritivos e de qualidade devido a restrições financeiras e menor disponibilidade de opções alimentares adequadas em suas comunidades. Uma alimentação adequada, acompanhada por um nutricionista  pode ajudar a reduzir os efeitos colaterais do tratamento e melhorar a qualidade de vida.

Palavras-chave: Câncer de mama. Padrão alimentar. Proteínas. Nível socioeconômico. Estado nutricional.

1. INTRODUÇÃO

O câncer é conhecido como o crescimento totalmente descontrolado de células, fazendo assim com que haja a mudança no código genético do indivíduo afetado, podendo ele se manter em um único órgão ou até mesmo evoluir para uma metástase espalhando-se pelo corpo (INCA, 2022).

O câncer de mama é o segundo mais comum em todo o mundo. Estudos mostram que cerca de uma em cada 20 mulheres em todo o mundo será diagnosticada com câncer de mama durante a vida. No entanto, em países de alto rendimento, a estimativa é de uma em cada oito mulheres (BRITT et al, 2020).

Dados da Globocan (2020) (base que fornece estatísticas globais de câncer), mostraram que o câncer de mama feminino ultrapassou o de pulmão como a neoplasia mais comumente diagnosticada, com uma estimativa de 2,3 milhões de novos casos,11,7% (SUNG, 2020).

Dentre os determinantes sociais da saúde que estão relacionados com a incidência do câncer de mama, estágio da doença e sobrevivência, inclui o fator socioeconômico, nele compreendido renda, educação,  insegurança alimentar e fatores geográficos. Esses fatores influenciam de maneira direta o risco de câncer de mama e a pobreza foi indicada como um dos responsáveis por um diagnóstico mais tardio do câncer de mama e piora da sobrevida (COUGHLIN, 2019).

Uma das principais transformações observadas em diversos países de média e alta renda é o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, observação também feita no Brasil, com a redução do consumo de alimentos naturais ou minimamente processados em detrimento de uma alimentação mais industrializada. O consumo desses alimentos possui um agravante, sendo associados a diversos problemas de saúde, em principal, a obesidade e risco do câncer de mama (BERTI et al, 2019).

Essas mudanças ocorridas no sistema alimentar, devido à urbanização, industrialização e globalização que acompanharam o desenvolvimento econômico do Brasil, desencadearam uma transição nutricional. Como resultado, as altas taxas de desnutrição vêm sendo substituídas de forma gradativa pelo aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade, desenvolvendo maior risco para as DCNT que influenciam no desenvolvimento do câncer de mama (doenças crônicas não transmissíveis) (CANUTO et al, 2019).

Apesar de ser uma doença de grande complexidade, a nutrição tem um papel importante nesta patologia, principalmente ao que se refere a forma de prevenção, melhora da qualidade de vida da paciente e manutenção do seu estado metabólico. Diante disso, esse estudo é uma pesquisa de campo transversal e tem como objetivo principal relacionar o nível de escolaridade, renda familiar e o consumo de proteínas de mulheres com câncer de mama atendidas no Hospital de Urgência de Sergipe – Governador João Alves Filho.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de campo transversal realizada em uma unidade hospitalar privada da cidade de Aracaju em Sergipe, no período de outubro a dezembro de 2021. Durante o período de coleta de dados foram realizadas visitas entre as segundas e sextas-feiras ao hospital no turno matutino. As participantes foram abordadas pelas colaboradoras compostas por alunas voluntárias do curso de nutrição. A abordagem ocorreu na sala de espera do ambulatório de  nutrição, com as pacientes sendo questionadas sobre o interesse de participar da pesquisa, mediante explicação dos objetivos, métodos, riscos e benefícios.

A população do estudo é formada por mulheres portadoras do câncer de mama. Foi realizada uma amostra de conveniência, constituída por 25 mulheres com câncer de mama que atenderam aos critérios de inclusão. O instrumento da pesquisa foi composto por dois questionários, sendo eles um questionário de dados sociodemográficos e o questionário de frequência alimentar (QFA).

Para devida participação, as mulheres assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), iniciando-se assim a coleta com o uso dos instrumentos supracitados. A fim de garantir a privacidade das participantes, a coleta foi realizada em uma sala reservada, fornecida pelo hospital.

Posteriormente, os dados foram analisados no SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences), versão 21 e tabulados no Google Sheets. Os dados foram descritos através de frequências absolutas e percentuais. Para comparar as médias, foi utilizado o teste – T. Foi usado o índice de correção 95% para considerar margem de erro e também foi aplicado o desvio padrão nos valores encontrados de cada grupo alimentar para decisão dos testes estatísticos.

Quadro 1: Frequência de porções semanais de consumo.

A análise dos dados do QFA foram ajustadas para frequência de porções semanais de consumo, ficando da seguinte forma: inicialmente, foram transformados utilizando o google sheets, os dados de consumo diário/mensal/anual em consumo semanal. Os dados de consumo diário foram multiplicados por 7 para que ficassem ajustados para o consumo semanal. Os dados de consumo mensal foram divididos por 30 e multiplicados por 7 para determinação do consumo semanal. Contudo, os dados de consumo anuais, por apresentarem baixo consumo, foram colocados como nunca/raramente consumidos.

3. RESULTADOS

Neste estudo, foram analisadas 25 pacientes, do sexo feminino, com idades entre 41-77 anos, portadoras do câncer de mama ao questionário presencial, sendo todas estas enquadradas nos critérios estabelecidos pela pesquisa. Neste questionário, foram avaliados os dados sociodemográficos e de consumo alimentar por meio do questionário de frequência alimentar.

Tabela 1 – Características gerais dos pacientes oncológicos, Aracaju, 2022.

FONTE: Elaborado pelos autores

Tabela 2 – Proteínas

FONTE:  Elaborado pelos Autores

4. DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou dados demográficos e o consumo protéico de um grupo de pacientes com câncer de mama no ambulatório do Hospital de Urgência de Sergipe, na cidade de Aracaju. Pesquisas epidemiológicas, como a de Petrovici (2021) indicam que a incidência e sobrevida no quadro de câncer de mama são influenciadas também por fatores sócio-econômicos e demográficos. Nesse sentido, na amostra analisada, a maior parte das pacientes possuíam apenas o ensino fundamental e renda de um a dois salários mínimos, espelhando a realidade da maioria das pessoas que utilizam os hospitais públicos.

Coughlin (2019) , em seu estudo citou o nível de escolaridade como fator de risco para uma maior incidência e pior prognóstico dessa doença. Isso pode ter acontecido devido ao fato de que mulheres com maior escolaridade e poder aquisitivo, serem mais informadas e consequentemente buscarem realizar exames clínicos das mamas, chegando assim em um diagnóstico precocemente. Todavia, mulheres com baixa escolaridade e menor renda estão sujeitas a limitações no acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, têm seu diagnóstico postergado, fato este que pode resultar em maior exposição ao óbito e a um risco aumentado de morte prematura ( ALVES et al.,  2022).

Ademais, o aumento da escolaridade, na maioria das vezes, leva a uma melhor condição socioeconômica que permite a adesão aos planos de saúde e/ou exames particulares, o que, de acordo com os estudos, é um fator que aumenta a adesão a exames preventivos. Sendo assim, a mamografia de rastreamento é proporcional ao aumento de escolaridade nas pacientes que utilizam plano de saúde/exame particular (PROCÓPIO et al., 2022).

Confirmando essa hipótese, estudo realizado no estado de Sergipe, com mulheres em tratamento quimioterápico para câncer de mama, mostrou que o acesso aos serviços de saúde apresenta disparidades importantes. A demora em receber resultados de exames, as barreiras geográficas e as dificuldades de acesso ao transporte para realização de exames e tratamentos são alguns fatores que podem explicar essas disparidades na mortalidade por câncer de mama (OLIVEIRA, 2022).

A fim de avaliar fatores de risco para o câncer de mama, inúmeros estudos como os de Kolak et al. (2017) e De Cicco (2019) demonstram que o estilo de vida, incluindo a dieta adotada, está intimamente ligada com uma maior incidência e um melhor e/ou pior prognóstico de pacientes com essa patologia. Em relação ao padrão alimentar estudado sobre as proteínas, há uma frequência maior no consumo de ovos (48% – mais de 7x na semana; n=12), leite (36% – mais de 7x na semana; n=9), frango (36% – 5 a 6x na semana; n=9) e carne bovina (48% – 2 a 4x na semana; n=12).

No  que  se  diz  respeito a proteína ela possui funções fisiológicas importantes  para  o  ser  humano,  exercendo  papel no crescimento e desenvolvimento saudável, dentre as fontes dela na tabela 2 encontram – se os produtos lácteos, carnes e ovos. O consumo de produtos lácteos tem  sido  associado  ao  desenvolvimento  do  câncer  de mama,  em  função  do  elevado  conteúdo  de  gordura saturada  e  colesterol,  presentes  principalmente  no  leite integral, queijos amarelos (prato e muçarela) e nata (Pereira et al., 2020).

A gordura proveniente destes produtos parece ter a maior  associação  com  o  risco  aumentado  dessa neoplasia, já que estudos que compararam a ingestão elevada de produtos  lácteos  com  baixo  teor  de  gordura  e  a  ingestão  elevada   de   produtos   ricos   em   gordura   apontaram   no  primeiro  grupo  um  menor  risco  para esse tipo de câncer (DE CICCO et al, 2019).

Em relação às carnes, uma pesquisa relatou que a ingestão de carne vermelha e processada, como fonte de  proteína,  apresentou  fator  de  risco  para  o câncer de mama. Destaca-se dois pontos importantes: a forma de preparo e a temperatura, a preparação das carnes é relevante para prevenir o câncer, sendo demonstrado como as melhores formas de preparo: assadas, cozidas e ensopadas (Sales et al., 2020).

Por tudo isso, algumas limitações foram encontradas no estudo, a primeira delas diz respeito ao número baixo de amostras coletadas. Outra, foi o fato de que algumas das pacientes não terem respondido o questionário completamente, os deixando com dados  incompletos,  o  que  pode  indicar  que os  dados  coletados contêm  informações  omitidas no seu preenchimento, dificultando assim a análise integral.

5. CONCLUSÃO

Diante desse estudo que foi avaliado a relação entre os fatores socioeconômicos e o consumo de proteínas de um grupo de mulheres com câncer de mama do Hospital de Urgência de Sergipe, pode-se perceber que a nutrição pode atuar como forma de prevenção quando realizada de maneira adequada e individualizada por um profissional especializado, além de atuar como um suporte para um bom prognóstico desta patologia, porém o fator socioeconômico ainda tem um grande peso nessa equação. Devido ao relato de expansão dessa doença com alto índice de casos, ela se tornou um problema de saúde pública que muitas mulheres são atingidas diariamente.

Ademais, é pertinente o desenvolvimento de políticas de saúde e de educação que favoreçam o acesso às informações e a possibilidade de uma formação escolar que contribua com o desenvolvimento profissional e socioeconômico, facilitando a adoção de cuidados que proporcionem um viver mais saudável.

Em síntese, destaca-se a importância do nutricionista atuando nos cuidados a alimentação e nutrição voltado à promoção e proteção da saúde e também a criação de políticas públicas mais firmes que ajudem essas mulheres no âmbito econômico, a fim de estimulá-las e dar suporte para adotar bons hábitos alimentares.

REFERÊNCIAS

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BERTI, T. L. et al, Consumo alimentar segundo o grau de processamento e características sociodemográficas: Estudo Pró-Saúde, Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 22, p. e 190046, 2019.

BRITT, K. L.; CUZICK, J.; PHILLIPS, K.-A. Key steps for effective breast cancer prevention. Nature Reviews Cancer, v. 20, n. 8, p. 417–436, ago. 2020.

CANUTO, R.; FANTON, M.; LIRA, P. I. C. de, Iniquidades sociais no consumo alimentar no Brasil: uma revisão crítica dos inquéritos nacionais, Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 3193–3212, 2019.

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INCA – INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Ações de controle do câncer de mama: Tratamento do câncer de mama. INCA, 2020. Disponivel em: <https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/gestor-e-profissional-de-saude/controle-do-cancer-de-mama/acoes/deteccao-precoce>. Acesso em: 20 Abril 2022.

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PEREIRA, W. B. B. et al, Os impactos da alimentação na prevenção do câncer de mama: uma revisão da literatura, Revista Perspectiva, v. 44, n. 165, p. 61–72, 2020.

PROCÓPIO, A. M. M. et al, Câncer de mama: conhecimento de mulheres sobre fatores de risco e rastreamento, Research, Society and Development, v. 11, n. 3, p. e38311326438–e38311326438, 2022.

SALES, J. N. et al, Consumo de Alimentos Ultraprocessados por Mulheres Sobreviventes do Câncer de Mama, Revista Brasileira de Cancerologia, v. 66, n. 3, p. e-141092, 2020.

SUNG, H. et al. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA: A Cancer Journal for Clinicians, 71, 7 Maio 2021. 209-249.


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