RELAÇÃO ENTRE IDADE MATERNA E NATIMORTOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10810432


Izadora Downar Bakalarczyk1
Ana Clara Almeida Ribeiro1
Ludmila Melo Lacerda1
Thayná Matos da Silva de Almeida1
Mateus Silva Santos2


INTRODUÇÃO

          Atualmente, observa-se como um fenômeno mundial a gravidez em extremos da idade reprodutiva: na adolescência e a tardia (VEIGA et al., 2019). No Brasil, essa realidade também é observada, no ano de 2021 o número de nascidos vivos de mães adolescentes representaram 12,9%, e de mulheres com idade avançada 16,8% (SINASC, 2021). Para o Ministério da Saúde, considera-se gravidez tardia a de mulheres a partir dos 35 anos. São vários os fatores sociais associados ao aumento do número de mulheres adiando a gravidez, entre eles uma maior inserção no mercado de trabalho e popularização dos métodos contraceptivos. (TIBES-CHERMAN et al., 2021).

          A gravidez em idade avançada pode acarretar em diversas complicações, estas são decorrentes tanto de doenças pré-existentes, como obesidade e hipertensão arterial, quanto de alterações fisiológicas como o envelhecimento ovariano. Além disso, diversos resultados negativos também são associados com uma alta idade materna, entre eles, os mais citados na literatura são o baixo peso ao nascer, as anormalidades genéticas e a mortalidade perinatal (TIBES-CHERMAN; MARTINELLI et al., 2019).

          Nesse sentido, o aborto espontâneo é um resultado comum encontrado na gravidez, e o risco desse acontecimento possui forte relação com a idade materna, para mulheres com menos de 20 anos com risco de 15,8%, o qual se estabiliza entre os 20 e 27 anos, aumentando a partir dos 30 e atingindo 54% quando a gestante possui 45 anos ou mais (MAGNUS et al., 2019). Outro ponto a ser abordado, é a idade materna avançada como fator de risco para aneuploidia fetal, por conta da taxa aumentada de não disjunção meiótica em oócitos envelhecidos, entretanto, não se trata de uma forma de detecção desta condição, nem um indicador para testes abusivos (MARTINS; MENEZES, 2022).

          O natimorto é definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a morte do feto antes do parto, e possui consequências psicológicas e físicas na gestante (NKWABONG, MEGOZE TANON, NGUEFACK DONGMO, 2022). Apesar da literatura não considerar somente a idade materna avançada como um fator de risco para natimortos, diversos estudos apontam que o risco aumenta conforme a idade. Essa realidade é observada em países como a Coréia, Itália, e diversos do continente Africano (WIE et al., 2018).

          Este estudo tem como objetivo promover uma revisão sistemática a respeito das relações entre idade materna avançada e desfechos desfavoráveis na gestação, em especial, natimortos. Observando os atuais padrões reprodutivos da sociedade e as consequências que os acompanham, destaca-se a importância acerca desse tema. Este trabalho reúne, pois, afirmações e resultados obtidos por diferentes pesquisadores a respeito do tema.

1. METODOLOGIA

          O estudo realizado consiste em uma revisão sistemática da literatura acerca da relação entre complicações ao longo da gravidez e a idade materna avançada. Para a sua idealização, foi efetuada uma busca na base de dados PubMed com o auxílio dos descritores: “maternal age” AND “pregnancy complications”. Dessa maneira, foram incluídos estudos de coorte retrospectivos publicados nos últimos 5 anos, em inglês e em português, que tinham como enfoque a influência da idade materna avançada em complicações neonatais, abortivas e/ou cromossômicas, além dos que relacionavam a idade com o tipo de parto. Não foram consideradas outras revisões, resumos/resenhas ou anais de congressos. Foram excluídos aqueles que não traziam a idade materna como um dos fatores relevantes pesquisados, aqueles que focavam em gravidezes na adolescência e outros tipos de complicações, como metabólicas, cardíacas e psicológicas. A seleção foi demonstrada na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma do processo de busca dos artigos científicos

        

  Com base nos critérios estabelecidos, foram selecionados 05 (Tabela 1) estudos que relacionam a idade materna avançada com natimortos.

Tabela 1 – Propriedades dos artigos selecionados

2. DISCUSSÃO

          Define-se natimorto como a morte fetal a partir da vigésima semana. Há, ainda, uma subdivisão possível: natimorto anteparto – que morre antes do início do parto – e natimorto intraparto – que morre após o início do parto. Essa subdivisão, entretanto, não se mostra relacionada com nenhuma complicação ou patologia específica. A idade materna avançada (>35 anos) se apresenta como um fator de risco alto para o acontecimento de natimortos, com uma taxa de risco duas vezes maior do que quando comparado com gestantes dos 18 aos 25 anos. Dentre as patologias, a hipertensão e a pré-eclâmpsia se apresentam como maior fator de agravação da gestação e ocorrência de natimortos (HIRST et al., 2018).

          Outras patologias podem levar ao desfecho de natimortos, entre elas: rompimento de placenta – que é reconhecida como uma das principais causas para morte fetal – diabetes mellitus e sífilis. Com exceção da sífilis, todas as demais aumentam significativamente ao passo que a idade aumenta. A necessidade de cesárea, programada ou de emergência, também se mostra como uma realidade para gestantes de idade avançada (FONSECA et al., 2019).

          Apesar da idade avançada aumentar a prevalência de certas doenças, a pesquisa realizada por Odame Anto (2018), em um hospital referência em Gana entre 2014 e 2015, excluiu as gestantes com quaisquer complicações (como hipertensão, diabetes mellitus, doenças renais e tabagismo), a fim de possibilitar um estudo em que o único fator de risco fosse a idade materna. Mesmo sem patologias associadas, mais de 20% das gestantes com >35 anos tiveram natimortos, enquanto apenas uma mulher com <35 apresentou esse desfecho. Além da ocorrência de natimortos, outras complicações como hemorragia pós-parto e parto prematuro também foram mais prevalentes nas mães com idade avançada (ODAME et al., 2018)

          Ademais, cabe acrescentar a possibilidade de  desfechos não favoráveis, configurados pelos autores como abortos, morte fetal no útero, natimortos e nascimentos antes das 24 semanas e/ou com peso abaixo de 500g. Esses desfechos, representam uma taxa de 0.05 quando se trata de grávidas entre 25 e 34 anos, mas que aumentam de maneira preocupante à medida que a idade avança, quase dobrando entre 40 e 44 anos com uma taxa de 0.09 e triplicando acima dos 45 com 0.16 (VANDEKERCKHOVE et al.,2021).

          Outro ponto importante, são os abortos espontâneos que afetam gestantes de idade avançada, os quais ao serem analisados se manifestaram na maioria dos casos em relação à incidência de natimortos, os quais representam 26 a cada 1000 nascidos. Dessa forma, tal estudo contrapõe os outros citados ao não relacionar fortemente idade materna avançada com natimortalidade (DHADED et al., 2018).

3. CONCLUSÃO

          A idade materna é um fator de grande importância na obstetrícia por sua direta relação com o andamento da gestação e, quando avançada, por sua comprovada conexão com desfechos não favoráveis. Por motivos socioculturais, o número de mulheres grávidas acima dos 35 anos tem crescido nas últimas décadas e, consequentemente,  elevado o número de complicações gestacionais, entre eles e de grande repercussão, a ocorrência de natimortos. Embora existam inúmeros aspectos que também favorecem a morte fetal, foi demonstrado a influência que a idade elevada das gestantes possui sobre efeitos adversos na gestação. Isso ocorre tanto de maneira primária – por sua relação direta com a natimortalidade – quanto de maneira secundária – pelo seu vínculo com outras patologias que também levam a desfechos gestacionais não favoráveis.

          Destarte, a partir dos resultados obtidos, destaca-se a necessidade de mais estudos que abranjam essa área obstétrica e da capacitação de profissionais responsáveis. Afinal, além da promoção da assistência adequada para essas pacientes ser imprescindível, existe uma tendência de crescimento da idade materna.

4. REFERÊNCIAS

SINASC – http://plataforma.saude.gov.br/natalidade/nascidos-vivos/

DHADED, Sangappa M. et al. Early pregnancy loss in Belagavi, Karnataka, India 2014–2017: a prospective population-based observational study in a low-resource setting. Reproductive health, v. 15, p. 15-22, 2018.

FONSECA, Raissa Magalhães de Mendonça et al. Trends associated with stillbirth in a maternity hospital school in the north zone of São Paulo: a cross-sectional study. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 41, p. 597-606, 2019.

HIRST, J. E. et al. The antepartum stillbirth syndrome: risk factors and pregnancy conditions identified from the INTERGROWTH‐21st Project. BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology, v. 125, n. 9, p. 1145-1153, 2018.

MAGNUS, Maria C. et al. Role of maternal age and pregnancy history in risk of miscarriage: prospective register based study. bmj, v. 364, 2019.

MARTINELLI, K. et al. Advanced maternal age and factors associated with neonatal near miss in nulliparous and multiparous women. Cadernos de Saúde Pública, v. 35, p. e00222218, 2019.

MARTINS, Polyana Loureiro; MENEZES, Rachel Aisengart. Gestação em idade avançada e aconselhamento genético: um estudo em torno das concepções de risco. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 32, 2022.

NKWABONG, Elie; MEGOZE TANON, Abycail; NGUEFACK DONGMO, Felicite. Risk factors for stillbirth after 28 complete weeks of gestation. The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine, v. 35, n. 25, p. 6368-6372, 2022.

ODAME ANTO, Enoch et al. Adverse pregnancy outcomes and imbalance in angiogenic growth mediators and oxidative stress biomarkers is associated with advanced maternal age births: a prospective cohort study in Ghana. PloS one, v. 13, n. 7, p. e0200581, 2018.

TIBES-CHERMAN, C. et al. Perfil clínico da gestação tardia em um município brasileiro de fronteira. Enfermagem em foco, v. 12, n. 2, 2021.

VANDEKERCKHOVE, Mélanie et al. Impact of maternal age on obstetric and neonatal morbidity: a retrospective cohort study. BMC pregnancy and childbirth, v. 21, p. 1-7, 2021.

VEIGA, L. et al. Resultados perinatais adversos das gestações de adolescentes vs de mulheres em idade avançada na rede brasileira de saúde pública. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 19, p. 601-609, 2019.

WIE, Jeong Ha et al. Gestational age-specific risk of stillbirth during term pregnancy according to maternal age. Archives of gynecology and obstetrics, v. 299, p. 681-688, 2019.


1. Graduandas em medicina pela Universidade de Gurupi – UnirG Campus Paraíso do Tocantins

2. Doutor em Medicina Tropical e Saúde Pública pela Universidade Federal de Goiás – UFG

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