RELAÇÃO ENTRE A DIABETES MELLITUS E A SAÚDE BUCAL: ABORDAGEM DE PREVENÇÃO E MANEJO ODONTOLÓGICO 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411011036


Iasmily Gabriely Barbery Zamai
Izadora Faé Gheno
Orientadora:Prof.ª Carile Ferro Menegheli


RESUMO

A diabetes mellitus (DM) é uma condição crônica que afeta mais de 170 milhões de pessoas, caracterizada por hiperglicemia devido à resistência ou produção inadequada de insulina. Existem dois tipos: Diabetes Tipo 1 (DM1), comum em jovens, e Diabetes Tipo 2 (DM2), mais frequente em adultos. As manifestações bucais da DM incluem xerostomia, infecções e doença periodontal. Vale ressaltar que o descontrole da glicemia ocasiona o agravo de tais doenças. Diante disso, este estudo investiga as manifestações orais da DM, enfatizando a importância do diagnóstico precoce e do cuidado integrado. O cirurgião-dentista deve realizar uma anamnese detalhada, monitorar a glicemia e adaptar o tratamento conforme necessário, garantindo a saúde bucal e o controle glicêmico eficaz.

Palavras-chave: diabetes mellitus; complicações orais; cuidados integrados; cirurgião-dentista.

ABSTRACT

Diabetes mellitus (DM) is a chronic condition affecting over 170 million people, characterized by hyperglycemia due to insulin resistance or inadequate production. There are two types: Type 1 Diabetes (DM1), common in youth, and Type 2 Diabetes (DM2), more prevalent in adults. Oral manifestations of DM include xerostomia, infections, and periodontal disease, with inadequate glycemic control exacerbating these issues. This study investigates the oral manifestations of DM, emphasizing the importance of early diagnosis and integrated care. The dentist should conduct a thorough medical history, monitor blood glucose levels, and adapt treatment as necessary, ensuring effective oral health and glycemic control.

Keywords: Diabetes mellitus; Oral complications; Integrated care; Dentist.  

1.     INTRODUÇÃO

A diabetes mellitus (DM) é uma condição crônica relacionada ao sistema endócrino, afetando mais de 170 milhões de indivíduos globalmente. Sua característica fundamental é a hiperglicemia (elevados níveis de glicose no sangue), que ocorre devido à produção inadequada de insulina pelo pâncreas, ou à resistência do organismo em usar a insulina disponível de maneira eficaz.

(NICOLAU; NOGUEIRA; SIMÕES; 2015).

A Diabetes Mellitus (DM) pode ser diagnosticada de duas formas principais: DM tipo 1 (DM1) e DM tipo 2 (DM2). Na DM1, trata-se de uma doença autoimune que ataca e destrói as células beta do pâncreas, comprometendo a produção de insulina e levando o paciente a necessitar de doses regulares desse hormônio para o controle glicêmico. Entre os sintomas dessa condição, destacam-se poliúria (aumento da frequência urinária), polidipsia (sede constante), polifagia (aumento do apetite), náuseas, vômitos, fraqueza e perda de peso. Além desses sintomas sistêmicos, podem surgir manifestações bucais, como doença periodontal, perda óssea, xerostomia (boca seca) e infecções fúngicas e bacterianas. A DM1 ocorre predominantemente em pacientes com menos de 30 anos, sendo também conhecida como diabetes juvenil (TERRA; GOULART; BAVARESCO, 2011).

A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma doença multifatorial caracterizada pela resistência à insulina e diminuição progressiva da secreção de insulina, sendo responsável por 90% a 95% dos casos de diabetes. Afeta principalmente pessoas acima de 40 anos, frequentemente assintomática e de evolução lenta, podendo levar a complicações graves, como problemas renais, oftalmológicos e neuropáticos. É comum em indivíduos sedentários, com excesso de peso, dieta inadequada e histórico familiar de diabetes. Os sintomas incluem formigamento nas extremidades, feridas de difícil cicatrização, visão turva, infecções recorrentes, emagrecimento inexplicável, micção excessiva, sede constante e aumento de apetite. O tratamento pode envolver inibidores da alfaglicosidase, sulfonilureias e glinidas, que ajudam a controlar os níveis de insulina e glicose. (DE ALMEIDA CALDEIRA; SOUZA, 2021).

Levando em conta a importância do conhecimento sobre as complicações de saúde em geral e as consequências orais da diabetes mellitus (DM), o propósito principal do estudo é fazer uma pesquisa nas bases de dados PubMed e Google Scholar, sobre as manifestações orais e cuidados mais frequentes relacionados à doença. O objetivo é destacar a importância do diagnóstico precoce dessa enfermidade por parte dos cirurgiões-dentistas e médicos. 

2.     METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada por meio de uma metodologia de revisão de literatura, utilizando o método explicativo e fundamentando-se na análise de materiais didáticos, como livros, dissertações, publicações periódicas e artigos científicos.

O estudo foi conduzido em três bases de dados: Google Acadêmico, Scielo e PubMed, levando em conta os termos “diabetes mellitus”, “saúde bucal”, “abordagem preventiva”, “manejo odontológico” e “complicações bucais associadas ao diabetes”. Foram incluídos artigos em inglês e português que se adequam ao enfoque do trabalho, priorizando aqueles mais relevantes para o delineamento das informações desejadas.

Entre os critérios observados, consideraram-se os seguintes aspectos: disponibilidade do texto completo e clareza metodológica. Assim, foram utilizados vinte e seis artigos publicados entre 2003 e 2021, excluindo aqueles que não se restringiam ao tema ou que estavam fora do período mencionado.

3.     DESENVOLVIMENTO

A Diabetes Mellitus (DM), como já mencionado, caracteriza-se por apresentar altos níveis de glicose no sangue, decorrentes da produção inadequada de insulina pelo pâncreas ou de sua má absorção pelas células. A insulina é um hormônio crucial para o metabolismo, responsável por facilitar a entrada de glicose nas células, onde será convertida em energia. A Diabetes Mellitus (DM) é classificada em dois tipos principais. O tipo 1 (DM1), menos comum, ocorre quando o sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina no pâncreas, levando à dependência de insulina exógena. Esse tipo é mais frequente em crianças, adolescentes e jovens adultos. Já o tipo 2 (DM2) é mais prevalente em adultos e está geralmente associado a fatores como obesidade, sedentarismo e predisposição genética. Na DM2, o organismo desenvolve resistência à insulina ou não a utiliza de maneira eficiente, o que pode ser controlado inicialmente com mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicação. (FERNANDES DE OLIVEIRA, 2016; LABOLITA, 2020; VIEIRA, 2019).

A hiperglicemia é um termo médico usado para descrever altos níveis de glicose no sangue, comumente acima de 126 mg/dl em jejum e superior a 200 mg/dl até duas horas após as refeições. Esse estado não se restringe apenas aos pacientes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, podendo ser desencadeado por diversos fatores não necessariamente relacionados à diabetes. A hipoglicemia ocorre quando os níveis de glicose no sangue estão abaixo de 70 mg/dl. Esta condição pode ser dividida em dois tipos principais: a hipoglicemia de jejum, que ocorre quando a pessoa está sem se alimentar por um período prolongado e a hipoglicemia pós-prandial (ou reativa), que ocorre após as refeições. Ambos os tipos de hipoglicemia podem afetar tanto pessoas com diabetes quanto aquelas que não apresentam a condição. (ESTEVES; NEVES; CARVALHO, 2012).

Entre as manifestações bucais que podem afetar o paciente com DM não controlado, incluem-se: xerostomia, redução da saliva (hipossalivação), síndrome de ardência bucal ou queimação na língua (glossodinia), distúrbios do paladar, infecções, úlceras nas mucosas bucais, desmineralização do esmalte, perda antecipada de dentes, cicatrização difícil, hálito cetônico, líquen plano e doença periodontal (NAZIR, 2018; POUDEL, 2017).

No contexto do diabetes mellitus, as glândulas salivares, como as submandibulares e parótidas, são frequentemente afetadas. A glândula submandibular em particular apresenta alterações metabólicas significativas, como diminuição na capacidade de produção de energia e de cofatores essenciais para a secreção salivar. Além disso, o processo de glicação de proteínas e o aumento do estresse oxidativo são fatores críticos que comprometem a função adequada das glândulas salivares no diabetes, o que é crucial para várias funções importantes, incluindo a lubrificação da boca e garganta, digestão dos alimentos, proteção dos dentes contra cáries e controle de bactérias na cavidade bucal. (NICOLAU; NOGUEIRA; SIMÕES, 2015).

A xerostomia é caracterizada pela diminuição na produção de saliva, sendo um dos principais indicadores da diabetes mellitus. Essa condição não apenas provoca desconforto e sensação de boca seca, mas também aumenta a predisposição ao desenvolvimento de cáries dentárias, mau hálito, feridas e infecções na cavidade oral, entre outros (TRENTIN et al., 2017). Similarmente, a hipossalivação envolve a redução na quantidade de saliva produzida pelas glândulas salivares, podendo ser causada por diferentes fatores, como condições médicas como diabetes, efeitos colaterais de medicamentos, tratamentos de radiação na cabeça e pescoço, entre outros (YAMASHITA et al.,2013).

A síndrome de ardência bucal, também conhecida como glossodinia, está relacionada a diversas condições sistêmicas, incluindo a diabetes mellitus. Pacientes diabéticos costumam desenvolver neuropatia periférica, o que pode comprometer a sensibilidade na região da boca, levando a sensações de dor ou queimação na língua ou em outra área da cavidade oral. Conforme observado no estudo de López-Jornet et al. (2010), a incidência de glossodinia é maior em indivíduos com diabetes, e o controle inadequado dos níveis de glicose pode agravar os sintomas dessa condição. Além disso, problemas como a xerostomia, frequentes em diabéticos, podem intensificar o desconforto oral, tornando o monitoramento glicêmico essencial para o manejo adequado da glossodinia nesses casos.

Segundo (THOMES, 2021), a presença de disfunções relacionadas ao paladar pode afetar pacientes diabéticos que não têm a doença sob controle, levando a alterações na percepção do sabor ou até mesmo ao aumento da capacidade de detecção devido a quadros de neuropatia. Essas alterações sensoriais podem prejudicar a capacidade de seguir uma dieta adequada, resultando em um controle glicêmico deficiente. Manter um controle rigoroso da glicemia é crucial para estabilizar e até melhorar as alterações associadas à neuropatia diabética e suas consequências no paladar. 

A candidíase oral é uma infecção oportunista  comum em pacientes com sistema imunológico enfraquecido, o que torna os diabéticos com controle glicêmico inadequado mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa condição (NEGRATO; TARZIA, 2010). A hiperglicemia pode contribuir para o surgimento dessa infecção, pois indivíduos diabéticos tendem apresentar um fluxo salivar reduzido, além das alterações na composição da saliva, especialmente em proteínas com função antimicrobianas, como dito anteriormente (PRADO; VACCAREZZA, 2013). 

Com a diabetes não controlada, observa-se uma redução na quimiotaxia, o processo pelo qual os neutrófilos migram para áreas de infecção ou inflamação. Essa diminuição da quimiotaxia contribui para um aumento da predisposição ao desenvolvimento de úlceras bucais (ALVES et al., 2007).

A hipocalcificação do esmalte (desmineralização) resulta de distúrbios que ocorrem durante as etapas de mineralização ou maturação da matriz orgânica. Essa condição pode se manifestar como alterações na transparência do esmalte ou como uma opacidade, levando a mudanças na cor do esmalte sem causar a sua perda (DE ALMEIDA CALDEIRA, 2021). Sintomas orais, como alterações no paladar e hipocalcificação do esmalte, costumam ser frequentemente identificados em pacientes diabéticos (SOTO,2022).

 A cicatrização dos tecidos é um processo biológico detalhado que inclui as fases de inflamação, regeneração celular e reestruturação da área lesionada. A cicatrização é mais difícil em pacientes diabéticos não controlados devido a diversos fatores fisiológicos e patológicos associados ao diabetes mal controlado. A elevação dos níveis de glicose pode prejudicar a capacidade das células responsáveis pela cicatrização de se proliferarem e migrarem para as áreas lesionadas. Além disso, a inflamação prolongada pode atrasar a fase de resolução da cicatrização e interferir na regeneração dos tecidos, dificultando o processo de reparo. A função do sistema imunológico também é comprometida, reduzindo a capacidade do corpo de combater infecções e remover células mortas ou danificadas do local da lesão. Uma circulação inadequada limita o fornecimento de nutrientes e oxigênio essenciais para o processo de cicatrização. Todos esses fatores contribuem para uma recuperação mais lenta das feridas (GONZALES, 2016). 

O hálito cetônico é um odor específico que surge quando o corpo entra em cetose, um estado metabólico em que a gordura se torna a principal fonte de energia no lugar dos carboidratos. Esse fenômeno pode ocorrer em dietas com baixo consumo de carboidratos, como a dieta cetogênica, durante jejum prolongado ou em situações médicas, como a diabetes tipo 1 descompensada. O odor é provocado pela liberação de corpos cetônicos, especialmente a acetona, que são subprodutos da quebra de gordura. Quando há produção excessiva de cetonas, parte delas é eliminada pela respiração, resultando nesse hálito característico (CANTANHEDE et al., 2013).

O líquen plano é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune, que acomete principalmente a pele e as mucosas, incluindo a cavidade oral. Diversas pesquisas sugerem uma associação significativa entre o líquen plano e o diabetes mellitus, tanto do tipo 1 quanto do tipo 2. Essa relação pode ser atribuída à hiperglicemia crônica característica do diabetes, que gera um estado inflamatório sistêmico e compromete a função imunológica, favorecendo o desenvolvimento de condições autoimunes, como o líquen plano (TRENTIN et.,2017; YAMASHITA et.,2013).

A doença periodontal (DP) é uma condição inflamatória crônica que afeta os tecidos de suporte dos dentes, sendo causada principalmente pelo acúmulo de placa bacteriana, e pode ser dividida em duas formas principais: gengivite, uma inflamação reversível da gengiva, e periodontite, uma forma mais severa que resulta na destruição do osso alveolar e dos tecidos de suporte, podendo levar à perda dentária. Existe uma relação bidirecional entre a doença periodontal e o diabetes, uma vez que o diabetes, ao promover a hiperglicemia e reduzir a resposta imune, aumenta a suscetibilidade à periodontite. Por sua vez, a presença de DP dificulta o controle glicêmico em pacientes diabéticos. Estudos indicam que pessoas com diabetes têm até três vezes mais chances de desenvolver periodontite, e o tratamento periodontal adequado pode melhorar o controle da glicemia, destacando a importância de uma abordagem integrada no cuidado dessas condições. Vale Ressaltar que a doença periodontal é a afecção bucal mais comum e prevalente entre os portadores de diabetes mellitus (DM) (ALVES et al., 2007; ANTONINI et al., 2013; YAMASHITA et al., 2013).

O papel do cirurgião-dentista no manejo de pacientes com diabetes mellitus é crucial, dado que esses indivíduos apresentam maior propensão a complicações bucais. Além disso, muitos pacientes desconhecem seu diagnóstico de diabetes, o que reforça a importância de o dentista estar atento a sinais sugestivos da doença. Nesse sentido, é imprescindível que o profissional saiba identificar possíveis casos não diagnosticados e encaminhar o paciente para avaliação médica, sobretudo diante de sintomas orais ou sistêmicos que possam indicar a presença da condição (ALVES et al., 2006).

Para pacientes com diagnóstico confirmado de diabetes mellitus, o dentista deve realizar uma anamnese minuciosa, investigando aspectos essenciais da doença. Isso inclui a tipificação da diabetes (DM1 ou DM2), o tempo desde o diagnóstico, as terapias em uso (como dieta, insulina e hipoglicemiantes), o horário da última dose dos medicamentos, o momento da última refeição e a presença de sintomas de hipoglicemia. Informações adicionais, como histórico de hospitalizações, episódios de cetoacidose, infecções sistêmicas e uso de antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos, também devem ser obtidas, especialmente no contexto de tratamento de complicações relacionadas à diabetes. Além disso, é fundamental que o cirurgião-dentista classifique o paciente conforme o grau de risco para os procedimentos clínicos, assegurando que o tratamento odontológico seja seguro e adequado às condições sistêmicas do paciente (ALVES et al., 2006).

Pacientes diabéticos bem controlados podem ser tratados de forma semelhante aos não diabéticos na maioria dos procedimentos odontológicos de rotina, de acordo com a maior parte da literatura. No entanto, é importante que o dentista tenha um glicosímetro no consultório para medir a glicemia capilar antes e, se necessário, durante o atendimento, garantindo a segurança do paciente e evitando complicações relacionadas ao controle do diabetes (SOUSA et al., 2003).

Pacientes com glicemia abaixo de 200 mg/dL, sem sintomas de diabetes, são considerados de baixo risco e podem ser submetidos a uma ampla gama de procedimentos odontológicos. Entre esses procedimentos estão a realização de exames radiográficos, instrução de higiene oral, restaurações, profilaxia, raspagem tanto supragengival quanto subgengival, além de tratamentos endodônticos. Cirurgias, como extrações simples ou múltiplas, remoção de dentes inclusos, gengivoplastia, cirurgias com retalho e apicectomia, também são permitidas nesse grupo (DE FREITAS OLIVEIRA et al., 2019).

Por outro lado, pacientes com glicemia superior a 250 mg/dL são classificados como de alto risco. Nesses casos, apenas exames radiográficos e orientações de higiene oral são recomendados até que o controle adequado da glicemia seja alcançado. Esses pacientes devem ser encaminhados ao médico para ajustar o tratamento. Somente após a estabilização dos níveis glicêmicos é que procedimentos como cirurgias, restaurações, raspagem e tratamentos endodônticos podem ser realizados com segurança (DE FREITAS OLIVEIRA et al., 2019).

Em situações cirúrgicas, a profilaxia antibiótica é recomendada apenas para pacientes com a doença descompensada que apresentem quadros clínicos de cetoacidose sanguínea e cetonúria. Contudo, é crucial evitar generalizações nas condutas, sendo fundamental avaliar cada caso com atenção, em colaboração com o médico responsável. Quando a profilaxia for necessária, sugere-se a administração de uma dose única de 2g de amoxicilina ou, para aqueles alérgicos à penicilina, 600mg de clindamicina, ambas uma hora antes do início do procedimento (DE ANDRADE et al., 2014).

A glicemia deve ser monitorada antes, durante e após as cirurgias, utilizando um medidor de glicose, para evitar complicações como choque de insulina (hipoglicemia profunda) ou cetoacidose com hiperglicemia severa (DA SILVA et al., 2020).

O anestésico mepivacaína a 3%, sem vasoconstritor, e a prilocaína combinada com felipressina são opções viáveis para pacientes diabéticos. A felipressina é considerada segura em pacientes que estão compensados por meio de dieta, bem como em indivíduos insulinodependentes ou que utilizam medicamentos hipoglicemiantes orais. Além disso, recomenda-se a anestesia de bloqueio, evitando soluções que contenham vasoconstritores à base de adrenalina, uma vez que essa substância promove a conversão de glicogênio em glicose, o que pode levar à hiperglicemia (TERRA, 2009).

Para o manejo da dor leve a moderada no pós-operatório, a dipirona e o paracetamol podem ser prescritos nas mesmas dosagens e posologias indicadas para pacientes em condições normais. Em situações de edema e dor intensa, os corticosteróides de ação prolongada, como betametasona e dexametasona, são as opções mais recomendadas. Esses medicamentos devem ser administrados em no máximo duas doses, pois têm a tendência de elevar os níveis de glicemia (DE ANDRADE, 2014).

A crise hipoglicêmica representa uma complicação que ocorre em 2,91% das emergências em consultórios odontológicos, manifestando-se através de diversos sinais e sintomas, tais como palidez, tremores, taquicardia, sudorese, tontura, sonolência, confusão mental, fraqueza, dor de cabeça e visão embaçada. Ao notar qualquer um desses indícios, o cirurgião-dentista deve interromper imediatamente o procedimento e oferecer ao paciente um alimento que contenha carboidratos, como mel ou açúcar. Em seguida, é crucial monitorar a glicemia capilar a cada 15 minutos até que os níveis voltem ao normal. Caso a recuperação não ocorra, é imprescindível solicitar assistência médica (FERNANDES DE OLIVEIRA et al., 2016).

O cirurgião-dentista deve orientar o paciente sobre a dieta adequada e a higiene bucal, além de aferir a pressão arterial e a glicemia, entre outros parâmetros, tanto antes quanto após as consultas. Essa abordagem é essencial para garantir a saúde bucal e metabólica do paciente. Além disso, é importante que pacientes bem controlados sejam avaliados a cada seis meses, enquanto aqueles com descontrole metabólico necessitam de um monitoramento mais frequente para um melhor acompanhamento da sua condição (TERRA, 2009).

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o cirurgião-dentista desempenha um papel crucial e diversificado no atendimento a pacientes com diabetes mellitus. É fundamental compreender como essa condição afeta a saúde bucal e adotar práticas preventivas, além de trabalhar em equipe com outros profissionais de saúde. Um atendimento atencioso, que considera as necessidades específicas de cada paciente e mantém uma comunicação aberta com a equipe médica, pode fazer uma grande diferença no controle da diabetes e na prevenção de complicações.

Além disso, a educação do paciente é um aspecto vital do atendimento odontológico. Informar os pacientes sobre a importância do autocuidado, como a higienização bucal adequada e a monitorização da glicemia, pode capacitá-los a gerenciar melhor sua condição. A implementação de protocolos de atendimento personalizados e estratégias para o manejo das manifestações orais da diabetes contribui significativamente para a eficácia do tratamento.

Reconhecer a conexão entre a saúde bucal e a saúde geral é, portanto, essencial para aprimorar os resultados do tratamento e garantir um atendimento integral. Essa abordagem holística não apenas melhora a qualidade de vida dos pacientes, mas também promove um melhor entendimento da importância da saúde bucal no contexto da saúde geral.

5.     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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