RELAÇÃO DOS NÍVEIS DE VITAMINA D EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES OBESOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10595435


Márcia de Sousa Araújo


Resumo

INTRODUÇÃO: A obesidade entre crianças e adolescentes pode estar associada a carência de alguns nutrientes, entre eles destaca-se a vitamina D que é essencial para manter o adequado funcionamento dos ossos durante o crescimento infantil até o final da puberdade. Nos últimos anos, muitos estudos vêm sendo desenvolvidos com o intuito de ressaltar o papel desse micronutriente na regulação do balanço energético em indivíduos obesos, sendo associados a prevenção e o tratamento da obesidade. OBJETIVO: Investigar na literatura se os níveis séricos de Vitamina D têm relação com a obesidade em crianças e adolescentes. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de revisão integrativa no qual foram analisados estudos publicados em bases de dados científicos como Google Acadêmico, Scielo e Medline/PubMed. Entre os critérios de inclusão para essa pesquisa destacam-se: artigos completos publicados em inglês, português e espanhol, com dimensão temporal entre 2017 e 2022, estudos que abordassem crianças e adolescentes obesas relacionado com a vitamina D. RESULTADO: Associação significativa foi evidenciada em 82,3% dos estudos analisados, ao determinar a relação desse micronutriente com a adiposidade corporal e abdominal e com um maior risco de desenvolver um quadro de deficiência. Os estudos transversais confirmam maior risco de deficiência de vitamina D relacionado ao aumento da adiposidade no sexo masculino. CONCLUSÃO: A associação entre a vitamina D com a obesidade é complexa e é necessário mais estudos para elucidar essa relação. Alguns estudos analisados encontraram algum tipo de relação significativa entre o baixo consumo deste micronutriente com a adiposidade corporal e abdominal. Foi observado também um maior risco de deficiência de vitamina D relacionado ao aumento da adiposidade no sexo masculino nos estudos transversais. 

Palavras-chave: Obesidade; Adiposidade; Crianças; Adolescentes e Vitamina D.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Obesity among children and adolescents may be associated with a lack of some nutrients, among which vitamin D stands out, which is essential to maintain proper functioning of the bones during childhood growth until the end of puberty. In recent years, many studies have been developed with the aim of highlighting the role of this micronutrient in the regulation of energy balance in obese individuals, being associated with the prevention and treatment of obesity. OBJECTIVE: To investigate in the literature whether serum levels of Vitamin D are related to obesity in children and adolescents. METHODOLOGY: This is an integrative review study in which studies published in scientific databases such as Google Scholar, Scielo and Medline/PubMed were analyzed. Among the inclusion criteria for this research, the following stand out: complete articles published in English, Portuguese and Spanish, with a temporal dimension between 2017 and 2022, studies that addressed obese children and adolescents related to vitamin D. RESULT: A significant association was evidenced in 82.3% of the analyzed studies, when determining the relationship of this micronutrient with body and abdominal adiposity and with a greater risk of developing a deficiency. Cross-sectional studies confirm a higher risk of vitamin D deficiency related to increased adiposity in males. CONCLUSION: The association between vitamin D and obesity is complex and further studies are needed to elucidate this relationship. Some studies analyzed found some kind of significant relationship between low consumption of this micronutrient and body and abdominal adiposity. A higher risk of vitamin D deficiency related to increased adiposity was also observed in males in cross-sectional studies.

Keywords: Obesity; Adiposity; Children; Teenagers and Vitamin D.

INTRODUÇÃO 

A infância e a adolescência são caracterizadas por intensas mudanças físicas, psicológicas, cognitivas e sociais que alteram os hábitos alimentares e o estado nutricional do indivíduo. (VITOLO, 2008). Logo, uma alimentação saudável deve ser adotada e torna-se um hábito desde a infância em prol de manter um bom crescimento e desenvolvimento e a saúde ao longo da vida (ALVES; CUNHA, 2020). Portanto, a adoção de uma alimentação adequada às necessidades nutricionais nessa fase da vida previnem problemas de saúde que estão diretamente relacionados a má nutrição, entre elas destaca-se a obesidade (RODRIGO; REIS, 2020). 

A obesidade é um problema de saúde pública caracterizado por um distúrbio nutricional e metabólico de origem multifatorial, em que o percentual de gordura corporal no indivíduo encontra-se aumentado em decorrência de um desequilíbrio entre o consumo e o gasto de energia, sendo definida como uma epidemia mundial que acomete todas as faixas de idade, havendo, porém, um crescimento significativo, sobretudo, no público infanto-juvenil (NEVES, et al, 2021; ZANCHET et al., 2015). 

Entre as principais causas do surgimento da obesidade em crianças e adolescentes destaca-se a genética, estilo de vida e os hábitos alimentares que são adquiridos nesse período e exercem influência no ganho de peso. Além disso, temos que fatores ambientais como o sedentarismo, o tempo excessivo gasto com o uso de aparelhos eletrônicos e as propagandas nas mídias que incentivam o consumo de alimentos industrializados tem contribuído para agravar essa problemática em vários países no mundo (ALMEIDA, et al., 2020)

No Brasil, dados da Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar de 2015, referem que 3 milhões de escolares brasileiros estão com excesso de peso, o que corresponde uma prevalência de 23,7% (IBGE, 2015). Logo, pode-se inferir que haverá diminuição na qualidade e expectativa de vida na fase adulta, uma vez que a obesidade na infância e adolescência poderá desencadear sérias complicações clínicas (NEVES, et al., 2021). 

É importante mencionar, que a obesidade entre crianças e adolescentes pode estar associada a alguma carência de nutrientes específicos, entre estes destaca-se a vitamina D que é essencial para manter um adequado funcionamento dos ossos durante o crescimento infantil até o final da puberdade. Além disso, favorece os processos de absorção e reabsorção do osso dentro dos parâmetros almejados (FRANÇA; PETERS; MARTINI, 2014).  É nessa fase, que ocorre o pico de acúmulo de massa óssea sendo essencial manter a homeostase desse micronutriente que quando deficiente podem proporcionar um atraso no crescimento e prejudicar a função motora dos ossos e músculos (BELLONE et al., 2014; TURER et al., 2012;).

Além das funções clássicas normalmente atribuídas à vitamina D relacionadas a manutenção da integridade do esqueleto, muitos estudos, nos últimos anos, vêm sendo desenvolvidos com o intuito de ressaltar o papel desse micronutriente na regulação do balanço energético em indivíduos obesos. Sendo este, associado a prevenção e tratamento da obesidade (QUARANTA; NAVARRO, 2010).

Tendo em vista, o aumento exponencial de obesidade nesta população, a diferença  dos mecanismos de atuação da vitamina D entre crianças e adolescentes obesos com a população saudável, a escassez de informações acerca dos efeitos da deficiência desse micronutriente, e com o intuito de identificar a extensão dessas carências e sua consequência para a saúde e qualidade de vida, este estudo tem como objetivo investigar na literatura se os níveis séricos de vitamina têm relação com a obesidade em crianças e adolescentes, podendo, desta forma, otimizar o conhecimento do assunto entre os profissionais da saúde, estimular e facilitar a elaboração de estratégias de prevenção e tratamento destes desequilíbrios nutricionais. 

METODOLOGIA 

Tipo de estudo 

Para análise do tema adotou-se a revisão integrativa da literatura, que é considerada uma pesquisa secundária que responderá uma questão chave por meio de um estudo crítico da literatura.

A seleção de artigos ocorreu a partir das seguintes etapas: 1) identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; 2) seleção dos bancos de dados para realizar a revisão de literatura; 3) estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; 4) identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados; 5) categorização dos estudos selecionados; 6) análise e interpretação dos resultados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento.  Questão Norteadora 

A questão norteadora deste estudo foi definida a partir do seguinte questionamento: “Os níveis séricos de vitamina D tem relação com a obesidade em crianças e adolescentes?”.

 Busca na literatura 

A busca de artigos foi realizada entre os meses de junho a outubro de 2022, nas seguintes bases eletrônicas: Google Acadêmico, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Medical Literature Analysis and Retrieval System (MEDLINE/PUBMED). 

Entre os critérios de inclusão para essa pesquisa destacam-se: artigos completos publicados em inglês, português e espanhol, com dimensão temporal entre 2017 e 2022, estudos que abordassem crianças e adolescentes obesas relacionado com a vitamina D. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: obesity (obesidade), adiposity (adiposidade), children (crianças), adolescents (adolescentes), vitamin D (vitamina D). Para a combinação das palavras-chave foram utilizados os operadores boleanos AND/OR. Na plataforma de pesquisa Google Acadêmico foi utilizado a expressão “allintitle” que pesquisa todas as palavras no título do documento limitando dessa forma a busca dos artigos.

 Foram excluídos desse estudo: artigos não disponibilizados na íntegra ou publicados em um período anterior a 2017, monografias, revisão de literatura, artigos que fugissem ao tema, com foco em adultos e idosos e aqueles com duplicidade de publicação.

 Categorização dos estudos

Nessa fase do estudo, os dados foram organizados de maneira sistemática com o objetivo de facilitar o direcionamento da pesquisa e assim obter uma conclusão plausível referente ao tema.

Para a categorização dos estudos, foi elaborado um instrumento de análise que contempla as seguintes informações: autor/ano, país(es), objetivo, delineamento de estudo, população, amostra/métodos, resultados e conclusão

Os artigos repetidos em mais de uma base de dados foram analisados uma única vez. Realizou-se a leitura dos resumos, observando-se os critérios de inclusão e exclusão. No final da leitura crítica dos resumos 33 artigos de vitamina D foram selecionados para serem lidos na íntegra. Ao término da leitura crítica resultaram 17 artigos, respectivamente, permanecendo como fonte de análise dessa pesquisa.

4.5 Análise e interpretação dos resultados 

Para a análise e interpretação dos resultados, foi realizada a leitura dos textos na íntegra e elaborada uma síntese das principais informações de cada estudo. Os resultados e a discussão são apresentados de forma descritiva, por meio da exposição dos dados relativos às publicações e da análise de conteúdo desses materiais.

Os estudos obtidos foram comparados com artigos publicados em um período anterior a busca de referência sendo encontrados resultados semelhantes e divergentes que contribuíram para embasar os achados desta revisão.

 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No quadro 1 encontra-se o perfil respectivamente de 17 artigos relacionados ao  níveis séricos de vitamina D  com a obesidade em crianças e adolescentes, mostrando desde sua origem, autores, objetivos, população, tipo de estudo até a síntese dos seus resultados e conclusões. Podendo-se observar que seis (03) deles foram realizados no Brasil e os demais, estão distribuídos em diferentes continentes como Ásia, América do Sul, África, Europa e EUA. A maioria, trata-se de estudo transversal, observacional, seguidos dos longitudinais observacionais e caso controle. 

Quadro 1: Resultados obtidos nas bases de dados Google Acadêmico, Medline/Pubmed e Scielo referentes aos níveis séricos de vitamina D e a obesidade em crianças e adolescentes.  Teresina, 2022.

1. Adikaram et al, 2019/Sri Lanka (Colombo)Avaliar a prevalência de deficiência de vitamina D e sua associação com distúrbios metabólicos associados a obesidade.Observacional(Transversal)202 crianças obesas com idade entre 5 e 15 anos atendidas na clínica de obesidade no Lady Ridgeway Hospital for Children. O sangue era coletado após jejum noturno de 12 horas para determinação da vitamina D. Os valores de corte para vitamina D: Deficiência: < 20 ng/ml eInsuficiência: entre 20 e 29 ng/ml.75,2% das crianças obesas tinham deficiência de vitamina D (níveis inferiores a 20 ng/ml); 21,3% tinham níveis insuficientes (21 a 30 ng/ml) e apenas 3,5% apresentaram valores próximos do ideal (variando de 30,5 ng/ml a 39,3 ng/ml).O estudo determinou uma alta prevalência de deficiência de vitamina D entre as crianças obesas participantes do estudo.
2. Shaikh et al, 2020/ArábiaSauditaDeterminar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças em idade escolar, em diferentes regiões da Arábia Saudita, e medir seu nível de vitamina D.Observacional(Transversal)3.613 escolares de 6 a 19 anos em escolas secundárias, intermediárias e primárias nas regiões oeste, central e leste da Arábia Saudita. As amostras de sangue para os níveis de vitamina D foram coletadas de diferentes cidades ao longo dos períodos do ano letivo. Para interpretação dos resultados foram utilizados os seguintes pontos de corte para: Deficiência – < 25 nmol/L 
Insuficiência – > 25 – 50 nmol/L 
64,2% das crianças obesas apresentaram valores deficiente de vitamina D e 33,7% níveis insuficiente. Apenas, 2% dos participantes do estudo atingiram níveis ideais.Alta prevalência de deficiência e insuficiência de vitamina D entre crianças em idade escolar na Arábia Saudita. Houve associação dos níveis séricos de vitamina D com a obesidade.
3. Shulhai et al, 2021/UcrâniaDeterminar a associação entre deficiência de vitamina D e síndrome metabólica em adolescentes com sobrepeso e obesidade da UcrâniaObservacional(Caso-controle)196 adolescentes entre 12 e 17 anos que viviam na região de Ternopil, na Ucrânia.  Os casos foram compostos por 76 adolescentes com obesidade e 60 com sobrepeso. Em contrapartida, o grupo controle de 60 indivíduos eutróficos de idade e sexo comparáveis. O status de vitamina D foi determinado usando níveis de 25-hidroxivitamina D   no soro sanguíneo. Considerando níveis de vitamina D: suficientes – entre 30 e 100 ng/mL; Insuficiência – entre 20 e 29 ng/mL, e Deficiência – abaixo de 20 ng/mL.Entre os adolescentes obesos 77,6% tinham deficiência de vitamina D e 18,4% insuficiência. Entre aqueles com sobrepeso a deficiência e insuficiência foi respectivamente de 70% e 23,3%.Já no grupo controle a deficiência foi de 56,7% e a insuficiência de 28,3%.O consumo suficiente de vitamina D esteve presente em 15% dos adolescentes de peso adequado, 6,7% com sobrepeso e 3,9% com obesidade.A prevalência de deficiência de vitamina D está fortemente associada a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes dessa região.
4. Saneifard et al, 2021/Irã (Teerã)Avaliar o estado de vitamina D em crianças e adolescentes e sua influência na puberdade e obesidade.Observacional (Transversal)384 crianças e adolescentes entre 7 e 16 anos encaminhados ao ambulatório de endocrinologia pediátrica. De acordo com a classificação da Endocrine Society para os níveis de vitamina D temos: Deficiência – < 20 ng/ml, Insuficiência – entre 20 e 30 ng/ml Suficiência – > 30 ng/ml.O nível sérico de vitamina D foi menor em crianças obesas no estágio de Tanner IV e V comparadas as não obesas. O nível médio de vitamina D foi de: 17,6 ± 17,5 nos obesos (>95%); 22,5 ± 15,3 nos de abaixo do peso (<5%) e 18,2 ± 14,1 nos eutróficos/sobrepeso (5%-95%)Há uma relação inversa entre os níveis de vitamina D e os percentis de IMC. E que a puberdade é um fator de risco adicional para deficiência de vitamina D, principalmente em meninas e crianças obesas.
5. Makariou et al, 2019/ GréciaDeterminar a prevalência dos níveis de vitamina D em adolescentes com obesidade em comparação com controles de peso adequado.Observacional(caso-controle)69 adolescentes obesos e 34 adolescentes eutroficos que frequentaram o Ambulatório de Pediatria e as Clínicas Metabólicas e de Obesidade do Hospital Universitário de Ioannina, na Grécia.
Os adolescentes com obesidade apresentam níveis significativamente mais baixos de vitamina D (média de 12ng/ml) em comparação aqueles com peso normal (média de 34ng/ml).A prevalência da deficiência de vitamina D entre adolescentes obesos foi de 73,9% e de 17,6% em indivíduos com peso normal.A deficiência de vitamina D é muito prevalente em adolescentes gregos obesos comparados aos controles com peso adequado.
6. Yahyaoui et al, 2019/ TunísiaEstudar a prevalência de deficiência de vitamina D em crianças obesas da Tunísia e examinar a relação entre os níveis de 25-hidroxivitamina D (25(OH) D) e a síndrome metabólica.Observacional (Caso-controle)60 crianças sendo 30 crianças obesas e 30 controles eutróficos.  A idade média foi de 8,7 anos nos casos e 8,8 anos nos controles. As diretrizes da Endocrine Society foram usadas para categorizar as crianças incluídas como deficientes em vitamina D (< 20 ng/ml), insuficientes (20 -29 ng/ml) e suficientes (> 30 ng/ml).Entre obesos e eutróficos os níveis medianos de 25(OH) D foram, respectivamente, 17,2 ± 5,9 ng/ml e 25,08 ±7,37ng/ml.Em relação aos níveis de vitamina D, 48,3% das crianças foram diagnosticadas com deficiência sendo n=23 (76,7%) casos e n=6 (20%) controles. Na insuficiência foram n=5 (16,7%) casos e n=18 (60%) controles. E com níveis suficientes de 25(OH)D, apenas n=2 (6,7%) casos e n=6 (20%) controles.A maioria das crianças desse estudo apresentam níveis inadequados de vitamina D. Sendo alta a prevalência tanto de insuficiência como deficiência em crianças obesas.
7. Rojas et al, 2020/ Colômbia (Bucaramanga)Estimar a prevalência do estado de 25-OH-D (insuficiência e deficiência) em crianças e adolescentes residentes em Bucaramanga, Colômbia e determinar sua associação com excesso de peso.Observacional (Caso-Controle)Projeto Simba II executado entre 2016 e 2017.494 crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos. Sendo divididos em 138 casos (sobrepeso e obesidade) e 356 controles (peso adequado).Os seguintes pontos de cortes foram utilizados:  deficientes em vitamina D (< 20 ng/ml), insuficientes (20 – 29 ng/ml) e suficientes (> 30 ng/ml).A deficiência de vitamina D (valores < 20 ng/ml) entre os grupos foi:  16,67% nos casos e 16,57% no grupo controle. A insuficiência de vitamina D (valores entre 21 ng/ml e 29 ng/ml) predominou nos casos com 57,25% e nos controles 45,22%.A suficiência da vitamina D (> 30 ng/ml) foram maiores nos controles, 38,20%, em comparação os casos, 26,09%.Há alta prevalência de deficiência e insuficiência de vitamina D entre crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade. Além de encontrar maiores valores de suficiência dessa vitamina entre os indivíduos com peso adequado.
8. Durá-Travé et al, 2019/ Espanha(Pamplona)Analisar as mudanças no estado de vitamina D e níveis de PTH em um grupo de crianças com obesidade incluídas em um programa de intervenção dietética, comportamental e atividade física para obter redução do estado de IMC.Estudo longitudinal de 1 ano.119 pacientes com diagnóstico de obesidade, com idades entre 9,1 e 13,9 anos. E um grupo controle de 300 crianças eutróficas com idades entre 8,1 e 13,9 anos. Os seguintes pontos de cortes foram utilizados:  deficientes em vitamina D (<20ng/ml), insuficientes (20-29ng/ml) e suficientes (> 30ng/ml).O nível médio de vitamina D no grupo controle foi de 27,9ng/ml e nos casos foi de média=21,9ng/ml.A prevalência de hipovitaminose D no grupo de crianças com obesidade (deficiência= 31%; insuficiência= 40%) foi maior do que no controle (deficiência= 14% e insuficiência= 44%).Nesse estudo, ficou claro que obesidade é um fator de risco para aumentar a prevalência de um status de vitamina D abaixo do aceitável, sendo necessário uma redução do IMC nessas crianças com o intuito de estabilizar os níveis de 25(OH)D.
9. Paes-Silva et al, 2019/ Brasil (Recife)Avaliar a associação entre processo inflamatório, adiposidade e vitaminas A, D e E em adolescentes, segundo sexo.Observacional(Transversal)411 adolescentes entre 12 e 19 anos, de ambos os sexos, de escolas públicas do Recife, nordeste do Brasil. A insuficiência de 25(OH)D foi definida como níveis < 72,5 nmol/L.Em relação a vitamina D:Os meninos apresentaram um maior risco de deficiência de 25(OH)D relacionado ao aumento da adiposidade em relação as meninas. No sexo masculino a média de ingestão de vitamina D no grupo com excesso de peso foi de (68,25nmol/L) estando insuficiente. Enquanto, o grupo sem excesso de peso foi classificado com níveis suficiente e obteve uma média maior (82,21nmol).O aumento da adiposidade abdominal proporciona alterações nos níveis de 25(OH)D sendo distintas de acordo com o sexo.
10. Chen et al, 2021/ China (Hangzhou)Investigar o status da vitamina D em crianças pré-escolares saudáveis em Hangzhou;Observacional(Transversal)1.510 crianças com idades entre 2 e 6 anos de 15 jardins de infância em Hangzhou. Os seguintes pontos de cortes foram utilizados:  deficientes em vitamina D (<20ng/ml), insuficientes (20-29ng/ml) e suficientes (> 30ng/ml).Os níveis de 25 (OH)D das crianças com o peso adequado foram os mais altos (28,16 ± 7,3 ng/ml) e os do grupo obeso foram os mais baixos (25,51 ± 7,4 ng/ml) seguidos pelo grupo de excesso de peso (27,41 ± 7,33). A prevalência de deficiência de vitamina D também foi maior no grupo obesidade (24,3%) seguido por excesso de peso (15,5%) sendo menor no grupo com o peso adequado (10,5%).Esse estudo determinou alta prevalência de deficiência de vitamina D entre pré-escolares em Hangzhou. Sendo que a deficiência dessa vitamina aumenta o risco do aparecimento da obesidade na população em análise.
11. Durá-Travé et al, 2017/ Espanha (Navarra)Determinar a prevalência e fatores específicos para hipovitaminose D em crianças estratificadas pelo índice de massa corporal (IMC) no norte da Espanha.Observacional(Transversal)546 indivíduos (237 homens e 309 mulheres) com idades entre 3,28 e 15,85 anos. Os seguintes pontos de cortes foram utilizados:  deficientes em vitamina D (<20 ng/ml), insuficientes (20 – 29 ng/ml) e suficientes (> 30 ng/ml).Os níveis médios de calcidiol foram maiores no grupo de peso normal (28,09+7,68) seguido pelo excesso de peso (27,65+7,34). Em contrapartida os menores níveis foram do grupo obesidade (26,18+7,00) e obesidade grave (23,09+8,24).A hipovitaminose D caracterizado por deficiência e insuficiência foi maior nos grupos obesidade grave (81,1%) e obesidade (68,2%). E menor nos grupos com sobrepeso (55%) e peso normal (58,1%)O grupo obesidade grave apresentaram níveis médios de vitamina D significativamente mais baixos quando comparados com outros status de IMC (normal, sobrepeso e obesidade). O que demonstra essa associação inversa entre o IMC e os níveis de calcidiol.
12. Teixeira et al, 2018/ Brasil (Rio de Janeiro)Avaliar o estado nutricional de vitamina D e o perfil metabólico em adolescentes com obesidade grave.Observacional comparativo60 adolescentes (G1), com obesidade grave sendo 63,3% do sexo feminino e 36,7% do sexo masculino, com idade entre 10 e 19 anos. A deficiência de vitamina D foi definido como valores <20,0 ng/ml; insuficiência, entre 21 ng/ml e 29 ng/ml; e suficiência, entre 30 ng/ml e 99 ng/ml.A porcentagem de inadequação da vitamina D entre esses adolescentes foi de deficiência (43,3%) e insuficiência (46,7%). Apenas 10% da amostra encontrava-se com valores suficientes de 25(OH)D.Nesse estudo foi observado uma alta prevalência de deficiência e insuficiência de vitamina D em adolescentes com obesidade
13. Doaei et al, 2020/Irã (Teerã)Investigar a associação entre o nível sérico de vitamina D e os índices antropométricos de adolescentes do sexo masculino com sobrepeso e obesidade no início e após 18 semanas de uma intervenção de redução de peso.Randomizado, controlado90 adolescentes do sexo masculino de 12 a 16 anos com sobrepeso e obesidade de duas escolas secundárias masculinas de Teerã, Irã.Os participantes foram divididos em dois grupos: alto nível sérico de vitamina D (> 40 ng/dl, n = 41) e baixo nível sérico de vitamina D (< 40 ng/dl, n = 49), tendo como ponto de corte ideal a manutenção do nível de calcidiol entre 40 e 60 ng/ml.Entre os participantes a deficiência de 25(OH)D foi de 8% (< 20 ng/ml), a insuficiência de 13% (entre 20-30 ng/ml). Enquanto 79% da amostra total apresentavam níveis normais dessa vitamina (> 30 ng/ml).A média da dosagem de vitamina D entre indivíduos obesos foi menor do que os que apresentavam sobrepeso (44,01 vs. 37,67 ng/dl, p < 0,04). No entanto, após 18 semanas de intervenção em ambos os grupos não houve correlação significativa entre os níveis de vitamina D e as alterações nos índices antropométricos.Os resultados demonstraram que o nível sérico de 25(OH)D teve relação inversa com o IMC em adolescentes do sexo masculino. Além disso, os estudantes obesos apresentaram menor nível de vitamina D em comparação aos com sobrepeso.
14. Araújo et al, 2017/Brasil (João Pessoa, Paraíba)Estimar a prevalência de hipovitaminose D e fatores associados em adolescentes escolares de uma capital do nordeste brasileiro.Observacional (Transversal)220 adolescentes entre 15 e 19 anos de ambos os sexos matriculados em escolas públicas de João Pessoa-PB, cidade metropolitana do nordeste do Brasil. A hipovitaminose D foi definida por valores de vitamina D < 30 ng/ml.Os níveis de vitamina D em média foi menor no grupo sobrepeso/ obesidade (26,2ng/ml) em relação ao grupo eutrófico (30,6ng/ml). Além disso, os adolescentes do sexo masculino com sobrepeso/ obesos tiveram 2,41 vezes mais chance de ter hipovitaminose D comparados aos eutróficos. Em contrapartida, a hipovitaminose D em adolescentes do sexo feminino foi mais prevalente no grupo com menores concentrações séricas de cálcio.Os dados desse estudo demonstram uma alta prevalência de hipovitaminose D e déficit cálcio em adolescentes no nordeste brasileiro. Sendo relacionado diretamente com o estado nutricional (sobrepeso e obesidade) para o sexo masculino.
15. Fu et al, 2019/ EUAExplorar as relações da 25-hidroxivitamina D (25(OH)D) sérica com obesidade e parâmetros metabólicos em crianças norte-americanas.Observacional(Transversal)6.311 crianças e adolescentes de 6 a 18 anos de uma amostra representativa do NHANES. De acordo com os pontos de corte do Institute of Medicine os participantes foram classificados em três categorias: níveis adequados de de vitamina D (> 50 nmol/l); inadequados (>30 nmol/l e < 50 nmol/l); deficientes (< 30 nmol/l)Em crianças e adolescentes obesos há uma forte associação inversa entre 25 (OH) e CC ou obesidade. Sendo que em média 30% dos obesos encontravam se com níveis deficientes (<30 nmol/l) de vitamina D, 21,9% níveis inadequados (30-50 nmol/l). Em contrapartida, apenas 13,4% (>50nmol/l) atingiram níveis adequados dessa vitamina.Os resultados apontam uma forte evidência de associação entre os baixos níveis de 25(OH)D e a obesidade indicada pelo parâmetro do IMC.
16. Pavlyshyn, H; Shulhai, A. M; Shulhai, O, 2019/ UcrâniaDeterminar a relação entre vitamina D e metabolismo de carboidratos em adolescentes com sobrepeso e obesidade.Caso- controle139 adolescentes, (65 com sobrepeso e 74 com obesidade). Os controles foram compostos por 63 indivíduos com peso adequado para idade. Os participantes foram divididos em grupos de acordo com o nível de vitamina D sendo eles: – Subgrupo 1: < 10 ng/ml (n=37),- Subgrupo: 2 de 10 ng/ml a 20 ng/ml (n=71) o- Subgrupo 3: de 20 ng/ml a 30 ng/ml (n=22), – Subgrupo 4 níveis acima de 30 ng/ml (n=9).A média de vitamina D em adolescentes com o peso corporal adequado foi de 17,6 ng/ml, com sobrepeso 14,5 ng/ml e com obesidade 12,7 ng/ml. O IMC médio (31,9kg/m²) no subgrupo 1 foi maior que no subgrupo 4 (26,3kg/m²). Também foi determinado que à medida que o nível sérico de calcidiol diminui a um aumento nos parâmetros de adiposidade como IMC, peso e CC.A prevalência de deficiência de vitamina D em adolescentes ucranianos é relacionado diretamente com sobrepeso e obesidade além de parâmetros de adiposidade como a CC.
17. Pérez- Bravo et al, 2021/ChileAnalisar os níveis séricos de 25(OH)D em uma amostra representativa de crianças chinelas.Observacional(Transversal)1.134 crianças de 4 a 14 anos de três cidades do Chile: Antofagasta, Santiago e Concepción. A deficiência sérica de vitamina D (20 ng/ml).Na amostra total, a deficiência de vitamina D foi maior na presença de sobrepeso e obesidade. E entre esse grupo ocorreu uma maior prevalência de deficiência leve de vitamina D. Sendo 37,4% na Anfagosta, 26% em Santiago e 29,4% em Concepción.Os resultados mostram uma deficiência significativa de Vitamina D em crianças e adolescentes chilenos. Sendo que menores níveis de vitamina D está correlacionada com uma maior taxa de sobrepeso e obesidade.

Fonte: Dados do autor.
*CC: circunferência da cintura, %GC: porcentagem de gordura corporal,      
IMC: Índice de Massa Corporal:          IMG: Índice de Massa Gorda           SS: Soma de Dobras Cutâneas

Dentre os vinte e três artigos encontrados que avaliaram a associação entre a obesidade em crianças e adolescentes e os níveis séricos de vitamina D, a maioria (82,3%) encontraram algum tipo de relação significativa entre o baixo consumo desse micronutriente com a adiposidade corporal e abdominal, bem como a elevação das medidas antropométricas com um maior risco de desenvolver um quadro de deficiência.

Destaca-se que os estudos transversais confirmam maior risco de deficiência de vitamina D relacionado ao aumento da adiposidade no sexo masculino. Entretanto, essa relação não se mantém em análises longitudinais, utilizadas para elucidar as relações temporais entre a baixa concentração desse micronutriente com o desenvolvimento da obesidade.

No que concerne a vitamina D, diz-se que os possíveis mecanismos que relacionam o papel deste nutriente na regulação dos parâmetros de adiposidade corporal estão ligados diretamente ao cálcio dietético, o que presume a ação sinérgica desses dois micronutrientes. Essa sinergia pode ocorrer de duas formas, uma pelo aumento da sensibilidade à insulina e a outra, pela liberação do hormônio da paratireóide (SOARES et al., 2014). 

No primeiro caso, ocorre pela ligação do receptor de vitamina D (VDR) ao calcitriol, facilitando a síntese e a secreção de insulina, através da transcrição gênica e por meio do influxo de cálcio ionizado para o interior da célula o que melhora a sensibilidade à insulina e promove o controle do apetite (PETERS; ROCHA; FRANÇA, 2019).

 O segundo, refere-se à situação de deficiência da vitamina D que causa um aumento do paratormônio e do cálcio livre intracelular nos adipócitos, o que pode atenuar a resposta lipolítica às catecolaminas e aumentar a lipogênese que contribui para o acúmulo de gordura no corpo. Sendo que esse processo pode ser revertido com a normalização dos níveis séricos de vitamina D (ZEMEL et al, 2000). Por outro lado, o depósito excessivo dessa vitamina nos adipócitos reduz de forma significativa a sua biodisponibilidade em obesos, o que sinaliza ao hipotálamo para ativar uma cascata de reações que resultam no aumento da sensação de fome e na diminuição do gasto energético (SOARES et al, 2014).

 Quanto aos níveis séricos de vitamina D entre crianças e adolescentes obesos, a maioria dos estudos determinou uma alta prevalência de deficiência, considerando os pontos de cortes propostos pela Endocrine Society e apoiados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) que classificam a deficiência (<20ng/ml ou <50nmol/l), insuficiência (entre a 20ng/ml a 29,9ng/ml ou 50 a 74,9nmol/l) e suficiência (>30ng/ml ou >75nmol/l) (PETERS; ROCHA; FRANÇA, 2019).

As maiores taxa de deficiência de vitamina D foram evidenciadas em três estudos sendo respectivamente de 77,6%, 75,2% e 64,2% em crianças e adolescentes com diagnóstico de obesidade (ADIKARAM et al, 2019; SHAIKH et al, 2020; SHULHAI et al, 2021).  Já à média de ingestão desta vitamina, entre os adolescentes com deficiência, manteve-se em um padrão com pouca variação, consumo diário entre 12ng/ml e 17,6ng/ml (SANEIFARD et al, 2021; MAKARIOU et al, 2019; YAHYAOUI et al., 2019). 

Em consonância com esses resultados, Mori et al. (2015), identificaram, no Brasil, um grupo de crianças e adolescentes obesos, com percentual de deficiência de 65,4% e uma média de concentração de vitamina D de 19,8ng/ml por dia. Já Rojas et al. (2020), na Colômbia, trabalhando com adolescentes obesos, verificou uma prevalência de 57,25% de insuficiência desta vitamina e Durá-Travé et al.  (2019), entre crianças espanholas o déficit foi de 40%.

No Brasil, Paes Silva et al. (2019), ao analisar um grupo de jovens com obesidade identificou uma ingestão média de 68,25nmol/l diário sendo um padrão insuficiente de consumo. Podendo ser expresso por Alemzadeh et al. (2007), que por meio de revisão retrospectiva dos prontuários clínicos de pacientes americanos com idade entre 6 e 17 anos, apontou uma insuficiência de vitamina D em 41,7% na amostra total sendo estabelecido de acordo com pontos de corte diário para o nível de 25(OH)D entre 50 e 74,9 nmol/L. Em contrapartida, os menores níveis de deficiência e insuficiência de vitamina D foi encontrados em crianças mais novas sendo respectivamente 24,3% e 21,3% estando significativamente menores comparadas a adolescentes (CHEN, et al., 2021; ADIKARAN, et al., 2019).  

Em dois estudos com crianças obesas graves foi visto valores respectivamente de 81,1% e 90% em hipovitaminose D (deficiência/ insuficiência) (DURA-TRAVÉ, et al., 2017; TEIXEIRA et al., 2018).  No entanto, o estudo de Mendonça et al (2020) encontrou um valor de 49% de deficiência de vitamina D em prontuários de pacientes com obesidade grave.  

Esses resultados podem ser explicados pelo fato de que até os nove anos de idade a porcentagem de gordura corporal está em torno de 15% em ambos os sexos. Todavia, com o início do estirão puberal há um aumento no peso corporal e nas necessidades por micronutrientes, principalmente a vitamina D (CUNHA, et al., 2015). Por outro lado, sabe-se, que a gravidade da obesidade também influência em maiores taxas de deficiência da vitamina D. 

 Em uma amostra representativa das Pesquisas Nacionais de Saúde e Nutrição de 2003–2006, Turer et al. (2012), mostraram que 49% das crianças obesas têm quatro vezes mais chances de hipovitaminose D em comparação às de peso adequado para idade. A explicação para esses dados referem-se, a possibilidade de menor tempo de exposição aos raios ultravioleta dos indivíduos obesos, devido, entre outros fatores, ao maior uso de vestuário, à uma mobilidade limitada e, em alguns casos, ao uso de protetor solar. Com isso, a exposição limitada a radiação ultravioleta prejudica a produção endógena da vitamina D através do precursor 7-deidrocolesterol encontrado na pele (CUNHA et al., 2015). 

No entanto, contrariando esses dados, Doaei et al. (2020), evidenciaram que os adolescentes iranianos do sexo masculino obesos, com idade entre 12 e 16 anos, tiveram os maiores valores de 25(OH)D comparado aos outros estudos abordados, encontrando uma porcentagem de 79% em suficiência entre esse grupo. Conseguinte a esses resultados, Franch et al. (2012), mostrou dados semelhantes em sua pesquisa com meninos espanhóis obesos entre 7 e 14 anos obtendo um valor adequado de vitamina D em 70% da amostra total. 

Esse fato pode ser explicado por questões intrínsecas do gênero já que o desenvolvimento durante a puberdade ocorre primeiro e com mais intensidade no sexo feminino. Além disso, os meninos tendem a ter uma maior massa corporal magra por centímetro de altura do que as meninas (CUNHA et al., 2015).

Todavia, resultados contrários a esses foram observados por Araújo et al (2017), em que os adolescentes do sexo masculino com obesidade apresentaram 2,41 vezes mais chances de ter hipovitaminose D comparado aos eutróficos na mesma faixa etária. Neste mesmo sentido, Khor et al. (2011), mostrou que, em média, os meninos eram mais obesos do que as meninas, e apresentaram uma associação negativa significativa com o nível de vitamina D.

Outro parâmetro analisado diz respeito a estudos realizados na Ucrânia e Estados Unidos com crianças e adolescentes com obesidade onde observou-se uma inversão entre maiores medidas de circunferência da cintura com a diminuição do nível sérico de calcidiol (FU, et al, 2019; PAVLYSHYN. H; SHULHAI. A. M; SHULHAI, O, 2019). Essa relação foi evidenciada, primeiro, no estudo de Zhang et al. (2014) em escolares com deficiência de vitamina D que apresentaram medidas de circunferência da cintura maiores em comparação ao grupo com suficiência. Esse parâmetro de fácil aferição é mais preciso do que o índice de massa corporal e é indicativo de acúmulo de gordura na região abdominal e risco para doenças crônicas sendo considerado no diagnóstico da síndrome metabólica (LIMA et al.,2011).

Pérez-Bravo et al. (2021), encontraram diferenças significativas no nível de vitamina D em crianças e adolescentes obesos entre 4 e 14 anos de distintas regiões do Chile. Obtendo valores de deficiência de 37,4% na Anfagosta, 26% em Santiago e 29,4% em Concepción. Esse fato pode ser exemplificado por Webb, Kline e Holick (1998), que afirmaram que as estações e a latitude afetam a quantidade e a qualidade de radiação ultravioleta que atinge a terra, o que influencia na síntese de vitamina D cutânea. Aliado a isso, os indivíduos obesos são mais sedentários e utilizam mais vestimentas ao se expor ao sol.

 Corroborando esses fatos tem Garanty-Bogacka et al. (2011), mostraram em seu estudo com adolescentes obesos poloneses que a mudança nas estações afeta os níveis de vitamina D circulantes. Logo, o risco de obter-se menores níveis de vitamina D foi maior no inverno do que no verão, já que a região da Polônia apresenta uma alta latitude.  Durante os meses mais frios do ano, a maior parte da radiação ultravioleta solar é absorvida pela atmosfera e não atinge a superfície terrestre, o que juntamente com mecanismos fisiológicos afeta a absorção cutânea na pele.

Dentre os trabalhos analisados, podemos encontrar variações nos resultados referente a dosagem dos níveis de vitamina D em crianças e adolescentes obesos. Isso pode ser explicado porque cada trabalho utilizou bases metodológicas diferentes onde determinou-se os níveis de vitamina D que foram coletados em laboratório através de métodos diferentes, (ensaio imunoenzimático de competição direta e cromatografia líquida de alta eficiência), além do período de duração e o tipo de delineamento dos estudos (transversal, longitudinal, caso-controle).

Conforme Bastos; Duquia, (2007), esses estudos apresentaram algumas limitações sendo entre elas o grande número de estudos de delineamento transversal que impossibilita estabelecer relações causais por não demonstrar a ocorrência de uma sequência temporal entre exposição, e fato subsequente ao desenvolvimento da doença ou desfecho. Todavia, pode-se inferir que a padronização dos critérios de elegibilidade realizada anteriormente à busca nas bases de dados, reduziu o risco de subjetividade ao delimitar os artigos.

Diante das limitações observadas quanto às divergências dos estudos relacionadas aos delineamentos, metodologias, variações ambientais e temporais em que foram realizadas, pode-se inferir a impossibilidade de afirmar que os baixos níveis séricos de vitamina D sejam a causa ou a consequência do aumento do número de crianças e adolescentes obesos, mesmo tendo sido observado alta prevalência de inadequação destes nutrientes na população estudada. Todavia, ainda é necessário estudos que quantifiquem valores ideais desse micronutriente para a redução da adiposidade corporal para serem utilizados futuramente no tratamento da obesidade.

CONCLUSÃO

A associação entre a vitamina D com a obesidade é complexa e é necessário mais estudos para elucidar essa relação. Alguns estudos analisados encontraram algum tipo de relação significativa entre o baixo consumo desse micronutriente com a adiposidade corporal e abdominal. Foi observado também um maior risco de deficiência de vitamina D relacionado ao aumento da adiposidade no sexo masculino nos estudos transversais. Outro aspecto observado é que alguns estudos mostraram associação inversa entre concentrações de vitamina D e obesidade ou medidas de adiposidade. Essa associação pode ser influenciada por estações do ano, sexo dos indivíduos e pela fase em que se encontra, como o estirão puberal. 

Desse modo, considera-se importante a avaliação dessa vitamina, principalmente entre indivíduos com maior risco da deficiência deles, e o incentivo de adoção de medidas preventivas como adesão a alimentação saudável e equilibrada, exposição solar em horários adequados sem uso de filtro solar e atividade física regular.

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