“RELATIONSHIP BETWEEN CHRONIC USE OF NSAIDs AND RISKS OF EROSIVE AND ULCERATIVE GASTRIC COMPLICATIONS”
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410261535
Fernando Lúcio dos Santos1;
Gerley Augusto Jácome dos Santos2;
Marcus Vinícius Moreira Barbosa3
Resumo
Os anti-inflamatórios não esteroides são os principais medicamentos usados para o tratamento de dores, edema e inflamação e pode-se notar o seu consumo indiscriminado. No entanto, o estômago pode sofrer alterações patológicas relacionadas à inflamação gástrica provocada por esses medicamentos. Assim, o uso contínuo tem sido relacionado a lesões gástricas, pois a inibição da COX-1 é em grande parte, a responsável por desequilíbrios da proteção e agressão da parede estomacal, com o surgimento de úlcera péptica e de hemorragia digestiva alta. Objetiva-se compreender o que a ciência atual informa sobre a relação entre o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) e o risco de complicações erosivas e ulcerativas gástricas, a fim de esclarecer e investigar as suas consequências. Trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática onde, para a busca foi utilizado as bases de dados: PubMed, Scielo e Biblioteca Virtual de Saúde, aplicando os seguintes descritores: “AINES AND uso crônico” e “AINES AND úlceras gástricas”. Essa pesquisa se justifica pela necessidade de fornecer uma síntese atualizada e abrangente sobre a detecção precoce de complicações gástricas pelo uso indiscriminado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) e pela importância de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: AINES. Uso crônico. Úlceras gástricas.
1. INTRODUÇÃO
O estômago possui alterações patológicas que giram entorno da inflamação gástrica medicamentosa que vem sendo bastante preocupante ao longo dos anos, principalmente após o uso indiscriminado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES). A inflamação ocorre quando há estímulos contínuos em um determinado local do corpo, sendo estes físicos, químicos e biológicos. Como resposta do organismo, ocorre uma reação de autodefesa de forma que a enzima ciclooxigenase (COX) converte o ácido araquidônico no local de ação em mediadores do processo inflamatório. A COX é classificada em COX-1 e COX-2, sendo a primeira importante para a proteção gástrica e a segunda relacionada à inflamação (Batlouni, 2010).
Os AINES são os principais fármacos utilizados para o tratamento da inflamação, dor e edema, principalmente para doenças gastrointestinais. Essa classe tem como mecanismo de ação inibir a COX, seletivamente ou não. Contudo, o bloqueio seletivo da COX pode promover um prejuízo, sobretudo devido a ausência de COX-1, que atua na proteção gástrica (Howard, 2004). O uso crônico de AINES torna-se um problema de pesquisa devido a sua associação às lesões gastricas, pois a inibição da COX-1 é em grande parte, a responsável por desequilíbrios da proteção e agressão da parede estomacal, com o aparecimento de úlcera péptica e de hemorragia digestiva alta (Bertolini, 2001). Portanto, o trabalho é justificado para fornecer uma síntese atualizada e abrangente dos estudos sobre este tópico. Objetiva-se, dessa forma, esclarecer, investigar e entender os riscos gástricos associados com o uso indiscriminado de AINES. Além disso, explicar como a atuação médica pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida do paciente com problemas gástricos proveniente de uso contínuo de AINES.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
As erosões gástricas são conhecidas como lesões que danificam a porção superficial do tecido e as úlceras pépticas são feridas abertas envolvendo a mucosa e estendendo para submucosa ou muscular, sendo exemplos de gastropatia. Elas ocorrem devido a um desequilíbrio entre os fatores de proteção e agressão da mucosa (Narayanan et al., 2018). As principais causas associadas envolvem infecção por Helicobacter pylori ou uso recorrente de AINES (Anti-Inflamatórios Não Esteroides), sendo associado a fatores socioeconômicos e saneamento básico (Kumar, 2018). Consecutivamente o uso automedicado e indiscriminado dos medicamentos é um problema mundial, pois são considerados de fácil acesso e que não necessitam receituário médico, sendo um fator de risco para a saúde pública, expondo o paciente que está no tratamento da dor de uma patologia base, causando outras comorbidades (Faqihi et al., 2021).
A fisiopatologia da úlcera causada por AINEs envolve um complexo desequilíbrio nas defesas gastrointestinais. Os AINEs atuam inibindo seletivamente a enzima ciclooxigenase (COX), suprimindo assim a produção de prostaglandinas, que são mediadores químicos essenciais para a manutenção da integridade da mucosa gástrica. Com a diminuição das prostaglandinas, ocorre uma redução na síntese de muco protetor, bicarbonato e mucina assim como a redução do fluxo sanguíneo local, além de uma maior secreção de ácido gástrico. Isso cria um ambiente propício para o desencadeamento de lesões erosivas e ulcerativas, tornando a mucosa vulnerável ao efeito nocivo do ácido gástrico podendo afetar todas as camadas estomacais (Kumar, 2018).
A inflamação gástrica é uma resposta do sistema imunológico a lesões ou irritações na mucosa gástrica. Ela envolve a migração de mediadores inflamatórios, aumento da permeabilidade vascular e liberação de citocinas pró inflamatórias, necrose tecidual por isquemia podendo resultar, em casos mais específico como a gastrite hemorrágica erosiva aguda, sangramento gastrointestinal leve. A ulceração representa um estágio mais avançado da lesão da mucosa gástrica e pode ocorrer como consequência da inflamação crônica ou de lesões mais graves. As úlceras gástricas, caracterizadas por feridas abertas na mucosa, se formam devido à inflamação contínua, diminuição da produção de prostaglandinas protetoras e erosão da mucosa contendo presença de tecido de granulação, fibrose, células inflamatórias agudas e resto necróticos. Elas podem ser dolorosas e, em casos graves, causar hemorragias graves, perfuração da parede gástrica ou obstrução do trato gastrointestinal (Kumar, 2018).
As manifestações clínicas associadas a essa morbidade que se cursa com úlcera gástrica é uma dor no epigástrio com piora pós-prandial. Frequentemente tem correlação com náuseas, vômito, eructações, distensão abdominal e plenitude. A dor tem início agudo e caracteriza em tipo de queimação que não é radiada. Os sintomas podem durar por semanas ou meses. Também podem apresentar sintomas de alarme que evidenciam uma piora no quadro e uma necessidade de intervenção médica, na qual o paciente apresenta perda de peso não associada ao estilo de vida, sangramentos na parte superior do estômago que se apresenta com hematêmese e/ou melena, história familiar de câncer gastrointestinal, anemia ferropriva (Woolf et al., 2021; Malik et al., 2021).
Para um diagnóstico preciso é necessária uma anamnese minuciosa, exame físico direcionado e de acordo com o caso solicitar exames laboratoriais e de imagem. Em quadros na qual manifestam os sinais de alarme deve ser suspeitado úlceras gástricas. O exame padrão ouro é a endoscopia digestiva alta, que possui uma especificidade de até 90% de visualizar erosões e úlceras pépticas, além de avaliar as complicações delas como sangramento, perfuração ou câncer. Radiografia e tomografia computadorizada de abdome pode ser solicitada para diagnósticos diferenciais e complicações. Além de exames para teste de presença de Helicobacter pylori (Woolf et al., 2021; Malik et al., 2021).
O tratamento é voltado a neutralização do ácido gástrico, em geral através de medicamentos da classe inibidores da bomba de prótons. Com o seu uso tem-se uma redução da necessidade cirúrgica, que será de especialmente útil em último caso no tratamento de úlceras hemorrágicas ou perfurativas e em casos refratários no qual mesmo com a suspensão dos anti-inflamatórios e tratamento com redutores de acidez não tenham efeitos. (Cho et al., 2020; Kumar, 2018).
3. METODOLOGIA
O presente estudo é uma revisão sistemática com o objetivo de investigar a relação entre o uso crônico de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e o risco de complicações erosivas e ulcerativas gástricas. Foram selecionados 28 artigos, dos quais foram utilizados 9, publicados nos últimos cinco anos que abordem a relação entre o uso crônico de AINEs e o risco de complicações gástricas, para assegurar a atualidade e a pertinência dos achados.
Em relação a amostra, foi selecionada com base em critérios de inclusão e exclusão predefinidos, visando garantir a relevância e qualidade das evidências analisadas. Foram incluídos estudos que sejam ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais e de coorte que investiguem essa associação, e que estejam disponíveis em português e inglês, publicados nos últimos cinco anos. Além disso, foram excluídos estudos de acesso não gratuito, artigos duplicados e pesquisas realizadas em modelos animais não humanos, para garantir que os dados coletados estejam relacionados a seres humanos e sejam acessíveis.
A coleta de dados realizada ocorreu por meio de buscas nas bases de dados PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando descritores específicos como “AINES”, “uso crônico” e “úlceras gástricas”, aplicados com o operador booleano “and” para refinar os resultados. A análise dos dados ocorrerá por meio de uma síntese qualitativa das evidências encontradas, considerando a qualidade metodológica dos estudos incluídos e o risco de viés, de forma a garantir uma interpretação precisa e fundamentada.
Este estudo é delineado como uma revisão sistemática que avalia as evidências disponíveis sobre a relação entre o uso crônico de AINEs e as complicações gástricas, incluindo erosões e úlceras, buscando evidenciar informações atuais e relevantes através da consulta de bases de dados científicas confiáveis.
Quanto aos aspectos éticos, a pesquisa não apresenta riscos diretos aos participantes, pois utiliza apenas dados secundários de estudos previamente publicados. No entanto, é fundamental que os artigos incluídos tenham seguido diretrizes éticas apropriadas para a pesquisa com seres humanos. Os benefícios esperados desta revisão incluem a ampliação do conhecimento sobre os riscos associados ao uso crônico de AINEs, possibilitando subsídios para a prática clínica e orientações adequadas aos pacientes sobre manejo terapêutico e alternativas que minimizem riscos gastrointestinais. A pesquisa será suspensa ou encerrada se for identificado que a qualidade metodológica ou a conformidade ética dos estudos incluídos são insuficientes, comprometendo a integridade e a validade dos resultados. A manutenção da qualidade e a ética dos estudos são primordiais para garantir a confiabilidade dos achados e a relevância científica da pesquisa.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Os dados analisados revelaram uma prevalência considerável de complicações gástricas em pacientes que utilizam AINEs de forma crônica. A inibição da COX-1 pelos AINEs resulta em uma redução significativa na produção de prostaglandinas, que são fundamentais para a proteção da mucosa gástrica. Isso compromete a barreira mucosa e favorece o surgimento de erosões e úlceras gástricas. Os resultados mostraram que a prevalência dessas lesões em pacientes que utilizam AINEs é de até 81%, especialmente em pacientes que fazem uso prolongado e em altas doses (Narayanan et al., 2018). Ainda, o uso de AINEs por mais de 30 dias aumenta substancialmente o risco de úlceras gástricas, com um odds ratio de 7,11, evidenciando que a duração do uso é um fator determinante (Malik et al., 2021). Dessa forma, a agressão tópica causada pela interação dos AINEs com a mucosa gástrica, aliada à inibição sistêmica da COX-1, resulta em danos significativos e frequentes ao estômago.
Além disso, o efeito dos AINEs na mucosa gástrica é uma das principais causas de complicações, como hemorragia digestiva e perfuração gástrica. Mesmo com a introdução de AINEs seletivos para COX-2, que visam minimizar os efeitos adversos gastrointestinais, muitos pacientes ainda apresentam complicações devido ao efeito residual sobre a COX-1 e a resposta inflamatória local (Kumar, 2018). A análise também sugere que a variabilidade na resposta adaptativa da mucosa entre os pacientes pode influenciar os resultados. Enquanto alguns indivíduos desenvolvem mecanismos de adaptação para compensar a agressão dos AINEs, outros continuam em risco elevado de complicações graves, como sangramentos ou perfurações, mesmo com o uso profilático de inibidores da bomba de prótons, IBPs, (Malik et al., 2021).
Esses achados ressaltam a importância de práticas clínicas que incluam a avaliação criteriosa do histórico médico do paciente antes de prescrever AINEs, especialmente em tratamentos prolongados. Além disso, a implementação de medidas preventivas, como o uso concomitante de IBPs e o monitoramento contínuo da mucosa gástrica, é crucial para minimizar os riscos. Por fim, a continuidade da pesquisa com uma base de dados mais extensa e estudos controlados randomizados é essencial para aprofundar o conhecimento sobre os efeitos dos AINEs e desenvolver estratégias mais eficazes de prevenção.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados apresentados, o estudo conclui que o uso crônico de AINEs está fortemente associado ao aumento do risco de complicações gástricas, incluindo erosões e úlceras pépticas, devido à inibição da COX-1, que reduz a proteção da mucosa gástrica. O uso prolongado e em altas doses de AINEs exacerba esse risco, sendo a duração do uso um fator determinante. Apesar da introdução de AINEs seletivos para COX-2, as complicações gastrointestinais continuam a ocorrer em muitos pacientes. Portanto, a implementação de medidas preventivas, como o uso concomitante de inibidores da bomba de prótons (IBPs), uma boa orientação médica e políticas de sáude que incentivem o uso consciente, é essencial para minimizar esses riscos. Futuros estudos são necessários para explorar alternativas terapêuticas que possam reduzir os efeitos adversos dos AINEs na mucosa gástrica.
REFERÊNCIAS
BATLOUNI, M. Antiinflamatorios no esteroides: efectos cardiovasculares, cerebrovasculares y renales. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 94, n. 4, p. 538-546, 2010.
BERTOLINI, A.; OTTANI, A.; SANDRINI, M. Dual acting antiinflammatory drugs: a reappraisal. Pharmacological Research, v. 44, n. 6, p. 437–450, 2001.
CHO, Y. K. et al. Randomised clinical trial: tegoprazan, a novel potassium-competitive acid blocker, or lansoprazole in the treatment of gastric ulcer. Alimentary Pharmacology & Therapeutics,v. 52, n. 5, p. 789–797, 23 jul. 2020.
FAQIHI, A. H. M. A.; SAYED, S. F. Self-medication practice with analgesics (NSAIDs and acetaminophen), and antibiotics among nursing undergraduates in University College Farasan Campus, Jazan University, KSA. Annales Pharmaceutiques Françaises, v. 79, n. 3, 2021.
HOWARD, P. A. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs and cardiovascular risk. Journal of the American College of Cardiology, v. 43, p. 519-525, 2004.
KUMAR, V. Robbins: Patologia Básica. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. E-book. ISBN 9788595151895. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151895/. Acesso em: 9 out. 2023.
MALIK, T. F.; GNANAPANDITHAN, K.; SINGH, K. Peptic Ulcer Disease. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2021 [atualizado em 29 jul. 2021]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534792/.
NARAYANAN, M.; REDDY, K. M.; MARSICANO, E. Peptic ulcer disease and Helicobacter pylori infection. Missouri Medicine, v. 115, n. 3, p. 219-224, 2018.
WOOLF, A.; ROSE, R. Gastric Ulcer. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2021 [atualizado em 13 jul. 2021]. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534794/.
1Discente do Curso Superior em Medicina do Instituto Presidente Antônio Carlos – ITPAC Campus Porto Nacional e-mail: fernandolucio898@gmail.com
2Discente do Curso Superior em Medicina do Instituto Presidente Antônio Carlos – ITPAC Campus Porto Nacional e-mail: gerley74@gmail.com
3Docente do Curso Superior em Medicina do Instituto Presidente Antônio Carlos – ITPAC Campus Porto Nacional. Doutor em Biotecnologia (BIONORTE/UFT). e-mail: marcus.barbosa@itpacporto.edu.br