REFLEXÕES SOBRE UM INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO PARA DETERIORAÇÃO  CLÍNICA: UMA EXPERIÊNCIA PRÁTICA 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10608872


Ana Luisa Justino Dos Santos;
Cristina Ila De Oliveira Peres


RESUMO: Introdução: O estágio não obrigatório é um importante meio de ensino que pretende,  mediante atividades supervisionadas, enriquecer a formação profissional através do desenvolvimento  de habilidades técnico-científicas. Objetivo: Relatar as percepções de uma acadêmica de enfermagem  quanto ao uso da Escala de Alerta Precoce Modificada (MEWS), a partir de um estágio extracurricular.  Método: Trata-se de relato de experiência sobre a realização de um Estágio Extracurricular, na cidade  de Uberlândia-MG. Discussão: o Mews é uma escala de fácil aplicabilidade que tem como objetivo  identificar precocemente pacientes em deterioração clínica aguda, dando respaldo para a tomada de  condutas rápidas e assertivas. Conclusão: o Escore Mews é uma importante ferramenta que auxilia a  equipe multiprofissional, promovendo a segurança dos pacientes. 

Palavras-chave: Segurança do Paciente; Escore Mews; Estágio extracurricular. 

INTRODUÇÃO 

O ensino superior em Enfermagem oferece aos acadêmicos uma formação de generalista,  promovendo o exercício do pensamento crítico-reflexivo frente às diversas situações e desafios existentes nos ambientes de saúde. A aquisição de competências e habilidades técnico-científicas  desempenha um papel essencial no desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo por parte dos  alunos. Neste sentido, o estágio é uma importante etapa na formação do discente ao instigar a  capacidade de análise e romper com a dicotomia entre teoria e prática, tornando-as aliadas para o  futuro exercício profissional. 

O estágio pode ser dividido entre obrigatório e não obrigatório. No primeiro, também conhecido  como estágio curricular ou supervisionado, o acadêmico é acompanhado por um professor, enquanto  que o segundo, chamado de estágio opcional ou extracurricular, é de natureza complementar, sendo o  acompanhamento realizado por um enfermeiro que trabalha na unidade de saúde onde o estágio é  realizado (ROCHA et al., 2023). 

A motivação para a elaboração deste trabalho se deu após a autora, na condição de graduanda  em enfermagem, realizar um estágio não obrigatório onde teve contato com um instrumento de  avaliação para deterioração clínica, a Escala de Alerta Precoce Modificada (MEWS). 

OBJETIVO 

Relatar as percepções de uma acadêmica de enfermagem quanto ao uso da Escala de Alerta  Precoce Modificada, a partir de um estágio extracurricular. 

METODOLOGIA 

Trata-se de um relato de experiência sobre a realização de um estágio extracurricular  remunerado, realizado em um hospital particular, localizado na cidade de Uberlândia – MG. O hospital possui pronto atendimento, centro cirúrgico, unidades de internação e unidades de terapia intensiva,  atendendo a diversas demandas clínico-cirúrgicas. 

A vivência ocorreu durante os meses de outubro de 2021 a janeiro de 2023. Nesse período foi  possível praticar o cuidado integral aos pacientes internados nas diferentes enfermarias do hospital,  vivenciando a rotina da equipe de enfermagem na assistência intra-hospitalar. Além da prestação direta de cuidados de enfermagem aos pacientes, também foi possível experienciar as competências  gerenciais do enfermeiro, atividades estas que embasaram estratégias de resolução de problemas e  reforçaram o pensamento analítico. 

DISCUSSÃO 

Desde 1999, com a publicação do relatório “To Err is Human: building a safer health system”  (Errar é humano: construindo um sistema de saúde mais seguro) pelo Instituto de Medicina dos  Estados Unidos, a Segurança do Paciente tornou-se alvo de ampla discussão em todo o mundo, isto  porque, o relatório apontou que cerca de 44.000 a 98.000 estadunidenses morriam a cada ano, vítimas  de erros médicos (ROMERO; GONZÁLEZ; CALVO; FACHADO, 2018). A publicação deu início à  busca por uma prestação de assistência à saúde com qualidade, que pode ser traduzido pela redução de  danos desnecessários ao paciente. Neste sentido, a identificação precoce do deterioramento agudo de  pacientes é peça fundamental para a assistência segura e de qualidade. 

As alterações dos parâmetros vitais que precedem a deterioração clínica de pacientes podem  indicar a necessidade de monitorização mais enfática em enfermarias. Em geral, essa piora clínica é  reconhecida tardiamente em unidades de internação, o que implica em atraso nas intervenções precoces e reflete em um aumento da mortalidade hospitalar (MONTENEGRO; MIRANDA, 2019). 

A American Heart Association (AHA) através das Diretrizes de Ressuscitação Cardiopulmonar  (RCP) recomenda uma cadeia de sobrevivência intra-hospitalar, que se constitui de ações sequenciais  que visam aumentar a chance de sobrevida do paciente vítima de parada cardiorrespiratória (PCR). O  primeiro elo dessa cadeia (“reconhecimento precoce e prevenção”), depende de um sistema de  vigilância adequado que previna a PCR, ressaltando a importância do reconhecimento precoce de  deterioração clínica dos enfermos. 

Existem escores que integram diferentes parâmetros para identificar precocemente os pacientes  em piora clínica nas enfermarias, como a Escala de Alerta Precoce Modificada (EAPM ou MEWS, em  inglês). A obtenção do escore, que é individual para cada paciente, é constituída através da avaliação  de parâmetros fisiológicos que podem ser facilmente adquiridos à beira leito, são eles: nível de  consciência simples (SNC), frequência cardíaca (FC), pressão arterial sistólica (PAS), frequência  respiratória (FR) e a temperatura axilar (Ta). Para cada parâmetro vital são atribuídos valores entre  zero e três pontos, podendo o escore total variar de zero a 14 pontos. Pontuações entre 4 e 6 significam  sinais de alerta para os profissionais de saúde, pontuações iguais ou maiores que 7 significam risco  iminente de morte do paciente (MONTENEGRO; MIRANDA, 2019).

Na instituição em que se deu o estágio, a equipe de enfermagem é responsável por aplicar a  escala. Após obter os dados necessários, os valores de cada parâmetro são inseridos no prontuário  eletrônico do paciente (PEP). Dentro do sistema há um módulo responsável por calcular os parâmetros  automaticamente, gerando um alerta quando a pontuação é igual ou maior que 3. No que tange a equipe de enfermagem deste hospital, profissionais de nível médio podem aferir os sinais vitais e  anotar os parâmetros na escala, no entanto, a avaliação do resultado do escore é incumbida ao  enfermeiro, em conformidade com as disposições da legislação que regulamenta o exercício  profissional. De acordo com o Artigo 8º do Decreto nº 94.406/87, que regulamenta a Lei do Exercício  Profissional de Enfermagem, atividades de enfermagem de maior complexidade técnica, demandando  conhecimentos científicos apropriados e capacidade de tomar decisões mediatas, são atribuições  exclusivas desse profissional. 

Ademais, o hospital adotou um fluxo de atendimento próprio para pacientes cujo escore é igual  ou acima de 3. Nestes casos, o enfermeiro deve primeiro avaliar o paciente e em seguida abrir uma  ficha de notificação no PEP, que além de conter campos de preenchimento para os sinais vitais, consta  o horário de início do protocolo, a justificativa para sua abertura e se houve necessidade de acionar o  médico plantonista. Caso a resposta seja afirmativa para chamar o plantonista, deve-se ainda constar o  horário em que ele foi acionado, o horário em que ele realizou a avaliação do paciente e qual a conduta  recomendada. 

O Escore Mews passou a ser percebido como uma ferramenta muito rica para o binômio  paciente-profissional. Os primeiros se beneficiam do uso desta, uma vez que tendem a ser melhor  cuidados e receberem intervenções oportunas frente a uma deterioração clínica. Já aos profissionais,  confere autonomia aos enfermeiros além de permitir uma troca de comunicação mais efetiva entre a  equipe multiprofissional, repercutindo em melhor atendimento aos pacientes e em melhores desfechos  clínicos. 

CONCLUSÃO 

As vivências atribuídas ao estágio extracurricular, quando devidamente supervisionadas e  orientadas, somam-se positivamente para a formação acadêmica, permitindo o contato com diferentes  realidades, aliando o saber teórico à prática, aprimorando o julgamento clínico e desenvolvendo  capacidades e habilidades técnico-científicas necessárias ao exercício profissional. 

O uso da escala foi uma novidade que me despertou o interesse e curiosidade durante o período  de estágio, pois, ainda que seja de fácil aplicação e muito útil para a prática clínica, não foi um  instrumento que tive contato durante as aulas teórico-práticas dentro do espaço acadêmico.  Paralelamente, nos campos de aulas práticas, que são realizadas em um hospital universitário de grande porte da cidade, notei que a ausência de escalas de deterioração clínica dificultam o trabalho nas enfermarias. Além de haver demora no reconhecimento de pacientes que apresentam algum declínio clínico, também há prejuízo na comunicação interprofissional, que é muitas vezes entravada  pela falta de registros corretos e assíduos referentes à assistência ao paciente. 

A Escala MEWS revelou-se uma contribuição valiosa para aprimorar a segurança dos pacientes  e a eficiência dos cuidados prestados, proporcionando uma abordagem padronizada e objetiva para  avaliar a condição do paciente. 

REFERÊNCIAS 

AMERICAN HEART ASSOCIATION et al. Destaques das diretrizes de RCP e ACE de 2020  da American Heart Association. da versão português Hélio Penna Guimarães. Projeto de Destaques das Diretrizes da AHA: AHA, 2020. 

BRASIL. Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de  junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, e dá outras providências. Diário Oficial  da União, 1987. 

MONTENEGRO, Sayane Marlla Silva Leite; MIRANDA, Carlos Henrique. Evaluation of the  performance of the modified early warning score in a Brazilian public hospital. Revista brasileira de  enfermagem, v. 72, p. 1428-1434, 2019. 

ROCHA, Viviane et al. Formação em saúde no estado de Sergipe: A contribuição do estágio  supervisionado na percepção dos discentes. Revista Sergipana de Saúde Pública, v. 2, n. 01, 2023. ROMERO, Manuel Portela et al. A segurança do paciente, qualidade do atendimento e ética  dos sistemas de saúde. Revista Bioética, v. 26, p. 333-342, 2018.