REFLEXÕES ACERCA DE CRIANÇAS DISLÉXICAS: DIAGNÓSTICO TARDIO E FRACASSO ESCOLAR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412240963


Vanessa Ribeiro Meireles S. Magalhães1
Ana Lúcia Melo Moreno2


RESUMO

Este artigo tem como propósito realizar algumas reflexões acerca de crianças com dislexia que possuem um diagnóstico tardio, influenciando fortemente em seu processo de ensino aprendizado e na sua vida de modo geral. Sabemos que a educação do século XXI enfrenta um dos seus maiores desafios, sendo este, a inclusão e socialização de crianças com necessidades educacionais. Para os pais dessas crianças, também não é uma tarefa fácil e muito trabalhosa. Busca-se nas escolas e nos profissionais da educação, saídas para amenizar as dificuldades encontradas pelos seus filhos. Para tanto, utiliza-se a fundamentação teórica de Rotta, Bonder, Miguens, Gómez, Terán, Freitas entre outros autores que oferecem uma compreensão ampla sobre as manifestações da dislexia e as metodologias de apoio educativo. Esses alunos discutem não apenas os aspectos neuropsicológicos da dislexia, mas também abordagens pedagógicas que podem auxiliar no desenvolvimento de competências específicas, contribuindo para uma prática educacional mais equitativa e inclusiva. Em conclusão, é possível afirmar que o diagnóstico precoce e a adaptação do ensino às necessidades das crianças disléxicas são fundamentais para que elas possam desenvolver plenamente o seu potencial. A atuação colaborativa entre família, escola e especialistas é essencial para que esses alunos superem as barreiras de aprendizagem, promovendo a inclusão e garantindo que todos tenham acesso igualitário ao conhecimento. Assim, o artigo espera estimular a divulgação e ações práticas que contribuam para uma educação inclusiva, capaz de valorizar e respeitar as singularidades de cada aluno.

Palavra-chave: Dislexia. Fracasso escolar. Diagnóstico.

ABSTRACT

This article aims to reflect on children with dyslexia who have a late diagnosis, strongly influencing their teaching- learning process and their lives in general. We know that 21st century education faces one of its biggest challenges, which is the inclusion and socialization of children with educational needs. For the parents of these children, it is also not an easy and very difficult task. Schools and education professionals seek solutions to alleviate the difficulties encountered by their children. To this end, we use the theoretical foundations of Rotta, Bonder, Miguens, Gómez, Terán, Freitas among other authors who offer a broad understanding of the manifestations of dyslexia and educational support methodologies. These students discuss not only the neuropsychological aspects of dyslexia, but also pedagogical approaches that can help in the development of specific skills, contributing to a more equitable and inclusive educational practice. In conclusion, it is possible to state that early diagnosis and adaptation of teaching to the needs of dyslexic children are fundamental so that they can fully develop their potential. Collaborative action between family, school and specialists is essential for these students to overcome learning barriers, promoting inclusion and ensuring that everyone has equal access to knowledge. Thus, the article hopes to encourage dissemination and practical actions that contribute to an inclusive education, capable of valuing and respecting the uniqueness of each student.

KEYWORDS: Dyslexia. school failure. Diagnosis.

1  INTRODUÇÃO

Tem-se observado um grande número de crianças que apresentam dificuldades na leitura e na escrita. Logo, isso nos leva a fazermos algumas indagações: Quais motivos levam uma criança a não aprender? Por que alguns alunos, mesmo com o apoio dos familiares, professores não conseguem avançar? Muitas crianças avançam no grau de escolaridade (de uma série para outra), sem ao menos ler e escrever adequadamente para aquela determinada série em que estão inseridos. O diagnóstico tardio em crianças com dislexia acarreta consequências gravíssimas no processo ensino – aprendizagem e no seu desenvolvimento de modo geral.

Faz-se oportuno, nesse contexto, explicitar que a ausência de professores capacitados e com um olhar diferenciado, retarda o processo do diagnóstico do educando e como consequência o desenvolvimento educacional. Uma vez que, a grande maioria dos casos de alunos disléxicos pode ser observada no início do processo de alfabetização. Porém, esse momento, muitas vezes, é negligenciado por inúmeros motivos: professores com nenhuma experiência no campo educacional especializado e por não conhecerem as competências e habilidades da criança em cada fase do seu desenvolvimento, família ausente, por acreditarem que a criança irá avançar na série seguinte, entre outros fatores. Outro ponto em questão, trata-se da aceitação dos pais dessas crianças que apresentam dificuldades educacionais.

Crianças com dislexia, não apresentam nenhum sinal aparente (físico), dificultando para o corpo docente perceber que eles podem estar mediante a uma criança disléxica. É importante enfatizar que a dislexia ainda não é compreendida, sendo facilmente confundida com outros tipos de transtornos. Portanto, a investigação da dislexia em uma criança é complexa e extensa, faz-se necessário dispor de uma equipe multidisciplinar formada por professores, coordenadores, fonoaudiólogos, neuropediatras dentre outros para acompanhamento discente.

Diante do exposto, chegou-se ao seguinte problema cientifico: como acelerar o diagnóstico em crianças com transtorno da dislexia colaborando para o melhor atendimento especializado, garantindo a sua aprendizagem significativa? Assim, para tal propósito, tem-se como objetivo geral: identificar as inúmeras causas dos diagnósticos tardios em crianças com dislexia, bem como, facilitar o atendimento apropriado para as mesmas.

A pesquisa, ora explicitada, baseia-se na taxionomia de Vergara (2003) e se classifica da seguinte forma: quanto aos fins em descritiva e explicativa. Descritiva, porque visa descrever o ambiente escolar no âmbito geral, relatando sobre as dificuldades de alunos com dislexia, abordando sobre os diagnósticos tardios e suas consequências no processo de ensino e aprendizagem; Explicativa, porque busca uma relação de causa – efeito para o fracasso educacional dessas crianças. Quanto aos meios, ainda conforme a mesma autora é bibliográfica em face da necessidade de se recorrer a uma vasta literatura, livros, periódicos, revistas, hipertextos entre outros.

A dislexia faz parte do contexto escolar e precisa ser compreendida para ser diagnosticada em tempo hábil, para que a criança que apresente esse tipo de distúrbio possa ser atendida de maneira adequada fazendo- se necessário programas de formação para os profissionais da área da educação, pois, na grande maioria é na fase escolar que essas crianças podem ser identificadas com mais facilidade. Todavia, por falta de informação e de um olhar mais direcionado do professor, muitas delas que poderiam ter sido diagnosticadas e atendidas de forma adequada, nos seus primeiros anos escolar, ainda enfrentam grandes dificuldades e caminham para o fracasso educacional.

Assim sendo, para a concretização deste estudo, primeiramente, analisam-se as diversas literaturas e legislações a luz de teorias contemporâneas e, logo após, apontam-se ações metodológicas bem como pedagógicas que possam, efetivamente, minimizar o problema em reflexão.

2  UM PANORAMA HISTÓRICO DA DISLEXIA

O primeiro caso clínico estudado com referencia a dificuldade à linguagem escrita, foi apresentado no ano de 1896, por Pringle Morgan. Um jovem de 14 anos que, apesar de apresentar uma inteligência notável, apresentara uma incapacidade quase absoluta em relação à linguagem escrita, que foi designada neste momento de “cegueira verbal.” Esta perturbação recebeu diversas nomenclaturas: cegueira verbal congênita, dislexia congênita, estrefossimbolia, alexia do desenvolvimento e dislexia constitucional.

No início do século XX, os psicólogos e educadores deram pouca importância aos transtornos específicos da linguagem, se concentravam apenas no aspecto pedagógico do problema. Ao mesmo tempo, a classe médica negligenciava o problema na sala de aula, o que contribuía para estabelecer uma grande lacuna entre a recuperação das crianças e o seu problema.

Através de uma pesquisa realizada em unidades de saúde mental, nos Estados Unidos, em meados de 1925, descrevendo a dificuldade de ler, escrever e soletrar, pois, se constituíam nas causas mais frequentes dos encaminhamentos realizados. E foi a partir daí, que vários autores, começaram a estudar e descrever o distúrbio. Oftalmologistas, norte-americanos, ajudaram a identificar o distúrbio, alegando que: “Não são os olhos que leem, mas o cérebro”.

Segundo Rotta (2006), entre 1928 e 1937, Orton, estudou famílias de disléxicos e encontrou algumas alterações, como escrita em espelho, e chamou a atenção para o aspecto genético. Sugeriu que o fenômeno era provocado por imagens competitivas nos dois hemisférios cerebrais devido à falência em estabelecer dominância cerebral unilateral e consistência perceptiva. Seguiram-se a ele vários outros estudiosos interessados no assunto.

Assim, com a influência de correntes psicodinâmicas, na década de 1960, foram amenizados aspectos biológicos da dislexia, atribuindo essa dificuldade a problemas emocionais, afetivos e a imaturidade.

Segundo Federação Mundial de Neurologia, em 1968, é utilizado pela primeira vez o termo dislexia do desenvolvimento, definindo-a como um transtorno que se manifestava por dificuldades na aprendizagem da leitura, apesar das crianças serem ensinadas com métodos tradicionais. O DSM IV, em 1994, classificou a dislexia nas perturbações de aprendizagem, apresentando a denominação “perturbação da leitura e escrita”. Hoje, os estudos mais recentes estão no campo psiconeurológico. O Brasil também tem sua contribuição com a pesquisa sobre “A diferença dos volumes dos lobos temporais direito e esquerdo”.

Segundo Miguens (2009), no Brasil foi criada, no ano de 1983, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), com o objetivo de esclarecer, divulgar, ampliar conhecimentos e ajudar os disléxicos em sua dificuldade específica de linguagem. Se a dislexia for diagnosticada e tratada adequadamente, o paciente pode ter melhora de até 80%. No dia 07 de novembro de 2000, fundou-se a Associação Nacional de Dislexia – AND, que possui o objetivo de promover o conhecimento e a compreensão do fenômeno da dislexia, através do aprofundamento dos estudos e de pesquisas científicas, assim como oferecer apoio profissional aos que se dedicam a este tema.

Em 2003, surge através da Associação Internacional de Dislexia o conceito que a dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e

ortográfica, resultando de um déficit homológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. A partir disso, podem-se surgir secundariamente dificuldades de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais. Esta definição atualmente é a mais aceita na maioria da comunidade cientifica.

2.1  A neurofisiologia da Dislexia

Ao abordarmos sobre a neurofisiologia da dislexia, devemos fazermos a seguinte indagação: Quais estruturas cerebrais são ativadas quando uma criança inicia o seu processo de leitura e de escrita? Segundo a fonoaudióloga Miguens (2009), o ato da leitura é uma função do ser humano, sendo este, um instrumento que possibilita a comunicação das espécies de uma mesma língua. Além da comunicação, o homem adquiri um amplo conhecimento.

O momento da leitura, envolve quatro processadores, são eles: O processador ortográfico, de palavras, o fonológico e o de contexto. Cada um deles, desempenha uma importante e necessária função para o processo da leitura. O processador ortográfico trata a respeito de como escrever as palavras. O segundo, o processador de palavras, aborda o sentido de uma palavra. Já o processador fonológico, trata-se da menor unidade formadora de uma sílaba ou de uma palavra e por fim, o processador de contexto, ou seja, responsável pela contextualização, entendimento de cada palavra numa frase, fazendo com que o indivíduo desenvolva noções linguísticas e gramaticais.

No caso de crianças com dislexias, esses processadores apresentam dificuldades em reconhecer de forma visual e/ ou auditivas, fazendo com que ocorra inversões, trocas, distorções e omissões de palavras. Após diversos estudos e pesquisas, crianças com dislexia apresentam lesões nas áreas, temporal, occipital ou pariental. Dependendo da área lesionada, determinará o tipo de dislexia que a criança possui.

Segundo Border (1973) a dislexia é classificada da seguinte maneira: dislexia disfonética, diseidética e mista. Já Matis (1975) discrimina a dislexia como: dislexia com alteração primária da linguagem, dislexia com transtorno articulatório grafomotor e dislexia com transtorno visoperceptivo. A dislexia disfonética tem como específico falhas no processo auditivo, ou seja, aquilo que se escuta, ouve, expressão oral da leitura. Existem falhas na escrita, como no caso de ditados, devido a dificuldades de ouvir e identificar os fonemas corretamente. Essas dificuldades não ocorrem porque a criança não escuta bem e sim, por haver uma inadequação do processamento dos fonemas em seu cérebro.

Já a dislexia- disgrafia ou deiseidéticas, trata-se de crianças que apresentam dificuldades na percepção visoespacial. Ocorrendo assim, dificuldades de orientação espacial, alterações de lateralidade, confusão de letras que têm orientação espacial diferentes, entre outras.

O responsável pelo processamento fonológico é o lobo temporal esquerdo ou área de Wernick, a criança disléxica mostra uma atividade diminuída no gyro angular, área de Wrnicke e no córtex estriado, a uma ativação maior na área Broca. Com a região occipital compromentida, existem dificuldades na leitura de palavras visuais, sintaticamente e semanticamente.

Segundo Miguens (2009), muitos neurocientistas concluíram que existem 3 áreas que associam-se aos processamentos fonológico, ortográfico, sintático e semântico. O córtex e estriado é responsável pelo processamento ortográfico, o gyro angular superior e o lobo temporal é responsável pelo processamento fonológico e por fim, a área de Broca, lobo frontal e lobo temporal medial responsável pelo processamento semântico e sintático.

2.2  Condições necessárias para a aprendizagem

Segundo Gómez e Terán (2004) ao falarmos em condições necessárias para a aprendizagem, devemos pensar em três fatores fundamentais para que isso ocorra: o corpo, a mente e a psique. Sendo esses relacionados no processo educativo, no qual, cada indivíduo apropriara-se da realidade de sua forma particular.

Consoante Gómez e Terán (2004) podemos levarmos em consideração este fato e compreendermos que as pessoas sentem, fazem e pensam. Cada ser humano processará uma informação de um jeito, pois não devemos focalizar a aprendizagem ou os processos cognitivos apenas nas funções cerebrais, e sim, entender que o psíquico também está envolvido.

Para que possamos compreender melhor o processo de aprendizagem, podemos citar uma história bastante conhecida: O caso dos meninos lobos. Por circunstâncias diversas, eles cresceram à margem da sociedade, foram encontrados em uma floresta, selvagens e vivendo sozinhos, distante de toda civilização.

Ainda com base em Gómez e Terán (2004) vários estudos foram realizados com esses meninos. Através de exames post morten, foi diagnosticado que a anatomia cerebral permanecia intacta e normal. Porém as estrutura neuropsicológicas que formam as funções cognitivas, como a linguagem, praxias, atenção entre outras, não haviam sido formadas, impossibilitando assim a formação da base do psiquismo humano.

Os meninos lobos, não adquiriram as funções humanas como: utilizar a linguagem oral, escrita, e andar ereto. Todavia, sabiam reconhecer através do olfato o que podiam ou não comer e corriam rapidamente de quatro. Desenvolveram as funções, nas quais, os circuitos haviam sido mantidos durante seus primeiros anos de vida.

Com base nesse exemplo, podemos mencionar que embora o ser humano possua a base morfológica cerebral adequada, o homem necessita de possibilidades para que ela possa se desenvolver. O indivíduo aprende através da constante inter-relação com o mundo, organizando– se e reorganizando-se constantemente.

Para Gómez e Terán (2004) ao nascer, o homem descobre um mundo que já possui uma organização e fatores sociais formados. Ele vive cercado de outros seres humanos, que possibilitam algumas representações simbólicas (linguagem e pensamento).

Os mesmos autores colocam que ao levaremos em consideração os processos neuropsicocognitivos complexos que interferem na forma de aprendizagem do ser humano. Temos seis aspectos importantes e que interagem entre si, fazendo com que as pessoas possam ter condições de aprendizagem favoráveis. São eles: Gnosias ou processamentos, praxias ou processamento psicomotor, atenção, memoria, pensamento e linguagem. Esses fatores relacionam–se e oportunizando condições necessárias para a aprendizagem humana.

2.3  A importância da família no diagnóstico precoce

Ao contrário do que muitos pensam a dislexia não é resultado de má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou baixa inteligência. Ela é uma condição hereditária, com alterações genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico. Para Scapinelli et al.(2005), afirmam que a história familiar é um dos fatores de risco mais importantes, pois 23% a 65% das crianças com pais disléxicos apresentam o distúrbio.

É no seio da unidade familiar que o indivíduo estabelece suas primeiras relações, e seu comportamento posterior traz selo desse seu primeiro grupo. A investigação de crianças com dificuldades de aprendizagem torna-se um grande desafio, pois já não cabe classificar famílias, em virtude da coexistência de um número significativo de novos arranjos familiares. O fato de a família procurar ajuda psicopedagógica não significa que esteja pronta para rever os seus padrões.

Atualmente um dos problemas principais dos pais com crianças em idade escolar é o fato das instituições de ensino, sendo estas públicas ou privadas e independentemente do nível social, em sua maioria não fornecem uma resposta adequada e em tempo hábil, às crianças que representam problemas de leitura e de escrita.

Para Fonseca (1995), os pais podem encorajar seus filhos a acreditarem que podem superar os obstáculos existentes, assim, deve-se ajudar as crianças disléxicas em suas atividades escolares sempre respeitando seus limites, compreender, apoiar, ter paciência, dar tempo suficiente para que ele desenvolva suas tarefas. Os pais conhecem seus filhos, por este motivo precisam ficar atentos a frustrações, tensões, baixo desempenho e desenvolvimento. É deles a responsabilidade de ajudar a criança a ter resultados melhores, e deve partir deles, a procura por profissionais para realizar um diagnóstico multidisciplinar a cerca das dificuldades da mesma, pois, quanto mais precoce for o diagnóstico e intervenção, maiores são as oportunidades de sucesso.

O encorajamento, a ajuda, e o investimento afetivo, fazem parte do papel dos pais, assim como ir à busca de uma instituição educacional que atenda da melhor maneira às necessidades da criança. É de suma importância a relação de troca da família com a escola e os demais profissionais envolvidos. A família deve observar seus filhos de maneira sutil e compreensiva, e jamais rotulando de nomes que as fazem ficarem constrangidas, como afirmou Fonseca (1995).

Para Zorzi e col. (2009), o indivíduo precisa saber a respeito do que está acontecendo consigo, pois quando se tem conhecimento da dislexia pode-se iniciar um acompanhamento adequado, principalmente, quando se é criança. Pode-se dizer, também, que quando este processo não é realizado, os prejuízos emocionais, sociais e profissionais podem se tornar cada vez mais graves, levando-os à depressão, ansiedade, baixa autoestima, ou até mesmo, às drogas e ao álcool.

De acordo com Ribeiro (2006), é essencial o apoio da família, a compreensão, a paciência e dedicação das pessoas que o cercam, pois o disléxico pode se sentir incompetente ou menos inteligente que os demais. Superar esse sentimento parece ser um desafio para a vida toda. A autoestima é parte fundamental para tornar o disléxico confiante, pois quando ele acredita na sua capacidade, a chance de alcançar o êxito diante das dificuldades é maior.

Assim, Freitas (2006) destaca, que os responsáveis precisam mostrar a criança que estão interessados nas suas dificuldades, pois quanto mais ajuda, zelo, carinho, afeto e compreensão mais ela poderá se desenvolver. Pode-se auxiliar o filho disléxico, programando seu dia através de horário de sono, incentivando a comunicação e a expressão dos sentimentos. É imprescindível que a família possa estar atenta, para auxiliar na identificação do problema e oferecer ferramentas para que a criança, apesar da dificuldade, possa ter uma vida acadêmica, familiar e afetiva satisfatória.

2.4  A dislexia e a escola

Segundo Ribeiro (2006), há muitos anos, escolas e consequentemente milhares de professores se deparam com o dilema de encontrar crianças que possui um nível de escolaridade adequada ou até mesmo acima do esperado, não apresentando nenhum distúrbio emocional, carência social, afetiva, obtendo um desenvolvimento normal em outras áreas. Porém estas crianças, apresentam dificuldades excessivas na leitura e na escrita, sendo estes levados por vários anos de sua escolaridade.

Ribeiro (2006) diz que, esse fator pode estender-se durante muitos anos na vida dessas crianças na escola, devido ao olhar desapercebido do educador e da própria escola (gestores) que não detectaram a natureza do “problema” no início e tão pouco no final, não intervindo de forma correta para amenizar esse fato no período do processo de ensino aprendizagem.

Ainda o mesmo autor aborda que a falta de informação, capacitação dos profissionais da educação e do apoio das escolas (gestores), dificultam esse olhar mais sensível, uma vez que, estas crianças não apresentam em seu físico, tais dificuldades. Para as dificuldades apresentadas nas escolas pelos alunos na leitura e na escrita, um dos termos mais utilizados é a dislexia, todavia, precisamos compreender o que é a dislexia, para que esta não seja confundida com outros tipos de distúrbios ou até mesmo com o que chamamos de leitores com atraso.

Alguns autores citam que fazem parte do grupo de leitores com atraso, pessoas que possuem dois ou mais anos na aprendizagem da leitura e da escrita, sendo que este atraso pode ser devido a alguns fatores: socioculturais, motivacionais, emocionais ou meramente educativos. Falando em dislexia, nenhum dos fatores supracitados explicam a sua causa, porém não exclui em sua totalidade que crianças que a tenha, apresentam algumas desses fatores ligado ao seu problema.

Os educadores (escola) precisam conhecer e estar atentos a algumas características que podem ser apresentadas por crianças disléxicas. Para que possam agir em tempo ágil. Segundo Ribeiro (2006), o papel do professor e da escola é fundamental e decisivo para vida educacional, emocional, sociocultural dessas crianças, diminuindo o insucesso dos educandos a nível da leitura e da escrita, sendo que estes precisam estar devidamente informados e formados sobre esse tema.

2.5  O psicopedagogo e o diagnóstico de dislexia

O processo diagnóstico é uma fase muito importante para o tratamento psicopedagógico de um indivíduo com dificuldade na aprendizagem. Neste processo o psicopedagogo vai investigar o que está acontecendo para que o indivíduo não esteja apresentando o resultado esperado na sua aprendizagem. Trata-se de uma pesquisa a ser realizada para que se possa dar um esclarecimento a uma queixa. Só assim será possível traçar um plano de intervenção psicopedagógica.

O diagnóstico deve ser baseado em dois conceitos fundamentais e complementares: o conceito do ser humano e o do problema de aprendizagem. O ser humano que é considerado como uma unidade complexa, pluridimensional, transversalizado pela afetividade e pelas relações vinculares, torna-se, então, sujeito da construção de seu próprio saber. Os problemas de aprendizagem estão ligados ao indivíduo como um todo, e o sintoma que emerge do processo de aprender coloca em cena a pessoa total, não existindo causas independentes, mas sim produtos de uma estrutura global.

Zorzi e col. (2009) destaca que a modalidade de aprendizagem da criança é um dos pontos mais importantes do processo diagnóstico do psicopedagogo, devendo ser observada e avaliada durante todo o processo diagnóstico e também em diversas ocasiões fora do momento da avaliação (contato com os pais, professores e materiais).

De acordo com Freitas (2006) a intervenção psicopedagógica tem para o disléxico um caráter de urgência, na reintegração de seu mundo (escola, família, sociedade) como alguém responsável e competente. A atuação do psicopedagogo é uma busca constante ladeada por diversos teóricos, visando maior capacitação e compreensão do cliente/paciente disléxico. Essa busca de técnicas e estratégias de trabalho visa o que mais fará sentido ao disléxico; “objetiva em suas sessões conhecer, entender e esclarecer o mecanismo manifesto junto dele, seja através de jogos, de vivências e de discussões de temas pertinentes, buscando e permitindo o conhecimento”.

De acordo com Ellis (1995), a literatura educacional disponível possui exemplos de intervenções que surtiram efeito satisfatório no processo de aprendizagem dos disléxicos, pois, sabemos que a educação deve ser um meio para promoção e o desenvolvimento da pessoa, tanto no nível individual como social, não devendo reduzir-se a um instrumento de seleção e classificação que só comtempla aos mais capacitados.

Para Freitas (2006), a abordagem de trabalho associa o estímulo e o desenvolvimento através de métodos multissensoriais, que partem da linguagem oral à estruturação do pensamento, da leitura espontânea à discussão temática, da elaboração crítica e gerativa das ideias à expressão escrita, incorporando o processo da aprendizagem. Faz-se necessário compreender não apenas o porquê da não aprendizagem, mas o que aprender e como se desenvolve este processo. Deve-se também valorizar o conhecimento do aprendente, valorizando a sua autoestima, trabalhando com procedimentos específicos e individualizados em cada atendimento.

A responsabilidade e seriedade do trabalho psicopedagógico com clientes disléxicos, faz com que muitos alunos propensos ao fracasso escolar sejam resgatados, através de um plano de trabalho individualizado e comprometido com o sucesso em todos os âmbitos: escolar, emocional e social.

3  AÇÕES METODOLÓGICAS E PEDAGÓGICAS
3.1  Estratégias de Intervenção pedagógica

A intervenção deve iniciar-se o mais cedo possível, entre os quatro e os seis anos, para evitar o aparecimento de problemas mais graves posteriormente e garantindo o êxito de aquisições mais complexas. A intervenção precoce é fundamental, ainda antes da iniciação à leitura e à escrita.

Todos os pré-requisitos devem estar assimilados, se isto não acontecer, deve-se iniciar o despiste, para evitar danos na autoestima da criança, uma vez que o sofrimento aumenta proporcionalmente ao tempo em que está exposta ao insucesso.

Para Shaywitz (2008, p 279) “As crianças que recebem apoio precoce podem usar a mesma via neural mais rápida que possibilita a leitura que os seus colegas de turma realizam. As crianças que são identificadas mais tarde perdem um período de prática essencial.”. A autora afirma ainda, que a fluência da leitura é resultado da prática repetia da mesma palavra de modo a que a sua representação cerebral se desenvolva e se transforme numa “réplica perfeita”, sendo que os maus leitores são aqueles a que não praticam a leitura tanto quanto é necessário, pois evitam ler, leem menos se atrasando cada vez mais em relação aos seus colegas.

De acordo com Hennigh (2003), a melhor intervenção é a prevenção, podendo ter início no ensino pré-escolar. O professor deverá ter um papel de orientador e facilitador das aprendizagens procurando ter conhecimento pessoal dos alunos a partir de questionários ou entrevistas aos alunos.

“Quando um professor toma consciência das competências e dos pontos fortes de cada aluno que contribuem para o ambiente de aprendizagem, então as lições de ordem instrucional podem ser concebidas especialmente para a população alvo em causa.”

Para mesma autora, os alunos ao sentirem um ambiente que não os reprima começam a estabelecer uma confiança no professor orientador que os pode ajudar a atingir os seus objetivos. Os objetivos estabelecidos pelo aluno podem promover a motivação e ajudá-los a serem alunos responsáveis, permitindo dar ao professor informações sobre os seus progressos.

De acordo com Shaywitz (2008), um programa de intervenção eficaz deve contemplar os seguintes aspetos: Instrução sistemática e direta no campo: da consciência fonêmica, reparar nos

sons, identificar e manipular os sons da linguagem falada e do método analítico-sintético a forma como as letras e grupos de letras representam os sons da linguagem falada como: ler palavras em voz alta (descodificar); soletrar; ler palavras irregulares que têm de ser reconhecidas à vista; vocabulário e conceitos e estratégias de compreensão da leitura.

Hennigh (2003) cita alguns princípios de aprendizagem que o professor deve ter presente para poder ajudar uma criança com dislexia: desenvolver métodos de ensino- aprendizagem multissensoriais (os alunos com dislexia aprendem melhor através do uso simultâneo e integrado dos diferentes sentidos– os olhos, os ouvidos, etc.; promover uma visão positiva da leitura; tentar minimizar o efeito “rotulador” do diagnóstico da dislexia, o qual pode danificar a autoestima da criança. Permitir que os seus padrões de leitura corretos sirvam de modelo à criança com dislexia. Reforçar competências de leitura como o som, a letra e o reconhecimento de palavras. (Orton, 1937, IN HENNIGH, 2003, p.35).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Umas das principais dificuldades encontradas em crianças por todo o Brasil, está focalizada no processo de leitura e da escrita, sendo esta a base, a porta de entrada para o conhecimento do ser humano. O universo da leitura e da escrita é amplo e carrega um enorme significado para o mundo do conhecimento. Sem esses dois pontos fundamentais, o processo de ensino- aprendizagem se torna escuro, difícil, uma verdadeira tortura para a criança.

Um dos termos mais conhecidos para tais dificuldades na leitura e na escrita é a Dislexia. Muitos estudiosos, apontam as suas causas, que podem ser agravadas por fatores externos. Milhares de crianças enfrentam esse problema sozinhas, uma vez que, não possuem profissionais capacitados para tal situação.

Como os profissionais da educação irão auxiliar essas crianças, se eles não conhecem e consequentemente não sabem identificar esse distúrbio? Não possuem capacitação na área e tão pouco, apoio das escolas (gestores). Conhecer e identificar são pontos fundamentais e necessários. São passos iniciais para auxiliar essas crianças que precisam ir todos os dias para uma aula desinteressante e sem significado algum para elas. Mas os profissionais da educação precisam criar estratégias de ensino, criar ambientes pedagógicos saudáveis que por si só, exercem uma função terapêutica e reparadora.

Dessa maneira, poderemos ter crianças mais alegres, felizes e menos frustradas, com receio de entrar em uma sala de aula, pois elas mesmas não conseguem entender o que se passa com elas e sentem que não podem contar com a ajuda de quem deveria acompanhá-las de forma correta, amenizando as suas dificuldades.

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1 Mestranda em Ciências da Educação pela Enber University –Inclusão Educacional na Educação

2. Mestranda em Ciências da Educação pela Enber University –Inclusão Educacional na Educação