REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA MULTIPROFISSIONAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: CAMINHOS E POSSIBILIDADES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10725172


Adila Carolina Araujo Almeida Pacheco; Andrya Lorrany Dos Santos Leondas; Daniel Bezerra Lenzzi; Luis Carlos Martins; Maria Eduarda Rios; Igor Rodrigues Andriola; Paula Roberta Fernandes Bulhoes; Roberth Pierson Moura E Silva Junior; Wolney Barros Leal; Prof. Orientador Me. Sarah Mourão de Sá.


RESUMO

As necessidades de saúde apresentam muitas dimensões, o que torna o conhecimento e as intervenções a respeito desse objeto muito difícil, diante disso, as ações no campo da saúde não podem sem executadas por um único agente de forma isolada. A associação das disciplinas e das profissões é indispensável para o avanço das praticas de saúde a partir da nova concepção biopsicossocial do processo saúde-doença. Diante das singularidades da ESF como modelo reorientador do SUS, o presente trabalho se propõe, através de uma revisão de literatura, refletir sobre os desafios e possibilidades da prática multiprofissional na ESF. Foram selecionados e analisados 13 artigos com relevância para o tema, datados entre 2007 e 2016. Conclui-se que percepção da grande maioria dos profissionais de Saúde da Família demonstra a fragilidade na construção do projeto de intervenção conjunta, característica da ESF, expondo o entendimento que o trabalho multiprofissional se apresenta apenas em teoria e não na lógica que rege o processo de trabalho. 

Palavras-chave: “multidisciplinaridade”, “trabalho em equipe”, “saúde da família”.

ABSTRACT

Health needs have many dimensions, which makes knowledge and interventions on this very difficult subject, before that, the actions in the health field can not without performed by a single agent alone. The combination of disciplines and professions is essential for the advancement of health practices from the new biopsychosocial conception of health-disease process. The peculiarities of the ESF as reorienting model SUS, this study proposes, through a literature review, reflect on the challenges and possibilities of multidisciplinary practice in the FHS. Were selected and analyzed 13 articles relevant to the subject dated between 2007 and 2016. The conclusion is that perception of the majority of the Family Health professionals demonstrates the weakness in the construction of joint intervention design, characteristic of the ESF, exposing the understanding that multi-professional work appears only in theory and not in the logic governing the work process.

Key words: “Multidisciplinary”, “teamwork”, “family health”

1. INTRODUÇÃO

A histórica produção do conhecimento, que criou diversas disciplinas, teve influencia no campo da saúde, levando a origem de várias categorias profissionais. As inúmeras profissões de saúde tem sempre um objetivo de trabalho comum e complexo que é o ser humano e suas necessidades de cuidados, o que demanda um tratamento multidisciplinar e interdisciplinar, todavia cada profissão compõe paradigmas e experiências particulares, compondo assim, modos diferentes e fragmentares de intervir (SCHERER et al., 2013, p. 3204).

As necessidades de saúde apresentam muitas dimensões, o que torna o conhecimento e as intervenções a respeito desse objeto muito difícil, diante disso, as ações no campo da saúde não podem sem executadas por um único agente de forma isolada. Coloca-se, portanto a necessidade de recomposição de trabalhos especializados, seja dentro de uma mesma área profissional ou uma relação interprofissional. Segundo os autores, a recomposição no sentido de atenção integral, não tem sido possível simplesmente pela locação de recursos humanos de distintas áreas profissionais em um mesmo local de trabalho (SILVA e TRAD, 2005, p. 26).

Para Peduzzi (2009) a associação das disciplinas e das profissões é indispensável para o avanço das praticas de saúde a partir da nova concepção biopsicossocial do processo saúde-doença.

A elaboração da constituição de 1988, que ampliou os direitos do cidadão, mostrou o poder popular como um de seus princípios, e estabeleceu, pela primeira vez no país, a saúde como um direito de todos e dever do estado. A implantação da reforma sanitária junto com a criação do sistema único de saúde (SUS) trouxeram para o Brasil novas possibilidades em relação ao cuidado, como consequência surgem políticas públicas de saúde direcionadas a assegurar esse direito, representadas pela lei 8080/90 que trata sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação de saúde, organização e funcionamento dos serviços correspondentes, dentre outras providencias. As políticas e diretrizes desse novo sistema nasceram da necessidade de mudança no modelo de assistência à saúde, passando de um modelo médico-assistencialista para um modelo que visa à promoção de saúde, voltado para as necessidades do cidadão (SILVA et al., 2012, p. 51).

A universalização do acesso aos serviços provocou o avanço dos padrões de saúde, porém, os princípios do SUS foram decompostos na construção do sistema, que não alcançou uma maturidade onde se tornem concretos os princípios norteadores e filosóficos do SUS. Surgiu então, na década de 1990, um amplo debate entre governo, intelectuais e sociedade, ocasionando a reorganização do processo de produção dos serviços de saúde de maneira profunda e a estruturação do sistema em si. Este processo teve como destaque o aprimoramento do SUS existente em consonância com as diretrizes e princípios do SUS desejado e culminou na criação do Programa de Saúde da Família, posteriormente modificado para Estratégia de Saúde da Família (ESF). Essa estratégia tem como objetivos a idealização e a valorização da prestação de serviços públicos de saúde, com destaque para a participação popular e enfocando não apenas em ações curativas e centradas na doença, mas, especialmente em ações que incidissem sobre determinantes de saúde e promoção de saúde (MORETTI-PIRES e CAMPOS, 2010, P. 380).

A Estratégia de Saúde da Família (ESF), agregada à Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), assim chamada à política brasileira de atenção primária, integra aspectos inovadores para as atividades de saúde em relação ao modelo biomédico vigente, que é centrado no indivíduo, no diagnóstico, no tratamento das doenças, na fragmentação do ser humano e do trabalho e na assistência médica curativa e hospitalar. A ESF enfatiza a família, a comunidade, a adscrição de clientela, a valorização dos diversos saberes e práticas, a integralidade e a intersetorialidade das ações e estabelece que o trabalho multiprofissional deva ser interdisciplinar e em equipe (SCHERER et al., 2013, p. 3205).

A implantação da ESF vem colaborando para o fortalecimento de uma gestão descentralizada e participativa no SUS, ajustando-se como uma política de saúde para maior garantia dos direitos do usuário. A reorientação do Programa de Saúde da Família como estratégia de reorganização da Atenção Primária pode ser considerada como um dos mais importantes avanços ideológicos e práticos em termos de gestão do SUS, uma vez que não se trata apenas de ampliar o acesso e a abrangência geográfica dos serviços, mas, também, sua adoção de práticas da atenção sob novas bases epistemológicas do fazer/cuidar em saúde, com substituição do modelo então vigente, levando a saúde para mais perto das famílias e melhorando-se a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros (OLIVEIRA et al., 2011, p 540).

Diante das singularidades da ESF como modelo reorientador do SUS, o presente trabalho se propõe, através de uma revisão de literatura, refletir sobre os desafios e possibilidades da prática multiprofissional na ESF.

1. METODOLOGIA

Para realização deste trabalho foi realizada uma pesquisa nas bases de dados Bireme e Scielo, utilizando como descritores os termos “multidisciplinaridade”, “trabalho em equipe”, “saúde da família”. Foram selecionados artigos com relevância para o tema, ao todo 13 artigos, datados entre 2007 e 2016, foram analisados.

2. REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA MULTIPROFISSIONAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMILIA

O objetivo principal do trabalho em equipe é a obtenção de impactos sobre os variados fatores que interferem no processo saúde-doença. A ação interdisciplinar presume a possibilidade da ação de um profissional se reconstruir na do outro, ambos sendo transformados para a intervenção na realidade em que estão inseridos. Deste modo, a abordagem integral dos indivíduos/famílias é facilitada pela reunião de olhares dos diferentes profissionais que formam as equipes interdisciplinares. Assim, pode-se obter um maior impacto sobre os distintos fatores que interferem no processo saúde-doença (ARAUJO et al., 2007, P. 456).

Ao estudar o trabalho em equipe é importante conhecer como cada profissional conjuga seu trabalho no âmbito individual e coletivo e identificar evidências de articulação das ações desenvolvidas pelos diferentes profissionais. Em uma equipe multiprofissional, a articulação refere-se à recomposição de processos de trabalhos variados e, portanto, à consideração de conexões e interfaces existentes entre as intervenções técnicas peculiares de cada área profissional. É preciso observar, também, como os diversos profissionais interagem entre si e se essa interação possibilita a construção de um projeto que seja compartilhado por todos (SILVA e TRAD, 2005, p. 27).

Na abordagem da Atenção Primária no Brasil, as equipes devem atuar integrando as diversas competências e categorias profissionais que as compõem; primar pela ação articulada com setores que medeiam e interferem nos determinantes socioculturais do processo saúde-doença, fugindo da lógica do atendimento curativo e apenas da demanda na Unidade de Saúde da Família; e ter foco na horizontalidade, vínculo e corresponsabilidade pelas ações junto aos usuários do sistema. Isto ressignifica o papel do sistema, delegando-lhe uma importância que difere sobremaneira do enfoque tradicional, em que o usuário era apenas o paciente, passivo, à procura dos serviços que os profissionais de saúde prestavam por se constituírem como conhecedores do processo saúde-doença em suas fragmentadas especialidades (MORETTI-PIRES e CAMPOS, 2010, P. 381).

O modelo tradicional de assistência à saúde tem enfoque biologicista, hospitalocêntrico e é centrado na doença, o que não proporciona uma atenção holística e humanizada ao usuário do serviço de saúde, seja assistência por parte do cirurgião-dentista ou do médico. O modelo hospitalocêntrico conceitua a saúde apenas como ausência de doença e enfatiza os procedimentos técnicos, sem analisar os determinantes sociais que podem influenciar nos processos de saúde. O modelo de atenção tradicional vem sendo substituído pelo modelo da ESF, que envolve três dimensões: a dimensão gerencial (mecanismos de condução do processo de reorganização de ações e serviços); a organizativa (estabelecimento das relações entre as unidades de prestação de serviços); e a dimensão técnico-assistencial, ou também chamada de dimensão operativa, que trata das relações firmadas entre os sujeitos das práticas em saúde e os objetos de trabalho e mediadas pelo saber e pela tecnologia, nos diferentes planos, como na promoção da saúde, na prevenção de riscos e agravos, e na recuperação e reabilitação (COSTA et al., 2014, P. 293).

Embora o trabalho esteja direcionado para práticas multiprofissionais, nada garante, nas estratégias do PSF, que haverá ruptura com a dinâmica médico-centrada do modelo hegemônico atual. (SILVA et al., 2012, p. 51). Para tanto, há necessidade de dispositivos que alterem a dinâmica do trabalho em saúde, nos fazeres do cotidiano de cada profissional. Há que se identificar, nessas equipes, os elementos que configurariam uma nova lógica no agir desses profissionais e na forma como se produz o cuidado em saúde. E essa exigência não se refere apenas às novas categorias profissionais, como os agentes comunitários de saúde. Refere-se particularmente às categorias tradicionais, como a Enfermagem, assim como àquelas de cunho liberal, como a Medicina e a Odontologia (MORETTI-PIRES e CAMPOS, 2010, P. 381).

Desde o nascimento do SUS, a formação de profissionais em consonância com seus princípios tem-se constituído um desafio. Estudos têm constatado que o perfil dos profissionais formados não é adequado o bastante para prepará-los para uma ação na concepção da integralidade da atenção em saúde e de práticas que contemplem ações de promoção, proteção, prevenção, atenção precoce, cura e reabilitação (SILVA et al., 2012, p. 51). Esses profissionais deveriam ser capazes de planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às necessidades da comunidade, sendo necessária a articulação com diversos setores envolvidos na promoção da saúde, exigindo da equipe a reorganização dos processos de trabalho (COSTA et al., 2014, P. 293).

Focadas na aproximação da teoria com a prática, as instituições formadoras têm despendido esforços importantes na busca de alternativas às suas ações educativas, sejam nos planos de ensino, na produção do conhecimento, bem como nas atividades de extensão interdisciplinares. Ações essas que visam construir, com os graduandos, competências e habilidades concernentes ao trabalho em equipe e ao processo de comunicação e proposição2. Em face desse cenário de formação para a saúde, cabem se destacar as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), que enfatizam a prática de orientação ao Sistema Único de Saúde (SUS), valorizando a interdisciplinaridade e os aspectos humanísticos, além da efetivação de serviços de saúde resolutivos, voltados para as necessidades de saúde da população assim como o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) que, entre suas estratégias, tem a premissa da integração do ensino com o serviço e a comunidade, com vistas a oportunizar, aos estudantes, práticas de ensino, pesquisa e produção de conhecimento mais próximas das reais necessidades dos usuários e dos serviços de saúde (PEREIRA et al., 2015, p. 870 e KLEBA et al., 2016, p. 217).

A seguir iremos comentar alguns estudos que relataram como os profissionais entendem e praticam o trabalho em equipe na ESF.

Em 2010, Silva et al., relataram uma experiência vivida por discentes universitários no contexto de uma equipe de Saúde da Família em Ilhéus-BA. Os estudantes observaram e descreveram as atividades em diário de campo, sendo possível levantar problemas no cerne da equipe, e os levando a discussão em reuniões com a tutora acadêmica e equipes do PET-Saúde, que observavam outras unidades básicas. Inicialmente foram encontradas dificuldades relacionadas à desestruturação e desmotivação da Equipe de Saúde da Família em relação ao seu trabalho. Percebeu-se que a equipe enfrentava um processo de assimetria de suas ações, evidenciado pelo distanciamento entre as práticas dos princípios e diretrizes da Atenção Básica. Diante disso, através de reuniões e encontros sucessivos, a equipe foi estimulada à reflexão sobre o funcionamento da Atenção Básica, sobre o conceito de saúde e de equipe, e sobre a importância da aplicação dessa reflexão na prática do acolhimento e no fortalecimento do seu papel como profissional de saúde e como cidadão. A partir desses encontros, foi possível conhecer anseios e demandas da equipe, bem como suas trajetórias e histórias. Pôde-se analisar, conjuntamente, como se vem estabelecendo o cuidado em saúde no espaço de trabalho, observando–se os princípios da Atenção Básica. Dessa forma, os atores identificaram dificuldades, potencialidades e propostas para avançar na implementação desses princípios. A vivência na unidade promoveu espaços de escuta, partindo do pressuposto de que a comunicação é um recurso valioso no processo de ajuda, e a escuta é uma habilidade de auto e heterocompreensão.

Moretti-Pires e Campos (2010), em uma pesquisa qualitativa com roteiro semiestruturado, investigaram a percepção dos médicos, enfermeiras e odontólogos sobre o funcionamento de equipes multiprofissionais na Saúde da Família do município de Coari (AM). Foram realizadas entrevistas individuais, com questões que se referiam aos aspectos de como se deu a formação universitária para o trabalho multiprofissional, como este funciona no trabalho diário em Saúde da Família, o lidar com esta temática e sobre as ações individuais e da equipe no manejo das dinâmicas dos relacionamentos profissionais. Em relação às especialidades de cada uma das três profissões e ao trabalho multiprofissional em Saúde da Família, não fica claro o que os outros profissionais poderiam fazer em conjunto com o odontólogo que indicasse trabalho em conjunto. Há grande fragilidade no discurso deste profissional em comentar qualquer aspecto que não se refira ao ato clínico, o que faz pensar em quais os aspectos de Saúde Bucal são potenciais integradores com outras profissões. Em termos da Enfermagem, há grande conteúdo para liderar grupos, mas não existe formação para o trabalho integrado com outros profissionais e profissões de saúde. É necessária a mudança da lógica do “sacrificar-se” para a lógica do cooperar sinergicamente. A Medicina faz pensar a necessidade de “desmedicalizar o ensino e trabalho médico”, estendendo a compreensão da existência autônoma dos demais profissionais e demais atividades em saúde, além do foco biomédico e médico-centrado.

Oliveira et al. (2011), em uma pesquisa avaliativa, avaliou as relações de poder, conflitos e barreiras na equipe multiprofissional da ESF do município de Manacapuru (AM). Trata-se de uma pesquisa avaliativa, fundamentada nos conceitos sobre relações de poder e os conceitos-chave sobre trabalho em equipe, conforme as normas estabelecidas para o funcionamento da ESF. Os resultados mostram que cada profissional exerce sua função de forma isolada, não compartilhada; a política da gestão municipal é limitadora do trabalho coletivo, não governando com liderança, mas se configurando como tirania, trazendo descrédito à ESF. Percebeu-se certo distanciamento e falta de articulação entre as equipes de saúde investigadas e a população, no planejamento e construção de estratégias nas ações de saúde. O cuidado dos usuários é descontínuo entre as diversas profissões, emergindo problemas no trabalho integrado e em equipe. O controle social é pouco exercido, não sendo observado nenhum estímulo, por parte dos gestores, para que a participação popular ocorra de acordo com o preconizado. Não há articulação destinada ao fortalecimento da Atenção Básica no âmbito do seu território, com a viabilização de parcerias com organizações governamentais, não governamentais e com o setor privado.

Pereira et al. (2013), realizou uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, em uma unidade básica de saúde do ESF no Rio de Janeiro, a fim de observar o trabalho em equipe multiprofissional na saúde. Concluíram que o trabalho em equipe na ESF emerge como possibilidade para uma prática mais comunicativa e cooperativa na qual os profissionais reconhecem o trabalho do outro e compartilham objetivos, configurando-se como uma pequena rede de conversações.

Pereira et al. (2015), em um estudo retrospectivo quantiqualitativo, buscou identificar e analisar a percepção dos monitores do PET-SAÚDE da UFMG, que atuaram e atuam na linha de pesquisa Saúde na Escola, concernente à influência desta vivência na sua formação e no seu olhar quanto ao trabalho em equipe interdisciplinar. Verificou-se que a vivência no referido projeto promoveu diferenciais relevantes na formação desses futuros profissionais de saúde, com percepções favoráveis ao trabalho em equipe interdisciplinar, atentas às demandas sociais do Sistema Único de Saúde (SUS).

CONCLUSÃ

No contexto da ESF, o trabalho em equipe, incorpora uma nova perspectiva no sentido da partilha de responsabilidades do cuidado entre os membros da equipe, na qual todos devem participar com suas especificidades contribuindo para a qualidade da prestação das ações de saúde. A concepção integral do cuidado contribui para uma ação interdisciplinar nas práticas de saúde, onde a valorização das diversas disciplinas favorece uma abordagem ampla e resolutiva do cuidado. Nessa realidade, a responsabilidade da ação passa a ser descentralizada da imagem do profissional médico, tido como o centro da equipe no modelo hospitalocêntrico, sendo então partilhada entre os membros da equipe. 

Para o desenvolvimento de ações de saúde na perspectiva da integralidade, tem-se a necessidade de uma abordagem integral entre os profissionais que prestam o cuidado. Devemos romper com velhas estruturas hierarquizadas, tão presentes no modelo de saúde hegemônico, onde os profissionais de saúde desenvolvem o trabalho com relativa autonomia, mas com subordinação ao fazer do médico, ao contrário do que acontece na ESF, onde as relações de poder são minimizadas quando se prioriza a comunicação.

Há que haver também uma reorientação curricular efetiva e integrada entre os cursos de saúde, com foco em objetos e objetivos comuns, fundamentados no SUS idealizado. Simultaneamente, é necessária uma reorganização do trabalho na ESF em espaços que compreendam as dimensões e objetos de trabalho comuns, assim como particularidades das competências profissionais, partindo do multidisciplinar para o trabalho interdisciplinar.

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