RECORRÊNCIA DA SÍFILIS EM GESTANTES: FALHAS NO TRATAMENTO E RISCO PARA O FETO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505180128


Letícia Arruda de Souza Morais
Vitória Loyane da Costa Teixeira
Orientador: Thayanne Sa Bezerra Guerreiro


RESUMO 

Este estudo aborda os desafios na prevenção de sífilis em gestante,  examinando barreiras no acesso ao diagnóstico e no tratamento, pois a sífilis,  infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum, representa um grave problema de saúde pública no Brasil. O objetivo  do estudo é analisar os fatores que contribuem para a recorrência da sífilis em  gestantes. O tipo de estudo empregado foi uma revisão sistemática da literatura, utilizando uma abordagem qualitativa para analisar e sintetizar as  informações disponíveis sobre o tema em questão. A análise dos estudos  incluídos na revisão sistemática revelou de forma consistente que a recorrência  da sífilis em gestantes está fortemente relacionada a falhas interdependentes no diagnóstico precoce, no tratamento adequado e na estrutura do cuidado pré-natal. 

Palavras-Chaves: transmissão vertical, comprometimento sistêmico, recém nascidos, linfadenopatia, sistema de saúde.

Abstract 

This study addresses the challenges in preventing syphilis in pregnant  women, examining barriers to access to diagnosis and treatment, since syphilis, a  sexually transmitted infection caused by the bacterium Treponema pallidum,  represents a serious public health problem in Brazil. The objective of the study is to analyze the factors that contribute to the recurrence of syphilis in pregnant  women. The type of study employed was a systematic review of the literature,  using a qualitative approach to analyze and synthesize the available information on  the topic in question. The analysis of the studies included in the systematic review  consistently revealed that the recurrence of syphilis in pregnant women is strongly  linked to interdependent failures in early diagnosis, appropriate treatment, and the  structure of prenatal care. 

Keywords: vertical transmission, systemic involvement, newborns, lymphadenopathy,  health system.

INTRODUÇÃO 

A sífilis, infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria  Treponema pallidum, representa um grave problema de saúde pública no Brasil. Dados do Ministério da Saúde indicam que, entre 2012 e 2018, a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 14,4 para 74,4 casos por 100 mil  habitantes, enquanto em gestantes essa taxa passou de 5,7 para 21,5 casos  por 1.000 nascidos vivos. A transmissão ocorre predominantemente por via  sexual, mas também pode ocorrer verticalmente, da gestante para o feto  (RAMOS JR, 2022). 

A transmissão vertical do Treponema pallidum pode ocorrer em até 80%  dos casos não tratados, resultando em desfechos adversos como aborto  espontâneo, natimortalidade, parto prematuro e malformações congênitas. Esse tipo de transmissão pode acontecer por via transplacentária (durante a  gravidez) ou por contato direto com lesões infectadas durante o parto vaginal. A taxa de transmissão vertical depende diretamente do estágio da infecção  materna (ARAÚJO, C. L. F. et al., 2019; MINISTÉRIO DA SAÚDE; CIDACS). 

A bactéria pode atravessar a barreira placentária a partir da 9ª semana  de gestação, mas a transmissão para o feto ocorre com maior frequência após a 16ª semana, momento em que o sistema vascular placentário já está bem  desenvolvido. Quando circulando no sangue materno, a bactéria invade a  placenta, alcança a circulação fetal e atinge os tecidos em desenvolvimento do  bebê (DOMINGUES et al., 2007, BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). 

Nas formas primária e secundária da sífilis, a taxa de transmissão é  elevada, variando de 60% a 100%, devido à alta carga bacteriana presente no  sangue da mãe. Já nas formas latente recentes, a taxa de transmissão diminui  para 40% a 80%. Em casos de sífilis latente tardia ou terciária, a taxa de  transmissão é consideravelmente reduzida, ficando abaixo de 10%, embora  ainda seja possível que ocorra a sífilis congênita (DOMINGUES et al., 2007,  BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019).

A mãe com sífilis não tratada corre o risco de comprometimento  sistêmico. A infecção pode se espalhar para vários órgãos, afetando o sistema  cardiovascular, nervoso e, em casos graves, o fígado. A sífilis secundária pode  causar lesões cutâneas, erupções cutâneas e linfadenopatia (aumento dos  gânglios linfáticos). Caso a sífilis não seja tratada por muitos anos, a mulher  pode evoluir para a sífilis terciária, o que resulta em danos a órgãos internos,  como o coração (sífilis cardiovascular) e o sistema nervoso central (sífilis  neurológica) (DOMINGUES et al., 2007, BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE,  2019). 

A sífilis congênita é uma das principais causas de morte em recém nascidos e crianças de até 5 anos. O bebê pode nascer com sinais evidentes de sífilis, como lesões cutâneas, hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e  baço), icterícia e alterações ósseas. Em alguns casos, a sífilis congênita pode  ser assintomática no nascimento, mas o bebê pode desenvolver sinais de  infecção nas semanas seguintes, como infecção ocular, audição prejudicada, e  lesões neurológicas, como convulsões (DOMINGUES et al., 2007, BRASIL.  MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). 

O aumento substancial na incidência da doença está associado a fatores  como idade inferior a 20 anos, escolaridade inferior a quatro anos, raça/cor não  branca e ausência de companheiro. As complicações não apenas afetam a saúde da mãe e do bebê, mas também sobrecarregam os sistemas de saúde e  aumentam os custos associados ao tratamento e à reabilitação (MINISTÉRIO DA SAÚDE. BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DE SÍFILIS, 2023; DOMINGUES et  al., 2007; ARAÚJO, 2019). 

Assim, portanto diante dos dados apresentados, incluindo as altas  incidências de sífilis gestacional, é de suma importância reconhecer os fatores  associados à ocorrência do tratamento inadequado, já que pode direcionar  políticas públicas a determinados grupos de risco. Dessa forma, é premente  agregar em um único estudo uma síntese acerca da temática em questão, a fim  de direcionar políticas de melhoria da assistência pré-natal à gestante e  subsequentes aos seus parceiros e, assim, reduzir o número de casos de sífilis  na gestação com consequente redução da sífilis congênita e complicações  relacionados ao recém-nascido.

1. OBJETIVOS 

1.1. GERAL 

Analisar os fatores que contribuem para a recorrência da sífilis em gestantes,  com ênfase nas falhas do tratamento e suas implicações para a saúde fetal. 

1.2. ESPECÍFICOS 

  • Identificar as principais falhas no tratamento da sífilis em gestantes,  considerando aspectos clínicos, sociais e institucionais que interferem na efetividade da terapêutica. 
  • Avaliar as consequências da recorrência da sífilis materna para o feto,  abordando os impactos na mortalidade neonatal e possíveis sequelas em longo prazo. 
  • Investigar estratégias adotadas pelos serviços de saúde para a  prevenção da recorrência da sífilis em gestantes, analisando a adesão  ao tratamento. 

2. MATERIAL E MÉTODOS 

2.1. Tipos de estudo 

O tipo de estudo empregado foi uma revisão sistemática da literatura,  utilizando uma abordagem qualitativa para analisar e sintetizar as informações  disponíveis sobre o tema em questão. A revisão sistemática representa uma  investigação científica dedicada a reunir publicações relevantes sobre uma  pergunta formulada. Esta pergunta é então buscada em bancos de dados e  submetida a uma análise crítica e meticulosa. O objetivo é realizar uma revisão  precisa e significativa sobre o tema. 

No entanto, as revisões sistemáticas são consideradas retrospectivas e  dependem fortemente de um material prévio de alta qualidade. O processo da  revisão sistemática é conduzido em três fases distintas: planejamento,  execução da pesquisa e análise dos resultados obtidos, os quais serão  detalhados a seguir.

2.2. Bases de dados consultadas 

A coleta de dados será realizada no período 2019 a 2025 nas bases de  dados Literatura Latino- –Americano e do Caribe em Ciências da Saúde  (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Bases de Dados  Específica da Enfermagem (BDENF) e utilizando os seguintes descritores  contemplados nos Descritores (DeCS): saúde da indígena, atenção primária e  estratégia saúde da família ambos associados a Cuidado e Enfermagem. A  partir da combinação desses descritores, foram localizados artigos distintos. 

Termos de busca foram selecionados para garantir a inclusão de estudos relevantes. Os termos incluíram variações de “Sífilis”, “Treponema  pallidum”, “saúde pública”, “transmissão”, “bactéria” e “Infecção”. 

2.3. Fontes Bibliográficas 

As fontes bibliográficas utilizadas foram artigos científicos, livros, teses,  dissertações e documentos técnicos relacionados ao assunto em estudo. A  seleção das fontes foi realizada com base em sua pertinência e contribuição  para a compreensão do problema de pesquisa. Além disso, informações  complementares foram obtidas por meio de fontes reconhecidas, como a  Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Pan-Americana da  Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde (MS). 

2.4. Critérios de Inclusão 

Os critérios de inclusão para a seleção dos estudos foram definidos  previamente e incluíram: relevância para o tema de pesquisa, data de publicação (últimos 10 anos), disponibilidade do texto completo, e idioma  (português, inglês ou espanhol). Além disso, foram incluídos apenas estudos  que apresentavam metodologia clara e resultados passíveis de análise. 

2.5. Coleta de Dados 

A coleta de dados foi realizada de forma sistemática e organizada.  Inicialmente, os artigos foram identificados a partir das buscas nas bases de  dados mencionadas. Em seguida, os títulos e resumos foram analisados para  verificar sua relevância de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. Os artigos selecionados foram então lidos na íntegra e os dados pertinentes  foram extraídos e registrados para análise posterior. 

2.6. Análise de Dados 

A análise de dados foi realizada de maneira qualitativa, utilizando  métodos de síntese narrativa e/ou meta-análise, conforme apropriado para os  dados disponíveis. Os principais temas e resultados foram identificados e  agrupados para possibilitar uma compreensão abrangente do estado atual do  conhecimento sobre o tema em estudo. 

Figura 1. Esquema de Revisão e Seleção Metodológica

Fonte: Autores, 2025

3. REVISÃO DE LITERATURA 

A sífilis, uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela  bactéria Treponema pallidum, tem ressurgido como um desafio de saúde pública  global nos últimos anos. Entre 2020 e 2022, os casos de sífilis entre adultos de 15  a 49 anos aumentaram 30% nas Américas, totalizando 3,37 milhões de casos em  2022, o que representa 42% de todos os novos casos mundiais (MARCHESINI,  PAOLA BARBOSA, 2024; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2025; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2024). 

No Brasil, a situação é igualmente preocupante. De acordo com o  MINISTÉRIO DA SAÚDE, em 2019 foram notificados 152.915 casos de sífilis  adquirida, com uma taxa de detecção de 72,8 casos por 100 mil habitantes.  Embora tenha havido uma redução de 4,5% em relação a 2018, quando a taxa foi  de 76,2 por 100 mil habitantes, os números permanecem alarmantes. 

A maior parte das notificações ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos  (36,2%). Foram registrados 24.130 casos de sífilis congênita em 2019,  evidenciando a transmissão vertical da doença e a necessidade de intervenções  eficazes durante o pré-natal (MARCHESINI, PAOLA BARBOSA, 2024;  MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2025; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE,  2024). 

Estudos regionais também refletem esse crescimento. No estado do Mato  Grosso, por exemplo, uma análise temporal revelou um aumento expressivo na  incidência de sífilis adquirida entre 2010 e 2021, especialmente nos últimos seis  anos do período estudado. As taxas de detecção passaram de 16,2 por 100 mil  habitantes no primeiro triênio (2010-2012) para 70 por 100 mil habitantes no último triênio (2019-2021) (MARCHESINI, PAOLA BARBOSA, 2024; MINISTÉRIO  DA SAÚDE, 2025; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2024). A sífilis é uma infecção sistêmica e crônica causada pela bactéria  Treponema pallidum, uma espiroqueta anaeróbia facultativa de formato espiralado. Essa conformação permite à bactéria realizar movimentos de rotação,  flexão e translação, facilitando sua disseminação pelo organismo. A transmissão  ocorre predominantemente por contato sexual direto com lesões infecciosas, mas  também pode acontecer de forma vertical, da mãe para o feto (TOLEDO, HÉRYCA SELVATICO, et al. 2013; RINALDI, LEONARDO et al, 2024).

Após a penetração através da pele ou mucosas, a bactéria se multiplica no  epitélio local, e se dissemina via linfática e hematogênica, alcançando diversos  órgãos e tecidos em poucas horas, mesmo quando os sintomas iniciais são  localizados (TODELO, HÉRYCA SELVATICO et al., 2013; RINALDI, LEONARDO  et al., 2024; SARDINHA, J. C. et al., 2020; BARROS, L. A. P. DE et al, 2024;  MARGE, L. A. et al, 2024). 

As manifestações clínicas da sífilis variam conforme o estágio da infecção.  Na fase primária, que surge aproximadamente 21 dias após o contágio, aparece  uma úlcera indolor conhecida como “cancro duro” no local de entrada da bactéria,  como pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus ou boca. Essa lesão é rica em  bactérias e desaparece espontaneamente entre três a doze semanas, mesmo sem tratamento (TODELO, HÉRYCA SELVATICO et al., 2013; RINALDI,  LEONARDO et al., 2024; SARDINHA, J. C. et al., 2020; BARROS, L. A. P. DE et  al, 2024; MARGE, L. A. et al, 2024). 

Na fase secundária, que ocorre entre seis semanas e seis meses após a  cicatrização da ferida inicial, podem surgir manchas no corpo, além de sintomas  como febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas. Essas manifestações também  tendem a desaparecer sem tratamento, dando uma falsa impressão de cura  (TODELO, HÉRYCA SELVATICO et al., 2013; RINALDI, LEONARDO et al., 2024;  SARDINHA, J. C. et al., 2020; BARROS, L. A. P. DE et al, 2024; MARGE, L. A. et  al, 2024). 

Se não tratada, a doença pode evoluir para a fase latente, assintomática, e  posteriormente para a fase terciária, que pode surgir entre um e 40 anos após o  início da infecção, apresentando complicações graves como lesões cutâneas,  ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte (TODELO,  HÉRYCA SELVATICO et al., 2013; RINALDI, LEONARDO et al., 2024;  SARDINHA, J. C. et al., 2020; BARROS, L. A. P. DE et al, 2024; MARGE, L. A. et  al, 2024). 

Entre 2019 e 2023, foram notificados 324.683 casos de sífilis em gestantes,  com a maior incidência registrada em 2022 (26% dos casos) e a menor em 2023  (11%). A região Sudeste liderou em número de casos, seguida pelas regiões  Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste. Observou-se também que a maioria das  gestantes afetadas possuía ensino médio ou fundamental incompleto, indicando  uma possível relação entre nível educacional e prevalência da doença. Além disso, a faixa etária de 20 a 39 anos concentrou a maioria dos casos, destacando  a vulnerabilidade dessa população (ANDRADE et al., 2024; TUNELI et al., 2024,  SANTOS et al.,2024).

A transmissão vertical da sífilis ocorre quando a bactéria é passada da  gestante infectada para o feto, predominantemente através da placenta durante a  gestação, mas também pode ocorrer no momento do parto. 

A probabilidade de transmissão está relacionada ao estágio da infecção  materna, sendo mais elevada nas fases primária e secundária da sífilis  (DOMINGUES, ROSA MARIA SOARES MADEIRA; LEAL, MARIA DO CARMO,  2016; SARACENI, VALERIA et al, 2017). 

A sífilis congênita é uma das principais causas de morte em recém-nascidos  e crianças de até 5 anos. O bebê pode nascer com sinais evidentes de sífilis,  como lesões cutâneas, hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço),  icterícia e alterações ósseas. Em alguns casos, a sífilis congênita pode ser  assintomática no nascimento, mas o bebê pode desenvolver sinais de infecção  nas semanas seguintes, como infecção ocular, audição prejudicada, e lesões  neurológicas, como convulsões (DOMINGUES et al., 2007, BRASIL. Ministério da  Saúde, 2019). Um estudo nacional realizado entre 2011 e 2012 estimou  uma taxa de transmissão vertical de 34,3%, indicando que aproximadamente um  em cada três fetos de mães com sífilis adquirida desenvolveu sífilis congênita (DOMINGUES, ROSA MARIA, LEAL, MARIA DO CARMO, 2016; SARACENI,  VALERIA et al, 2017). 

Estudos revelam que a mortalidade fetal foi seis vezes superior nos casos  de sífilis congênita em comparação com fetos não infectados. Outro estudo,  abrangendo dados de seis unidades federativas brasileiras, observou que, das  gestantes com sífilis, 43% tiveram desfecho notificado de sífilis congênita  (DOMINGUES, ROSA MARIA; LEAL, MARIA DO CARMO, 2016; SARACENI,  VALERIA et al, 2017). 

A ocorrência de sífilis em gestantes está fortemente associada a fatores  socioeconômicos, incluindo escolaridade, faixa etária, cor da pele e acesso aos serviços de saúde pública. Estudos recentes indicam que gestantes com menor  nível de escolaridade apresentam maior prevalência de sífilis. Uma pesquisa  realizada em Montes Claros, Minas Gerais, revelou que gestantes com ensino  fundamental incompleto têm uma probabilidade maior de contrair a infecção em  comparação com aquelas com níveis educacionais mais elevados (DALTRO, L. C.  V.; SANTANA, A. C. S. DE ANDRADE et al., 2024; DOMINGUES ET AL., 2016;  SILVA et al., 2020).

No Amazonas, entre 2019 e 2023, foram registrados 8.640 casos de sífilis  gestacional e 2.114 de sífilis congênita, com predomínio de diagnósticos em  recém-nascidos com até 6 dias de vida (97,5%). A maior parte dos casos maternos ocorreu na faixa etária de 20 a 29 anos (53,14%), e 75,3% das mães  realizaram pré-natal. Apesar disso, 28 óbitos relacionados à sífilis congênita foram  notificados no período (RIBEIRO, LYCIA SILVA et al., 2024; MARTINS, RAMON  FILIPE et al., 2024). 

Estudos indicam que a incidência de sífilis congênita no estado do  Amazonas está associada ao nível de escolaridade das gestantes. Uma pesquisa  realizada entre 2018 e 2022 revelou que 63,86% das mães de recém-nascidos  com sífilis congênita não completaram o ensino básico, fundamental ou médio.  Além disso, um estudo sobre casos de sífilis em gestantes entre 2013 e 2022  identificou que a maior parte dos casos ocorreu entre mulheres com ensino  fundamental incompleto (21,64%) e ensino médio incompleto (16,18%) (RIBEIRO,  LYCIA SILVA et al., 2024; MARTINS, RAMON FILIPE et al., 2024). 

Estudos indicam falhas significativas no diagnóstico e tratamento da sífilis  durante a gestação. Um estudo apontou que, embora 81% das gestantes realizam  pré-natal, apenas 57,6% recebem o diagnóstico de sífilis durante esse período, e  31,8% são diagnosticadas apenas no parto ou curetagem. Além disso, apenas  36,8% das gestantes diagnosticadas foram adequadamente tratadas, enquanto  59,2% receberam tratamento inadequado e 30,4% não receberam tratamento .  Esses dados evidenciam que a qualidade do atendimento pré-natal é insatisfatória, refletindo em diagnóstico tardio e falhas no tratamento  (DOMINGUES, 2013; FERNANDES, 2024; SILVA, 2020; IBES 2020). 

As falhas no tratamento da sífilis congênita no sistema público de saúde  brasileiro são multifatoriais. Estudos destacam a insegurança dos profissionais de  saúde em administrar a penicilina benzatina, o que compromete o tratamento  adequado . Além disso, a falta de tratamento dos parceiros sexuais das gestantes  contribui para a reinfecção e perpetuação da doença . Outros fatores incluem o  desabastecimento de penicilina, o desconhecimento da doença pela população, o  repasse incorreto de informações pelos profissionais de saúde, o difícil acesso à rede de saúde, a baixa escolaridade e a educação sexual precária (DOMINGUES,  2013; FERNANDES, 2024; SILVA, 2020; IBES 2020).

4. RESULTADOS 

A análise dos estudos incluídos na revisão sistemática revelou de forma  consistente que a recorrência da sífilis em gestantes está fortemente relacionada a  falhas interdependentes no diagnóstico precoce, no tratamento adequado e na  estrutura do cuidado pré-natal. Esses elementos, quando ineficazes, comprometem  diretamente a saúde fetal e perpetuam a transmissão vertical da infecção. Os  resultados apontam para um cenário marcado por vulnerabilidades clínicas, sociais e  institucionais, que contribuem para a permanência da sífilis. 

Destaca-se que, embora 81% das gestantes brasileiras realizam  acompanhamento pré-natal, apenas 57,6% são diagnosticadas com sífilis durante  esse período. Em contrapartida, 31,8% são diagnosticadas apenas no parto ou  durante procedimentos pós-abortivos, evidenciando a deficiência na triagem precoce. Dentre as gestantes diagnosticadas, 59,2% receberam tratamento  inadequado e 30,4% não foram tratadas, revelando a baixa efetividade da resposta  clínica à infecção durante a gestação. 

As falhas terapêuticas se manifestam em diversos níveis, incluindo a  insegurança de profissionais de saúde na administração de penicilina benzatina — medicamento preconizado pelo Ministério da Saúde —, além da ausência de  tratamento dos parceiros sexuais, o que favorece casos recorrentes de reinfecção. 

No aspecto social, a pesquisa identificou correlação direta entre a  prevalência da sífilis gestacional e indicadores de vulnerabilidade, como baixa  escolaridade, faixa etária entre 20 e 29 anos, cor da pele não branca e ausência de  parceiro fixo. No estado do Amazonas, por exemplo, entre 2019 e 2023, foram  registrados 8.640 casos de sífilis gestacional e 2.114 casos de sífilis congênita, com  97,5% dos diagnósticos realizados nos primeiros seis dias de vida do recém-nascido.  Apesar de 75,3% das mães terem realizado pré-natal, foram registrados 28 óbitos por  sífilis congênita, refletindo a deficiência qualitativa desse cuidado. 

Adicionalmente, a análise demonstrou que a maioria das mães de recém nascidos com sífilis congênita não concluiu o ensino básico. Dados obtidos entre 2018  e 2022 indicam que 63,86% dessas mulheres possuíam escolaridade inferior ao  ensino médio, esses achados reforçam o impacto dos determinantes sociais da saúde.

Quanto às consequências para o feto, os dados revelam elevada taxa de  transmissão vertical, especialmente nas fases primária e secundária da infecção  materna, com desfechos que incluem natimortalidade, prematuridade, malformações  congênitas e sequelas neurológicas. Estudos apontam que a mortalidade fetal é até  seis vezes maior entre casos de sífilis congênita, demonstrando os efeitos  devastadores da infecção não tratada de forma adequada. 

Esses resultados evidenciam a necessidade de intervenções estruturais no  sistema de saúde, incluindo capacitação contínua das equipes multiprofissionais,  políticas públicas voltadas à educação sexual e ao fortalecimento do pré-natal, além  do enfrentamento das desigualdades sociais que agravam a vulnerabilidade das  gestantes à sífilis. O presente estudo contribui, portanto, para a construção de  estratégias mais eficazes de enfrentamento da sífilis gestacional e congênita, com  vistas à redução de sua incidência e à melhoria da saúde materno-infantil no Brasil.

REFERÊNCIAS 

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