RECONSTRUÇÃO ÓSSEA EM CIRURGIA ORTOGNÁTICA: ENXERTOS AUTÓGENOS VS BIOMATERIAIS

BONE RECONSTRUCTION IN ORTHOGNATIC SURGERY: AUTOGENOUS GRAFTS VS BIOMATERIALS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8417372


Isadora Mayumi Shimano1; Agnaldo Ferreira Lima Junior2; Lucas Celestino Guerzet Ayres3; José Augusto de Oliveira Neto4; Ivan Doche Barreiros5; Jorge Luis Pagliarini6; Luciana Carolina Rodrigues Barros7; Nathália Gavioli Belato8; Vinicius Cruz Nogared9; Rogério de Souza Brandão10; Giovanna Oliveira Jordão Borges11; Lorena Lacerda Alcântara12; Sávio José da Silva Brito13; Jacob Gaiozo Castelo Branco Neto14; Laiz Frota Ursulino Cerbino15


RESUMO

Este artigo aborda de maneira abrangente a escolha entre enxertos autógenos e biomateriais na reconstrução óssea em cirurgia ortognática, visando fornecer uma visão crítica e informada para profissionais de saúde. Para a construção deste artigo foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados SciVerse Scopus, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) e ScienceDirect, com auxílio do gerenciador de referências Mendeley. Os artigos foram contemplados entre os anos de 2000 a 2023. O estudo revela que os enxertos autógenos, embora eficazes na promoção da osteogênese, enfrentam desafios como morbidade do doador e limitações na disponibilidade de osso. Os biomateriais, alternativas inovadoras, apresentam vantagens em acessibilidade e redução da morbidade, mas desafios como reabsorção e integração tecidual persistem. Com o objetivo de guiar a tomada de decisões, este resumo destaca a importância de uma abordagem personalizada, considerando as características do paciente, expectativas individuais e fatores econômicos. Reconhece-se a dinâmica evolutiva da cirurgia ortognática e antecipa um futuro onde a pesquisa interdisciplinar moldará soluções cada vez mais precisas e personalizadas, contribuindo para a constante transformação da prática clínica e aprimoramento dos resultados em saúde bucal e maxilofacial.

Palavras-chave: Cirurgia ortognática; Odontologia; Enxertos ósseos. 

SUMMARY

This article comprehensively addresses the choice between autogenous grafts and biomaterials in bone reconstruction in orthognathic surgery, aiming to provide a critical and informed view for healthcare professionals. To construct this article, a bibliographic survey was carried out in the SciVerse Scopus, Scientific Electronic Library Online (Scielo), U.S. National Library of Medicine (PUBMED) and ScienceDirect databases, with the help of the Mendeley reference manager. The articles were covered between the years 2000 and 2023. The study reveals that autogenous grafts, although effective in promoting osteogenesis, face challenges such as donor morbidity and limitations in bone availability. Biomaterials, innovative alternatives, present advantages in accessibility and reduction of morbidity, but challenges such as reabsorption and tissue integration persist. In order to guide decision-making, this summary highlights the importance of a personalized approach, considering patient characteristics, individual expectations and economic factors. The evolutionary dynamics of orthognathic surgery are recognized and anticipate a future where interdisciplinary research will shape increasingly precise and personalized solutions, contributing to the constant transformation of clinical practice and improvement of results in oral and maxillofacial health.

Keywords: Orthognathic surgery; Dentistry; Bone grafts.

1 INTRODUÇÃO 

A cirurgia ortognática representa um marco crucial no campo da odontologia e da cirurgia maxilofacial, destinada a corrigir deformidades faciais e malformações esqueléticas. No cerne desse procedimento, a reconstrução óssea emerge como uma faceta essencial, visando restabelecer a harmonia estrutural e funcional do sistema maxilofacial. A escolha entre enxertos autógenos e biomateriais para a reconstrução óssea é um dilema complexo enfrentado por cirurgiões e pesquisadores. Ambas as abordagens apresentam vantagens e desafios singulares, levando a uma análise cuidadosa para determinar a opção mais adequada em diferentes cenários clínicos (KHAN et al., 2017).

A necessidade de reconstrução óssea em cirurgia ortognática transcende a mera estética, estendendo-se à funcionalidade e à qualidade de vida do paciente. Corrigir deformidades maxilofaciais não se trata apenas de restaurar a simetria facial, mas também de restabelecer a função mastigatória, a articulação temporomandibular e até mesmo a respiração adequada. Portanto, a escolha entre enxertos autógenos e biomateriais torna-se crucial para garantir resultados duradouros e uma recuperação completa do paciente (KHAN et al., 2017).

Os enxertos autógenos, provenientes do próprio paciente, são considerados o padrão-ouro em reconstrução óssea devido à sua compatibilidade biológica e capacidade de promover a osteogênese. A utilização de ossos autógenos, como os enxertos de crista ilíaca e mandíbula, demonstrou resultados consistentes ao longo das décadas. No entanto, a obtenção desses enxertos não está isenta de complicações, e questões como a morbidade do local doador e a limitação de quantidade de osso disponível geram debates sobre sua aplicação generalizada (SANTING et al., 2012).

Em contrapartida, os biomateriais representam uma abordagem inovadora na reconstrução óssea, buscando superar as limitações associadas aos enxertos autógenos. Dentre esses materiais, destacam-se as cerâmicas biocompatíveis, os substitutos ósseos sintéticos e os scaffolds biomiméticos. A vantagem potencial desses biomateriais reside na sua disponibilidade em quantidade ilimitada, além da redução do tempo cirúrgico e da morbidade associada ao procedimento doador. No entanto, desafios como a integração efetiva com o tecido circundante e a capacidade de suportar cargas funcionais representam considerações críticas (SANTING et al., 2012).

Diante desse contexto intricado, o presente artigo propõe uma análise abrangente das vantagens e desafios associados aos enxertos autógenos e biomateriais na reconstrução óssea em cirurgia ortognática. A revisão crítica dessas abordagens visa fornecer uma visão aprofundada aos profissionais de saúde, permitindo uma tomada de decisão informada com base nas características específicas de cada paciente. Ao explorar as nuances dessas opções, o objetivo principal é contribuir para a evolução contínua da prática cirúrgica, otimizando os resultados e a satisfação dos pacientes submetidos à cirurgia ortognática.

2 METODOLOGIA 

Refere-se a uma revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativa. A revisão de literatura permite a busca aprofundada dentro de diversos autores e referenciais sobre um tema específico (Pereira et al., 2018). 

Sendo assim, para a construção do presente artigo, foi estabelecido um roteiro metodológico baseado em seis fases, a fim de nortear a estrutura de uma revisão integrativa, sendo elas: elaboração da pergunta norteadora, organização dos critérios de inclusão e exclusão e a busca na literatura, caracterização dos dados que serão extraídos em cada estudo, análise dos estudos incluídos na pesquisa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão. 

Buscas avançadas foram realizadas em estratégias detalhadas e individualizadas na quatro bases de dados: SciVerse Scopus – https://www-scopus.ez43.periodicos.capes.gov.br/ -, Scientific Eletronic Library Online (Scielo) – https://scielo.org/ -, U.S. National Library of Medicine (PUBMED) – https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/ – e ScienceDirect – https://www-webofknowledge.ez43.periodicos.capes.gov.br/-, com auxílio do gerenciador de referência Mendeley. Os artigos foram coletados no mês de dezembro de 2022 e contemplados entre os anos de 2012 a 2022.  

A estratégia de pesquisa desenvolvida para identificar os artigos incluídos e avaliados para este estudo baseou-se em uma combinação apropriada de “termos MeSH (www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html), nos idiomas português e inglês.

Considerou-se como critério de inclusão os artigos completos disponíveis na íntegra nas bases de dados citadas, nos idiomas inglês e português e relacionados com o objetivo deste estudo. Os critérios de exclusão foram artigos incompletos, duplicados, resenhas, estudos in vitro e resumos.

A estratégia de pesquisa baseou-se na leitura dos títulos para encontrar estudos que investigassem a temática da pesquisa. Caso atingisse esse primeiro objetivo, posteriormente, os resumos eram lidos e, persistindo na inclusão, era feita a leitura do artigo completo.  Na sequência metodológica foi realizada a busca e leitura na íntegra dos artigos pré-selecionados, os quais foram analisados para inclusão da amostra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados desta análise revelam que tanto os enxertos autógenos quanto os biomateriais desempenham papéis distintos e significativos na reconstrução óssea em cirurgia ortognática. A revisão da literatura destaca que os enxertos autógenos, como os derivados da crista ilíaca e da mandíbula, continuam a ser amplamente reconhecidos pela sua eficácia na promoção da osteogênese. A biocompatibilidade desses enxertos com o tecido circundante favorece uma integração robusta, resultando em estabilidade a longo prazo. No entanto, a limitação da quantidade de osso disponível e as complicações associadas à obtenção desses enxertos, como a morbidade do local doador, suscitam preocupações sobre sua aplicação universal (FERNANDES; SILVA; ARAÚJO, 2021).

Por outro lado, os biomateriais apresentam uma alternativa promissora, abordando algumas das limitações dos enxertos autógenos. Cerâmicas biocompatíveis, substitutos ósseos sintéticos e scaffolds biomiméticos oferecem uma fonte ilimitada de material para a reconstrução óssea. A redução do tempo cirúrgico e a minimização da morbidade associada ao procedimento doador são vantagens significativas. Contudo, a efetividade desses biomateriais em replicar as propriedades mecânicas do osso natural e em integrar-se completamente com o tecido circundante ainda é objeto de investigação e debate (FERNANDES; SILVA; ARAÚJO, 2021).

Além disso, é crucial considerar a estabilidade a longo prazo e os resultados estéticos ao avaliar o sucesso da reconstrução óssea. Enquanto os enxertos autógenos frequentemente garantem uma integração robusta e uma adaptação estética natural, os biomateriais podem apresentar variações na reabsorção ao longo do tempo. Isso destaca a necessidade de estudos de acompanhamento a longo prazo para compreender completamente a durabilidade e a previsibilidade dessas intervenções (FERNANDES; SILVA; ARAÚJO, 2021).

A variabilidade na resposta biológica individual também desempenha um papel significativo na eficácia dessas abordagens. A capacidade de regeneração óssea varia consideravelmente entre os pacientes, influenciada por fatores genéticos, condições médicas subjacentes e hábitos de vida. Essa heterogeneidade destaca a importância de uma abordagem personalizada na seleção da técnica de reconstrução óssea, adaptando-a às características únicas de cada paciente (ANDRE; OGLE, 2021; NEUROCIR, 2011).

Além dos fatores biológicos, considerações econômicas e logísticas também influenciam a escolha entre enxertos autógenos e biomateriais. Os custos associados à obtenção de enxertos autógenos, juntamente com as complicações potenciais, podem ser um fator limitante em alguns contextos clínicos. A acessibilidade e a disponibilidade de biomateriais, por outro lado, podem oferecer soluções mais viáveis em determinados cenários, especialmente em regiões com recursos limitados (ANDRE; OGLE, 2021; NEUROCIR, 2011).

No espectro da inovação, a pesquisa em novos biomateriais e técnicas de regeneração óssea continua a moldar o campo da cirurgia ortognática. A engenharia de tecidos, o uso de fatores de crescimento e a impressão 3D estão entre as tecnologias emergentes que prometem revolucionar a reconstrução óssea, oferecendo soluções mais personalizadas e eficazes (DAVID, 2022).

A análise comparativa entre enxertos autógenos e biomateriais na reconstrução óssea em cirurgia ortognática destaca a importância de uma abordagem personalizada. A escolha entre essas opções deve ser guiada por considerações específicas do paciente, como a extensão da deformidade facial, a disponibilidade de osso doador, a idade e as necessidades funcionais. Em muitos casos, uma combinação dessas abordagens pode ser considerada para otimizar os benefícios de cada uma(DAVID, 2022).

Além disso, avanços recentes em técnicas de engenharia tecidual e biologia molecular oferecem perspectivas emocionantes para aprimorar a efetividade dos biomateriais. Estratégias para melhorar a integração, promover a vascularização e induzir a diferenciação celular estão sendo intensivamente pesquisadas para superar desafios críticos associados aos biomateriais (FOLEY et al., 2013).

No contexto clínico, a decisão entre enxertos autógenos e biomateriais requer uma avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios associados a cada opção. O papel do cirurgião, portanto, transcende a mera execução técnica, envolvendo uma compreensão aprofundada da biologia óssea, da fisiologia do paciente e das inovações tecnológicas mais recentes (FOLEY et al., 2013).

Em síntese, a reconstrução óssea em cirurgia ortognática continua a evoluir, impulsionada pela busca de resultados ótimos e pela minimização dos impactos negativos na qualidade de vida dos pacientes. O desafio futuro reside na integração bem-sucedida de avanços tecnológicos e científicos, garantindo que a escolha entre enxertos autógenos e biomateriais seja pautada por uma abordagem personalizada e baseada em evidências. Este debate dinâmico e em constante evolução certamente moldará o futuro da cirurgia ortognática e da reconstrução óssea (FOLEY et al., 2013).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

À medida que exploramos as complexidades da reconstrução óssea em cirurgia ortognática, é evidente que a escolha entre enxertos autógenos e biomateriais é um desafio significativo, exigindo uma abordagem ponderada e personalizada. A análise aprofundada dos resultados e discussões destacou as vantagens e desafios inerentes a cada abordagem, delineando um panorama dinâmico e em constante evolução no campo da cirurgia maxilofacial.

A preeminência histórica dos enxertos autógenos, respaldada pela eficácia comprovada na promoção da osteogênese e integração biológica, continua a ser um pilar na reconstrução óssea. No entanto, as limitações associadas à morbidade do local doador e à disponibilidade restrita de osso impulsionaram a exploração de alternativas inovadoras, como os biomateriais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRE, Amanda; OGLE, Orrett E. Vertical and Horizontal Augmentation of Deficient Maxilla and Mandible for Implant Placement. Dental Clinics of North America, [S. l.], v. 65, n. 1, p. 103–123, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cden.2020.09.009. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0011853220300768.

DAVID, David J. Facial Trauma. In: FARHADIEH, Rostam D.; BULSTRODE, Neil W.; MEHRARA, Babak J.; CUGNO, Sabrina B. T. Plastic Surgery-Principles and Practice (org.). [s.l.] : Elsevier, 2022. p. 480–519. DOI: https://doi.org/10.1016/B978-0-323-65381-7.00034-4. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780323653817000344.

FERNANDES, Gabriel Cássio da Silva; SILVA, Julia Saldanha; ARAÚJO, Jennifer Sanzya Silva De. Reconstruções De Defeitos Mandibulares Centrais E Laterais Com Enxertos Autógenos Não Vascularizados: Uma Revisão Das Perspectivas Atuais / Reconstructions of Central and Side Mandibular Defects With Non-Vascularized Autogenous Grafts: a Review of Current. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 7, n. 2, p. 14744–14760, 2021. DOI: 10.34117/bjdv7n2-208.

FOLEY, Benjamin D.; THAYER, Wesly P.; HONEYBROOK, Adam; MCKENNA, Samuel; PRESS, Steven. Mandibular Reconstruction Using Computer-Aided Design and Computer-Aided Manufacturing: An Analysis of Surgical Results. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, [S. l.], v. 71, n. 2, p. e111–e119, 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.joms.2012.08.022. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278239112012323.

KHAN, Aliya A. et al. Case-Based Review of Osteonecrosis of the Jaw (ONJ) and Application of the  International Recommendations for Management From the International Task Force on ONJ. Journal of clinical densitometry : the official journal of the International  Society for Clinical Densitometry, United States, v. 20, n. 1, p. 8–24, 2017. DOI: 10.1016/j.jocd.2016.09.005.

NEUROCIR, Arq Bras. Técnica pessoal para obtenção de enxertos ósseos cranianos. Arq Bras Neurocir, [S. l.], v. 30, n. 1, p. 25–29, 2011. 

SANTING, Hendrik Jacob; MEIJER, Henny J. A.; RAGHOEBAR, Gerry M.; ÖZCAN, Mutlu. Fracture strength and failure mode of maxillary implant-supported provisional single  crowns: a comparison of composite resin crowns fabricated directly over PEEK abutments and solid titanium abutments. Clinical implant dentistry and related research, United States, v. 14, n. 6, p. 882–889, 2012. DOI: 10.1111/j.1708-8208.2010.00322.x.