REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10841569
Rafael Lorencetti dos Santos11
“Abstract: The concept of disability encompasses various physical, mental, intellectual, or sensory limitations, coupled with social barriers, that hinder the full participation of individuals in society. Multiple disabilities, affecting two or more areas, present significant challenges, with causes ranging from prenatal to postnatal factors. In Brazil, approximately 18.6 million people face disabilities, with rates increasing with age. Disparities exist in education and healthcare access, with specialized services often overlooking the needs of those with multiple disabilities. Interdisciplinary collaboration and innovative technologies, like eye-tracking software, offer promising avenues for enhanced rehabilitation. Despite progress, challenges persist, emphasizing the need for holistic approaches and evolving policies to ensure the full integration and well-being of individuals with multiple disabilities.”
O conceito de deficiência abrange uma gama de limitações físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais, que, em conjunto com as barreiras sociais, podem restringir a plena participação e inclusão desses indivíduos na sociedade. De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, tais barreiras podem resultar em obstáculos significativos para sua participação igualitária na comunidade [1].
Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que uma em cada sete pessoas em todo o mundo vive com algum tipo de deficiência [2]. No Brasil, aproximadamente 18,6 milhões de indivíduos com 2 anos ou mais de idade enfrentam alguma forma de deficiência, o que equivale a 8,9% desse grupo etário. Nota-se que os índices de deficiência na população aumentam de acordo com a faixa etária, em 2022, 47,2% das pessoas com deficiência no país tinham 60 anos ou mais. Do total da população, 5,5% possuem deficiência em apenas uma função e 3,4% em duas ou mais funções, com uma prevalência ligeiramente maior de múltiplas deficiências entre mulheres (40,6%) em comparação com homens (35,8%) [3].
A deficiência múltipla, também conhecida como DMU, refere-se à presença simultânea de duas ou mais deficiências, que podem envolver aspectos físicos, intelectuais, emocionais, neurológicos, sensoriais, linguísticos e de desenvolvimento educacional/vocacional [4]. Uma outra definição caracteriza a deficiência múltipla como a presença de uma deficiência que afeta outras áreas da vida do indivíduo [5].
As causas da múltiplas deficiências são variadas e podem surgir de fatores pré-natais, perinatais, natais e pós-natais, bem como de eventos ambientais, como acidentes, traumas cranianos, intoxicações, radiações, tumores, entre outros. Na caracterização da deficiência múltipla, é necessário levar em conta que essa condição pode se manifestar através da combinação de diversas categorias, entre outras [6]:
Física e Psíquica:
(a) Deficiência física associada à deficiência intelectual;
(b) Deficiência física associada a transtorno mental.
Sensorial e Psíquica:
(a) Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência intelectual;
(b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência intelectual;
(c) Deficiência auditiva ou surdez associada a transtorno mental.
Sensorial e Física:
(a) Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência física;
(b) Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência física.
Física, Psíquica e Sensorial:
(a) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência intelectual;
(b) Deficiência física associada à deficiência auditiva ou surdez e à deficiência intelectual;
(c) Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência auditiva ou surdez.
As disparidades enfrentadas pelos indivíduos com deficiência em comparação com seus pares sem deficiência são evidentes em diversos aspectos, incluindo educação, emprego e renda. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2022 revelou que a taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência foi de 19,5%, enquanto apenas 25,6% concluíram pelo menos o Ensino Médio [3].
Ademais, muitos serviços de saúde são inacessíveis para esses indivíduos, devido a barreiras físicas, de comunicação, falta de treinamento profissional e desafios financeiros, com impactos ainda mais significativos para aqueles com múltiplas deficiências. Pois, serviços especializados frequentemente se restringem a determinados tipos de deficiência, resultando na fragmentação da assistência e negligenciando as necessidades específicas das pessoas com múltiplas deficiências [7].
Em 2012, o Ministério da Saúde estabeleceu a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, com o objetivo de proporcionar serviços regulados de reabilitação auditiva, física, intelectual, visual, ostomia e para múltiplas deficiências [8]. A reabilitação visa maximizar a funcionalidade do indivíduo, prevenir a progressão das limitações, promover a independência e a inclusão social em todas as esferas da vida. As modalidades de reabilitação incluem fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicoterapia, entre outras [9].
Apesar dos avanços nas políticas de saúde, a implementação prática dessas políticas enfrenta diversas barreiras, como dificuldades de acesso e limitações nos serviços oferecidos [7]. Essas barreiras revelam lacunas na capacidade do sistema de saúde em atender às necessidades específicas das pessoas com múltiplas deficiências.
Nesse contexto, é fundamental desenvolver mecanismos que possam mitigar e superar os desafios relacionados ao acesso aos serviços adequados para a população com múltiplas deficiências. A colaboração interdisciplinar surge como um elemento fundamental para uma avaliação abrangente das necessidades desses indivíduos. As iniciativas desenvolvidas, como por Fernandes et al. (2017), que envolveu profissionais de diversas áreas na criação de tecnologias, como o rastreamento ocular por meio de software, representam importantes avanços no cuidado e na reabilitação de pessoas com múltiplas deficiências.
A integração do software de imagens com a tecnologia assistiva de rastreamento ocular foi explorada para atender a uma fração específica de pessoas com múltiplas deficiências. Essa junção viabilizou a obtenção de resposta durante a execução de procedimentos relacionados à saúde auditiva, especialmente em casos que envolvem indivíduos com condições congênitas e baixa alfabetização [10]. A aplicação dessa tecnologia promoveu uma participação mais ativa por parte do usuário em seu processo de reabilitação, contribuindo para o acesso mais igualitário nos serviços de saúde e preservando a autonomia do indivíduo, em conformidade com os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS).
Essas abordagens colaborativas são essenciais para lidar com a complexidade dessas condições e para garantir uma abordagem integrada e inclusiva para a prestação de serviços de saúde. Apesar dos progressos realizados, ainda há desafios significativos a serem superados para garantir que as pessoas com múltiplas deficiências recebam o cuidado e o apoio adequados para alcançar seu potencial máximo e participar plenamente na sociedade. É fundamental que políticas e práticas continuem a evoluir para garantir uma abordagem holística e inclusiva para a reabilitação e o cuidado de saúde desses indivíduos.
A reabilitação para pessoas com múltiplas deficiências é um processo complexo e desafiador, que exige uma abordagem abrangente e adaptativa para atender às necessidades individuais de cada pessoa. Esse processo começa com uma avaliação interdisciplinar minuciosa, conduzida por uma equipe de profissionais de saúde, como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e assistentes sociais. Essa avaliação identifica as habilidades, limitações e necessidades específicas de cada pessoa, servindo como base para o desenvolvimento de um plano de reabilitação personalizado.
O plano de reabilitação é elaborado levando em consideração as capacidades e preferências da pessoa, estabelecendo metas realistas e mensuráveis para promover sua independência e qualidade de vida. Ele engloba uma variedade de abordagens terapêuticas, incluindo terapia física, ocupacional e da fala, adaptadas às necessidades motoras, cognitivas e de comunicação da pessoa.
A terapia física visa melhorar a força muscular, a coordenação motora, o equilíbrio e a mobilidade, por meio de exercícios específicos e utilização de equipamentos especializados. Já a terapia ocupacional foca em facilitar a realização de atividades diárias, como vestir-se, alimentar-se e realizar tarefas domésticas, utilizando adaptações e tecnologias assistivas conforme necessário.
A terapia da fala e linguagem é direcionada para aprimorar as habilidades de comunicação verbal e não verbal, bem como a capacidade de deglutição, especialmente importante para pessoas com deficiências cognitivas ou de comunicação.
Além das intervenções terapêuticas, a reabilitação também aborda as necessidades psicossociais da pessoa, oferecendo suporte emocional, aconselhamento e estratégias de enfrentamento para lidar com os desafios associados às suas deficiências.
É fundamental envolver ativamente as famílias e cuidadores no processo de reabilitação, fornecendo-lhes treinamento e orientações para apoiar a pessoa em seu ambiente doméstico e comunitário.
O progresso da pessoa é regularmente monitorado e seu plano de reabilitação é ajustado conforme necessário, garantindo que as intervenções sejam eficazes e adequadas às suas necessidades em constante evolução. Em suma, a reabilitação para pessoas com múltiplas deficiências requer uma abordagem integrada, centrada na pessoa e adaptada às suas necessidades individuais, visando promover sua autonomia e bem-estar.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ano 146, n. 163, p. 3-9, 26 ago. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>.
[2] WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disability. Geneva: WHO, 2020. Disponível em: <http://www.who.int/disabilities/en/>.
[3] IBGE. Pessoas com deficiência: 2022. Coordenação de Pesquisas por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. 15 p. il., color. ISBN: 9788524045738.
[4] AGUIAR, J. S.; DUARTE, E. Educação inclusiva: um estudo na área da educação física. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 1, n. 2, p. 223-240, 2005.
[5] BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental: Deficiência Múltipla. Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2000. (Série Atualidades Pedagógicas).
[6] FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (Fenapaes). Educação Profissional e Trabalho para pessoas com Deficiências Intelectual e Múltipla. Brasília, DF: FENAPAES, 2007.
[7] VALENTIM, R. S. et al. Construção e validação de modelo lógico para Centros Especializados em Reabilitação. Revista de Saúde Pública, v. 55, p. 54, 2021.
[8] BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 793, DE 24 DE ABRIL DE 2012. Institui a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF, 2012.
[9] IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde: 2019: ciclos de vida: Brasil. Coordenação de Trabalho e Rendimento. Rio de Janeiro: IBGE, 2021. 139 p. Convênio: Ministério da Saúde. Inclui glossário. ISBN 978-65-87201-76-4.
[10] FERNANDES, S. K. C. et al. Software de rastreamento ocular adaptado para reabilitação auditiva de pessoas com múltiplas deficiências no SUS. Comunicação em Ciências da Saúde, v. 28, n. 01, p. 107-113, 2017.
[11] Profissional com 19 anos de experiência multifacetada nas áreas de Educação Física, Compras e Vendas e Gestão de Negócios, Lorencetti dos Santos é reconhecido por sua expertise e comprometimento em cada projeto que empreende. Graduado em Bacharelado e Licenciatura em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) em 2007, Rafael complementou sua formação com uma Pós-Graduação em Fisiologia do Exercício e Prescrição de Treinamento pela Universidade Gama Filho em 2009.
Ao longo de sua carreira, Rafael acumulou uma vasta experiência em uma ampla gama de ambientes, desde escolas privadas até academias e entidades sociais. Sua jornada profissional é marcada por uma série de realizações notáveis e contribuições significativas em cada uma das áreas em que atuou.
Na área de Educação Física, Rafael destacou-se pela sua capacidade de elaborar aulas práticas e teóricas inovadoras sobre uma variedade de atividades físicas, jogos esportivos e natação. Sua dedicação às crianças em vulnerabilidade social resultou na criação de projetos inclusivos e transformadores. Além disso, sua experiência em treinamento esportivo abrange desde atletas de fisiculturismo até pessoas da terceira idade, demonstrando sua versatilidade e habilidade em adaptar-se a diferentes públicos e necessidades.
No campo das Compras & Vendas, Rafael desempenhou um papel fundamental na administração e crescimento de uma rede de franquias de sucesso no segmento de suplementos alimentares. Sua capacidade de identificar as preferências do consumidor, negociar contratos e garantir a satisfação do cliente contribuiu significativamente para o sucesso do empreendimento.
Como Gestor de Negócios, Rafael demonstrou sua habilidade em conceber e implementar estratégias eficazes para promover o crescimento e a prosperidade das empresas em que esteve envolvido. Sua experiência em planejamento estratégico, administração de equipes e relacionamento com parceiros e fornecedores foi fundamental para alcançar os objetivos de negócios estabelecidos.
Além de sua atuação profissional, Rafael também se dedicou a projetos sociais e de inclusão social, demonstrando seu compromisso com o bem-estar da comunidade e seu desejo de fazer a diferença na vida das pessoas.
Fluente em português e inglês, Rafael é um profissional altamente qualificado e motivado, cujo compromisso com a excelência e a inovação o torna um ativo valioso em qualquer equipe ou empreendimento em que esteja envolvido.