ORAL REHABILITATION OF A PATIENT WITH SCHIZOPHRENIA IN A TEACHING CLINIC
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506102302
Amanda De Oliveira Silva1
Geisiele Ferreira Lopes¹
Luma Gabriella Cruz Borges de Souza¹
Paulla Diovanna Carvalho de Amarante¹
Keila de Oliveira Inácio2
Taina do Nascimento Gonçalves²
Resumo
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico que compromete a percepção da realidade, e o comportamento. Pacientes com esse diagnóstico frequentemente apresentam algumas condições orais afetadas, devido a fatores como baixa adesão ao autocuidado e dificuldades de acesso aos serviços de saúde. Este trabalho tem como objetivo realizar reabilitação oral de paciente com esquizofrenia na Clínica Integrada da Faculdade Sulamérica, dividimos o plano de tratamento da seguinte forma: anamnese, exames de imagem, exodontias múltiplas e prótese parcial removível superior e inferior. Podemos salientar as adversidades encontradas durante o manejo com essa paciente, sendo necessário uma abordagem individualizada, e sensível às limitações dela. A reabilitação oral devolveu a esta paciente a função mastigatória e estética dos dentes, reforçando a necessidade de práticas interdisciplinares no cuidado à pessoa com transtorno mental grave.
Palavras-chave: Esquizofrenia, Odontologia e esquizofrenia, Realibitação em paciente com deficiência.
1 INTRODUÇÃO
A esquizofrenia foi primeiro caracterizada por Emil Kraepelin no final do século XIX, seus sintomas mais descritos foram: alucinações, perturbações em atenção, compreensão e fluxo de pensamento, sintomas catatônicos e esvaziamento afetivo. Este transtorno surgia devido a causas internas, Kraepelin dividiu em três formas: hebefrênica, catatônica e paranóide. Bleuler, um importante cientista, criou o termo “esquizofrenia”, este substituiu o termo “demência precoce” na literatura, ele descreveu sintomas primários: associação frouxa de ideias, ambivalência, autismo e alterações de afeto, sintomas secundários: alucinações e delírios (SILVA, 2006).
A esquizofrenia é estabelecida como uma síndrome clínica complexa que capta manifestações psicopatológicas diferentes de pensamento, movimento, realidade, emoção e comportamento. No Brasil, ela se encontra prevalente nas maiores condições psiquiátricas, ocupando a maioria dos leitos de hospitais psiquiátricos. Mais de 75.000 novos casos por ano, que equivale a 50 casos para 100.000 habitantes (OLIVEIRA, et al., 2012).
Antigamente as pessoas que possuíam esse transtorno eram deixadas em manicômios psiquiátricos e afastados da sociedade, a partir de 1970 esse contexto mudou, e a família foi inserida como peça fundamental para tratamento, e foi oferecido serviços substitutivos a esses hospitais, como a criação de serviços comunitários, porém ocorrendo a passos lentos, seja por falta de recursos e orientação profissional, os familiares não têm recorrido a essa rede de apoio (DE PAULA, 2018).
Neste processo a questão desses no campo da saúde bucal está fortemente relacionada com o debate mais amplo sobre pessoas com deficiência e equidade em saúde. Para fins de assistência odontológica, o Ministério da Saúde utiliza-se do conceito de paciente com necessidades especiais que é: “todo usuário que apresenta uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes, de ordem mental, física, sensorial, emocional, de crescimento ou médica, que o impeça de ser submetido a uma situação odontológica convencional. As razões dessas necessidades são inúmeras e vão desde doenças hereditárias, defeitos congênitos, até as alterações que ocorrem durante a vida, como moléstias sistêmicas, alterações comportamentais, envelhecimento, etc. Esse conceito é amplo e abrange, entre os diversos casos que requerem atenção diferenciada, às pessoas com deficiência visual, auditiva, física ou múltipla (conforme definidas nos Decretos 3296/99 e 5296/04) que eventualmente precisam ser submetidas à atenção odontológica especial” (Cadernos da Atenção Básica, 2004).
As principais razões é a dificuldade de acesso aos consultórios e clínicas odontológicas, o despreparo dos profissionais para lidar com a deficiência, além de dificuldades financeiras. A assistência odontológica a este grupo populacional tem sido historicamente realizada de forma esporádica, sem acompanhamento sistemático e, na maior parte das vezes, em instituições de caráter filantrópico, razão pela qual a situação de saúde bucal destes pacientes é praticamente ignorada (Ministério da Saúde, 1992).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo abordar a importância do manejo de um paciente com deficiência durante o tratamento odontológico e descrever o relato de procedimento reabilitador em um paciente com esquizofrenia.
2 CASO CLÍNICO
Paciente J.S.N., 48 anos de idade, negra, solteira, acompanhada pela sua responsável, procurou a Clínica Integrada Sulamérica, na cidade de Luís Eduardo Magalhães- Ba, em busca de tratamento odontológico. Na primeira consulta foi realizada uma anamnese para entender o quadro clínico. A responsável relatou que a paciente é portadora de esquizofrenia, faz uso dos seguintes medicamentos: fluoxetina, prometazina, haloperidol e clonazepam.
No exame clínico juntamente com o exame de imagem (figura 1), que a paciente nos trouxe no dia da consulta, foi feito o plano de tratamento autorizado pela sua responsável no qual foi avaliado a necessidade de realizar exodontias múltiplas, e confecção de prótese total superior e prótese parcial removível inferior, visando devolver função mastigatória e qualidade de vida para paciente.
Figura 1: Panorâmica, paciente antes da intervenção. Fonte: autores (2025).
Foram realizadas as exodontias dos elementos: 12, 13, 14, 17, 23, 24, 33, 34, 37, 41, 46 e 48, em dias alternados variando de vinte a trinta dias de acordo com a cicatrização da paciente, e restando o elemento 27 para ser retirado posteriormente. Para a realização da cirurgia, foi feito a antissepsia e a paramentação do operador e auxiliar, montagem de mesa cirúrgica, antissepsia intraoral com clorexidina 0,12% e com auxílio de uma gaze, antissepsia extraoral com clorexidina 2%, as técnicas anestésicas utilizadas para a cirurgia na região superior: bloqueio do nervo alveolar superior posterior direito, alveolar superior médio, alveolar superior anterior, nasopalatino, nervo platino maior. Para a região inferior foram anestesiados os seguintes nervos: mentoniano, alveolar inferior, nervo bucal, e mentoniano e nervo lingual, com anestésico lidocaína 2%. Após, foi realizado descolamento com descolador de molt para conseguir uma visão mais ampla da região das exodontias, em seguida manobras de luxação com alavancas: seldin e apical, para remoção dos elementos foram utilizados os fórceps: 150, 151, 17, 69 e 18 R, curetagem com irrigação usando soro fisiológico estéril e alisamento ósseo com lima para osso, devido ao comportamento da paciente não foi realizado a sutura pois ela não permitia. A prescrição medicamentosa feita foi a ingestão oral de uma cápsula de amoxicilina de 500mg de 08 em 08 horas durante 07 dias, o anti-inflamatório receitado foi 01 comprimido de nimesulida de 100mg de 12 em 12 horas durante 03 dias e analgésico de escolha foi 01 comprimido de dipirona de 500mg de 06 em 06 horas durante 03 dias, era realizada a extração de 02 a 03 elementos por consulta, e cada consulta variava de vinte dias a um mês, sempre respeitando o tempo de cicatrização e de recuperação da paciente.
Após as extrações desses dentes, restou apenas o elemento 27 que seria necessário realizar uma osteotomia para melhor apoio dos instrumentais, e assim uma exodontia mais segura, porém no dia da extração, devido a condição da paciente, ela teve um episódio de surto psicótico contra o preceptor da clínica tornando inviável a cirurgia naquele momento, optamos por mantê-lo em boca e ao invés de confeccionarmos uma prótese total superior optamos por uma prótese parcial removível superior.
Figura 2: Panorâmica, paciente após intervenção. Fonte: autores (2025).
Depois de algumas semanas, a paciente retornou a clínica, onde foi realizado a moldagem anatômica, foi preferível silicone de condensação para moldagem superior e inferior, pela fácil manipulação, conforto do paciente, e reprodução de detalhes, utilizou-se moldeiras de estoque perfuradas para dentados, após isso efetuou o vazamento do gesso e encaminhado para o protético para realizar o plano de cera, depois de algumas semanas a paciente retornou para o ajuste do plano de cera e definição das linhas imaginárias (linha do sorriso, linha média, linha dos caninos) e encaminhado para o protético para montagem dos dentes.
Posteriormente, com os dentes em cera foi realizado as provas estéticas e funcionais e enviamos novamente para o protético, para produzir a acrilização das próteses. No retorno do paciente finalizou-se o caso e entrega das próteses, onde devolvemos para paciente boa oclusão e função mastigatória.

Figura 3: Sorriso do paciente após a intervenção. Fonte: autores (2025).

Figura 4: Sorriso do paciente após a intervenção. Fonte: autores (2025).
3 DISCUSSÃO
Este caso clínico visa abordar que é possível realizar atendimento de pacientes com esquizofrenia em clínicas escola, mostrando os desafios e particularidade de cada paciente, além disso, o relato de caso ressalta sobre o processo cirúrgico e reabilitação oral em paciente parcialmente edêntulo, buscando promover função mastigatória.
Com este caso clínico pretendemos propiciar, compreensão individualizada de cada paciente, dificuldade no manejo e atendimento de indivíduo com esquizofrenia, trocas de experiências, desde a primeira consulta até a finalização de cada atendimento odontológico. Desse modo ressaltamos a possibilidade de acadêmicos realizarem o acolhimento e suporte a esses pacientes portadores de transtorno mental e assim conceder a estes o que for necessário para uma boa saúde bucal.
4 CONCLUSÃO
Este caso clínico apresenta a trajetória de uma paciente diagnosticada com esquizofrenia, evidenciando como o atendimento odontológico humanizado e a implementação de procedimentos adequados podem contribuir significativamente para a melhora da saúde bucal.
O paciente apresentava diversos sinais e sintomas relacionados à sua condição psiquiátrica, os quais influenciavam diretamente em sua higiene oral, culminando em perdas dentárias e comprometimento da função mastigatória.
Diante disso, foi elaborado um plano de tratamento focado na reabilitação oral, com o objetivo principal de restaurar a função mastigatória. O plano contemplou a confecção de uma prótese parcial removível superior e inferior, adaptadas às necessidades e limitações do paciente.
O caso demonstrou a importância da integração entre a odontologia e os cuidados em saúde mental, reforçando que o acompanhamento contínuo e empático pode trazer benefícios significativos à saúde bucal de pacientes com transtornos psiquiátricos.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Sulmérica e-mail: amand4.oliveira@outlook.com
2Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Sulamérica e-mail: tainanascimento@sulamericafaculdade.edu.br