REHABILITATION WITH VIRTUAL REALITY IN CHILDREN WITH CEREBRAL PALSY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411150315
Ana Clara Campos Belo1
Eduarda Brito Costa Aguiar Sarmento2
Flávia Carvalho Ribeiro3
Lívia Novais Amorim4
Prof.Msc. Laisla Pires Dutra5
Prof.Dr. Pedro Fonseca de Vasconcelos6
Resumo
A paralisia cerebral é uma condição neuromotora que afeta o desenvolvimento motor de crianças devido a danos no cérebro em desenvolvimento. Este estudo tem como objetivo descrever sobre a reabilitação de crianças com paralisia cerebral por meio da realidade virtual, destacando a melhoria da função motora, do equilíbrio e das atividades funcionais. Para isso, foi realizada uma revisão integrativa da literatura científica, buscando evidências sobre a aplicação da realidade virtual na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Os resultados sintetizam os impactos da realidade virtual no desenvolvimento motor e funcional, destacando suas contribuições potenciais para a prática clínica e a qualidade de vida dos pacientes. Conclui-se com o estudo que a realidade virtual é uma ferramenta promissora na reabilitação de crianças com paralisia cerebral.
Palavras-chave: Reabilitação. Paralisia Cerebral. Realidade Virtual.
ABSTRACT
Cerebral palsy is a neuromotor condition that affects the motor development of children due to damage to the developing brain. This study aims to describe the rehabilitation of children with cerebral palsy through virtual reality, highlighting the improvement of motor function, balance and functional activities. For this, an integrative review of the scientific literature was carried out, seeking evidence on the application of virtual reality in the rehabilitation of children with cerebral palsy. The results summarize the impacts of virtual reality on motor and functional development, highlighting its potential contributions to clinical practice and the quality of life of patients. The study concludes that virtual reality is a promising tool in the rehabilitation of children with cerebral palsy.
KEYWORDS: Rehabilitation. Cerebral Palsy. Virtual Reality.
1. INTRODUÇÃO
A paralisia cerebral (PC), também conhecida como encefalopatia crônica não progressiva, é uma condição que causa alterações motoras, afetando postura, tônus muscular e movimento. É a principal causa de deficiência na infância e resulta de danos ao cérebro em desenvolvimento. À luz disso, embora seja classificada como não progressiva, suas manifestações clínicas podem mudar ao longo do tempo devido ao amadurecimento do sistema nervoso central. Dessa forma, é importante ressaltar que a deficiência intelectual nem sempre está associada a esse processo (Kalil, 2021).
Nesse viés, uma das terapias que vêm sendo empregadas para a reabilitação de sequelas motoras e cognitivas, é a aplicação da realidade virtual, sendo vista como uma técnica altamente promissora (Monteiro; Simcsik; Silva, 2021). Assim, proporcionando novas formas de aprender movimentos corretos. Com características de realismo visual e interação intuitiva, os sistemas de Realidade Virtual (RV) aumentam o envolvimento e a concentração do usuário nas tarefas. Essa tecnologia então, permite simular ambientes terapêuticos seguros, auxiliando no desenvolvimento de habilidades necessárias para a reabilitação (Lamounier-Júnior, 2022).
Desta forma, a escolha dos jogos deve seguir princípios de reabilitação, considerando aspectos como equilíbrio corporal e funcionalidade, de maneira divertida e desafiadora (Andrade, 2018). Contudo, seu uso requer monitoramento cuidadoso por profissionais qualificados para garantir que os objetivos terapêuticos sejam alcançados, desde a seleção dos jogos até sua aplicação na terapia (Monteiro; Simcsik; Silva, 2021).
Apesar dos resultados positivos terem sido observados em estudos preliminares, o uso da realidade virtual na reabilitação de crianças com paralisia cerebral ainda é uma área que necessita de maior investigação (Peres, et al, 2018), uma vez que esse recurso está se tornando um grande aliado no tratamento fisioterapêutico, atuando como uma forma de tratamento lúdica, dinâmica e inovadora, garantindo uma aproximação do paciente à terapia (XAVIER, M. J.; RODRIGUES, N. M. N. M.; ARAÚJO, M, 2020).
A partir desse contexto, o objetivo do presente trabalho foi discutir sobre o uso da RV para a reabilitação de crianças com paralisia cerebral, trazendo suas vantagens e desvantagens por meio de uma revisão integrativa da literatura.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Contextualizando a Paralisia Cerebral
A paralisia cerebral (PC) é caracterizada por um comprometimento estático do desenvolvimento motor, afetando aspectos como tônus muscular, força, coordenação e movimentos. Suas origens podem ser diversas, desde lesões cerebrais perinatais, hipóxico-isquêmicas, AVC, infecções, até malformações cerebrais e condições genéticas (Messer et al., 2024).
Devido à variedade de causas, os sintomas da PC variam consideravelmente entre os indivíduos. Embora a condição não progrida ao longo do tempo, seu impacto completo pode não ser totalmente visível até a criança atingir cerca de 3 a 4 anos de idade, quando as expectativas motoras estão mais consolidadas (Messer et al., 2024).
As causas pré-natais da paralisia cerebral podem incluir redução da pressão parcial de oxigênio, diminuição da concentração de hemoglobina, menor superfície placentária, alterações na circulação materna, tumores uterinos, nós no cordão umbilical, cordão umbilical curto, malformações do cordão umbilical, prolapso ou compressão do cordão (Lopez et al., 2018).
Causas perinatais podem envolver fatores maternos, idade da mãe, desproporção cefalopélvica, anomalias da placenta, do cordão umbilical, das contrações uterinas, bem como narcose e anestesia. Fatores fetais, como primogenidade, prematuridade e dismaturidade, também podem desempenhar um papel no desenvolvimento da condição (Lopez et al., 2018).
2.2 Neuroplasticidade e Reabilitação em Crianças com PC
A reabilitação em crianças com PC baseia-se amplamente na aplicação de princípios de aprendizagem motora , que é o processo pelo qual as habilidades motoras são adquiridas ou modificadas por meio da prática repetitiva e da experiência. A aprendizagem motora está intimamente ligada à neuroplasticidade, pois envolve a formação e o fortalecimento de sinapses em resposta a novas demandas motoras. Em crianças com PC, as deficiências motoras resultantes de lesões cutâneas podem ser atenuadas pela prática repetida de tarefas específicas,que estimulam o cérebro a reorganizar suas redes neurais (Monteiro, C. B. M., Jakabi, C. M., Palma, G. C. S., & Torriani-Pasin, C.,2010).
Através da interação com cenários virtuais que desafiam o controle motor e o equilíbrio, a RV fornece estímulos sensoriais e motores que facilitam a reorganização neural, ajudando na recuperação de funções motoras perdidas ou comprometidas. A combinação de práticas intensivas e feedback em tempo real oferecida pela RV torna esse tipo de intervenção particularmente eficaz na promoção da plasticidade neural (Lee, H. S., Park, Y. J., & Park, S. W. 2019).
O mecanismo de ação da RV é o aprendizado pela experiência e a plasticidade dependente do uso. Essa intervenção contém como ingredientes a prática ativa, repetitiva e intensiva da tarefa, estratégias motivacionais e a modificação do ambiente para proporcionar mudanças esperadas nos desfechos almejados (Alberissi; Monteiro; Silva, 2023).
2.3 A Realidade Virtual como Intervenção Terapêutica
A terapia de realidade virtual (RV) tem sido utilizada no tratamento de indivíduos com distúrbios de coordenação do desenvolvimento e paralisia cerebral, evidenciando melhorias na aprendizagem de novos movimentos em ambientes virtuais. Esses achados revelam um amplo conjunto de aplicações da RV em intervenções de reabilitação, destacando seu potencial benéfico em diversos contextos clínicos (RUTKOWSKI et al., 2020).
Uma das principais vantagens da RV como intervenção terapêutica é a capacidade de ajustar o nível de dificuldade das tarefas de acordo com o progresso do paciente. Estudos demonstram que a realidade virtual permite a criação de programas individualizados, adaptando os exercícios às necessidades e habilidades do paciente em tempo real. (Santos, J. V. L., & Silva, J. F. B, 2023).
Além disso, os ambientes gamificados frequentemente utilizados nas terapias com RV aumentam a motivação e o engajamento dos pacientes, principalmente crianças e adolescentes, que podem encarar os exercícios como uma forma de jogo (Santos, J. V. L., & Silva, J. F. B, 2023).
Quando o envolvimento em tarefas de RV é grande, os usuários têm maior probabilidade de desfrutar da experiência virtual e de aprender ou completar com sucesso a tarefa que estão treinando, ou seja, para alcançar alto nível de envolvimento em tarefas de RV é importante garantir que a experiência seja agradável, envolvente e desafiadora o suficiente para manter o usuário engajado e motivado (Alberissi; Monteiro; Silva, 2023).
3. METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo é sintetizar os achados sobre a utilização da realidade virtual como ferramenta de reabilitação em crianças e adolescentes com paralisia cerebral discutindo suas vantagens e desvantagens.
A pesquisa bibliográfica foi realizada através da PubMed, reconhecida por sua relevância na área da saúde. Os estudos foram selecionados utilizando as seguintes palavras-chave, de acordo com os descritores em saúde (DeCS/MeSH): (Rehabilitation) AND (Cerebral Palsy) AND (Virtual Reality) AND (children).
Os critérios de inclusão estabelecidos para a seleção dos estudos foram: Publicações nos últimos 5 anos (2019-2024); Artigos disponíveis em português, inglês ou espanhol; Estudos que abordem intervenções utilizando realidade virtual no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Foram excluídos artigos que: Não abordavam a população infantil; Estavam fora do período de publicação definido;
Estudos comparativos de realidade virtual com terapia convencional ou outras modalidades terapêuticas; Estudos de amostra composta por crianças típicas.
A seleção dos estudos foi realizada em três etapas:
Figura 1. Apresentação do desenvolvimento do estudo.
Os dados extraídos foram organizados em um quadro e apresentados de forma descritiva e argumentativa. A discussão foi elaborada considerando os efeitos da reabilitação com realidade virtual, vantagens e desafios da técnica.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram identificados na pesquisa 58 artigos, e após a aplicação dos critérios de elegibilidade, foram selecionados 9 artigos para o desenvolvimento deste estudo.
Os principais resultados discutidos em cada um dos estudos foram sumarizados no quadro 1.
Quadro 1: Tipo de estudo, objetivos, metodologia e principais resultados observados
Estudo | Delineamento do estudo | Objetivos | Metodologia | Principais resultados |
Daniela Chan-Víquez et al., 2023. | Estudo de métodos mistos com múltiplos casos. Foram utilizados métodos qualitativos e quantitativos | Avaliar se as crianças atingiram suas metas de tempo de jogo autoestabelecidas ao longo de uma intervenção de 12 semanas. Medir as mudanças nos resultados motores dos membros superiores (UL). | Quatro crianças com paralisia cerebral hemiplégica, entre 8 e 13 anos, participaram do estudo, jogando o videogame Bootle Blast, com sistema de rastreamento de movimento, por 12 semanas em casa. | Houve melhorias consistentes nas avaliações pela Canadian Occupational Performance Measure (COPM) e no Box and Blocks Test (BBT), indicando ganhos motores promovidos pelo uso do jogo. A análise qualitativa destacou a motivação intrínseca, os benefícios da terapia domiciliar e a transferência de habilidades virtuais para o mundo real. |
CHANG, et al 2021. | Estudo piloto não controlado | O estudo se baseia em investigar o impacto da junção da realidade virtual ao simulador de equitação (HRS) e observar a sua melhoria na função motora e no equilíbrio de crianças com paralisia cerebral. | O estudo é composto por 16 crianças com paralisia cerebral. As sessões foram realizadas por 30 minutos utilizando o treinamento com o simulador de equitação (Shin-Hwa Eq-900 m) associado a realidade virtual, que simulava o movimento de um cavalo real, com oito modos de exercícios que permitiam movimentos tridimensionais. | Foi observado na pesquisa um progresso nas dimensões em pé, andar, correr e pular de acordo com a Escala de Medida da Função Motora Grossa (GMFCS) indicando avanços nas habilidades motoras relacionadas ao controle postural e à mobilidade. Na Escala de Equilíbrio Pediátrico (PBS) houve uma evolução. Deste modo, foi indicado uma melhora significativa no equilíbrio funcional dessas crianças. |
Pereira, et al, 2022. | Revisão sistemática | O objetivo do estudo é identificar na literatura internacional e nacional, como a realidade virtual pode ser utilizada para melhorar a função manual das crianças com paralisia cerebral nas atividades de vida diária, para potencializar o efeito das terapias tradicionais. | O estudo é baseado em uma revisão realizada utilizando uma base de dados como Portal de Periódico da CAPES, PubMed e Ovid Medline. Foram identificados 228 artigos inicialmente, após a aplicação dos critérios de elegibilidade, foram selecionados 14 artigos para análise final. | Os resultados da revisão sistemática apontam que houve uma melhora da função manual nas atividades diárias a partir do uso da terapia com RV, foi observado como uma manipulação de objetos e o controle motor fino. |
Iosa M, et al, 2022. | Revisão sistemática | O objetivo deste estudo é observar o estado da arte em relação aos jogos que estão disponíveis para neurorreabilitação pediátrica. Foi realizada uma pesquisa usando as bases de dados que seriam Pubmed e Scopus, utilizando fundamentos baseados nas declarações PRISMA, pontuação PEdro e classificação PICOs. | A pesquisa foi realizada de acordo com os critérios do PRISMA. Utilizando as bases de dados que seriam Pubmed e Scopus. Usando as palavras chaves específicas referentes a pediatria, neurorreabilitação e jogos. | Foram coletados 43 estudos, classificados em diferentes categorias, foi realizado 11 estudos de intervenção, nove estudos sobre dispositivos robóticos gamificados, seis estudos sobre sistemas modernos, oito revisões e nove ensaios de intervenção longitudinal. Os resultados indicaram que a tecnologia de jogos oferece vantagens para a neurorreabilitação pediátrica. |
Liu et al. 2022 | Revisão sistemática e meta-análise. | Avaliar os efeitos do treinamento em realidade virtual (RV): O objetivo principal é examinar como a RV pode influenciar o equilíbrio, a função motora grossa e a capacidade de vida diária em crianças com paralisia cerebrais. | Foi realizada uma pesquisa sistemática para identificar estudos relevantes sobre o uso da realidade virtual (RV) na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Inicialmente, foram identificados 473 estudos por meio de pesquisas em bancos de dados acadêmicos. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade, foram selecionados 11 ensaios clínicos controlados e planejados que atendem aos requisitos definidos. | O treinamento em realidade virtual pode melhorar significativament e o equilíbrio e a função motora grossa em crianças com PC. O impacto do treinamento na capacidade de vida diária, embora positivo após ajustes, ainda é considerado controverso e necessita de mais investigações para conclusões definitivas. |
Cong Liu, et al, 2022. | Revisão sistemática e meta-análise. | O estudo teve como objetivo avaliar sistematicamente os efeitos do treinamento em realidade virtual (RV) no equilíbrio, na função motora grossa e na capacidade de vida diária em crianças com paralisia cerebral (PC). | A pesquisa foi realizada em vários bancos de dados, incluindo PubMed, Embase, The Cochrane Library, Web of Science e China National Knowledge Infrastructure. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (RCTs) que investigaram os efeitos do treinamento em RV nas variáveis de interesse (equilíbrio, função motora grossa e capacidade de vida diária) em crianças com PC. | Foram incluídos 16 artigos, envolvendo um total de 513 crianças com PC. O estudo concluiu que o treinamento em realidade virtual pode melhorar significativamente a função de equilíbrio e a função motora grossa, além da capacidade de vida diária em crianças com paralisia cerebral. |
Maggio, et al, 2024. | Revisão sistemática. | O objetivo do estudo é investigar o papel da realidade virtual imersiva no tratamento de crianças com paralisia cerebral. Mostra como a RV pode ser uma ferramenta útil para melhorar os resultados funcionais cognitivos e motores. | O estudo utiliza um modelo de PICO (população, intervenção, comparação e resultado). A busca foi construída em bases de dados como Embase, Pubmed e Cochrane. | Os estudos analisaram o uso da realidade virtual imersiva em crianças com paralisia cerebral, comprovando que a RV imersiva pode ser uma alternativa ou complemento à terapia convencional. Mostra que a RV oferece avanços cognitivos e motores. Incluem benefícios no equilíbrio, mobilidade, e aumento da massa muscular e magra. |
Han, et al. 2023 | Revisão sistemática e meta-análise | Este estudo buscou confirmar se a terapia de Realidade Virtual é efetiva na melhoria das AVD em crianças com Paralisia Cerebral, considerando diferentes subgrupos. | É uma revisão sistemática que segue o fluxograma PRISMA. Os autores YG Han e SW Park realizaram a revisão independente dos títulos e resumos. A lista final de estudos foi debatida pelo grupo de redação (YG Han, SW Park). A pesquisa foi realizada por um especialista experiente em revisões sistemáticas e meta-análises, sob a direção de um docente do Departamento de Fisioterapia e um estudante de pós-graduação em fisioterapia no programa de doutorado. | O efeito mais significativo foi observado quando a RV foi aplicada durante 6 semanas, com uma duração de 101 a 200 minutos por semana. Assim, sugere-se que, ao aplicar os resultados desta revisão às crianças com paralisia cerebral na comunidade, essa abordagem se mostrou um método de intervenção eficaz. |
Roostaei, et al. 2023 | Estudo experimental. | Analisar a eficácia de um programa multicomponente de Realidade Virtual focado em habilidades motoras e controle postural funcional para crianças com paralisia cerebral hemiplégica (PCH). | Em oito crianças com paralisia cerebral hemiplégicas (GMFCS = II, I), foi realizado um experimento de caso único. O programa de Realidade Virtual envolveu três sessões semanais durante quatro semanas. O Timed Up and Go (TUG), o Teste de Alcance Funcional (FRT), a Escala de Balanço Pediátrico (PBS), a Escala de Atividades para Crianças (ASK), o ABILHAND-Kids e o Box and Block Test (BBT) foram utilizados para avaliar as alterações funcionais. | A avaliação estatística revelou que houve melhorias significativas no controle postural funcional em pelo menos uma medida de equilíbrio para sete dos oito participantes durante o período de intervenção. Todos os participantes notaram um crescimento considerável nas pontuações do BBT. A avaliação da intervenção anterior e subsequente evidenciou avanços estatisticamente notáveis no PBS. |
Ao analisar, através da literatura supracitada, as repercussões da reabilitação com realidade virtual de crianças com paralisia cerebral, foi possível afirmar que, de modo geral, a aplicação dessa tecnologia tem sido associada pelos autores à melhorias em relação ao controle motor após a aplicação da terapia.
Os resultados destacaram tendências em relação aos ganhos no equilíbrio e nas funções motoras grossas conforme apontam (Chang, 2021), (Cong-Liu, 2022), (Maggio et al.,2024), (Roostaei, 2023), além de achados relevantes em relação aos ganhos na funcionalidade dos membros superiores, na manipulação de objetos, força de preensão e destreza manual respectivamente, conforme relatado por Pereira (2022), Roostaei (2023).
Cada estudo investigado contribuiu com evidências concretas sobre os benefícios e limitações dessa intervenção, ampliando o entendimento dos mecanismos e impactos da realidade virtual no tratamento dessas crianças, como por exemplo o estudo desenvolvido por Daniela Chan-Víquez et al. (2023), que implementou um videogame baseado em rastreamento de movimento para crianças com PC, mostrando claramente a eficácia da RV em contextos domiciliares.
Ao combinar métodos qualitativos e quantitativos, os autores puderam captar não apenas os ganhos motores dos participantes — evidenciados nas avaliações de desempenho da Canadian Occupational Performance Measure (COPM) e do Box and Blocks Test (BBT) — mas também aspectos subjetivos, como a motivação e o engajamento intrínseco das crianças.
Esse estudo destacou também a relevância da terapia em ambiente domiciliar, que não apenas facilita a adesão, mas também promove a transferência de habilidades adquiridas no ambiente virtual para o contexto real. No entanto, é importante observar que o tamanho da amostra foi limitado a quatro participantes, o que restringe a generalização dos resultados. Dessa forma, sugere-se a necessidade de pesquisas com maior amostragem para confirmar esses resultados.
Por outro lado, Chang et al. (2021), investigaram a integração da RV com um simulador de equitação, uma intervenção pouco convencional mas interessante, voltada para a melhoria do equilíbrio e das habilidades motoras em crianças com PC. Este estudo piloto traz uma predição em habilidades funcionais como andar, correr e pular, observados nas escalas GMFCS e PBS. A inovação da simulação de cavalgada, que utiliza exercícios tridimensionais para engajar o sistema motor, sugere que abordagens mais realistas e imersivas podem amplificar ainda mais os benefícios motores.
No entanto, o caráter não controlado deste estudo levanta questões sobre a validade dos resultados, e a ausência de um grupo de controle impediu a avaliação do impacto isolado do RV. Assim, esse estudo apontou para uma lacuna importante na literatura, onde estudos futuros poderão auxiliar a preencher a partir da análise da necessidade de métodos experimentais mais robustos para isolar o efeito da VR de outras variáveis intervenientes.
Não obstante, estudos de revisão sistemática como o de Pereira et al. (2022) reforçam ainda mais o papel potencial da RV em melhorar a função manual e motora das crianças com PC. Pereira et al. sintetizaram evidências de várias pesquisas, mostrando melhorias na manipulação de objetos e controle motor fino, aspectos essenciais para as atividades de vida diária. Esta revisão destaca como o RV pode ser uma ferramenta complementar às terapias tradicionais, atuando diretamente sobre funções motoras específicas.
Dessa forma, esses estudos sistemáticos ofereceram uma visão mais ampla sobre a eficácia da RV, contudo, as variações de protocolo e equipamento entre os estudos revisados podem ter influenciado os resultados, ressaltando a necessidade de padronização nos métodos de aplicação da RV para permitir comparações mais diretas.
Na contramão desses resultados, a RV apesar de promover avanços avançados no equilíbrio e na função motora grossa, o seu efeito sobre a capacidade de vida diária foi menos conclusivo, indicando que esses benefícios ainda são controversos e exigem investigação mais aprofundada, de acordo com Iosa et al. (2022), Liu et al. (2022) e Maggio et al. (2024). Um achado na literatura relevante citar, revisou sistemas de RV como Playstation e Xbox, explorando um número amplo de dispositivos para observar o impacto sobre a função motora dos membros superiores citado nos estudos de (Goyal et al., 2022). Os resultados deste, sugeriram avanços em destreza manual, força de compreensão e cooperação bilateral.
Em estudos comparativos da literatura, recomenda-se que futuras pesquisas em aprendizagem motora explorem a manipulação de especificidades modalidades de prática (como variabilidade, distribuição, e fracionamento) e de informações fornecidas (incluindo feedback extrínseco, projeções e instruções, definição de metas, e foco interno ou externo) para aprendizes com paralisia cerebral (Silva TD et al., 2013). Além disso, a quantidade de estudos sobre o tema ainda é limitada, destacando-se a necessidade e a importância de novas pesquisas. Observa-se, também, uma carência de padronização nos protocolos de reabilitação virtual com o uso do NW para esses pacientes, o que reforça a urgência de investigações futuras (Costa, 2018).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências apresentadas nos artigos analisados neste estudo demonstraram que a realidade virtual, pode ser uma ferramenta eficaz na reabilitação de crianças com paralisia cerebral, contribuindo para melhora na força muscular, habilidades motoras e desenvolvimento cognitivo. O ponto mais importante observado nos estudos está na melhora da função motora grossa e do equilíbrio postural, que, juntamente com o aumento do engajamento dos pacientes, revela o potencial da realidade virtual para transformar as abordagens terapêuticas tradicionais. Entretanto, é essencial que novas pesquisas sejam realizadas para auxiliar na compreensão da eficácia, na reprodutibilidade dos métodos e nas melhores práticas para aplicação dessa tecnologia.
Todavia, esta revisão traz importantes contribuições ao debate sobre as abordagens terapêuticas inovadoras. Entre os benefícios desse trabalho, destaca-se a integração da realidade virtual como uma alternativa complementar ou até substitutiva às terapias convencionais, proporcionando uma experiência de reabilitação para as crianças com paralisia cerebral. Além disso, o uso de ambientes virtuais dinâmicos e interativos se mostra uma estratégia eficaz para aumentar a motivação e adesão ao tratamento, uma vez que permite aos pacientes vivenciar situações desafiadoras de forma lúdica e controlada.
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1Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste e-mail: claraaccbelo2@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste e-mail: eduardasarmento021@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste e-mail: flaviacarvrib@gmail.com
4Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste Campus xxxxxx e-mail: livinhanovaisamorim@hotmail.com
5Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste. Mestre em Ciências da Saúde (UESB). e-mail: laisla@fainor.com.br
6Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Instituto Faculdade Independente do Nordeste. Doutor em Ciências da Saúde (UESB). e-mail: pedrovasconcelos@fainor.com.br