REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411301205
Noelma Oliveira Cupertino1
Rafaela De Castro Minhaneli2
Talles Vitor Martins De Oliveira3
Thaynara Valentim Fagundes4
André Luiz De Oliveira Campos Rodrigues5
RESUMO
Introdução: a crescente demanda por substituição de restaurações dentárias em amálgama, por resina composta, levanta questionamentos sobre a real necessidade de novas intervenções restauradoras. Contudo, além da estética, é necessário considerar outros fatores importantes, como o comportamento biomecânico das restaurações em amálgama, que tem impulsionado a busca por preparos cavitários menos invasivos. Objetivo: Esta revisão narrativa da literatura tem como objetivo abordar as razões para a substituição de restaurações de amálgama por resinas compostas, motivada por preocupações com a toxicidade do mercúrio, estética, bem-estar e biomecânica. Metodologia: foram selecionados artigos científicos, em português e inglês, das bases dados, Pubmed, Scielo e Lilacs, preferencialmente com até dez anos de publicação. As estratégias de buscas foram: “Amálgama dentário, Biomecânica, Resina Composta, Odontologia” e “Dental Amalgam, Biomechanics, Composite Resin, Dentistry.” Conclusão: Embora o amálgama ofereça durabilidade e baixo custo, sua utilização vem diminuindo devido à pressão social por materiais mais estéticos, associada a uma abordagem técnica mais conservadora da estrutura dental, a partir de materiais adesivos que proporcionam uma biomecânica mais favorável.
Palavras-chave: Amálgama Dentário, Biomecânica, Resina Composta, odontologia
INTRODUÇÃO
Em 1826, Taveau introduziu o amálgama na odontologia, a partir de uma “massa prateada” resultante da combinação direta de prata e mercúrio em restaurações dentárias permanentes. Diante das dificuldades em obter prata pura, ele começou a usar mercúrio misturado com limalhas de moedas, que continham prata e outros metais (OLIVEIRA et al., 2022)
Este material foi, e ainda é utilizado em restaurações odontológicas, estando associado a excelentes resultados clínicos, principalmente em relação à vida útil e infiltração marginal. Entretanto, com o avanço dos materiais dentários e o entendimento do seu comportamento durante à mastigação, o amálgama tem sido substituído, principalmente por resina composta, após falhas como fratura, trincas, hipersensibilidade, cárie secundárias e sobretudo insatisfação estética (SANTOS et al., 2017)
A técnica restauradora com Amálgama baseia-se na adaptação do material à cavidade, por meio de preparos mecânicos, com paredes convergentes e divergentes, exigindo desgastes significativos de tecido dentário saudável para garantir a adequada retenção e estabilidade da restauração. O material não apresenta nenhuma adesão química à estrutura dental, sendo retido apenas atrito. O que demanda maior prejuízo para estrutura dental (SANTOS et al., 2017; SOUZA et al., 2022).
Outrossim, questões biomecânicas têm sido amplamente discutidas como fator essencial, para nortear a substituição de restaurações de amálgama, por materiais adesivos, uma que vez que, restaurações não adesivas, comprometem a distribuição de cargas oclusais, ao longo da estrutura dentária (SOARES et al., 2008).
Sendo assim, o desenvolvimento de materiais adesivos, como a resina composta, tem sido fundamental para difusão de abordagens minimamente invasivas da estrutura dental, à medida que se avança no conhecimento, sobre o comportamento biomecânico das restaurações, evidenciando uma profunda diferença nas abordagens restauradoras, com amálgama e resina que, não só passa pela evolução dos materiais, mas também pelo entendimento da fisiopatologia da doença cárie(CENA et al., 2016)
A toxicidade do mercúrio presente no amálgama também tem sido motivo de alerta desde o século XX. Contudo, após a tragédia de Minamata no Japão o mundo tem se alertado sobre os efeitos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente acarretado pelo mesmo, realizando convenções e tratados internacionais para abordagem do assunto. Diante disso, houve a necessidade de buscar materiais que otimizassem as restaurações odontológicas e minimizem os danos causados pelo amálgama. Em 1962, quando o Dr. Ray. L. Bowen introduziu a resina composta no mercado, que se destacou por suas características adesivas, conservadoras e estéticas, permitindo uma semelhança com as estruturas naturais dos dentes, como cor, forma e anatomia. Embora apresente maior complexidade técnica e menor resistência à infiltração, a resina composta tornou-se uma alternativa amplamente aceita, principalmente por questões biomecânica e estéticas. (JIRAU-COLÓN et al., 2019; SANTOS et al., 2017)
Neste sentido, a resina composta tem se solidificado com o um dos materiais mais estéticos para restaurações diretas. E isto num contexto de redes sociais, pode influenciar a percepção dos pacientes, em relação a estética dos dentes. As plataformas digitais têm acarretado uma grande pressão estética devido ao bombardeio de informações rápidas e acessíveis a todo tipo de público e assuntos. Na odontologia, não poderia ser diferente, o acesso ao conhecimento sobre materiais restauradores mais estéticos tem impulsionado a decisão sobre a substituição de restaurações em amalgama para resina composta (SAMPAIO; TAVARES, 2017)
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é realizar uma revisão narrativa, da literatura, abordando razões, pelas quais, deve-se substituir restaurações em amálgama, por restaurações em resina composta.
1 METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma revisão narrativa da literatura, cujo objetivo é analisar as razões para a substituição de restaurações em amálgama por resina composta. Os estudos analisados incluíram revisões sistemáticas e ensaios clínicos, preferencialmente publicados nos últimos dez anos. A pesquisa foi conduzida em bases de dados eletrônicas, como PubMed, Scielo e Lilacs, contemplando artigos em português e inglês. Foram utilizadas as seguintes estratégias de busca: “Amálgama dentário, Biomecânica, Resina Composta, Odontologia” e “Dental Amalgam, Biomechanics, Composite Resin, Dentistry.”
2 REVISÃO DE LITERATURA
Toxicidade
A toxicidade do mercúrio presente no amálgama é tema de debate desde 1845, com estudos apontando potenciais riscos à saúde. Pesquisas recentes indicam que a exposição ao mercúrio é mais significativa em ambientes industriais, onde os níveis desse metal são mais elevados. Em particular, a exposição ao mercúrio no setor industrial é relevante, especialmente em processos de fabricação e descarte de produtos que contêm o metal. Estudos revelam que trabalhadores dessas áreas podem apresentar níveis significativamente elevados de mercúrio no organismo, refletindo os riscos associados a essas atividades (AL-KHAFAJI et al., 2020)
O episódio de contaminação da Baía de Minamata, no Japão, resultou na criação da Convenção de Minamata, um tratado internacional voltado para a redução do uso de mercúrio em escala global. Esse acordo tem particular importância para países que já eliminaram o uso de amálgama dentário, como Suécia, Dinamarca e Noruega, em consonância com seus esforços para proteger a saúde humana e o meio ambiente. No entanto, a implementação da Convenção ainda enfrenta desafios em países como a Índia, onde setores industriais continuam a emitir grandes quantidades de mercúrio. A regulamentação e o controle da poluição por esse elemento são fundamentais para a saúde pública. Estudos mostram que, em regiões com maior regulamentação, como a Europa, o uso de amálgama tem diminuído significativamente (EVERS et al., 2016)
Por outro lado, em regiões com acesso limitado a tratamentos odontológicos modernos, o amálgama continua amplamente utilizado, especialmente em sistemas de saúde pública. Pesquisas recentes evidenciam a disparidade no uso global desse material, com países desenvolvidos preferindo alternativas mais modernas, enquanto outros mantêm o uso do amálgama devido ao seu baixo custo e alta durabilidade. Contudo, materiais adesivos, como a resina composta, apresentam menor toxicidade e oferecem vantagens estéticas em relação ao amálgama. Além disso, os avanços nas propriedades mecânicas desses materiais tornaram-nos adequados para restaurações em dentes posteriores, favorecendo sua crescente adoção na prática odontológica contemporânea (JIRAU-COLÓN et al., 2019)
Biomecânica
A redução da estrutura dentária pode ser ocasionada por diversos fatores, como traumas, abrasão, erosão, lesões cariosas, tratamentos endodônticos e o envelhecimento do paciente. Nesse contexto, os preparos cavitários extensos destacam-se como importantes agentes no enfraquecimento dentário, especialmente em casos que exigem adaptações para o uso do material restaurador amálgama. Esse material demanda um preparo biomecânico detalhado, pois requer suporte e manutenção mecânica da estrutura dentária para sua adequada adaptação. No entanto, a criação de espaço para acomodar o amálgama frequentemente implica o desgaste de estruturas dentárias saudáveis, incluindo áreas fundamentais para a resistência do dente, como cristas e pontes de esmalte. Esse processo contraria os princípios da odontologia conservadora (ARINELLI et al., 2016; SOUZA et al., 2022).
Estudos demonstram que preparos extensos para adaptação do amálgama influenciam significativamente no enfraquecimento da estrutura dentária, principalmente em dentes posteriores. Nos pré-molares e molares, especialmente em áreas de restauração de classe II de grande extensão (figura 1), o preparo para amálgama, aliado à forma anatômica das cúspides, pode favorecer o surgimento de lesões cervicais não cariosas e fraturas decorrentes de cargas oblíquas (SOARES et al., 2008).
Figura 1. Aspecto clínico de um pré-molar, que apresenta fratura longitudinal, que compromete a manutenção do órgão em boca. O dente em questão apresentava restauração em amálgama, MOD. Tem sido relatado, que este tipo de restauração, fragiliza a estrutura dentária, por não demonstrar uma biomecânica favorável (SOARES et al.,2008).
Fonte: autores.
Figura 2 – Aspecto clínico de um molar que apresenta fratura longitudinal. O dente apresentava restauração ampla em amálgama.
Fonte: imagem gentilmente cedida, pelo Professor Henrique Tancredo.
Cárie secundária
A cárie dentária é uma das doenças mais antigas e prevalentes entre os seres humanos. Na dentição permanente, quando não tratada, é uma das principais causas de perda dentária (KASSEBAUM et al., 2015). Embora compartilhe uma etiologia semelhante à da cárie primária, a cárie secundária é uma condição patológica distinta, com fatores específicos relacionados ao ambiente da restauração. Também conhecida como cárie recidivante, caracteriza-se por lesões cariosas que surgem ao redor ou abaixo de restaurações, localizando-se frequentemente no espaço entre o dente e o material restaurador (RATHEE; SAPRA, 2024).
De acordo com Demarco et al., (2017), as duas principais causas de falhas em restaurações são cáries secundárias e fraturas. Apesar da redução global na incidência de cáries primárias nas últimas décadas, a prevalência de cáries secundárias não apresentou alterações significativas. Esse cenário tem levado à análise contínua dos materiais restauradores quanto à sua relação com a ocorrência dessas lesões. No caso do amálgama, a falta de adesão ao dente favorece microinfiltrações, enquanto a resina composta, embora adira ao dente, apresenta degradação ao longo do tempo, o que também eleva o risco de cáries secundárias (KAPOOR; AHMED, 2021). A teoria da microinfiltração é amplamente aceita como explicação para o surgimento dessas lesões com o passar do tempo (KUPER et al., 2014).
Estudos recentes indicam que a durabilidade das resinas compostas tem aumentado, embora ainda existam dificuldades em alcançar a longevidade do amálgama em condições de alta carga mastigatória. Por outro lado, o uso da resina composta exige uma técnica altamente sensível, frequentemente desafiadora devido à sua complexidade, especialmente no que se refere à adesão ao substrato dentário, como a dentina. Por ser úmida e hidrofílica, a dentina apresenta barreiras naturais à ligação com os adesivos, que possuem propriedades hidrofóbicas (KUPER et al., 2014)
Além disso, fatores como o estresse inicial de tração da resina composta e a diferença entre os coeficientes de expansão térmica do material restaurador e do tecido dentário duro também contribuem para infiltrações. Assim, a ocorrência de cáries secundárias permanece como um desafio persistente na odontologia restauradora, tanto para o amálgama quanto para as resinas compostas. A inspeção clínica e visual continua sendo a principal abordagem diagnóstica, complementada pela detecção precoce de lesões em exames radiográficos. Essa prática tem favorecido uma abordagem de intervenção mínima, possibilitando o tratamento conservador das lesões e a preservação da estrutura dentária (CRUZ et al., 2020)
Figura 3 – Aspecto clínico de uma cavidade, após a remoção da restauração em amálgama, evidenciado o tecido cariado. Não foi constato através do exame radiográfico, imagem compatível com cárie. O aspecto amolecido, só foi observado a partir da remoção da restauração.
Fonte: autores.
Recorte Social
Questões sociais e o poder aquisitivo dos pacientes desempenham um papel essencial na escolha do material restaurador, já que a acessibilidade e os custos envolvidos afetam diretamente as possibilidades de tratamento. Demarco et al. (2017) identificaram uma associação entre o nível socioeconômico dos pacientes e a durabilidade das restaurações. De acordo com os autores, indivíduos que vivenciaram trajetórias marcadas por condições socioeconômicas desfavoráveis apresentam maior incidência de restaurações insatisfatórias ao longo do tempo. Aqueles pertencentes às camadas mais pobres apresentaram mais falhas em restaurações quando comparados aos de camadas mais favorecidas. Em clínicas localizadas em regiões de baixo nível socioeconômico, a taxa anual de insucesso em restaurações foi de 5,6%, superior às taxas observadas em áreas de nível médio (4,2%) e alto (5,1%).
Vale ressaltar que a maioria dos estudos sobre a longevidade de restaurações é realizada em consultórios particulares, onde os pacientes, geralmente pertencentes a níveis socioeconômicos mais elevados, têm maior acesso a tratamentos de qualidade. Esse contexto pode influenciar os resultados, sobretudo em países onde os serviços públicos de saúde bucal são limitados (CHISINI et al., 2019)
Outro fator relevante é a influência da cor da pele na substituição de restaurações de amálgama. Estudos de Chisini et al. (2019) evidenciam que a troca de restaurações de amálgama por resina composta em dentes posteriores está diretamente relacionada a fatores socioeconômicos, educacionais e demográficos. Durante o período analisado, aproximadamente 18,9% das restaurações de amálgama foram substituídas por resina composta. Contudo, indivíduos negros, especialmente os de baixa renda, tiveram menor probabilidade de realizar essa substituição, enquanto aqueles com níveis educacionais mais elevados e acesso a serviços odontológicos privados apresentaram maior propensão à troca.
Esses dados sugerem que escolhas estéticas e deficiências nos cuidados odontológicos estão profundamente vinculadas às desigualdades sociais e econômicas. Pacientes de menor poder aquisitivo e provenientes de comunidades menos favorecidas enfrentam barreiras significativas para a substituição de materiais restauradores com base em critérios estéticos, evidenciando a necessidade de políticas inclusivas para reduzir essas disparidades(CHISINI et al., 2019).
Redes Sociais
As redes sociais têm exercido uma influência significativa sobre seus usuários, promovendo um rápido e acessível fluxo de informações que intensifica as cobranças relacionadas à estética. Na odontologia, esse impacto é evidente: as imagens de “sorrisos perfeitos” disseminadas por influenciadores e campanhas de marketing têm aumentado a demanda por restaurações estéticas, como as de resina composta. Segundo a pesquisa TIC Domicílios de 2018, realizada pelo Comitê Gestor da Internet, o Brasil possui cerca de 126 milhões de usuários de internet, o que representa aproximadamente 70% da população conectada (MELKERS et al., 2017; SAMPAIO; TAVARES, 2017)
Nesse contexto, a constante exposição a padrões estéticos idealizados nas redes sociais influencia tanto as escolhas dos pacientes quanto as práticas dos dentistas, que se sentem pressionados a oferecer tratamentos alinhados a essas expectativas. Como resultado, a substituição de restaurações em amálgama por materiais mais estéticos, como as resinas compostas, tornou-se uma realidade no Brasil e em diversos outros países. Essa tendência está diretamente relacionada à popularização de materiais restauradores mais estéticos, impulsionada pela pressão social e pelas expectativas moldadas pelo conteúdo digital amplamente compartilhado em plataformas como Instagram e YouTube (MELKERS et al., 2017).
Assim, a substituição de restaurações em amálgama por resinas compostas não ocorre apenas por razões funcionais, mas também pelo desejo crescente de alcançar padrões estéticos promovidos nas redes sociais. Esse movimento tem incentivado o desenvolvimento de materiais restauradores com propriedades cada vez mais naturais e estéticamente superiores (MORASCHINI et al., 2015). Dessa forma, a odontologia estética consolida-se como uma área central na prática clínica, diretamente influenciada pelas expectativas criadas no ambiente digital (TAVARES et al., 2017).
3 DISCUSSÃO
O amálgama, amplamente utilizado como material restaurador em odontologia devido à sua durabilidade comprovada e baixo custo, tem sido alvo de debates, sobretudo por conter mercúrio, um metal potencialmente tóxico(JIRAU-COLÓN et al., 2019) .
Embora estudos como o de Santos et al., (2017) indiquem que a liberação de mercúrio pelo amálgama seja mínima e dentro dos padrões de segurança da OMS, outras pesquisas, como a de Al-Khafaji et al., (2020) , apontam para possíveis complicações sistêmicas, incluindo doenças neurológicas e até câncer. Apesar disso, revisões sistemáticas e estudos longitudinais do Comitê Científico sobre Riscos à Saúde Emergentes e Recentemente Identificados, não estabeleceram uma relação direta e consistente entre o uso de amálgama e o desenvolvimento de doenças graves, como Alzheimer ou problemas renais (CROSP, 2024)
A incerteza quanto à toxicidade do mercúrio em baixas concentrações, somada à crescente preocupação com impactos ambientais, tem contribuído para a redução do uso do amálgama na odontologia moderna. A proibição de seu uso em alguns países e as crescentes restrições refletem essa tendência global (GONZAGA; CUNHA; CORRER, 2015; JIRAU-COLÓN et al., 2019)
Paralelamente, a demanda por tratamentos estéticos é um dos principais fatores que impulsionam a substituição do amálgama por resinas compostas. Estas apresentam vantagens como a mimetização da cor natural dos dentes, oferecendo resultados mais harmônicos e alinhados às expectativas dos pacientes, frequentemente influenciados por padrões promovidos em redes sociais (GOMAA et al., 2021; JUNIOR et al., 2020; KAPOOR; AHMED, 2021)
Embora as resinas compostas possuam benefícios estéticos inquestionáveis, elas podem sofrer degradações ao longo do tempo, como fraturas, descolorações e infiltrações marginais. Por isso, exigem técnica de aplicação precisa e manutenção adequada da higiene bucal para minimizar riscos e garantir sua durabilidade (MORASCHINI et al., 2015).
Em termos biomecânicos, as diferenças entre o amálgama e as resinas compostas são cruciais, especialmente em cavidades complexas. O amálgama, que não adere quimicamente ao dente, demanda preparos cavitários mais invasivos, aumentando o desgaste da estrutura dentária e, a longo prazo, o risco de fraturas em dentes enfraquecidos (JUNIOR et al., 2020)
Por outro lado, as resinas compostas, por sua adesão química, permitem preparos mais conservadores, preservando maior quantidade de tecido dentário e reduzindo significativamente o risco de fraturas (SOARES et al., 2008).
Estudos recentes demonstram que restaurações adesivas em resina aumentam significativamente a resistência de dentes tratados, aproximando-se da resistência de dentes íntegros, enquanto o amálgama apresenta maior incidência de fraturas severas (SOARES et al., 2008; VITÓRIA, 2024)
No Brasil, apesar da disseminação de tecnologias mais avançadas, o amálgama ainda é amplamente utilizado no SUS, principalmente devido ao custo reduzido (Santos et al., 2017). No entanto, dados recentes indicam taxas de falha mais elevadas para restaurações em amálgama (17,49%) em comparação com as de resina composta (11,98%), destacando a superioridade das resinas em termos de longevidade e satisfação dos pacientes (TOBIAS et al., 2024).
Com os avanços tecnológicos e maior acessibilidade, às resinas compostas consolidam-se como uma alternativa eficiente e moderna. Além de oferecerem boa durabilidade e facilidade de reparo, suas propriedades adesivas permitem preparos menos invasivos e reversíveis, se necessário (ARINELLI et al., 2016).
Fatores como extensão da lesão, habilidade técnica do profissional, qualidade da adesão e características do paciente — incluindo risco de cárie, higiene bucal, dieta e hábitos parafuncionais — influenciam diretamente a durabilidade das restaurações. Assim, a preferência por materiais restauradores mais estéticos, biocompatíveis e conservadores reflete a busca por tratamentos que conciliem saúde, funcionalidade e estética na odontologia contemporâneas (JUNIOR et al., 2020)
CONCLUSÃO
A substituição das restaurações de amálgama por resinas compostas reflete uma tendência motivada tanto pela crescente demanda estética quanto por preocupações relacionadas à toxicidade do mercúrio. Entretanto, os dados disponíveis ainda não são suficientes para comprovar que o mercúrio presente nas ligas restauradoras cause danos detectáveis a órgãos ou tecidos.
Apesar de sua reconhecida durabilidade e baixo custo, o uso do amálgama tem diminuído devido à pressão social por materiais mais estéticos. Além disso, a preferência por técnicas conservadoras que preservam a estrutura dental, aliada às vantagens biomecânicas proporcionadas pelos materiais adesivos, contribui para a substituição progressiva do amálgama na prática odontológica.
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1Graduanda do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas. E-mail: noelma.cupertino@a.unileste.edu.br
2Graduanda do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas. E-mail: rafaela.minhaneli@a.unileste.edu.br
3Graduando do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas. E-mail: talles.martins@a.unileste.edu.br
4Graduanda do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Católica do Leste de Minas. E-mail: thaynara.faguntes@a.unileste.edu.br
5Cirurgião-dentista, Professor NDII do Centro Universitário Católica do Leste de Minas Gerais – Unileste, Mestre em Fisiologia pela Universidade Federal Minas Gerais, Especialista em Prótese Dentária. E-mail: andre.oliveira@p.unileste.edu.br