RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO PRECOCE DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NO BRASIL

SCREENING AND EARLY DIAGNOSIS OF CHILDREN WITH AUTISM SPECTRUM  DISORDER IN BRAZIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10064265


Taiane Ermita Casagrande1;
Jordeson Jorge Costa Flores2;
Ana Clara Molina3;
Rodrigo Dourado de Almeida4 


RESUMO 

Introdução: O Transtorno do Espectro Autista (TEA), é visto como um transtorno do  neurodesenvolvimento, mental ou comportamental. O diagnóstico do TEA é feito com  análise clínica do paciente, por meio de instrumentos que podem ser utilizados para fazer  a confirmação diagnóstica. A identificação dos sinais para o diagnóstico precoce é a chave  principal para evitar os efeitos secundários deste transtorno. Objetivo: Visão geral sobre o  autismo, importância do rastreamento e do diagnóstico precoce. Método: Artigo de revisão  de literatura de método dedutivo, de natureza básica, visando uma abordagem qualitativa  com objetivo exploratório. Resultados e Discussão: A forma de rastreamento mais  utilizada no Brasil é o M-CHAT, entretanto, apresenta limitações sobre o seu uso. O  diagnóstico precoce é essencial para um bom prognóstico da criança. Conclusão: A escala  de M-CHAT é o método de rastreio mais utilizado no Brasil. As intervenções, quando adotadas precocemente são suma importância para melhorar a qualidade de vida da  criança. 

Palavras-chave: Autismo; Rastreamento; Transtorno do Espectro Autista; Prognóstico;  

ABSTRACT 

Introduction: Autism Spectrum Disorder (ASD) is seen as a neurodevelopmental, mental  or behavioral disorder. The diagnosis of ASD is made by analyzing the patient’s clinical  condition, using instruments that can confirm the diagnosis. Identifying signs for early  diagnosis is the main key to avoiding the secondary effects of this disorder. Aim: To discuss  an overview of autism and the importance of screening and early diagnosis. Method:  Literature review using a deductive method, of an analytical nature, aiming at a qualitative  approach with an exploratory objective. Results and Discussion: The most used form of  screening in Brazil is the M-CHAT, however, it has limitations on its use. Early diagnosis is  essential for a good prognosis for the child. Conclusion: The M-CHAT scale is the most  used screening method in Brazil. Interventions, when adopted early, are extremely important  to improve the child’s quality of life. 

Keywords: Autism; Screening; Autism Spectrum Disorder; Prognostic.

INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), é visto como um transtorno do  neurodesenvolvimento, mental ou comportamental que acontece durante o  desenvolvimento infantil. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos  Mentais DSM – V, o autismo afeta a comunicação e interação social, apresenta padrões  repetitivos, restritivos de comportamento e interesses, podendo ser apresentado  precocemente em crianças afetando seu funcionamento nas áreas sociais ou profissionais.  (DSM – V, 2014; SOWA, 2015). 

O autismo é dito como uma desordem neurológica com diferentes graus de  acometimento, podendo ser grau um, dois ou três. Os sinais e sintomas do TEA, por muitas  vezes, podem ser observados desde 6 meses de idade e manifestados antes dos 3 anos  de idade, tem prevalência pelo sexo masculino e pode vir associado a outras patologias. A  Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que o rastreio deve ser feito em todas as crianças  entre os 18 e 24 meses de idade, mesmo que ela não apresente nenhum sinal de alerta,  entretanto, o diagnóstico, em média, é feito entre os 4 a 5 anos de idade. (ZHOU et al, 2019;  DSM-V, 2014; SPB, 2019). 

A incidência de casos diagnosticados vem aumentando, nos Estados Unidos nos  anos 2000 e 2002 a cada 150 crianças de 8 anos 1 possui autismo, já em 2014, a cada 58 crianças 1 possui autismo. Esse aumento significativo em grande parte, pode ser explicado  devido a ampliação dos critérios diagnósticos e da implantação do uso das escalas de  rastreamento. (SBP, 2019). 

A principal alteração encontrada em crianças com TEA é a alteração da linguagem e da interação social. A criança apresenta perda de habilidades que já foram adquiridas  como, sorriso social e contato visual.A fala é marcada por ecolalia, reversões de pronome,  entonação monótona, prosódia anormal e jargão. Podem apresentar também distúrbios do  sono, incomodo com sons altos, rigidez ritualística, ao brincar tem maior interesse com  partes do objeto e movimentos estereotipados ou repetitivos. (SPB, 2019; GADIA et al, 2004). 

Os instrumentos disponíveis de rastreio possuem uma classificação, divididos em  dois níveis diferentes. Os de nível 1, são métodos utilizados para rastreio da população em  geral que até então não possuem fatores de risco para o TEA, geralmente são de aplicação  rápida e de baixo custo, como o M-CHAT. Já os de nível 2, são direcionadas as crianças  que possuem algum sinal de risco (atrasos no desenvolvimento), demanda maior tempo de  aplicação e criteriosa análise dos dados, como o ABC/ICA. (JULIEN, 2021; SEIZE, 2017; LEDERMAN, 2015). 

Figura 1: Nível dos métodos de rastreamento.  

Fonte: Seize, M. M., & Borsa, J. C. (2017). Avaliação do autismo: do rastreamento ao diagnóstico.  Em M. R. C. Lins & J. C. Borsa (Org.), Avaliação Psicológica: aspectos teóricos e práticos. Editora Vozes. 

O diagnóstico do TEA é feito com análise clínica do paciente, e por meio de  instrumentos que podem ser utilizados para fazer a avaliação de quais critérios o mesmo  possui para realizar a confirmação diagnóstica. Entre esses instrumentos estão, Classificação Internacional de Doenças – CID, que é o mais usado no Brasil, mas também  possui o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM – V. (SEIZE, 2017; FERNANDES, 2020). 

Uma vez feito o diagnóstico, a base do tratamento são as medida não farmacológicas, contando com uma equipe multidisciplinar com médicos, fisioterapeutas, terapeuta ocupacional, psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogos que irão avaliar a melhor  abordagem para cada paciente. Atividades como a dança e judô melhoram a coordenação  muscular e estereotipias, a arteterapia trabalha técnicas expressivas, permitindo que a  criança tenha o conhecimento do ser, estabelecendosua personalidade e maior autonomia.  E até mesmo atividades de baixa intensidade são capazes de proporcionar maior  relaxamento e reduzir os níveis de cortisol. (LOURENÇO et al, 2015; OLIVEIRA et al,  2016). O uso dos psicofármacos é restrito à crianças que apresentam manifestações que  tragam prejuízos a qualidade de vida, como irritabilidade e agitação. (LEITE et al, 2016). 

A identificação dos sinais para o diagnóstico precoce é a chave principal para evitar  os efeitos secundários deste transtorno, uma vez que, crianças com até 36 meses de idade  tem maior plasticidade cerebral, que permite reversões de situações que seriam mais  difíceis de alterar futuramente. Dessa forma, para que a identificação dos sinais seja feita precocemente os profissionais da saúde, principalmente da rede de atenção primária,  saibam identifica-los por meio dos métodos de triagem. (SBP, 2017). 

O objetivo desta revisão bibliográfica é avaliar a importância do rastreio e do diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista no Brasil. 

MATERIAL E MÉTODO 

O presente artigo é um artigo de revisão sistemática de literatura de método dedutivo,  de natureza básica, visando uma abordagem qualitativa com objetivo exploratório. A coleta  de dados foi feita pela plataforma Google acadêmico e a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),  com as buscas sendo realizadas no mês de novembro de 2021. 

Para a inclusão e seleção dos artigos foram utilizadas as seguintespalavras chaves: rastreamento AND transtorno do espectro autista AND diagnóstico precoces. Foi ainda  utilizados os filtros de texto completo, com estudos de rastreamento e prognóstico, inglês e  português como idioma, como o assunto principal transtorno do espectro autista publicados  entre os anos de 2011 a 2021. 

Nesse sentido, após aplicar os critérios de inclusão listados acima e uma análise dos  estudos selecionados, resultou um total de 13 estudos que foram utilizados como material  de base para este trabalho. Os dados dos estudos foram extraídos e organizados em  planilhas comtemplando: título do estudo, ano de publicação, autores, objetivos e  conclusão. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Após a análise dos artigos selecionados, foram selecionados 13 estudos que  atenderam os critérios de inclusão, e estão descritos na Tabela 1. 

Tabela 1: Correlação título, autor/ano, objetivos e conclusão. 

TITULO AUTOR/ANO OBJETIVO CONCLUSÃO
Instrumentos para  Rastreamento de  Sinais Precoces do  Autismo: Revisão  Sistemática.SEISE. Mariana de  Miranda, 2017.Identificar quais são os  instrumentos  disponíveis para o  rastreamento do  autismo em crianças  de até 36 meses de  idade.Foram identificados 11  instrumentos que podem ser  usados para o rastreamento do  autismo. O M-CHAT é o que  apresentou maior número de estudo  e é o único traduzido para o  português. O ADEC é promissor,  mas demanda mais estudos.  Conclui-se que existem dois  instrumentos mais utilizados, o M CHAT e o ADEC, entretanto, ainda  falta instrumentos para ser feito o  rastreamento e o diagnóstico  precoce, fazendo com que ele  aconteça tardiamente.
Rastreamento de  sinais sugestivos de  transtorno do  espectro do  autismo em  prematuros de  muito baixo peso ao  nascimento  utilizando o M CHAT e o ABC/ICA.LEDERMAN. Vivian  Renne Gerber,  2018.Observar a ocorrência  de sinais sugestivos de  autismo, em  prematuros com muito  baixo peso ao nascer, usando as escalas M CHAT e ABC/ICA.A taxa dos sinais sugestivos em  prematuros com muito baixo peso, entre aos 18-24 meses e 30-36  meses, foi superior comparada à da  população geral. 
Rastreamento  precoce dos sinais  de autismo infantil:  Um estudo na  atenção primária à  saúde.OLIVEIRA. Maria  Vitória Melo de,  2019.Rastrear sinais  precoces do TEA na  atenção primária.O estudo encontrou 9 crianças com  casos suspeitos de TEA com a  aplicação da escala M-CHAT, na  qual foram encaminhados para  especialistas. 
Diagnóstico  precoce de  autismo: uma  revisão de  literatura.STEFFEN. Bruna  Freitas, 2019.A importância de ter o  diagnóstico precoce,  bem como as  intervenções  necessárias.O diagnóstico precoce permite que  as intervenções sejam mais  eficazes, uma vez, apresentam uma  melhora significativa nos  relacionamentos sociais,  comunicação, habilidades de  autocuidado e autonomia. 
Diagnóstico e  intervenção  precoce no  transtorno do  espectro do autismo: relato de  um caso.DUARTE. Cintia  Peres, 2016.Analisar o prognóstico  de intervenções  precoce em crianças. Relato de caso de uma criança de 9  meses de idade, na qual foi  identificado sinais do autismo e  iniciaram a terapia. Após 10 meses  de terapia foi possível notar  diferenças significativas como o  contato visual, a atenção compartilhada, vocabulário  receptivo, habilidades motoras e a  imitação.
A importância da  detecção dos sinais  precoces no  transtorno do  espectro autista  (TEA).ANDRADE. Isabela  Caroline, 2018A importância de detectar os sinais  precoce do TEA em  crianças Conclui-se que pacientes que são  diagnosticados precocemente tem  melhores resposta ao tratamento. O  desafio é conseguir identificar as  alterações que, na maioria das  vezes não apresenta como atraso  do desenvolvimento motor da  criança.
Rastreamento de  sinais e sintomas  de transtornos do  espectro do  autismo em irmão.MECCA. Tatiana  Pontrell i, 2011. Rastrear sinais e  sintomas de  transtornos globais de  desenvolvimento  
(TGD) em irmãos de  indivíduos com o  diagnóstico de TEA.
Conclui-se que seria recomendado os profissionais da saúde fazer o  rastreio do TEA em irmãos dos  pacientes afetados pelo transtorno. Uma vez que, em casos positivos,  pode ser necessário iniciar uma  investigação genética.
Perfil dos indivíduos  com transtorno de  espectro autista  (TEA) no BrasilLOPES, Amanda  Trindade, 2020Este estudo tem por  objetivo mensurar os  dados  
epidemiológicos,  
clínicos e sociais a  respeito do Transtorno  do Espectro Autismo.
O autismo tem grande influência do  meio e hábitos de vida, e não  somente as características genéticas. Pode ter como etiologia  causas obstétricas, complicações  no parto e doenças adquiridas na  gravidez. E o prognóstico do  autismo melhora com estímulos  emocionais, neurodidáticos e  nutricionais.
Diagnóstico de  autismo no século  XXI: evolução dos domínios nas  categorizações  
nosológicas.
FERNANDES,  
Conceição Santos,  2020.
Analisar a evolução do  diagnóstico do autismo  no século XXI, a partir  dos domínios e  subdomínios em que  se baseiam as  categorizações  
nosológicas.
Foi possível observar as mudanças  e o impacto na epidemiologia do  transtorno, em especial, quando  compararam DSM-IV-TR e DSM-V.  O DSM-V identifica um menor  número de diagnósticos, uma vez  sendo comparado com o DSM-IV TR, mas esses índices melhoram a  identificação na faixa pré-escolar.
Importância da  implantação de  questionários para  rastreamento e  diagnóstico  
precoce do  transtorno do  espectro autista  (TEA) na atenção  primária.

PEREIRA, Priscilla  Leticia Sales, 2021.Analisar as  publicações científicas  relacionadas à  importância do 
rastreamento precoce  do TEA por intermédio  de questionários.
Pode concluir que os questionários  AMSE e o M-CHAT são os testes  mais adequados, os dois são testes  rápidos e acessíveis para ser  introduzido no SUS. O diagnóstico  precoce permite ao paciente um 
tratamento adequado evitando  prejuízos no desenvolvimento da  criança.
As primeiras  habilidades  motoras grossas  predizem o  desenvolvimento  subsequente da  linguagem em  crianças com  transtorno do  espectro do  autismo.BEDFORD,  Rachael, 2015.Testar se as  habilidades motoras  grossas, previam a  taxa subsequente de  desenvolvimento da  linguagem em uma  grande coorte de  crianças com  transtorno do espectro  do autismo (TEA).Conclui-se que existem evidências  que as habilidades motoras  precoces em crianças com TEA  pode ter influencias longitudinais de  domínio cruzado, favorecendo em  partes a dificuldade na fala.
Desafios no  diagnóstico e  tratamento precoce  do transtorno do  espectro autista.HAJJAR, Ana  Clara, 2020.O objetivo deste  estudo foi verificar a  utilização do  instrumento M-CHAT  para a detecção  precoce de casos  suspeitos de TEA por  médicos de uma  unidade de saúde em  Anápolis, Goiás. Com base nos participantes uma  considerável quantidade não  conhecia o instrumento M-CHAT, e  entre os que conheciam, apenas  50% deles utilizavam o instrumento  nas consultas caso suspeitem de  autismo em idades variadas.  Constatou também, a falta de  informações sobre as  recomendações e manejo do TEA.
Triagem para  transtorno do  espectro autista na  primeira infância.JULIEN, Sophie,  2021.Este estudo tem como  objetivo analisar as  recomendações e  evidências de apoio  sobre a eficácia da  triagem de crianças  pequenas para  transtorno do espectro  autista. Pode- se observar que existem  discordâncias entre as  recomendações dadas por  diferentes instituições sobre a  triagem universal para o TEA em  crianças.

Fonte: quadro elaborado pela autora. 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), é causado por um conjunto de fatores, entre  eles genéticos e ambientais. Entre os fatores genéticos, deve ser levado em consideração  alterações cromossômicas, que são fortemente associadas a idade avançada dos pais.  Além de fatores como infecções pré-natais, prematuridade, baixo peso ao nascer,  complicações peri-natais e exposição a cigarro durante a gravidez, mesmo que de forma  passiva são fatores que estão relacionados ao autismo. (HAJJAR et al, 2020; OLIVEIRA,  2019; LOPES et al, 2020). 

Em relação sobre as escalas de rastreamento, SEIZE faz um estudo sobre as  escalas de rastreamento do TEA disponíveis no Brasil, nele foram catalogados 11  instrumentos que podem ser utilizados em crianças de até 36 meses de idade, sendo que  6 deles são do nível 1, ou seja, que podem ser usados para rastrear os sinais em crianças  que não tem fatores de riscos evidentes. Durante a análise dos instrumentos o que mais  apresentou estudos foi o Modified Checklist for Autism in Toddlers – M-CHAT.(SEIZE, 2017; SBP, 2019; SPB, 2017).

O M-CHAT é o instrumento validado pelo Ministério da Saúde e pelo Departamento  de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria  para o rastreamento. Ele consiste em um questionário de 23 perguntas com respostas de  “sim” ou “não” que são realizadas aos pais com crianças de 18 a 24 meses de idade, sua  sensibilidade de 0,85 e especificidade de 0,99. Nele, é possível avaliar a comunicação,  respostas sensoriais, linguagem, relação social e a atenção compartilhada. (SBP,2019;  LEDERMAN, 2015). 

É importante lembrar que o M-CHAT é considerado um método de rastreio e não de  diagnóstico, que apresenta limitações. SEIZE diz que por ser criada nos Estados Unidos a  tradução não garante a validade e confiabilidade, e ANDRADE, questiona a falta de  profissionais que saibam aplicar a escala e por isso, é necessário fazer novos estudos em  que avalie melhor sua validade e aplicabilidade no Brasil (SEIZE, 2017; SBP, 2019; SBP,  2017). 

Um estudo feito por HAJAR, cujo o objetivo da pesquisa é avaliar o uso da escala  M-CHAT por médicos em uma Unidade de Saúde da Família. Entre os 24 entrevistados  das unidades, apenas 8 conheciam o instrumento (33,3%) e desses somente 4 utilizavam  a escala (50%), sendo que 3 (75%) utilizavam caso suspeitassem de TEA na criança. E  entre esses 4 que utilizavam a escala, apenas 1 respondeu que o rastreio era feito em 18  a 24 meses, ou seja, esses dados indicam a falta de conhecimento sobre o instrumento e  as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o autismo e seu manejo na rede  de atenção primária de saúde. (HAJJAR et al, 2020). 

No estudo feito por OLIVEIRA em Unidades Básicas de Saúde (UBS), utilizando a  escala de M-CHAT para fazer o rastreamento de crianças com sinais e sintomas do TEA,  nesta UBS foram encontradas 9 crianças com casos suspeitos, e afirmou que a escala  utilizada é excelente por ser rápida, de fácil execução e baixo custo, que são vantagens a  serem consideradas, principalmente quando se trata de um ambiente de UBS.(OLIVEIRA,  2019). 

MECCA realiza um estudo com irmãos de pacientes portadores de transtornos  globais de desenvolvimento, para rastreio de TEA com o questionário Autism Screening  Questionnaire (ASQ), ou Questionário de Comportamento e Comunicação Social. Embora  seja um estudo limitado a 25 irmãos, foi achado dois casos que indicam sinais e sintomas  de Transtorno do Espectro Autista, ressaltando a demanda de realizar o rastreamento entre  irmãos quando diagnosticados por TEA. (MECCA et al, 2011).

Por falta de atividades recomendadas como padrão de rastreamento no SUS,  geralmente, a responsabilidade de detecção de sinais de TEA é pelos pais em que muitas  vezes, não identificam um sintoma do espectro, além de que, por falta de conhecimento  podem gerar um sentimento de negação sobre o diagnóstico. (PEREIRA et al, 2021). 

No estudo de BEDFORD, foi possível identificar que existe relação entre, as  primeiras habilidades motoras grossas e o desenvolvimento da linguagem em crianças  autistas. As crianças com atraso de habilidade motora como, andar sem apoio pode ter  influência sobre a fala da criança autista. Enfatizando a importância do reconhecimento dos  sinais precocemente para receber intervenção direcionada e a necessidade da implantação  de programas para o rastreio em UBS. (PEREIRA, et al, 2021; BEDFORD et al, 2015). 

O diagnóstico de TEA é feito por médicos especializados, a qual conhece os critérios  diagnósticos e suas atualizações, uma vez que, os critérios sofreram mudanças com o  passar dos anos. Além de, ser necessário contar com uma equipe multiprofissional que  permita avaliar todas as áreas e ambientes que a criança está inserida. (FERNANDES et  al, 2020). 

STEFFEN e ANDRADE, defendem a importância do diagnóstico precoce, uma vez  que, ele possibilita ter intervenção antes dos 36 meses, na qual é um período em que o  cérebro da criança mais se desenvolve e tem maior plasticidade cerebral. Dessa forma,  quanto antes a intervenção o a oferta de estímulos nas áreas afetivas, cognitivas,  emocionais e entre outras, melhor será o prognóstico e a qualidade de vida dessa criança  quando adulto. (STEFFEN, 2019; ANDRADE, 2018). 

A prova de que as intervenções precoces tem bom prognóstico, pode ser vista neste relato de caso, em que os pais de uma criança de 9 meses notaram as alterações de  comportamento da criança e juntamente aos médicos adotou medidas terapêuticas. Desta forma, foi iniciado um plano de intervenção que trabalhasse as áreas em que a paciente  apresentou déficit. E em 10 meses de terapia foi possível observar avanços nas áreas que  eram acometidas, e mesmo que o diagnóstico não tenha sido concluído, deve-se suprir as  áreas que estão atrasadas possibilitando melhor desenvolvimento e interação da criança e  futuramente melhorando a sua qualidade de vida.(DUARTE, 2016). 

Entretanto, no estudo realizado por JULIEN, os resultados mostram que existem  oposições de recomendações entre as instituições sobre a triagem universal para o TEA.  Algumas instituições como a Academia Americana de Pediatria e Centro de Controle de Doenças, recomendam que em consultas de puericultura sejam realizados o rastreamento  em todas as crianças independente de fator de risco ou não. Mas, já a PrevInfad (Spanish  Association of Primary Care Pediatrics), o United Kingdom National Screening Committee  e a Canadian Task Force on Preventive Healthcare são contra a triagem universal,  priorizando apenas crianças de alto risco. (JULIEN, 2021). 

No mesmo estudo também é discutido sobre as evidencias dos benefícios da  intervenção precoce nessas crianças. Foi observado que existem de fato evidencias  benéficas sobre elas, no entanto, esses resultados vêm de pequenos estudos e de crianças  que haviam alterações do desenvolvimento. Com ele foi possível concluir que, ainda não  há evidencias suficiente sobre o rastreamento universal e dos benefícios da intervenção  precoce. (JULIEN, 2021). 

CONCLUSÃO 

Após o estudo integral dos 13 artigos que compuseram o acervo cientifico deste  trabalho, foi possível inferirque existe poucas escalas de rastreio do Transtorno do Espetro  Autista efetivas no Brasil, sendo limitado ao uso da escala de M-CHAT, que provou ser a  mais estudada, de fácil aplicação e efetiva para rastreio de crianças sem fatores de risco.  

O Transtorno do Espectro Autista é um transtorno do neurodesenvolvimento de alta  complexidade diagnóstica. A identificação dos sinais é fundamental para esta criança realizar o acompanhamento necessário para ter o diagnóstico precoce, e assim, adotar as  medidas terapêuticas essenciais. 

Apesar das divergências na literatura, é possível observar que quando as  intervenções são feitas precocemente, obtém-se um melhor prognóstico, principalmente se  realizados antes dos 36 meses de idade. Onde juntamente com uma equipe multidisciplinar,  é iniciado um plano terapêutico que aborde as áreas de déficit na criança, permitindo o  melhor desenvolvimento, e consequentemente, melhor qualidade de vida. 

REFERÊNCIAS 

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1 Graduanda do curso de Medicina do Centro Universitário Uninorte. E-mail: taianeermita@gmail.com;
2 Médico pela Universidade Federal do Acre – UFAC. E-mail: jorde230596@gmail.com;
3Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Uninorte. E-mail: ana-mollina@hotmail.com;
4Orientador e docente do curso de Medicina do Centro Universitário Uninorte. E-mail: rodrigo_trigo@hotmail.com