RASTREAMENTO DO CÂNCER DE COLO DO ÚTERO EM MULHERES JOVENS DE ATÉ 25 ANOS NO AMAZONAS: UMA ANÁLISE DOS DADOS DE 2015 A 2020

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505280945


Kamila Simões Sales
Giovana Milla Oliveira Santos
José Fernandes de Souza Viana


RESUMO

Objetivo: Este estudo teve como objetivo analisar o perfil demográfico de mulheres com até 25 anos que realizaram exames para detecção do câncer de colo do útero no estado do Amazonas, no período de 2015 a 2020. A pesquisa abordou variáveis como faixa etária, escolaridade, motivo do exame, resultados da inspeção do colo do útero e adequabilidade das amostras. Resultados: A maior parte dos exames foi realizada em mulheres com idades entre 15 e 24 anos, com predominância de resultados normais, mas também com um número expressivo de alterações. A principal motivação para a realização dos exames foi o rastreamento, e a maioria das amostras foi considerada satisfatória. Embora a pesquisa tenha incluído algumas poucas mulheres de 9 anos, os registros mostraram uma alta taxa de escolaridade ignorada, o que dificultou a análise detalhada do perfil socioeconômico das participantes. Considerações Finais: Embora o rastreamento tenha alcançado uma boa cobertura, com destaque para a faixa etária de 15 a 24 anos, há desafios a serem enfrentados, como a melhoria na qualidade dos dados registrados e o fortalecimento das políticas públicas voltadas à saúde da mulher jovem, especialmente na região amazônica. 

Palavras-chaves: Câncer de colo do útero, Mulheres jovens, Rastreamento.

ABSTRACT

Objective: This study aimed to analyze the demographic profile of women up to 25 years old who underwent cervical cancer screening in the state of Amazonas, from 2015 to 2020. The research addressed variables such as age group, education level, reason for the exam, results of cervical inspection, and sample adequacy.Results: The majority of exams were performed on women aged 15 to 24 years, with a predominance of normal results, but also a significant number of abnormalities. The main reason for the exams was screening, and most samples were considered satisfactory. Although the study included a few women as young as 9 years old, the records showed a high rate of missing educational data, which hindered a detailed analysis of the participants’ socio-economic profile.Conclusions: Although screening reached good coverage, particularly in the 15 to 24 age group, challenges remain, such as the need to improve the quality of recorded data and strengthen public health policies for young women’s health, especially in the Amazon region.

Keywords: Cervical cancer, Young women, Screening.

RESUMEN

Objetivo: Este estudio tuvo como objetivo analizar el perfil demográfico de mujeres de hasta 25 años que realizaron exámenes para la detección del cáncer de cuello uterino en el estado de Amazonas, en el período de 2015 a 2020. La investigación abordó variables como grupo etario, nivel de educación, motivo del examen, resultados de la inspección del cuello uterino y la adecuación de las muestras.Resultados: La mayor parte de los exámenes se realizó en mujeres con edades entre 15 y 24 años, con predominancia de resultados normales, pero también con un número significativo de alteraciones. La principal motivación para la realización de los exámenes fue el rastreo, y la mayoría de las muestras fueron consideradas satisfactorias. Aunque la investigación incluyó algunas pocas mujeres de 9 años, los registros mostraron una alta tasa de datos de escolaridad ignorados, lo que dificultó un análisis detallado del perfil socioeconómico de las participantes.Consideraciones finales: Aunque el rastreo alcanzó una buena cobertura, especialmente en el grupo etario de 15 a 24 años, existen desafíos a enfrentar, como la mejora de la calidad de los datos registrados y el fortalecimiento de las políticas públicas dirigidas a la salud de la mujer joven, especialmente en la región amazónica.

Palabras clave: Cáncer de cuello uterino, Mujeres jóvenes, Rastreo.

INTRODUÇÃO

O câncer de colo de útero é uma neoplasia maligna que se origina nas células do colo do útero, região que conecta o útero à vagina. Esta doença é predominantemente associada à infecção persistente por certos tipos de papilomavírus humano (HPV), especialmente os tipos 16 e 18, que são considerados de alto risco oncogênico (SANTOS et al., 2018). Embora a infecção por HPV seja comum e frequentemente assintomática, em algumas mulheres, a infecção persistente pode levar à formação de lesões precursoras que, sem tratamento adequado, podem evoluir para o câncer de colo de útero (WHO, 2021).

O desenvolvimento do câncer do colo de útero é um processo gradual, com o estágio inicial da doença geralmente assintomático, o que torna sua detecção precoce fundamental. Em seus estágios iniciais, a doença pode ser identificada através de exames de rastreamento, como o Papanicolau, que permite a detecção de lesões celulares anormais no colo do útero (SMITH et al., 2020). A detecção precoce e a intervenção adequada são fatores determinantes para o sucesso no tratamento e na redução da mortalidade associada a essa neoplasia.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer cervical é o quarto câncer mais comum entre as mulheres globalmente, com cerca de 604.000 novos casos e 342.000 mortes por ano, sendo que a grande maioria desses óbitos ocorre em países de baixa e média renda (WHO, 2021). A infecção persistente por HPV é identificada como o principal fator etiológico do câncer de colo de útero, e a prevenção primária, através da vacinação contra o HPV, e a prevenção secundária, através do rastreamento regular, são essenciais para reduzir a incidência e a mortalidade da doença (MUNHOZ et al., 2014).

Representa uma das principais preocupações de saúde pública no cenário global, especialmente em países de baixa e média renda, onde os índices de incidência e mortalidade são significativamente mais elevados. Já no Brasil, o câncer de colo de útero é o terceiro mais frequente entre as mulheres, com uma estimativa de mais de 16.000 novos casos anuais, o que representa um grande impacto na saúde pública nacional (INCA, 2022). A elevada mortalidade associada a essa doença está intimamente relacionada ao diagnóstico tardio, uma vez que, na maioria dos casos, o câncer cervical se desenvolve lentamente e pode ser detectado em estágios iniciais por meio de exames preventivos, como o Papanicolau. No entanto, a falta de adesão da população aos programas de rastreamento é um fator que contribui para a persistência do problema.

A importância do câncer de colo de útero no contexto da saúde pública se justifica pela sua etiologia, estreitamente associada à infecção persistente por tipos de papilomavírus humano (HPV) de alto risco, os quais podem ser prevenidos por meio da vacinação. A vacina contra o HPV, que tem demonstrado uma eficácia significativa na prevenção da infecção por tipos virais oncogênicos, é uma estratégia primária que pode reduzir de forma substancial a carga da doença a longo prazo. A implementação de programas de vacinação, aliada à realização regular de exames de rastreamento, constitui uma abordagem integrada e eficaz para a redução da mortalidade e morbidade relacionadas ao câncer cervical.

Além disso, o câncer de colo de útero é uma doença que afeta predominantemente mulheres em idade fértil, o que acarreta um impacto significativo não só na saúde das pacientes, mas também nas esferas econômica e social. O tratamento da doença envolve custos elevados com tratamentos médicos, hospitalares e com a perda de produtividade no mercado de trabalho, o que impõe um grande ônus para os sistemas de saúde pública (SANTOS et al., 2019).

A infecção persistente por HPV, particularmente pelos tipos oncogênicos 16 e 18, é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer cervical. A introdução de programas de vacinação contra o HPV tem mostrado um impacto positivo na redução da incidência de lesões precursoras do câncer cervical em diversas populações. Em países como a Austrália, onde a vacinação contra o HPV foi amplamente implementada, houve uma queda acentuada na incidência de câncer de colo de útero, com uma redução de até 30% no número de casos entre mulheres jovens (SMITH et al., 2020). Esses dados reforçam a importância da prevenção primária, que inclui a vacinação e o rastreamento regular, como ferramentas fundamentais para reduzir a carga global do câncer cervical.

A principal via de transmissão do HPV é o contato sexual, sendo o início da atividade sexual precoce e o número elevado de parceiros sexuais fatores de risco bem documentados para a infecção persistente pelo vírus (ALMOND et al., 2019). A presença de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia e herpes simples, também pode aumentar a susceptibilidade à infecção por HPV e sua progressão para o câncer cervical. Além disso, a prática de sexo desprotegido, especialmente em populações de risco, aumenta consideravelmente a exposição ao HPV.

O estado imunológico da mulher desempenha um papel crucial na resposta à infecção por HPV. Mulheres com imunossupressão, como aquelas com HIV/AIDS ou que fazem uso prolongado de medicamentos imunossupressores, têm maior probabilidade de desenvolver infecções persistentes e de sofrer a progressão dessas infecções para lesões malignas (SMITH et al., 2017). O sistema imunológico debilitado tem uma capacidade reduzida de eliminar o HPV, o que favorece o desenvolvimento de lesões precursoras e do câncer cervical.

Estudos também sugerem que fatores genéticos podem influenciar a predisposição de uma mulher ao câncer cervical, embora a maioria dos estudos sobre esse aspecto ainda esteja em fase exploratória. Mulheres com histórico familiar de câncer de colo de útero podem ter um risco aumentado devido à herança de variantes genéticas específicas (SANTOS et al., 2018). Além disso, o uso prolongado de contraceptivos hormonais tem sido associado a um aumento moderado do risco de câncer cervical. Acredita-se que os hormônios, como o estrogênio, possam influenciar a persistência da infecção pelo HPV e a progressão das lesões precursoras para o câncer (GARDNER et al., 2016).

Outro fator de risco importante refere-se às condições socioeconômicas e ao acesso a cuidados de saúde adequados. Mulheres em situação de vulnerabilidade social, com baixa escolaridade e acesso restrito aos serviços de saúde, tendem a ter menores taxas de rastreamento cervical, o que contribui para o diagnóstico tardio da doença. Além disso, em muitas regiões com escasso acesso à saúde, as campanhas de vacinação contra o HPV e os programas de rastreamento são limitados, aumentando o risco de incidência e mortalidade por câncer cervical (WHO, 2021).

MÉTODOS

A presente pesquisa é de abordagem quantitativa, com delineamento descritivo e documental, tendo como objetivo analisar informações relacionadas ao câncer do colo do útero no Brasil, com ênfase na população feminina com até 25 anos de idade. Os dados utilizados foram obtidos por meio da consulta a bases de dados secundárias públicas e oficiais, sendo elas: o Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO), o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA). 

A coleta de dados foi realizada considerando o período de 2015 a 2020, sendo incluídos apenas os registros disponíveis com segmentação por faixa etária, especialmente aqueles referentes a adolescentes e mulheres jovens. Os dados extraídos foram organizados em planilhas eletrônicas e submetidos a análise descritiva.

As variáveis analisadas abrangeram o perfil epidemiológico das usuárias, a escolaridade informada, os municípios de residência ou atendimento, a distribuição dos exames citopatológicos segundo a faixa etária, o motivo do exame (rastreamento, repetição ou seguimento), a adequabilidade da amostra e a representatividade da zona de transformação (ZT) nas amostras avaliadas.

 Foram considerados apenas os registros completos, com preenchimento adequado das variáveis essenciais à análise proposta. Dados com inconsistências ou ausência de informações obrigatórias foram excluídos. Os resultados foram organizados e apresentados por meio de tabelas e gráficos, de forma a permitir a visualização das tendências, características populacionais e eventuais lacunas nas ações de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce do câncer do colo do útero entre jovens brasileiras.

RESULTADOS

Os dados analisados a tabela 1, mostram  à escolaridade de indivíduos distribuídos em diferentes faixas etárias. Na faixa de até 9 anos, todos os 31 registros apresentam a escolaridade como ignorada, o que é compatível com a pouca idade dos indivíduos. Na faixa de 10 a 14 anos, observa-se situação semelhante: dos 336 registros, 335 (99,7%) não informam o nível de escolaridade, e apenas 1 pessoa possui Ensino Fundamental Incompleto. Não há registros de escolaridade completa nesse grupo.

Entre os jovens de 15 a 19 anos, embora haja um número ligeiramente maior de registros com informação, a maioria ainda é de escolaridade ignorada, com 7.405 registros (99,8%). Apenas 2 pessoas declararam ter Ensino Fundamental Incompleto, 1 possui Ensino Fundamental Completo e 8 têm Ensino Médio Completo.

Tabela 1. Escolaridade e Faixa Etária de Mulheres ≤25 anos sobre o  de câncer do colo do útero no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

Na faixa de 20 a 24 anos, o padrão se mantém: de um total de 17.344 pessoas, 17.332 (99,9%) não possuem escolaridade informada. Contudo, há maior variedade entre os poucos registros com dados: 1 pessoa com Ensino Fundamental Incompleto, 2 com Ensino Fundamental Completo, 7 com Ensino Médio Completo e 2 com Ensino Superior Completo.

Em síntese, a escolaridade ignorada é predominante em todas as faixas etárias analisadas, o que limita a análise mais aprofundada sobre o nível de instrução dos indivíduos. Entre os poucos registros com informação, observa-se que os níveis mais altos de escolaridade aparecem, em sua maioria, na faixa de 20 a 24 anos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vacinação de meninas entre 9 e 14 anos, antes do início da atividade sexual, para garantir a máxima eficácia da vacina (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2017). Além disso, a vacinação de mulheres até 26 anos também é recomendada em alguns contextos, especialmente para aquelas que ainda não foram expostas ao HPV ou que apresentam um risco elevado de infecção.

Estudos demonstraram que a vacinação contra o HPV pode reduzir significativamente a incidência de infecção por HPV e a prevalência de lesões precursoras do câncer cervical, como a neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de alto grau (MCCAFFERY et al., 2020). Em países onde a vacinação contra o HPV foi implementada em larga escala, houve uma redução significativa nas taxas de infecção por HPV e no número de casos de câncer cervical, especialmente entre as mulheres jovens (GIULIANO et al., 2011).

A análise da distribuição dos casos relacionados ao câncer do colo do útero por município no estado do Amazonas na tabela 2, revela que, embora haja maior concentração em cidades específicas, a maioria dos registros está espalhada entre os demais municípios do estado. A capital, Manaus, apresenta o maior número absoluto de casos, com 2.383 registros (9,48%), seguida pelos municípios de Tefé (2.161 casos; 8,60%), Coari (1.835 casos; 7,30%), Manacapuru (1.830 casos; 7,28%) e Itacoatiara (1.413 casos; 5,62%). Juntas, essas cinco localidades concentram 38,28% do total de casos registrados no período analisado. No entanto, observa-se que os “demais municípios” somam 15.872 casos, correspondendo a 63,16% do total, o que evidencia uma ampla distribuição da doença por todo o estado. 

Esses dados indicam que, embora os grandes centros urbanos apresentem maior volume absoluto de notificações reflexo, possivelmente, de maior acesso aos serviços de saúde e diagnósticos, há uma incidência relevante da doença em regiões interioranas. Tal realidade reforça a necessidade de políticas públicas descentralizadas, com foco no fortalecimento da atenção primária e na ampliação das estratégias de prevenção e rastreamento em áreas remotas, especialmente diante dos desafios logísticos e geográficos característicos da região amazônica.

Tabela 2. Frequência da Distribuição Municipal dos Casos Identificados no Rastreamento do de câncer do colo do útero em Mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

A análise dos municípios com menor número de registros de câncer do colo do útero no estado do Amazonas descrita na tabela 3, evidencia uma concentração bastante reduzida de casos em determinadas localidades. Os municípios de Humaitá (64 casos; 0,25%), Ipixuna (22 casos; 0,08%), Juruá (16 casos; 0,06%), Jutaí (8 casos; 0,03%) e São Sebastião do Uatumã (41 casos; 0,16%) totalizam apenas 151 registros, o que representa 0,58% do total de casos notificados. Tal distribuição pode refletir não apenas a menor densidade populacional dessas regiões, mas também a existência de barreiras estruturais ao diagnóstico, como dificuldades logísticas, limitações na cobertura dos serviços de atenção primária e falhas nos sistemas locais de notificação. Além disso, a possibilidade de subdiagnóstico e subnotificação deve ser considerada, especialmente em contextos de vulnerabilidade territorial e institucional. 

Essa situação reforça a urgência de políticas públicas que promovam a interiorização efetiva das ações de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce do câncer do colo do útero, com ênfase em estratégias adaptadas às realidades geográficas e socioeconômicas da região amazônica. A qualificação dos registros em saúde, por meio da padronização de dados e do fortalecimento das equipes de saúde local, é igualmente essencial para a produção de informações confiáveis que subsidiem intervenções eficazes.

Tabela 3. Frequência da Distribuição Municipal com menor número de registros de câncer do colo do útero em Mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

Os dados na tabela 4, referem-se às características dos exames citopatológicos e apresentam informações sobre a realização anterior de citologia, o motivo do exame e a adequabilidade das amostras coletadas. 

Em relação à citologia anterior, 12.252 mulheres (48,76%) relataram já ter realizado o exame anteriormente, enquanto 11.719 (46,63%) nunca haviam feito, e 2.159 (4,60%) não souberam informar. Quanto ao motivo do exame, a grande maioria dos casos 24.965 (99,35%) foi realizada para rastreamento, seguido por 99 exames (0,39%) feitos para seguimento de casos anteriores e 63 (0,25%) por motivo de repetição, em razão de exame anterior alterado. 

No que diz respeito à adequabilidade das amostras, 24.771 exames (98,58%) foram considerados satisfatórios, enquanto 306 (1,21%) foram classificados como insatisfatórios, e 50 (0,19%) foram rejeitados. Esses dados indicam uma predominância de exames realizados com finalidade preventiva e com alta taxa de qualidade na coleta do material.

Tabela 4. Frequência de casos de câncer do colo do útero em mulheres ≤25 anos por município de residência no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

Nos dados apresentados no gráfico 1, os achados foram para  o motivo predominante para a realização dos exames de detecção do câncer de colo do útero. Na faixa etária de até 9 anos, de um total de 31 exames, 30 (96,77%) foram realizados para rastreamento, 1 (3,23%) para seguimento, e nenhum para repetição de exame alterado. Entre as mulheres de 10 a 14 anos, dos 336 exames realizados, 334 (99,41%) foram para rastreamento, 2 (0,59%) para seguimento, e nenhum para repetição. Na faixa de 15 a 19 anos, com 7.416 exames realizados, 7.393 (99,69%) foram para rastreamento, 12 (0,16%) para repetição de exames alterados e 19 (0,26%) para seguimento. Por fim, entre as mulheres de 20 a 24 anos, de um total de 17.344 exames, 17.252 (99,47%) foram realizados para rastreamento, 51 (0,29%) para repetição e 77 (0,44%) para seguimento. Em resumo, o rastreamento foi a principal motivação para a realização dos exames em todas as faixas etárias, com percentuais acima de 96%, enquanto os exames para repetição e seguimento representaram uma parcela muito menor dos dados.

Gráfico 1. Motivo do exame citopatológico em mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

A frequência de rastreamento recomendada varia de acordo com as diretrizes de diferentes países, mas, geralmente, o rastreamento deve ser iniciado a partir de 25 anos e continuar até os 65 anos, com intervalos de 3 a 5 anos entre os testes, dependendo da idade e do histórico de saúde da mulher (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2020)

O rastreamento do câncer de colo de útero tem como objetivo identificar lesões precursoras do câncer, como a neoplasia intraepitelial cervical (NIC), e tratá-las antes que evoluam para um câncer invasivo. O principal método de rastreamento utilizado mundialmente é o Papanicolau (ou teste de citologia cervical), que consiste na coleta de células do colo do útero para exame microscópico em busca de alterações celulares indicativas de câncer ou lesões precursoras. O teste de Papanicolau tem mostrado reduzir a incidência e a mortalidade por câncer cervical quando realizado de maneira regular (ARBYN et al., 2018).

A avaliação da adequabilidade das amostras de exames citopatológicos realizadas em mulheres de até 24 anos, conforme ilustrado no gráfico 2, indica que a grande maioria das coletas foi considerada satisfatória, totalizando 24.771 exames (98,58%). Dentre esses, as faixas etárias de 20 a 24 anos e 15 a 19 anos se destacam, com 17.111 amostras e 7.306 amostras, representando 69,05% e 29,49% do total de amostras satisfatórias, respectivamente. Por outro lado, as coletas insatisfatórias somaram 306 exames (1,22%), com maior incidência nas faixas etárias de 20 a 24 anos 200 exames (65,36%) e 15 a 19 anos 97 exames (31,70%).

Gráfico 2. Adequabilidade das amostras citopatológicas em mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

Os dados apresentados no gráfico 3 refere-se à distribuição das respostas Sim, Não e Ignorado em diferentes faixas etárias. Na faixa etária de até 9 anos, de um total de 31 indivíduos, 20 responderam Sim (64,5%), 8 responderam Não (25,8%) e 4 tiveram a resposta ignorada (12,9%). Entre os indivíduos de 10 a 14 anos, de um total de 336 pessoas, 221 responderam Sim (65,7%), 110 responderam Não (32,8%) e 6 tiveram a resposta ignorada (1,8%). Na faixa de 15 a 19 anos, com 7.416 indivíduos, 5.028 responderam Sim (67,8%), 2.484 responderam Não (33,5%) e 102 tiveram a resposta ignorada (1,4%). Já na faixa de 20 a 24 anos, de um total de 17.344 pessoas, 11.915 responderam Sim (68,7%), 6.068 responderam Não (35%) e 215 tiveram a resposta ignorada (1,2%).

Esses dados mostram que, independentemente da faixa etária, a maioria das respostas foi Sim, com a porcentagem variando entre 64,5% a 68,7%. A quantidade de respostas. Não também foi significativa, principalmente nas faixas de 15 a 19 anos e 20 a 24 anos, enquanto o percentual de respostas Ignorado foi relativamente pequeno em todas as faixas etárias, variando de 1,2% a 12,9%.O total geral de indivíduos analisados foi de 25.127 indivíduos.

Gráfico 3. Representatividade da zona de transformação (ZT) em exames citopatológicos em mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015–2020.

Fonte: Autor (2025).

 Os dados referentes à inspeção do colo do útero, considerando o total de exames realizados, revelam que a maioria dos resultados foi normal, com 21.467 casos, representando aproximadamente 83,7% do total. Foram identificados 3.943 casos com alterações, correspondendo a 15,4%, o que indica a presença de alterações morfológicas ou suspeitas que exigem acompanhamento. Em 215 exames (0,8%), o colo do útero não pôde ser visualizado, o que pode estar relacionado a limitações técnicas ou anatômicas durante a inspeção. Além disso, 41 casos (0,2%) apresentaram ausência do colo uterino, possivelmente devido a anomalias congênitas ou remoção cirúrgica. Esses dados destacam a importância da inspeção visual como etapa complementar na avaliação ginecológica, contribuindo para o rastreamento precoce de alterações cervicais.

Tabela 4. Inspeção do colo do útero em mulheres ≤25 anos no Amazonas no período de 2015– 2020.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise realizada evidenciou que uma parte considerável das jovens incluídas no estudo nunca havia realizado exames preventivos anteriormente, o que pode indicar tanto falhas no acompanhamento contínuo quanto desconhecimento quanto à importância do rastreamento. Além disso, foi observado um número expressivo de exames com resultado insatisfatório, apontando fragilidades nos processos de coleta e análise laboratorial.

Embora o rastreamento não seja formalmente indicado para mulheres com menos de 25 anos, os dados revelam a presença de lesões de alto grau e casos de carcinoma invasivo nessa faixa etária, o que sugere alterações clínicas relevantes e suscita reflexões sobre a adequação das atuais estratégias de prevenção.

A distribuição espacial dos exames mostrou maior concentração nas capitais e cidades de maior porte, embora também tenham sido registradas coletas em municípios menores. Esse panorama reforça a necessidade de políticas de prevenção mais bem distribuídas e que considerem as particularidades regionais.

Dentro desse cenário, destaca-se o papel da vacinação contra o HPV como a medida mais eficaz e consolidada para a prevenção do câncer do colo do útero. Quando aplicada entre 9 e 14 anos de idade, antes do início da vida sexual, a vacina é capaz de interromper a cadeia de transmissão do vírus e prevenir as lesões precursoras da doença. Evidências científicas internacionais demonstram reduções substanciais nas taxas de infecção por HPV, nas lesões cervicais graves e nos casos de câncer invasivo nos países que implementaram a vacinação de forma abrangente.

A combinação entre imunização precoce e rastreamento iniciado na idade recomendada constitui uma estratégia preventiva robusta e equilibrada. A vacina funciona como uma barreira inicial contra a infecção, enquanto o rastreamento, a partir dos 25 anos, possibilita a detecção precoce de alterações em mulheres não imunizadas ou com resposta vacinal incompleta. Esse modelo integrado melhora os desfechos em saúde e favorece o uso eficiente dos recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), ao mesmo tempo em que evita procedimentos desnecessários e contribui para a sustentabilidade da saúde pública.

Portanto, conclui-se que no estado do Amazonas, a realização de exames citopatológicos em mulheres fora da faixa etária oficialmente recomendada expõe uma carga relevante de lesões precursoras e malignas. Isso reforça a necessidade de revisão das ações preventivas, qualificação dos processos de coleta, ampliação do acesso aos serviços de saúde e, sobretudo, o fortalecimento da política de vacinação contra o HPV como eixo central na meta de eliminação do câncer do colo do útero como problema de saúde pública no Brasil.

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