RASTREAMENTO DE ATRASO OU TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO INFANTIL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE PELO ENFERMEIRO: REVISÃO NARRATIVA DE LITERATURA

TRACKING DELAY OR DISORDER OF CHILD NEURODEVELOPMENT IN PRIMARY HEALTH CARE BY THE NURSE: NARRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411121235


Renata Nunes Correa¹; Amanda Ouriques de Gouveia²; Julyany Rocha Barrozo de Souza³; Renata Campos de Sousa Borges⁴; Lais Araújo Tavares Silva⁵.


Resumo

O rastreamento de atraso ou transtorno do neurodesenvolvimento infantil na Atenção Primária à Saúde (APS) pelo enfermeiro é uma estratégia importante para identificar precocemente crianças em risco e possibilitar intervenções oportunas. O objetivo deste trabalho é avaliar a literatura sobre o rastreamento de atrasos ou transtornos do neurodesenvolvimento infantil na APS, trazendo conceitos e fatores de riscos e enfatizando o papel do enfermeiro nesse processo. A literatura revisada demonstra que o rastreamento sistemático na APS pode melhorar os resultados a longo prazo, permitindo intervenções precoces e reduzindo o impacto negativo desses transtornos na vida da criança e de sua família. Além disso, os enfermeiros desempenham um papel fundamental na promoção da saúde e na educação das famílias, contribuindo para o desenvolvimento saudável da criança. Portanto, o rastreamento de atraso ou transtorno de neurodesenvolvimento infantil na APS é uma prática essencial para garantir o bem-estar e o desenvolvimento saudável das crianças.

Palavra-chave: Rastreamento. Transtorno do Neurodesenvolvimento. Enfermeiro. Atenção Primária à Saúde.

INTRODUÇÃO

Para Mussen et al., (1995) o desenvolvimento é definido como mudanças nas estruturas físicas e neurológicas, cognitivas e comportamentais, que emergem de maneira ordenada e são relativamente duradouras. Seu estudo consiste em detectar como e por que o organismo humano cresce e muda durante a vida, tendo como um dos objetivos compreender as mudanças que parecem ser universais – mudanças que ocorrem em todas as crianças, não importando a cultura em que cresçam ou as experiências que tenham. Um segundo objetivo é explicar as diferenças individuais. O terceiro objetivo é compreender como o comportamento das crianças é influenciado pelo contexto ou situação ambiental. Esses três aspectos – padrões universais, diferenças individuais e influências contextuais – são necessários para se entender claramente o desenvolvimento da criança.

A infância é uma fase da existência humana na qual acontece um notável desenvolvimento, onde são observadas mudanças importantes no âmbito biopsicossocial, sendo necessário o acompanhamento e vigilância da saúde infantil, que inclui a prevenção de doenças e agravos e a promoção do desenvolvimento saudável (SANTOS et al., 2021).

O crescimento e o desenvolvimento infantis são indicadores de saúde da criança que já fazem parte do trabalho das equipes na Atenção Primária à Saúde (APS). A vigilância do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) engloba a identificação das condições determinantes de vulnerabilidade à saúde das crianças e das famílias e o rastreamento precoce de alterações do desenvolvimento para intervenções oportunas, sendo fundamental a utilização de instrumentos capazes de nortear os profissionais responsáveis pela linha de cuidado, visando o reestabelecimento da saúde da criança e um desenvolvimento adequado ao longo da vida (ALVES E VIANA, 2003; BRASIL, 2002).

Considerando que a APS é o principal ponto de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS), desempenhando papel coordenador e ordenador do cuidado em rede, a capacitação dos profissionais que atuam nesse nível de atenção à saúde é fundamental para assegurar o acesso e o acompanhamento adequado do desenvolvimento infantil (BRASIL, 2002).

Diante do exposto, a APS desempenha um papel fundamental, fornecendo acesso universal e coordenado aos serviços de saúde. A identificação precoce de atrasos ou transtornos do neurodesenvolvimento em crianças é crucial para intervenções precoces e eficazes, e os enfermeiros, como membros essenciais das equipes de saúde na APS, estão bem-posicionados para realizar o rastreamento e a avaliação inicial de crianças em risco de atraso ou transtorno do neurodesenvolvimento.

Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a literatura sobre o rastreamento de atrasos ou transtornos do neurodesenvolvimento infantil na APS, trazendo conceitos e fatores de risco, enfatizando o papel do enfermeiro nesse processo.

MÉTODOS

Este estudo adotou uma abordagem de revisão narrativa de literatura, onde foram meticulosamente examinados os trabalhos de autores que abordam temas similares. Segundo Rother (2007), as revisões narrativas são publicações abrangentes adequadas para descrever e discutir o desenvolvimento ou o estado atual de um determinado assunto, do ponto de vista teórico ou conceitual. Tais textos constituem uma análise crítica e interpretativa da literatura científica pelo autor. As revisões narrativas desempenham um papel importante no debate sobre determinados temas, levantando questões e contribuindo para a aquisição e atualização do conhecimento em um curto período de tempo.

A coleta de dados foi realizada com os seguintes Descritores em Ciências da Saúde: Rastreamento, Transtorno do Neurodesenvolvimento, Enfermeiro, Atenção Primária à Saúde. O material teórico da pesquisa é oriundo de artigos científicos coletados em bases de dados: Google acadêmico, Science direct, Ibero-Americana de estudos em educação, Repositório institucional UFMG, SciELO e, ainda, na Biblioteca Virtual em Saúde. Como critérios de inclusão, foram utilizados artigos da língua portuguesa e inglesa que discorreram sobre a temática em questão, não havendo restrição quanto ao ano de publicação. A análise dos dados foi conduzida por meio de uma leitura cuidadosa e alinhada aos objetivos do estudo.

REVISÃO DE LITERATURA

Conceitos sobre o desenvolvimento neuropsicomotor

O desenvolvimento humano é marcado por mudanças físicas, cognitivas e psicossociais que ocorrem ao longo do tempo de modo ordenado e relativamente duradouro, ou seja, é um processo que afeta as estruturas físicas e neurológicas, os processos de pensamento, as emoções, as formas de interação social, e muitos outros comportamentos (CREPALDI, RABUSKE, GABARRA, 2006).

Consequentemente, o desenvolvimento infantil é um processo que se inicia desde a vida intrauterina e envolve os vários aspectos já mencionados, como o crescimento físico, a maturação neurológica e a construção de habilidades relacionadas ao comportamento, as habilidades cognitivas, social e afetiva da criança. Assim, espera-se como resultado, uma criança competente capaz de responder às suas próprias necessidades e às do seu meio (MIRANDA, RESEGUE, FIGUEIRAS, 2003).

O DNPM é um processo caracterizado por alterações na fisiologia e no comportamento do indivíduo ao longo da vida. Desde a concepção, o sistema nervoso apresenta grande capacidade de ser modificado, estrutural e funcionalmente, em maior ou menor grau, de acordo com o estágio do desenvolvimento e a idade da criança (SANTOS E CAMPOS, 2010).

A teoria neuromaturacional do desenvolvimento humano é uma das abordagens mais antigas e estabelecidas na compreensão do desenvolvimento. Sua metodologia de avaliação se fundamenta na observação da progressão de comportamentos considerados típicos para cada faixa etária, além do acompanhamento do ritmo de aquisição de habilidades, que geralmente se desenvolvem desde as menos complexas até as mais complexas (GESELL, 2000; GIANNETT E GIANNETT, 2010). De acordo com essa teoria, as experiências e estímulos têm um impacto direto no desenvolvimento neurológico da criança. Esses estímulos contribuem para a ampliação da capacidade funcional e para um aumento gradual da complexidade das habilidades adquiridas pelas crianças (FEIGELMAN, 2009 e BELSKY, 2010).

Outra abordagem no estudo do desenvolvimento motor, mencionada por Santos e Campos (2010), é a Teoria dos Sistemas Dinâmicos. Essa teoria expande a compreensão do desenvolvimento ao considerar as aquisições motoras como resultados da interação entre a maturação do sistema nervoso e as propriedades biomecânicas e energéticas do corpo, bem como a especificidade de cada tarefa e o contexto em que ela ocorre. Em contraste com a ideia de comportamento motor isolado e padrões predeterminados do sistema nervoso central, essa teoria adota uma perspectiva de cooperação dinâmica entre diversos sistemas orgânicos da criança, adaptados a cada objetivo motor (BARELA, 2006; SACCANI, 2009).

Ao considerar a interação da criança com o ambiente em que vive, também podemos mencionar o modelo ecológico dos Determinantes Sociais de Saúde. Este modelo aborda as condições que influenciam positiva ou negativamente o desenvolvimento infantil através de diversos círculos de determinantes relacionados à saúde do indivíduo, que vão desde a família até a sociedade em que está inserido. Dentro deste modelo, a família é considerada o círculo de determinantes mais próximo do indivíduo, e a mãe é frequentemente vista como a principal responsável pela proteção, cuidado e satisfação das necessidades imediatas da criança (BELSKY, 2010; BUSS e PELLEGRINI FILHO, 2007).

Fatores de risco associados ao atraso do desenvolvimento neuropsicomotor

O desenvolvimento tem um caráter multifatorial, é um produto de efeitos diretos e indiretos, complexa combinação de influências que, em face à adversidade, podem ter diferentes desfechos e remetem à necessidade de abordar os fatores e mecanismos de risco e proteção (RUTTER et al., 2000).

Fatores de risco para o desenvolvimento são variáveis importantes que podem aumentar as chances de um indivíduo em desenvolver algum tipo de dificuldade. Antes mesmo de seu nascimento a criança pode estar exposta a condições de risco que podem afetar seu desenvolvimento saudável (LINHARES; BORDIN; CARVALHO, 2004).

A vulnerabilidade fetal é influenciada primariamente pela carga genética do indivíduo, que pode predispor à ocorrência de erros inatos do metabolismo, malformações congênitas e síndromes genéticas, podendo impactar o processo de crescimento e desenvolvimento. Durante a vida intrauterina, o feto também está sujeito ao risco de exposição a agentes teratogênicos, os quais estão fortemente associados a alterações no desenvolvimento neuropsicomotor. Esses teratógenos podem incluir agentes infecciosos, medicamentos, drogas recreativas e ameaças ambientais, como radiação e agentes químicos (GESELL, 2000; FEIGELMAN, 2009; BELSKY, 2010).

O curso do desenvolvimento humano pode ser influenciado adversamente por uma variedade de fatores de risco, os quais abrangem aspectos biológicos, psicológicos e sociais, podendo manifestar-se no indivíduo, no ambiente em que está inserido ou de maneira combinada. Concomitantemente, é possível que sejam acionados mecanismos de proteção que visam atenuar o impacto desses fatores de risco sobre o desenvolvimento. Segundo Yunes e Szymanski (2001), ocorre um interjogo entre os fatores de risco e os mecanismos de proteção (incluindo recursos individuais e/ou ambientais), os quais podem ser mobilizados para modificar a exposição do indivíduo a situações de risco.

O ambiente familiar no qual uma criança é criada desempenha um papel fundamental em seu crescimento e desenvolvimento, uma vez que envolve uma complexa interação de fatores e condições ambientais. Crianças que enfrentam problemas intrafamiliares, como violência, abuso, negligência, questões de saúde mental e/ou baixo nível educacional dos pais, podem estar expostas a interações prejudiciais que impactam negativamente seu desenvolvimento neuropsicomotor ao longo da vida. A literatura destaca que tanto a gravidade dessas condições quanto a sobreposição de fatores de risco, sejam eles biológicos ou ambientais, podem contribuir para um desfecho desfavorável no desenvolvimento infantil (MARIA-MEGEL e LINHARES, 2007; MARTINS et al., 2004; MIRANDA, RESEGUE e FIGUEIRAS, 2003; MOURA et al., 2010).

O estudo de Hillemeier et al., (2009), realizado nos Estados Unidos, investigou o desenvolvimento infantil em um estudo prospectivo de coorte, que acompanhou 7.308 crianças nascidas de gestações únicas e 1.463 crianças nascidas de gestações múltiplas durante os primeiros dois anos de vida, foi analisado o impacto de determinantes biológicos e socioeconômicos sobre o desenvolvimento infantil. Além de um efeito cumulativo, os resultados indicaram que, à medida que a criança cresce, o impacto das condições socioeconômicas, como renda familiar e origem étnica, torna-se mais proeminente em relação aos determinantes biológicos, como baixo peso ao nascer e prematuridade.

Somam-se aos riscos biológicos as experiências adversas de vida ligadas à família, ao meio ambiente e à sociedade, que são consideradas como riscos ambientais. Problemas intrafamiliares como situações de violência, abuso, maus tratos e problemas de saúde mental e/ou baixa escolaridade da mãe também podem comprometer o desenvolvimento da criança (FERRARI, 2010).

Portanto, a interação entre fatores ambientais e biológicos aumenta a vulnerabilidade da criança a desfechos negativos no que diz respeito ao desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). A natureza e a intensidade do comprometimento do desenvolvimento infantil são influenciadas pela tipologia e pela gravidade dos fatores adversos, pela duração da exposição a eles e pelo efeito cumulativo que exercem ao longo da vida da criança (FERRARI, 2010; HILLEMEIER et al., 2009; RESEGUE, 2007).

A atuação do enfermeiro da APS frente aos transtornos do neurodesenvolvimento infantil

A Lei n° 13.257, Marco Legal da Primeira Infância, do ano de 2016 salienta o dever do Estado em relação à promoção, proteção da saúde e desenvolvimento na primeira infância, estabelecendo políticas públicas, planos, programas e serviços, assegurando o acesso integral às linhas de cuidados voltadas à saúde da criança. Crianças com deficiência devem ser atendidas sem qualquer tipo de 21 discriminação ou segregação por parte dos profissionais, garantindo cuidados às suas necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação (Brasil, 2016).

Tem-se, pois, por meio da APS, estratégias de rastreamento precoce de alterações no crescimento e desenvolvimento, assistindo a criança em cada fase, observando se seus parâmetros estão de acordo com sua idade, fatores genéticos, ambientais, psicossociais, considerando a criança em sua integralidade, mas também, padronizando de forma coerente e cientifica esses parâmetros, de acordo com entidades cientificas como as orientações do Ministério da Saúde, por exemplo, e fatores previstos na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) (SANTOS et al., 2020).

O processo de desenvolvimento infantil inicia-se na vida intrauterina sob a influência de diferentes fatores biológicos e ambientais. Após o nascimento da criança é essencial o monitoramento de diferentes indicadores do desenvolvimento nos aspectos de psicomotricidade, funções sensoriais, linguagem, comunicação, cognição e funcionamento sócio adaptativo. Esse monitoramento é essencial, pois decorrente dele poderão ser conduzidas estimulações precoces para a promoção de um desenvolvimento típico, detecção de fatores de risco para problemas de desenvolvimento, assim como identificação de transtornos do neurodesenvolvimento para iniciar as respectivas intervenções precoces (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2014; ZEPPONE, VOLPON, & DEL CIAMPO, 2012).

Através da avaliação sistemática do desenvolvimento, os profissionais de saúde têm a capacidade de identificar precocemente possíveis complicações. Em crianças com atraso no DNPM, essa detecção precoce pode ser crucial para alcançar melhorias por meio de intervenções oportunas e adequadas, especialmente nos primeiros anos de vida, dada a considerável plasticidade do sistema nervoso central (MIRANDA, RESEGUE e FIGUEIRAS, 2003; VIEIRA et al, 2009).

Exposto isso, considera-se que a APS é a estratégia mais propícia para promoção e prevenção de doenças e agravos inerentes ao crescimento e desenvolvimento infantil, sendo o profissional enfermeiro quem se faz mais presente na atuação de tal estratégia (VIEIRA, 2017).

A consulta de puericultura, realizada na atenção básica, é uma estratégia para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, acompanhada do registro por meio da Caderneta de Saúde da Criança (CSC) de ações realizadas na consulta e dos parâmetros da criança, em que se inclui a consulta do profissional enfermeiro, acompanhando-a em cada fase e mantendo o diálogo com os familiares acerca do cotidiano e estilo de vida da criança (ALMEIDA et al., 2017).

A consulta consiste no processo de enfermagem, uma sequência sistematizada constituída por histórico de enfermagem, exame físico, diagnóstico de enfermagem, plano de cuidados e avaliação. Sendo assim, necessita de instrumentos que facilitam o profissional enfermeiro a acompanhar a evolução dos usuários, ao longo das consultas, para tomada de decisões referente a sua conduta (CANÊJO; SILVA; 2021).

Segundo Magalhães (2021), os profissionais da enfermagem devem atentar-se às singularidades dos indivíduos e suas respectivas necessidades, prestando assistência integral e de qualidade que atenda a todas as demandas, contribuindo para o fortalecimento e ampliação dos laços relacionais. O enfermeiro responsável pela competência em cuidar do doente e da sua família, é um profissional capaz de se inserir no cuidado em domicílio contribuindo na organização e dinâmica familiar.

No que se diz respeito à avaliação do crescimento, os enfermeiros demonstram facilidade em mensurá-los, classificando conforme os padrões de normalidade de acordo com a idade. Geralmente são avaliados o perímetro cefálico, estatura, Indice de Massa Corpórea (IMC) e peso, sempre seguidos de orientações educativas para pais e cuidadores (GAÍVA et al., 2017).

No contexto do desenvolvimento infantil, há um consenso sobre o papel fundamental da participação ativa da família na implementação de estímulos, visando garantir que a criança alcance os marcos adequados para sua idade. Nesse contexto, destaca-se a importância da consulta de enfermagem na puericultura, na qual o enfermeiro desempenha o papel de educador, fornecendo orientações à família sobre como realizar esses estímulos e identificar sinais de atraso no desenvolvimento (SANTOS et al., 2020).

Entre as formas de realizar a promoção e acompanhamento do desenvolvimento infantil, destacam-se: ações de vigilância em saúde com visitas domiciliares para oferecer um cuidado integrado no contexto familiar; orientação aos pais quanto à avaliação dos marcos do desenvolvimento, a importância de levar o filho à puericultura e a realização de atividades lúdicas que estimulam o desenvolvimento cognitivo e psicomotor (SANTOS et al., 2019).

Ainda, com o propósito de assegurar a plenitude da assistência e a prestação de serviços de qualidade às pessoas diagnosticadas com TEA, o Ministério da Saúde preconiza a utilização da escala M-Chat (Modified Checklist for Autism in Toddlers) como um recurso crucial para o processo diagnóstico. A diretriz ministerial recomenda que sua aplicação seja complementada pela intervenção de um profissional de saúde, visando proporcionar intervenções apropriadas aos casos identificados. O instrumento de avaliação, constante da CSC, consiste em um questionário que permite aos pais e responsáveis familiarizarem-se com potenciais indicadores do TEA. Este questionário compreende uma série de itens para os quais se deve responder “sim” ou “não”, sendo idealmente completado em conjunto com a assistência de um profissional de saúde. As perguntas foram elaboradas com base em uma lista de sintomas comumente observados em crianças com autismo (BRASIL, 2024).

Assim, são os profissionais da saúde os encarregados de monitorar a saúde das crianças desde a primeira infância, devendo ser capazes de reconhecer sinais e sintomas relativos às diversas doenças, incluindo os transtornos do neurodesenvolvimento com início nesta fase da vida. No Brasil, a Atenção Básica é encarregada de desenvolver essas ações para rastreamento de problemas de saúde, no âmbito individual e coletivo, seja a promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde (BRASIL, 2017).

Desse modo, o olhar atento do enfermeiro, associado a um raciocínio perspicaz, irá nortear as intervenções de forma resolutiva. Os relatos das mães auxiliam a fundamentar a atuação do profissional no processo. É nesse momento em que elas expõem suas ansiedades em relação ao seu filho, possibilitando um canal de comunicação entre o serviço e a família (NOGUEIRA, 2011; JENDREIECK, 2014).

CONCLUSÃO

O rastreamento de atraso ou transtorno do neurodesenvolvimento infantil na APS pelo enfermeiro é uma estratégia essencial para garantir a detecção precoce e a intervenção oportuna. A integração eficaz dos enfermeiros na equipe de APS pode melhorar significativamente os resultados de saúde das crianças, promovendo um desenvolvimento saudável e prevenindo complicações futuras.

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¹Discente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). E-mail: renatta.nunes15@gmail.com
²Docente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). Mestre em Gestão e Serviços de Saúde na Amazônia (PPGGSA/FSCMPA). E-mail: amanda.gouveia@faculdadegamaliel.com.br
³Docente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). Mestre em Gestão e Serviços de Saúde na Amazônia (PPGGSA/FSCMPA). E-mail: julyany.souza@faculdadegamaliel.com.br
⁴Docente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). Doutora em Ensino em Saúde na Amazônia (PPGESA/UEPA). E-mail: renata.borges@faculdadegamaliel.com.br
⁵Docente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). Doutor em Saúde da Criança e da Mulher (PPGSCM/IFF-Fiocruz). E-mail: lais.silva@faculdadegamaliel.com.br