RADIOPROTEÇÃO EM PEDIATRIA: ESTRATÉGIAS PARA REDUÇÃO DE DOSE EM EXAMES DE IMAGEM

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411221601


MENEZES, Vitória Mariana Da Costa 
SANTOS, Bianca Soares


RESUMO

A radiologia pediátrica é uma ferramenta essencial no diagnóstico médico, porém o uso de radiação ionizante em crianças demanda atenção redobrada devido à sua maior vulnerabilidade biológica. Este estudo tem como objetivo explorar estratégias de radioproteção voltadas para a redução da dose de radiação em exames pediátricos, analisando os riscos associados à exposição e avaliando diretrizes nacionais e internacionais para práticas seguras. A metodologia baseou-se em uma revisão sistemática da literatura, utilizando bases de dados como PubMed, SciELO e Google Scholar, com critérios de inclusão que garantiram a relevância e atualidade das fontes.Os resultados destacam que práticas como a aplicação do princípio ALARA, a otimização de parâmetros técnicos e o uso de dispositivos de proteção, como aventais de chumbo e colimação, são fundamentais para mitigar os riscos de efeitos estocásticos e determinísticos da radiação. Tecnologias modernas, como tomografia de baixa dose, e modalidades não ionizantes, como ultrassonografia e ressonância magnética, emergem como alternativas seguras. Além disso, a capacitação contínua dos profissionais de saúde é apontada como indispensável para a implementação eficaz das diretrizes.Conclui-se que a radioproteção pediátrica é essencial para equilibrar a qualidade diagnóstica com a segurança do paciente infantil, contribuindo para a prevenção de complicações a curto e longo prazo. Este trabalho reforça a necessidade de consolidar práticas seguras e promover a educação continuada no contexto da radiologia pediátrica.

Palavras-chave: radioproteção pediátrica, ALARA, exposição à radiação, diagnóstico por imagem, segurança infantil.

1 INTRODUÇÃO

A radiologia pediátrica é um campo essencial no diagnóstico médico, desempenhando um papel fundamental na identificação precoce e no acompanhamento de diversas condições de saúde em crianças. Desde a descoberta dos raios-x em 1895, os avanços tecnológicos transformaram o diagnóstico por imagem em uma ferramenta indispensável para a prática médica. Entretanto, o uso de radiação ionizante em populações pediátricas apresenta desafios específicos, principalmente devido à maior sensibilidade biológica das crianças e ao potencial de efeitos adversos a longo prazo, como o desenvolvimento de câncer. Este cenário torna evidente a necessidade de práticas rigorosas de radioproteção, que garantam diagnósticos precisos sem comprometer a segurança dos pacientes infantis.

A vulnerabilidade infantil à radiação tem sido amplamente documentada ao longo da história. Estudos como o BEIR VII (2006) destacam que, devido ao rápido crescimento celular e ao tempo prolongado de exposição acumulativa, as crianças estão mais suscetíveis aos efeitos estocásticos da radiação, como mutações genéticas e o surgimento de tumores. No entanto, a prática radiológica nem sempre considerou essas particularidades. Até meados do século XX, os exames eram realizados sem protocolos específicos para crianças, expondo-as aos mesmos níveis de radiação utilizados em adultos. Apenas nas últimas décadas, a radiologia pediátrica se consolidou como subespacialidade, com diretrizes que priorizam a segurança das crianças, como o princípio ALARA (“As Low As Reasonably Achievable”).

Diante desse contexto, a radioproteção em pediatria emerge como uma área de estudo prioritária. A evolução tecnológica e o aumento da utilização de exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC), reforçam a necessidade de estratégias que reduzam a dose de radiação sem comprometer a qualidade diagnóstica. Instituições como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) desempenham um papel central na elaboração de diretrizes que orientam práticas seguras e eficazes, destacando a importância de proteger populações vulneráveis.

Este trabalho tem como objetivo principal explorar as estratégias de radioproteção aplicadas na radiologia pediátrica, com foco na redução da dose de radiação em exames de imagem. Além disso, busca-se compreender os riscos associados à exposição infantil à radiação ionizante e analisar as diretrizes internacionais que norteiam as práticas de segurança nesse campo. A relevância do estudo reside na necessidade de ampliar a discussão sobre a aplicação prática de protocolos que equilibrem eficiência diagnóstica e proteção à saúde infantil, contribuindo para a prevenção de efeitos adversos a curto, médio e longo prazo.

Portanto, este artigo tem em vista contribuir para o avanço da radiologia pediátrica ao destacar a importância de práticas radiológicas seguras, alinhadas às necessidades específicas das crianças. A compreensão dos riscos e das estratégias de mitigação é fundamental para garantir que os benefícios do diagnóstico por imagem superem os riscos, promovendo um cuidado centrado na segurança e no bem-estar do paciente pediátrico.

2 METODOLOGIA

A metodologia adotada para este estudo é de natureza qualitativa, caracterizando-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, com foco em uma revisão sistemática da literatura. Essa escolha metodológica visa à compreensão profunda e detalhada das diretrizes de radioproteção pediátrica estabelecidas por organizações internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), e seus impactos na segurança de exames de diagnóstico por imagem em crianças.

A abordagem qualitativa é particularmente adequada para este estudo, por permitir uma análise interpretativa e contextual dos fenômenos complexos, possibilitando uma síntese rica e estruturada das práticas e diretrizes. Como destaca Flick (2009),“a pesquisa qualitativa permite uma exploração aprofundada de fenômenos complexos, utilizando uma abordagem interpretativa que busca entender significados e contextos específicos” (p. 36). Essa perspectiva justifica a escolha metodológica, pois o objetivo central do estudo é analisar as recomendações e técnicas de proteção radiológica infantil, considerando suas especificidades e o contexto em que são aplicadas.

A população-alvo desta pesquisa é composta por estudos e publicações relevantes na área de radioproteção pediátrica, com foco em diretrizes de segurança aplicadas a crianças em exames de imagem. Segundo Creswell (2014),“a seleção da população-alvo em pesquisas qualitativas envolve a identificação criteriosa de fontes que possam contribuir significativamente para a compreensão do fenômeno estudado” (p. 98). Com base nisso, a amostra foi selecionada considerando critério de relevância, atualidade e pertinência ao tema, englobando artigos científicos, diretrizes de instituições internacionais e relatórios técnicos relacionados à proteção radiológica pediátrica.

Foram incluídos estudos publicados nos últimos 20 anos, com foco em artigos em inglês e português, assegurando que o estudo abarcasse as práticas e descobertas mais recentes e significativas. Artigos que não abordavam diretamente radioproteção infantil ou que não estavam relacionados às diretrizes da AIEA e OMS foram excluídos, para assegurar a relevância e a qualidade das fontes analisadas, garantindo, assim, que o estudo permanecesse atualizado e aplicável ao contexto atual.

A coleta de dados foi realizada por meio de uma revisão sistemática em bases de dados acadêmicas amplamente reconhecidas, como PubMed, SciELO, IEEE, Xplore e Google Scholar. Essa estratégia de busca foi fundamental para assegurar que as fontes incluídas fossem de alta qualidade e pertinência científica. Para garantir uma abordagem abrangente, utilizou-se uma combinação de descritores específicos, incluindo “radioproteção infantil,” “protocolos de segurança radiológica,” “AIEA,”“OMS” e “princípio ALARA.” Booth, Papaioannou e Sutton (2016) descrevem que “a revisão sistemática permite uma coleta estruturada e objetiva dos dados, utilizando critérios de busca específicos que garantem a inclusão de fontes relevantes e a exclusão de estudos irrelevantes” (p. 54).

Dessa forma, os dados foram coletados de maneira organizada e objetiva, sendo posteriormente extraídos e organizados em uma matriz de análise que permitiu a categorização dos principais temas, tais como vulnerabilidade infantil à radiação, estratégias de redução de dose e práticas de capacitação dos profissionais da saúde. Este processo criterioso assegurou uma coleta de dados estruturada e padronizada, facilitando a análise comparativa das diretrizes e práticas recomendadas.

A análise dos dados foi conduzida por meio de uma análise de conteúdo, técnica que permite a identificação de temas recorrentes e padrões nas publicações selecionadas, possibilitando uma interpretação detalhada e organizada das práticas de radioproteção infantil. Bardin (2011) define a análise de conteúdo como uma técnica capaz de “revelar as intenções e significados implícitos nos textos, identificando elementos que vão além das palavras explícitas” (p. 122).

Este método se mostrou adequado para explorar as nuances e detalhes das práticas de proteção radiológica, permitindo que as informações fossem organizadas em categorias temáticas específicas, tais como as estratégias de redução de dose, os protocolos internacionais da AIEA e OMS e a capacitação dos profissionais de saúde que lidam com radioproteção em pediatria. Essa categorização temática foi essencial para mapear os principais desafios e lacunas na implementação das diretrizes de proteção radiológica em contextos pediátricos, facilitando a análise dos dados e permitindo que os resultados do estudo sejam organizados de forma a refletir as áreas prioritárias de intervenção e melhoria.

Em resumo, a metodologia adotada, fundamentada em abordagens amplamente reconhecidas, oferece uma base sólida para a análise das práticas e diretrizes de radioproteção pediátrica. Essa estrutura permite explorar os aspectos mais relevantes do tema, contribuindo para o avanço do conhecimento e fomentando discussões pertinentes e aplicáveis ao cenário contemporâneo da radiologia pediátrica.

3 HISTÓRIA DA RADIOLOGIA PEDIÁTRICA

A radiologia pediátrica iniciou-se logo após a descoberta dos raios-x por Wilhelm Conrad Roentgen, em 1895. No início do século XX, os raios-x começaram a ser amplamente utilizados para visualizar o interior do corpo humano sem necessidade de cirurgia, oferecendo uma visão inovadora e essencial para o diagnóstico médico. No entanto, nos primeiros anos, pouco se sabia sobre os potenciais riscos da exposição à radiação, e os exames eram realizados indiscriminadamente, incluindo em crianças. Não havia protocolos específicos de proteção para pacientes pediátricos, e a exposição era aplicada igualmente em adultos e crianças, resultando em danos documentados ao longo do tempo.

Durante e após a Segunda Guerra Mundial, os efeitos nocivos da radiação começaram a ser estudados em maior profundidade, especialmente após os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki. Essas tragédias revisitaram o impacto da radiação em populações, revelando que crianças eram especialmente vulneráveis. Esses eventos marcaram o início das primeiras discussões sobre a necessidade de proteger populações vulneráveis, incluindo crianças, e levaram ao desenvolvimento das primeiras recomendações de proteção radiológica. A partir das décadas de 1940 e 1950, a comunidade científica começou a estabelecer protocolos básicos para reduzir a exposição de crianças à radiação em exames de imagem.

Nos anos 1960 e 1970, a radiologia pediátrica foi impulsionada pelo desenvolvimento de tecnologias de imagem mais avançadas, como a tomografia computadorizada (TC). Embora a TC oferecesse maior precisão diagnóstica, o aumento da dose de radiação necessária para obter imagens detalhadas gerou novas preocupações sobre os riscos para crianças. Nesse contexto, instituições como a Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP) introduziram o conceito de ALARA (“As Low As Reasonably Achievable”), incentivando a minimização das doses de radiação para todas as populações, com ênfase especial nas crianças.

Entre as décadas de 1980 e 1990, a radiologia pediátrica passou a ganhar reconhecimento como uma subespacialidade da radiologia, com a criação de protocolos específicos para crianças. Pesquisas demonstraram que crianças são mais suscetíveis a danos por radiação, e surgiram diretrizes internacionais que recomendavam práticas específicas, como o uso de colimação para reduzir o campo de exposição e a implementação de filtros de proteção para evitar doses desnecessárias de radiação. Esse período foi marcado por uma conscientização crescente sobre a necessidade de especializar os exames de imagem pediátricos para garantir a segurança dos pacientes infantis.

Nos anos 2000, a criação de documentos como “Radiation Protection in Pediatric Radiology” pela AIEA consolidou diretrizes detalhadas para proteger crianças durante exames de imagem. Hoje, a radiologia pediátrica é um campo essencial na medicina diagnóstica, com protocolos específicos que visam reduzir ao máximo a exposição das crianças, destacando o papel fundamental da proteção radiológica em pediatria para a prevenção de efeitos adversos a longo prazo.

4 – MODALIDADES DE IMAGEM PEDIÁTRICA

A escolha adequada da modalidade de imagem para exames pediátricos é essencial para alcançar um equilíbrio entre a precisão diagnóstica e a segurança do paciente. O diagnóstico por imagem é uma ferramenta indispensável na medicina pediátrica, auxiliando na identificação de condições agudas, crônicas e congênitas que podem afetar a saúde e o desenvolvimento infantil. Contudo, a aplicação dessas modalidades em crianças apresenta desafios únicos, principalmente devido às particularidades anatômicas e fisiológicas dos pacientes pediátricos.

As crianças possuem características que as diferenciam significativamente dos adultos, como tecidos em rápido crescimento e maior taxa de renovação celular. Essa maior sensibilidade biológica faz com que os efeitos da radiação ionizante, mesmo em doses relativamente baixas, possam ter consequências a longo prazo, como um aumento do risco de desenvolvimento de câncer. Além disso, o pequeno tamanho corporal das crianças exige ajustes técnicos específicos para garantir que a radiação seja limitada à área de interesse, reduzindo a exposição desnecessária a tecidos adjacentes.

Outro fator importante a ser considerado é a cooperação do paciente pediátrico durante o exame. Crianças mais novas podem ter dificuldades em permanecer imóveis ou em entender as instruções, o que pode comprometer a qualidade das imagens obtidas. Isso exige que os profissionais de saúde adotem abordagens humanizadas e, em alguns casos, utilizem sedação leve ou distrações visuais e sonoras para assegurar o sucesso do procedimento.

Esses desafios tornam imprescindível a aplicação rigorosa de princípios de radioproteção, como o Princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable), que preconiza a redução da exposição à radiação ao nível mais baixo possível, sem comprometer a qualidade das imagens. Além disso, a seleção criteriosa da modalidade de imagem mais apropriada para cada caso é fundamental para evitar exames desnecessários e garantir o máximo benefício ao paciente.

Este segmento da revisão literária examina as principais modalidades de imagem utilizadas em pediatria, abordando suas características, benefícios e limitações. Entre as modalidades abordadas, estão a radiografia convencional, amplamente empregada por sua praticidade e acessibilidade; a tomografia computadorizada (TC), reconhecida por sua alta precisão diagnóstica, mas associada a maiores doses de radiação; a ressonância magnética (RM) e a ultrassonografia, que oferecem alternativas não ionizantes; e a medicina nuclear, que contribui com avaliações funcionais detalhadas, mas requer cuidados específicos para limitar a exposição.

Assim, compreender os benefícios e limitações de cada modalidade no contexto pediátrico é crucial para garantir não apenas o diagnóstico eficiente, mas também a proteção integral da saúde e do bem-estar das crianças submetidas a esses exames. A literatura destaca que, além da tecnologia, a capacitação contínua dos profissionais e a aplicação de protocolos pediátricos específicos são indispensáveis para alcançar esses objetivos.

2.1-RADIOGRAFIA CONVENCIONAL

A radiografia convencional desempenha um papel fundamental na prática clínica pediátrica, sendo amplamente utilizada como exame de primeira linha devido à sua acessibilidade, baixo custo, rapidez na obtenção das imagens e capacidade de avaliação eficaz de estruturas anatômicas específicas. Essa modalidade de imagem é especialmente relevante no diagnóstico inicial de condições pulmonares, como pneumonia, doenças ósseas, fraturas e em casos de abdome agudo, oferecendo uma visão geral suficiente para orientar a conduta clínica. Entretanto, no contexto pediátrico, o uso da radiografia convencional exige uma abordagem cuidadosa, considerando as especificidades anatômicas e fisiológicas das crianças. A maior sensibilidade dos tecidos em desenvolvimento às radiações ionizantes é um fator crítico.

Estudos apontam que a exposição acumulada à radiação durante a infância pode aumentar o risco de efeitos estocásticos a longo prazo, como o desenvolvimento de câncer. Esse risco é potencializado pela expectativa de vida mais longa dos pacientes pediátricos, ampliando o período para a manifestação dos efeitos tardios.

Além disso, a radiografia convencional apresenta limitações intrínsecas, como a dificuldade em diferenciar tecidos moles e identificar detalhes mais sutis de lesões ou alterações anatômicas complexas. Por exemplo, em casos onde há necessidade de avaliar condições como hemorragias intracranianas, alterações cardíacas congênitas ou tumores, essa modalidade pode ser insuficiente, demandando a complementação com exames de imagem avançados, como ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM).

Outro desafio no uso da radiografia convencional em pediatria é a adequação técnica durante a realização do exame. Crianças frequentemente apresentam dificuldade em permanecer imóveis, o que pode resultar em imagens de baixa qualidade e necessidade de repetição do procedimento, aumentando a exposição à radiação. Técnicas específicas, como a utilização de dispositivos de imobilização e protocolos ajustados de dose baseados nos princípios ALARA, são essenciais para reduzir esses riscos.

Além das preocupações com a radiação, outros fatores limitantes incluem a dificuldade em interpretar alterações sutis em pacientes pediátricos, principalmente em neonatos e lactentes, cujas características anatômicas continuam em desenvolvimento. A interpretação precisa das imagens requer um conhecimento especializado, e erros diagnósticos podem ocorrer devido à variabilidade natural em diferentes faixas etárias.

Apesar dessas limitações, os benefícios da radiografia convencional permanecem significativos. Ela continua sendo uma ferramenta indispensável em emergências médicas e no acompanhamento de condições crônicas que demandam avaliações rápidas e práticas. Além disso, os avanços tecnológicos, como a radiografia digital, têm contribuído para a melhoria na qualidade das imagens e na redução das doses de radiação necessárias.

Portanto, compreender os benefícios e limitações da radiografia convencional no contexto pediátrico é crucial para uma prática clínica responsável e eficiente. A escolha dessa modalidade deve ser pautada no equilíbrio entre a necessidade diagnóstica e a minimização de riscos, utilizando estratégias técnicas e educacionais para proteger a saúde a curto e longo prazo dos pacientes pediátricos.

2.2 – TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

A tomografia computadorizada (TC) revolucionou o diagnóstico por imagem, oferecendo detalhes anatômicos de alta resolução e permitindo a avaliação precisa de várias condições médicas. No contexto pediátrico, a TC desempenha um papel crucial em emergências médicas e no diagnóstico de condições complexas, como traumas crânio-encefálicos, doenças abdominais agudas e infecções pulmonares graves. A capacidade da TC de fornecer imagens tridimensionais em tempo relativamente curto é essencial para populações pediátricas, onde intervenções rápidas são frequentemente necessárias.

No entanto, o uso da TC em crianças exige atenção redobrada devido à exposição à radiação ionizante. Crianças são particularmente sensíveis aos efeitos da radiação, em virtude do rápido desenvolvimento celular e da maior expectativa de vida, aumentando o período de risco para manifestações tardias, como câncer induzido por radiação. Estudos como o conduzido por Brenner e Hall (2007) sugerem que a exposição cumulativa à radiação por TC pode representar um risco significativo em faixas etárias mais jovens, especialmente quando os protocolos de dose não são ajustados adequadamente.

Entre os benefícios da TC, destacam-se sua ampla aplicabilidade e a capacidade de distinguir com precisão diferentes tipos de tecidos. Isso a torna indispensável para avaliar lesões intracranianas, abscessos abdominais e anomalias estruturais que poderiam não ser detectadas por métodos como radiografia convencional ou ultrassonografia. Contudo, essas vantagens são acompanhadas por desafios técnicos. O uso inadequado de parâmetros técnicos ou a realização repetitiva de exames podem aumentar a dose de radiação, comprometendo a segurança do paciente.

Estratégias para mitigar os riscos associados à TC incluem a aplicação do princípio ALARA, que enfatiza a minimização da dose de radiação sem comprometer a qualidade diagnóstica. Além disso, avanços tecnológicos, como o uso de TC de baixa dose e a modulação automática de corrente, têm contribuído para a redução da exposição. Outra abordagem eficaz é o uso criterioso de protocolos específicos para pediatria, ajustados ao tamanho e à idade da criança, juntamente com o treinamento de equipes para práticas seguras e éticas.

Apesar das limitações, a TC continua sendo indispensável em casos onde os benefícios diagnósticos superam os riscos, especialmente em emergências médicas ou quando métodos alternativos não são viáveis. A incorporação de modalidades complementares, como a ultrassonografia e a ressonância magnética, também pode ser considerada para evitar exposições desnecessárias à radiação, promovendo um cuidado mais seguro e eficaz.

Portanto, compreender os benefícios e limitações da TC no contexto pediátrico é fundamental para a tomada de decisões clínicas informadas, equilibrando a necessidade de diagnósticos precisos com a garantia de segurança a longo prazo.

2.3 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

A ressonância magnética (RM) é amplamente reconhecida como uma ferramenta indispensável no diagnóstico por imagem, oferecendo vantagens significativas em relação a outras modalidades, especialmente no contexto pediátrico. Seu principal benefício reside na capacidade de produzir imagens de alta resolução anatômica e funcional sem a utilização de radiação ionizante, tornando-a uma escolha ideal para exames em pacientes pediátricos, cuja sensibilidade aos efeitos adversos da radiação é particularmente elevada.

A RM destaca-se na avaliação de tecidos moles, permitindo a análise detalhada de estruturas neurológicas, musculoesqueléticas, abdominais e cardíacas. No diagnóstico de patologias como tumores cerebrais, malformações congênitas, epilepsias e doenças inflamatórias intestinais, a RM oferece uma precisão diagnóstica superior à de métodos como tomografia computadorizada (TC) e ultrassonografia (US). Além disso, avanços em técnicas como a difusão por tensor e a ressonância funcional ampliaram sua aplicabilidade na avaliação de conexões neurais e na identificação de áreas cerebrais críticas em crianças.

Apesar de suas vantagens, a RM apresenta limitações importantes, especialmente no contexto pediátrico. O tempo prolongado de aquisição de imagens, em comparação com outras modalidades, pode ser um desafio em crianças pequenas ou inquietas, frequentemente necessitando de sedação ou anestesia para garantir a imobilidade durante o exame. Isso não apenas aumenta o risco de complicações, mas também eleva os custos e o tempo necessário para a realização do procedimento.

Outro ponto crítico é o custo elevado e a disponibilidade limitada de equipamentos de RM em muitas regiões, o que pode dificultar seu acesso em situações emergenciais. Além disso, a RM é menos eficiente na avaliação de calcificações e em emergências relacionadas a traumas agudos, onde a TC é frequentemente preferida pela rapidez na obtenção de diagnósticos.

O uso de contraste baseado em gadolínio, comumente utilizado em exames de RM, também merece atenção. Embora geralmente seguro, há preocupações crescentes em relação à retenção residual de gadolínio nos tecidos, especialmente no cérebro, após exames repetidos. Estudos sugerem que, embora os riscos sejam baixos, é necessário um monitoramento cuidadoso e a utilização criteriosa de agentes de contraste em pediatria.

Portanto, embora a RM seja uma modalidade de imagem altamente vantajosa, sua aplicação no contexto pediátrico requer uma abordagem equilibrada que leve em conta as necessidades clínicas específicas, os desafios práticos e os custos envolvidos. Estratégias como a utilização de protocolos adaptados à idade, técnicas de distração e a escolha criteriosa de exames contrastados são essenciais para maximizar os benefícios da RM enquanto se minimizam suas limitações.

2.4 – ULTRASSONOGRAFIA 

A ultrassonografia (US) é uma das modalidades de imagem mais amplamente utilizadas em pediatria devido à sua segurança, ausência de radiação ionizante, portabilidade e custo relativamente baixo. Sua natureza não invasiva e sua capacidade de fornecer imagens em tempo real fazem dela uma ferramenta essencial para a avaliação de pacientes pediátricos, especialmente em condições onde a minimização de riscos e a rapidez do diagnóstico são primordiais.

No contexto pediátrico, a ultrassonografia apresenta benefícios claros, particularmente em avaliações abdominais, musculoesqueléticas, e neurológicas. É amplamente utilizada para o diagnóstico de apendicite, malformações congênitas, displasia do quadril e hidrocefalia, entre outras condições. Sua aplicabilidade em neonatologia também é notável, sendo utilizada para avaliar estruturas intracranianas e cardíacas em recém-nascidos, além de condições como enterocolite necrosante.

Uma das maiores vantagens da ultrassonografia é a ausência de exposição à radiação ionizante, tornando-a ideal para repetidas avaliações em pacientes pediátricos. Além disso, o uso de Doppler colorido permite a avaliação funcional, como fluxo sanguíneo e perfusão tecidual, essencial em casos de anomalias vasculares e doenças cardíacas congênitas. Sua portabilidade e custo reduzido também tornam a US uma opção amplamente acessível, mesmo em ambientes com recursos limitados.

No entanto, a ultrassonografia apresenta limitações significativas. A qualidade da imagem é altamente dependente do operador, o que pode levar a inconsistências nos resultados. Além disso, ela tem limitações na visualização de tecidos profundos ou áreas obscurecidas por gás ou ossos, como no caso do trato gastrointestinal e do crânio adulto. Em emergências traumáticas ou avaliações de patologia ósseas complexas, modalidades como a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) podem ser mais indicadas.

Outro desafio no uso da ultrassonografia é a cooperação do paciente. Crianças muito pequenas ou agitadas podem dificultar a obtenção de imagens de alta qualidade. Estratégias para superar essas dificuldades incluem o uso de técnicas de distração ou sedação leve, dependendo do caso. Avanços tecnológicos têm contribuído para expandir as capacidades da ultrassonografia no contexto pediátrico. Tecnologias como elastografia, que avalia a rigidez dos tecidos, e ultrassonografia com contraste têm mostrado potencial para melhorar a precisão diagnóstica.

No entanto, essas inovações ainda são limitadas por sua disponibilidade e custos mais elevados. Portanto, compreender os benefícios e limitações da ultrassonografia no contexto pediátrico é essencial para o uso racional dessa modalidade. Embora ela seja amplamente vantajosa em muitos casos, sua aplicação deve ser cuidadosamente considerada em conjunto com outras modalidades de imagem para garantir um diagnóstico completo e seguro.

2.5 – MEDICINA NUCLEAR

A medicina nuclear oferece uma abordagem única e indispensável no diagnóstico por imagem, diferindo de modalidades anatômicas tradicionais, como a radiografia e a tomografia computadorizada (TC). Por meio do uso de radiofármacos, essa técnica fornece informações sobre a atividade metabólica, perfusão e função orgânica, sendo particularmente relevante no contexto pediátrico, devido à sua capacidade de identificar alterações funcionais em estágios iniciais, antes mesmo que danos estruturais sejam detectáveis.

Entre as principais aplicações da medicina nuclear em pediatria destacam-se o diagnóstico e o monitoramento de doenças oncológicas, cardíacas, renais e ósseas. Por exemplo, cintilografias ósseas são amplamente utilizadas para detectar metástases, infecções ou processos inflamatórios. No âmbito renal, estudos com radiofármacos como DMSA (ácido dimercaptossuccínico) e MAG3 (ácido mercaptoacetilglicina) desempenham um papel crítico na avaliação de cicatrizes renais, função diferencial e obstruções urinárias.

Uma das vantagens mais significativas da medicina nuclear no contexto pediátrico é sua capacidade de avaliar processos metabólicos e funcionais em estágios iniciais, permitindo intervenções mais precoces e potencialmente mais eficazes. Avanços tecnológicos, como a integração de modalidades híbridas, a exemplo do PET/CT (tomografia por emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada) e PET/MRI (ressonância magnética), também aumentaram a precisão diagnóstica, ao combinar informações funcionais e anatômicas em um único exame.

Apesar de seus benefícios, a medicina nuclear apresenta desafios específicos, particularmente no público pediátrico. O uso de radiação ionizante por meio de radiofármacos é uma preocupação central, devido à maior sensibilidade das crianças aos efeitos estocásticos da radiação. Embora as doses administradas sejam otimizadas e frequentemente inferiores às de outras modalidades, como a TC, o risco de efeitos cumulativos ao longo do tempo exige atenção contínua.

Outro desafio importante é a necessidade de cooperação por parte dos pacientes pediátricos. Os procedimentos em medicina nuclear podem envolver longos períodos de espera entre a administração do radiofármaco e a aquisição das imagens, o que pode dificultar a realização do exame em crianças pequenas ou inquietas. Nesses casos, o uso de técnicas de distração, sedação ou mesmo anestesia leve pode ser necessário, aumentando a complexidade e os custos do procedimento.

A disponibilidade de tecnologia e de profissionais capacitados em medicina nuclear pediátrica também é limitada, especialmente em países em desenvolvimento. A preparação e o manejo dos radiofármacos requerem uma infraestrutura especializada, o que muitas vezes dificulta o acesso a essa modalidade em regiões menos favorecidas.

Portanto, a medicina nuclear desempenha um papel fundamental no diagnóstico e monitoramento de condições pediátricas relacionadas à função e ao metabolismo. Contudo, sua aplicação exige um equilíbrio cuidadoso entre os benefícios clínicos e os riscos potenciais, bem como infraestrutura adequada e profissionais capacitados para atender às necessidades específicas dessa população vulnerável. Essa abordagem cuidadosa garante não apenas a eficácia diagnóstica, mas também a segurança dos pacientes pediátricos.

3 –  RISCOS A CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO

A exposição à radiação ionizante em crianças apresenta riscos significativos que podem se manifestar em diferentes períodos, desde efeitos imediatos a consequências de longo prazo. Essa vulnerabilidade é amplificada pelas características biológicas das crianças, como o rápido crescimento celular e o longo tempo de vida para acumulação de danos. Assim, compreender e mitigar esses riscos é essencial para práticas de radioproteção eficazes no contexto pediátrico.

A curto prazo, os riscos estão associados aos efeitos determinísticos da exposição, que são previsíveis e dependem diretamente da dose recebida. Segundo o relatório BEIR VII (2006), esses efeitos incluem queimaduras na pele, catarata e, em casos extremos, síndrome aguda da radiação, que pode comprometer sistemas vitais, como os hematopoiético e imunológico. Embora raros em exames diagnósticos, que utilizam doses menores, esses eventos podem ocorrer em situações de erro técnico ou falhas operacionais, destacando a necessidade de protocolos rigorosos.

Os efeitos estocásticos, por outro lado, são a principal preocupação em pediatria, devido à relação probabilística com a dose acumulada ao longo do tempo. Estes incluem mutações genéticas e o desenvolvimento de câncer, cujo risco aumenta proporcionalmente à exposição cumulativa. De acordo com o relatório BEIR VII (2006), mesmo doses relativamente baixas de radiação podem aumentar significativamente a probabilidade de câncer infantil e, posteriormente, na vida adulta. Essa sensibilidade é exacerbada pelo longo período de tempo disponível para que mutações malignas se manifestem.

No médio prazo, os riscos incluem alterações celulares que podem predispor ao surgimento de tumores em órgãos sensíveis, como o sistema hematopoiético. A leucemia, por exemplo, é frequentemente identificada como um dos principais tipos de câncer associados à exposição infantil à radiação. Estudos como os de Ron (2003) destacam que o rápido desenvolvimento celular das crianças aumenta a probabilidade de mutações somáticas, favorecendo a proliferação anômala de células e a formação de tumores sólidos.

Em longo prazo, os efeitos tornam-se ainda mais preocupantes. A exposição à radiação durante a infância pode dobrar o risco de desenvolvimento de câncer na vida adulta, como o câncer de tireoide e câncer pulmonar, órgãos reconhecidamente sensíveis às mutações induzidas pela radiação. Estudos longitudinais com sobreviventes de acidentes radiológicos e eventos históricos, como os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, reforçam que crianças expostas apresentam maior incidência de câncer mesmo décadas após a exposição inicial. Segundo Hall e Giaccia (2012), o tempo prolongado para a manifestação de danos permite que células geneticamente alteradas evoluam para mutações malignas, levando ao surgimento de condições graves.

O câncer de tireoide é especialmente alarmante em populações pediátricas. A alta taxa de divisão celular e a maior atividade metabólica desse órgão durante a infância tornam-no particularmente suscetível à radiação ionizante, como observado em estudos conduzidos com sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki. Além disso, o câncer de pulmão representa outro risco significativo, especialmente em crianças expostas precocemente a ambientes com múltiplas fontes de radiação, como a poluição ambiental.

Esses achados enfatizam a necessidade de implementar práticas rigorosas de proteção radiológica em pediatria. Diretrizes internacionais, como as promovidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são essenciais para minimizar os riscos cumulativos e proteger o desenvolvimento saudável das crianças. Conforme Brenner e Hall (2007), práticas eficazes de radioproteção podem não apenas reduzir a probabilidade de doenças graves, mas também prevenir complicações degenerativas na vida adulta.

Em síntese, os riscos da exposição à radiação ionizante em crianças incluem desde efeitos agudos, como reações determinísticas, até consequências de longo prazo, como o desenvolvimento de câncer. Esses dados reforçam a importância de adotar medidas de radioproteção específicas para populações pediátricas, promovendo diagnósticos seguros e minimizando os impactos adversos da radiação.

3.2. ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR OS RISCOS

3.2.1. JUSTIFICAÇÃO DO EXAME

A justificação é o primeiro passo crítico na radioproteção pediátrica. Cada exame deve ser avaliado quanto à sua necessidade clínica, levando em consideração alternativas que não envolvam radiação, como ultrassonografia (USG) ou ressonância magnética (RM). A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta que: “A utilização de técnicas de imagem ionizantes deve ser restringida aos casos em que os benefícios superem claramente os riscos associados, especialmente em populações vulneráveis como crianças” (OMS, 2018).

Neste sentido, médicos e radiologistas devem trabalhar em conjunto para garantir que exames não sejam solicitados desnecessariamente, evitando exposições desnecessárias.

3.2.2. OTIMIZAÇÃO DA DOSE

O princípio ALARA é particularmente importante na pediatria. A otimização da dose envolve ajustar os parâmetros técnicos do equipamento às características da criança. Parâmetros como kVp (kilovoltagem pico) e mAs (miliamperagem-segundo) devem ser calibrados para fornecer imagens de qualidade diagnóstica com a menor dose possível.

De acordo com Frush et al. (2003):

“A otimização em pediatria exige não apenas ajustes técnicos, mas também o desenvolvimento de protocolos específicos para crianças, considerando suas características anatômicas e fisiológicas únicas. A educação continuada dos profissionais é essencial para que as práticas de otimização sejam efetivamente implementadas.”

3.2.3. USO DE DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO

Os dispositivos de proteção, como aventais de chumbo e blindagem para órgãos sensíveis (gônadas, tireoide, etc.), desempenham um papel crucial na radioproteção pediátrica. Esses equipamentos devem ser utilizados sempre que possível para reduzir a exposição direta e a dispersão de radiação em áreas não-alvo.

4. DIRETRIZES INTERNACIONAIS E NACIONAIS

As diretrizes e protocolos de radioproteção pediátrica, promovidos por organizações internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), desempenham um papel essencial na padronização e segurança dos exames radiológicos infantis. Esses protocolos estabelecem orientações que asseguram que a exposição à radiação em crianças seja minimizada e adaptada às especificidades dessa população, reduzindo riscos sem comprometer a eficácia diagnóstica.

As recomendações cobrem uma ampla gama de práticas, desde a calibração precisa dos equipamentos até a modulação individualizada de dose, estabelecendo padrões globais que apoiam práticas seguras em contextos variados (IAEA, 2014).

As diretrizes da AIEA e da OMS incluem recomendações detalhadas que envolvem a calibração dos equipamentos, prática que garante que a dose de radiação administrada seja ajustada à necessidade clínica, principalmente em exames pediátricos, onde a exposição excessiva representa riscos graves para a saúde infantil. Essas normas abordam também técnicas essenciais, como a colimação e o uso de filtros de proteção, que limitam a exposição de áreas sensíveis e protegem tecidos adjacentes não diretamente envolvidos no exame. A colimação é especialmente recomendada em exames de tomografia computadorizada e radiografia pediátrica, onde é possível focar a radiação exclusivamente na área de interesse, reduzindo a dose acumulada em tecidos circundantes e minimizando os riscos cumulativos de exposição (IAEA, 2014).

Um dos documentos mais influentes nesta área, o Radiation Protection in Pediatric Radiology, publicado pela AIEA, reúne as melhores práticas e destaca a importância de um ajuste individualizado da dose, considerando, fatores como idade, peso e área anatômica a ser examinada. Esse ajuste individual é particularmente importante, pois o risco biológico associado à radiação é significativamente maior em crianças do que em adultos. As diretrizes enfatizam o monitoramento contínuo das práticas de radioproteção, promovendo uma abordagem segura e eficiente que prioriza a minimização de riscos e a proteção da saúde infantil (IAEA, 2014).

No Brasil, as normas de radioproteção pediátrica estão alinhadas às recomendações internacionais, mas também apresentam especificidades estabelecidas por órgãos como a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o Ministério da Saúde (MS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

As principais regulamentações incluem:

Resolução RDC no 330/2019 (ANVISA): Estabelece requisitos técnicos para o uso de tecnologias de diagnóstico por imagem, incluindo parâmetros específicos para a proteção radiológica de pacientes pediátricos. Essa norma exige o uso de protocolos ajustados para crianças e promove a utilização de equipamentos calibrados adequadamente.

Norma CNEN NN 3.01 – Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica: Define princípios gerais para a proteção contra radiação, como a justificação, a otimização e a limitação de doses. No contexto pediátrico, a norma reforça a necessidade de justificar a realização de cada exame, garantindo que os benefícios diagnósticos superem os riscos potenciais.

Portaria no 453/1998 (Ministério da Saúde): Ainda em vigor para aspectos específicos, esta portaria dispõe sobre as condições para a realização de exames radiológicos, com destaque para a obrigatoriedade do uso de técnicas de proteção, como a blindagem de salas e o uso de protetores individuais, especialmente em crianças.

Lei no 7.394/1985 e Decreto no 92.790/1986: Regulam a profissão de técnico em radiologia e enfatizam a necessidade de capacitação contínua desses profissionais para garantir a aplicação das melhores práticas em radioproteção, especialmente em contextos pediátricos.

5 – TIPOS DE RADIOPROTEÇÃO

Os aventais de chumbo são amplamente utilizados como barreiras de proteção para minimizar a exposição à radiação espalhada. Estudos demonstram que esses aventais podem reduzir em até 95% a dose de radiação recebida por profissionais e pacientes, dependendo da espessura do chumbo (BRASIL, 2019). Eles são projetados com diferentes níveis de equivalência de chumbo, geralmente variando de 0,25 mm a 0,5 mm, e devem ser escolhidos com base no tipo de procedimento e no nível de exposição esperado.

Segundo a Organização Internacional de Energia Atômica (IAEA),” o uso adequado de aventais de chumbo não só protege os trabalhadores de radiação dispersa, mas também reforça uma cultura de segurança radiológica em serviços de saúde” (IAEA, 2013).

No entanto, a eficácia desses aventais depende de sua manutenção adequada. Estudos alertam para a necessidade de verificações regulares, já que fissuras ou desgastes no material podem comprometer sua eficiência protetiva (SILVA; ALMEIDA, 2021).

O uso de escudos específicos para órgãos sensíveis, como a tireoide e as gônadas, é uma prática recomendada em diretrizes internacionais. Esses escudos são projetados para proteger áreas que possuem maior sensibilidade biológica à radiação ionizante. A tireoide, por exemplo, é particularmente vulnerável devido à sua alta taxa metabólica, tornando-a mais suscetível a danos causados pela radiação. Segundo estudos de Brenner e Hall (2007),” a exposição acumulativa à radiação pode aumentar significativamente o risco de desenvolvimento de câncer em órgãos como a tireoide, especialmente em populações pediátricas”.

Protetores para gônadas são igualmente críticos, uma vez que a exposição dessas áreas pode causar mutações genéticas hereditárias. A utilização de protetores específicos durante exames como radiografias abdominais e pélvicas é altamente recomendada. Um estudo conduzido por Santos e Carvalho (2022) mostrou que “o uso de escudos gonadais reduziu a dose de radiação em até 80%, sem comprometer a qualidade diagnóstica das imagens”.

A literatura reforça que a implementação de dispositivos de proteção física deve ser acompanhada de treinamento adequado dos profissionais de saúde. Isso inclui instruções sobre o posicionamento correto dos escudos e a importância de alinhar essas práticas às diretrizes do Princípio ALARA.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2009):

“A adoção de dispositivos de proteção física é fundamental para minimizar a exposição à radiação em ambientes de saúde. Escudos de proteção e aventais de chumbo, quando usados corretamente, são ferramentas essenciais para reduzir os riscos de complicações associadas à radiação, particularmente em exames frequentes ou de alta intensidade”.

A pesquisa de Silva et al. (2020) também destaca que o uso de tecnologias complementares, como sistemas de modulação de dose, pode potencializar os benefícios da proteção física, permitindo ajustes precisos nas configurações dos equipamentos para reduzir a necessidade de exposição adicional.

6 – CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS

A radioproteção é um componente central, na prática de saúde que utiliza radiação ionizante, especialmente em serviços de diagnóstico por imagem. Para os protocolos serem seguidos adequadamente, é essencial a capacitação contínua dos profissionais envolvidos. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), a educação e o treinamento em radioproteção são considerados prioridades em instituições de saúde, dado o impacto direto na segurança de pacientes e trabalhadores (IAEA, 2013).

A formação básica dos profissionais de saúde, em especial, técnicos e graduandos, frequentemente apresenta lacunas na inclusão de disciplinas voltadas à radioproteção. Como apontam Silva e Almeida (2021),”os currículos de cursos técnicos e de graduação muitas vezes negligenciam aspectos fundamentais de segurança radiológica, deixando os profissionais sub preparados para enfrentar as exigências normativas e tecnológicas da área”. Essa formação insuficiente é frequentemente complementada por treinamentos oferecidos por instituições de saúde e associações profissionais, os quais visam capacitar os trabalhadores de forma contínua e prática.

No Brasil, a RDC no 330/2019 da ANVISA estabelece normas rigorosas para a capacitação de profissionais envolvidos em procedimentos radiológicos, reforçando a obrigatoriedade de treinamentos periódicos para garantir a conformidade com padrões de segurança e qualidade. Conforme a regulamentação, a capacitação deve incluir tanto o uso correto dos equipamentos quanto a gestão dos riscos associados à exposição à radiação.

A educação permanente é apontada na literatura como um dos pilares fundamentais para manter padrões elevados de qualidade em radioproteção. Estudos de Santos e Carvalho (2022) destacam que “os treinamentos regulares, aliados a auditorias internas, não apenas reduzem a dose de radiação recebida pelos pacientes, mas também aumentam a eficiência no diagnóstico por imagem”. Programas de capacitação contínua abordam o uso de tecnologias avançadas, técnicas de colimação, modulação de dose e protocolos otimizados. Especial atenção deve ser dada à radioproteção pediátrica, na qual a aplicação do princípio ALARA  é essencial.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2009):

“A capacitação contínua dos profissionais de radiologia é considerada um componente central para a aplicação eficiente dos protocolos de radioproteção pediátrica, assegurando que o Princípio ALARA seja rigorosamente cumprido. Profissionais bem treinados são capacitados para ajustar adequadamente os parâmetros de exposição, aplicar técnicas de colimação e utilizar a modulação de dose de forma criteriosa e segura, adaptando-se às particularidades de cada paciente pediátrico”.

Essa abordagem enfatiza a importância de personalizar os parâmetros de imagem com base na idade e no peso da criança, assegurando que a dose de radiação seja a mínima necessária para obter imagens diagnósticas de qualidade. Brenner e Hall (2007) reforçam que “profissionais capacitados aplicam as técnicas de redução de dose com maior rigor e segurança, o que tem impacto direto na proteção da saúde das crianças durante exames radiológicos”.

Além da capacitação técnica, a habilidade de comunicação com pacientes e seus responsáveis é fundamental, especialmente em exames pediátricos. Como enfatizam Silva et al. (2020),”profissionais bem treinados conseguem transmitir informações sobre riscos e benefícios da radiação de forma clara e acessível, contribuindo para a redução da ansiedade dos pacientes e de seus familiares”. Essa comunicação efetiva é uma ferramenta crucial para promover a confiança no processo de diagnóstico e reforçar a adesão às práticas de segurança.

Programas de educação contínua, que incluem treinamento em técnicas de ajuste de dose, uso de filtros de proteção e colimação, são fundamentais para o controle da exposição. Tecnologias de modulação automática de dose, por exemplo, têm sido amplamente adotadas como uma das melhores práticas no controle da exposição à radiação (Brenner & Hall, 2007). Estudos indicam que a implementação de programas de treinamento específicos resulta em uma redução significativa da dose de radiação, sem comprometer a qualidade diagnóstica.

Além disso, treinamentos regulares ajudam a criar uma cultura de segurança dentro das instituições, na qual todos os profissionais, desde técnicos até médicos radiologistas, estão alinhados às melhores práticas. Esse alinhamento contribui não apenas para a proteção de pacientes e trabalhadores, mas também para a melhoria contínua dos serviços de saúde.

7. CONCLUSÃO

Os principais achados deste estudo reforçam a importância da radioproteção pediátrica como uma prática indispensável para mitigar os riscos da exposição à radiação ionizante em crianças. A revisão sistemática evidenciou que os efeitos estocásticos e determinísticos da radiação, como mutações genéticas e desenvolvimento de câncer, são particularmente preocupantes na população pediátrica, devido à sua maior sensibilidade biológica e expectativa de vida mais longa, fatores que aumentam a probabilidade de danos acumulados ao longo do tempo.

Os principais achados deste estudo reforçam a importância da radioproteção pediátrica como uma prática indispensável para mitigar os riscos da exposição à radiação ionizante em crianças. A revisão sistemática evidenciou que os efeitos estocásticos e determinísticos da radiação, como mutações genéticas e desenvolvimento de câncer, são particularmente preocupantes na população pediátrica, devido à sua maior sensibilidade biológica e expectativa de vida mais longa, fatores que aumentam a probabilidade de danos acumulados ao longo do tempo.

Os principais achados deste estudo reforçam a importância da radioproteção pediátrica como uma prática indispensável para mitigar os riscos da exposição à radiação ionizante em crianças. A revisão sistemática evidenciou que os efeitos estocásticos e determinísticos da radiação, como mutações genéticas e desenvolvimento de câncer, são particularmente preocupantes na população pediátrica, devido à sua maior sensibilidade biológica e expectativa de vida mais longa, fatores que aumentam a probabilidade de danos acumulados ao longo do tempo.

Entre as estratégias mais eficazes identificadas, destaca-se a aplicação do princípio ALARA, que preconiza a minimização da dose de radiação sem comprometer a qualidade diagnóstica. Práticas como o ajuste dos parâmetros técnicos de equipamentos, o uso de dispositivos de proteção específicos para crianças e a adoção de tecnologias avançadas, como tomografia de baixa dose e modalidades não ionizantes, são essenciais para reduzir a exposição desnecessária. Adicionalmente, diretrizes internacionais da AIEA e OMS, aliadas às regulamentações nacionais, fornecem bases sólidas para a padronização de práticas seguras.

A relevância prática desse estudo reside na necessidade de consolidar a radioproteção pediátrica como prioridade nos serviços de saúde. A capacitação contínua dos profissionais de radiologia e o uso criterioso de exames ionizantes são elementos-chave para garantir a segurança dos pacientes pediátricos. Ao promover a adoção de protocolos específicos, a radiologia pediátrica avança na direção de um cuidado mais seguro e eficaz, contribuindo para a proteção da saúde infantil e a melhoria da qualidade dos serviços diagnósticos.

9 REFERÊNCIAS

Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA). Radiation Protection in Pediatric Radiology. Vienna: IAEA, 2014.

Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

BEIR VII. Health Risks from Exposure to Low Levels of Ionizing Radiation. National Academies Press, 2006.

Booth, A., Papaioannou, D., & Sutton, A. Systematic Approaches to a Successful Literature Review. Sage Publications, 2016.

Brenner, D. J., & Hall, E. J. (2007). Computed tomography—an increasing source of radiation exposure. New England Journal of Medicine, 357(22), 2277-2284.

Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Norma CNEN NN 3.01 – Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica. Brasília, 2014.

Creswell, J. W. Research Design: Qualitative, Quantitative, and Mixed Methods Approaches. Sage Publications, 2014.

Flick, U. An Introduction to Qualitative Research. Sage Publications, 2009.

Frush, D. P., Donnelly, L. F., & Rosen, N. S. (2003). Computed tomography and radiation risks: what pediatric health care providers should know. Pediatrics, 112(4), 951-957.

Hall, E. J., & Giaccia, A. J. Radiobiology for the Radiologist. 7th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2012.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Who guidelines on radiation protection and safety in medical uses of ionizing radiation. Geneva: OMS, 2018.

Organização Mundial da Saúde (OMS). Communicating Radiation Risks in Paediatric Imaging: Information to Support Healthcare Discussions about Benefit and Risk. Geneva: OMS, 2009.

Ron, E. (2003). Cancer risks from medical radiation. Health Physics, 85(1), 47-59.

Santos, M., & Carvalho, R. A. (2022). A eficácia dos escudos gonadais na radioproteção pediátrica: uma análise prática. Revista Brasileira de Radiologia, 54(1), 34-42.

Silva, L. A., & Almeida, R. F. (2021). Lacunas na formação de profissionais da saúde sobre radioproteção. Journal of Health Studies, 12(3), 45-52.

Silva, T. R., et al. (2020). Modulação de dose e proteção radiológica na prática pediátrica. Radiology Today, 18(2), 110-123.

Portaria nº 453, de 1º de junho de 1998. Diretrizes de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico. Ministério da Saúde, Brasília, 1998.

Resolução RDC nº 330, de 20 de dezembro de 2019. Regulamento Técnico para o Uso de Equipamentos de Radiologia Diagnóstica e Intervencionista. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Brasília, 2019.

Lei nº 7.394, de 29 de outubro de 1985. Regulamenta a Profissão de Técnico em Radiologia. Brasília: Presidência da República.

Decreto nº 92.790, de 17 de junho de 1986. Regulamenta a Lei nº 7.394, de 1985. Brasília: Presidência da República.


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