RADIOFREQUÊNCIA NÃO ABLATIVA NO TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8333259


Amanda Fontes Lins¹
Débora Matias Dos Santos ²
Mariana Robatto Dantas Leal³


RESUMO

Objetivo: Revisar a literatura a respeito da eficiência da terapia por radiofrequência não ablativa nas disfunções do assoalho pélvico. Métodos: a busca por artigos científicos foi realizada nas bases de dados Público/editora MEDLINE (PubMed), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), sendo selecionados trabalhos publicados no período de 2016 a 2022 que abordavam o uso da radiofrequência não ablativa no tratamento das disfunções do assoalho pélvico. Resultados: a pesquisa resultou no achado de 498 artigos; destes, apenas 10 condiziam com o objetivo e metodologia deste estudo. Foi abordada a radiofrequência no tratamento da incontinência urinária pós cirurgia de prostatectomia radical, na incontinência urinaria de esforço em mulheres, nos sintomas da síndrome geniturinária da menopausa, na flacidez vaginal, estética íntima e função sexual; na disfunção orgástica, atrofia vulvar e nas alterações clínicas e histológicas do tecido vulvovaginal. Conclusão: a terapia por radiofrequência não ablativa utilizada no tratamento das disfunções do assoalho pélvico mostrou resultados positivos, com baixos efeitos colaterais ou adversos. Tendo ocorrido relatos de satisfação com o tratamento pela maioria dos pacientes avaliados.

Palavras-chave: terapia por radiofrequência, distúrbios do assoalho pélvico, incontinência urinaria, disfunções sexuais fisiológicas, estética.

ABSTRACT

Objective: To review the literature on the efficiency of non-ablative radiofrequency therapy in pelvic floor dysfunctions. Methods: the search for scientific articles was carried out in the database Public/publisher MEDLINE (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS) and Virtual Health Library (VHL), published papers from 2016 to 2022 that addressed the use of non-ablative radio frequency in the treatment of pelvic floor dysfunctions. Results: the research resulted in the finding of 498 articles, of which only 10 were in agreement with the objective and methodology of this study and were included. They address radiofrequency in the treatment of urinary incontinence after radical prostatectomy surgery, incontinence of exertion urination in women, in the symptoms of genitourinary menopausal syndrome, in vaginal sagging, in vaginal sagging and sexual function, aesthetics and sexual function, orgasmic dysfunction, vulvar atrophy and clinical and histological changes in vulvovaginal tissue. Conclusion: the non-ablative radiofrequency therapy used in the treatment of pelvic floor dysfunctions showed positive results with low side or adverse effects. There were reports of satisfaction with the treatment by the majority of the patients evaluated.

Keywords: radiofrequency therapy, pelvic floor disorders, urinary incontinence, physiological sexual dysfunctions, aesthetics.

1 INTRODUÇÃO

A pelve humana oferece proteção/suporte às vísceras, resistência ao aumento da pressão intra-abdominal e fixação de músculos. Formada pelos ossos do quadril (ílio, ísquio e púbis), sacro e cóccix, é dividida em pelve maior (falsa), onde se situam os órgãos abdominais; e pelve menor (verdadeira) onde se encontram o reto, bexiga e o sistema genital. A pelve possui duas articulações: sínfise púbica e sacroilíaca; e três paredes: laterais, posterior e inferior, sendo esta última formada por músculos, fáscias e tendões que compõem o assoalho pélvico. A Musculatura do Assoalho Pélvico (MAP) é formada pelos músculos do diafragma pélvico, períneo e pelos músculos da região anal (DANGELO & FATTINI, 2007).

O termo “Disfunção do Assoalho Pélvico” (DAP) abrange todas as disfunções ligadas ao assoalho pélvico; são elas: incontinência urinária (IU), incontinência fecal ou de flatos, prolapsos genitais, disfunções sexuais masculinas e femininas, dor pélvica, dentre outras (GONZÁLEZ-GUTIÉRREZ et al., 2022; STEIN et al., 2019).

Com base em pesquisa realizada nos Estados Unidos (EUA), Hallock e Handa (2016) informaram que 23,7% das mulheres apresentam no mínimo uma DAP, sendo esse valor duplicado nas mulheres com 80 anos ou mais. Salientaram também que as DAP costumam coexistir, ou seja, há manifestação de mais de um distúrbio.

A fisioterapia pélvica, opção conservadora de primeira linha para o tratamento, atua nas disfunções que acometem o assoalho pélvico através do Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP), que trabalha fortalecimento, relaxamento e coordenação da musculatura pélvica, por meio do biofeedback, eletroestimulação, dilatadores, cones vaginais, terapia manual, exercícios globais, dentre outros. Há também um outro recurso que vem sendo muito utilizado dentro da fisioterapia: a radiofrequência (RF) (STEIN et al., 2019; WALLACE et al., 2019)

A RF não ablativa surge na fisioterapia pélvica como uma abordagem inovadora no tratamento de algumas DAP como a IU, Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM), Flacidez Vulvovaginal (FVV), dentre outras. Este recurso provoca um efeito diatérmico no tecido, gerando relaxamento muscular, vasodilatação, melhora da oxigenação e nutrição; retração do colágeno existente no tecido e posteriormente ativação dos fibroblastos iniciando o processo de neocolagênese, melhorando a resistência e integridade tecidual (GONZÁLEZ-GUTIÉRREZ et al., 2022; PINHEIRO et al., 2021; VIEIRA, 2016).

O mecanismo de ação da RF se apresenta na conversão de energia eletromagnética em efeito térmico por meio da mobilização iônica e molecular. O aumento da temperatura, originado da passagem da radiofrequência pelo tecido, produz alguns fenômenos: vibração iônica, rotação das moléculas dipolares e distorção molecular que convertem a energia elétrica em calor (VIEIRA, 2016).

Quando o organismo identifica uma temperatura maior que a fisiológica, causada pela aplicação da RF, há no tecido um aumento da circulação sanguínea, ocorrendo ganhos na sua nutrição, oxigenação e nos oligoelementos tissulares, melhorando também o trofismo tissular e a reabsorção do excesso de líquidos intracelulares (drenagem), além da estimulação dos fibroblastos que induz à síntese de colágeno (neocolagênese) (FROES et al., 2011; VIEIRA, 2016).

Indivíduos acometidos com alguma DAP, independente do grau de manifestação dos sintomas, sofrem repercussões na sua condição física de saúde, na função cognitiva, satisfação sexual, nas atividades do cotidiano, bem-estar emocional e vida em família, impactando o seu psicológico e convívio social (STEIN et al., 2019). Diante de tais impactos na qualidade de vida do indivíduo, e da novidade da terapia por RF não ablativa no tratamento das DAP, se faz necessário observar se há estudos que corroborem com sua aplicabilidade. Sendo assim, o objetivo deste estudo é revisar a literatura a respeito da eficiência da terapia por RF não ablativa nas DAP.

2 MÉTODOS

O presente estudo é uma revisão narrativa da literatura. A busca por artigos científicos foi realizada nas bases de dados Público/editora MEDLINE (PubMed), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Sendo executada de forma padronizada, pela utilização de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), nas línguas portuguesa e inglesa: “Terapia por Radiofrequência”/ “Radiofrequency Therapy”, “Distúrbios do Assoalho Pélvico”/ “Pelvic Floor Disorders”, “Incontinência Fecal”/ “Fecal Incontinence”, “Incontinência Urinaria”/ “Urinary Incontinence”, “Disfunções Sexuais Fisiológicas”/ “Sexual Dysfunction, Physiological”, “Vaginismo”/ “Vaginismus”, “Dispareunia”/ “Dyspareunia” e “Estética”/ “Esthetics”.

Foram analisados artigos publicados no período de 2016 a 2022, que estavam completos e abordaram o uso da RF não ablativa no tratamento das DAP; e excluídos aqueles que apresentaram texto incompleto, cartas ao leitor, sem datas, revisões de literatura, que relataram cirurgias ou a soma de outras terapias como parte do tratamento e que fugiram do conteúdo proposto.

Os achados passaram por um sistema de seleção inicial pela leitura dos títulos, dos resumos e, por fim, a leitura completa dos estudos. Os resultados foram expressos em quadro, contendo: autor/ano/título do artigo, revista, objetivo, metodologia, resultados e conclusão.

3 RESULTADOS

Após busca combinada do descritor “Terapia por Radiofrequência e (demais descritores)”, realizada nas bases de dados descritas na metodologia, foram encontrados 498 artigos. Destes, 36 foram pré-selecionados pela leitura dos títulos, sendo 15 a quantidade final de estudos escolhidos para leitura dos resumos. Esses achados foram destrinchados na Figura 1 e na Figura 2.

Figura 1 – Fluxograma com quantidade de artigos achados, pré-selecionados e selecionados em cada combinação de descritores na base de dados PubMed.

Figura 2 – Fluxograma com quantidade de artigos achados, pré-selecionados e selecionados em cada combinação de descritores na base de dados BVS.

Não houve achados na base de dados SciELO, sendo encontrado apenas 1 achado na LILACS, 240 na PubMed e 258 na BVS. Após seleção final dos 16 estudos, foram identificadas 6 duplicações que foram excluídas, restando assim 10 trabalhos a serem lidos por completo e revisados nesta pesquisa: 1 abordou a radiofrequência no tratamento da IU pós cirurgia de prostatectomia radical, 1 na IU de esforço em mulheres, 1 nos sintomas da SGM, 1 na flacidez vaginal, 2 na flacidez vaginal e função sexual, 1 na estética e função sexual, 1 na disfunção orgástica, 1 na atrofia vulvar e 1 nas alterações clínicas e histológicas do tecido vulvovaginal. Eles encontram-se expostos no Quadro 1.

Quadro 1 – Descrição dos estudos inclusos na pesquisa.

Autor/ano/título do artigoRevistaObjetivoMetodologiaResultadosConclusão
Sodré, D.S.M. et al., 2019. New concept for treating urinary incontinence after radical prostatectomy with radiofrequency: phase 1 clinical trial.Lasers in Medical ScienceApresentar resultados clínicos e os efeitos adversos de uma RF endoanal não ablativa para o tratamento da incontinência urinária pós prostatectomia radical, e se há alteração da Qualidade de Vida (QV) em curto prazo após a aplicação da técnica.Trata-se de um ensaio clínico de fase 1 com 10 homens de até 65 anos que apresentaram incontinência urinária pós prostatectomia radical, volume residual pós-miccional < 50 ml verificado por ultrassonografia, teste do absorvente ≥ 1 g e PSA < 0,2 ng/ml. Teste do absorvente e questionários auto administrados foram usados ​​para avaliar a resposta clínica. Escalas foram usadas para medir a satisfação do tratamento e melhora dos sintomas. Os participantes foram submetidos a cinco sessões de 2 min de radiofrequência endoanal não ablativa (41°C). Os desfechos coprimários avaliados foram: volume de IU e sintomas urinários, analisados ​​pelo teste não paramétrico de Wilcoxon; volume residual e autorrelatos para avaliar a segurança.Ao final das cinco sessões de radiofrequência, 9 pacientes apresentaram diminuição nos escores do teste do absorvente e três apresentaram resolução completa da perda urinária. A avaliação do impacto da IU na QV, com base no questionário ICIQ-SF, mostrou diminuição na mediana, mas em valores não significativos do escore. O sintoma de enchimento vesical por meio do questionário ICIQ-OAB encontrou uma diminuição significativa do escore.            O tratamento mostrou diminuição da perda urinária e dos sintomas de enchimento vesical. Participantes indicaram estarem satisfeitos ou muito satisfeitos com o tratamento inovador, apesar de não ter sido indicada mudança significativa em sua QV. A dor durante a inserção do eletrodo no ânus foi o único efeito adverso encontrado. Os resultados são animadores, mas é necessário realizar um estudo clínico randomizado para demonstrar a eficácia da técnica nesse grupo-alvo específico.
Lordelo, P. et al., 2017. New concept for treating female stress urinary incontinence with radiofrequency.  International Brazilian Journal of UrologyAvaliar a resposta clínica e os efeitos adversos da radiofrequência em meato uretral no tratamento da incontinência urinária de esforço em mulheres.Este estudo de fase 1 incluiu dez mulheres com IU de esforço. A avaliação consistiu no Pad Test de 1 hora, para quantificar a perda de urina, e no grau de satisfação do procedimento por meio da escala de Likert. Para avaliar a segurança, foi observado o número de efeitos colaterais referidos. A técnica foi realizada em 5 sessões, de frequência semanal, pelo tempo de 2 minutos a partir do alcance de temperatura alvo entre 39 a 41°C, aplicada no meato uretral externo.Na avaliação do Pad Test final, 70% apresentaram redução e 30% piora da perda urinária. Utilizando o Pad Test um mês depois, houve redução da IU em todos os pacientes. O grau de satisfação foi de 90% e não foram observados efeitos colaterais. Uma paciente relatou sensação de queimação.Os resultados preliminares parecem promissores. No entanto, para aumentar a validade do estudo, são necessários ensaios clínicos maiores. Esse estudo mostrou que o tratamento da incontinência urinária de esforço com radiofrequência no meato uretral não apresentou efeitos adversos e reduziu a perda urinária em mulheres.
Pinheiro, C. et al., 2021. Intravaginal nonablative radiofrequency in the treatment of genitourinary syndrome of menopause symptoms: a single-arm pilot study.BMC Womens HealthDescrever a resposta clínica à secura vaginal, dor durante a atividade sexual, flacidez vaginal, coceira vaginal, sensação de queimação, dor na abertura vaginal, IU, disfunção sexual, alterações citológicas e efeitos adversos da RF não ablativa em pacientes com SGM.Este estudo piloto de braço único incluiu 11 mulheres diagnosticadas com SGM e menopausa estabelecida. Foram excluídas pacientes com início de reposição hormonal há seis meses, que faziam uso de marcapasso ou apresentavam metais na região pélvica. Foram utilizadas medidas subjetivas (escala de classificação numérica de sintomas, Índice de Saúde Vaginal-VHI) e medidas objetivas (índice de maturação vaginal (VMI), pH vaginal, função sexual pelo FSFI e função urinária pelo ICIQ-SF). Uma escala Likert mediu o grau de satisfação com o tratamento. Foram realizadas cinco sessões de RF monopolar não ablativa (41°C) com intervalo de uma semana entre cada aplicação utilizado eletrodo ativo intracavitário. Toda a avaliação foi realizada antes do tratamento, um mês e três meses após o mesmo. Os efeitos adversos foram avaliados durante o tratamento e em 1 e 3 meses após.Os sintomas e/ou sinais foram reduzidos após o tratamento na maioria das pacientes. Nove pacientes estavam satisfeitas e duas muito satisfeitas 1 mês após as sessões. O tratamento foi bem tolerado e não foram observados efeitos adversos. Houve melhora da função sexual e da função urinária.A RF intravaginal reduziu os sintomas clínicos de SGM na maioria das pacientes, especialmente após 1 mês das sessões, e as mulheres relataram satisfação com o tratamento. A técnica não apresentou efeitos adversos, e houve efeitos positivos na função sexual e urinária.
Kim, J. H. et al., 2020. Pilot study of radiofrequency thermal therapy performed twice on the entire vaginal wall for vaginal laxity.European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive BiologyAvaliar a eficácia e segurança da terapia térmica por RF realizada duas vezes em toda a parede vaginal em mulheres com flacidez vaginal.Este foi um ensaio clínico aberto de braço único realizado em um hospital terciário na República da Coreia de julho de 2018 a janeiro de 2019. Mulheres adultas não grávidas com flacidez vaginal, definida como pontuação ≤ 3 no VLQ, foram recrutadas. A terapia térmica por RF consistiu em 2 sessões, com 3 semanas de intervalo entre elas. A temperatura inicial foi de 40°C progredindo a não mais que 45°C. A partir da parede vaginal superior na posição de 12 horas, toda a parede vaginal foi esfregada lentamente com uma sonda vaginal aquecida por 20 minutos. Após a 2º sessão de terapia térmica por RF, as pacientes tiveram visitas de acompanhamento em 4 e 12 semanas, e alterações na pontuação VLQ, pontuação do FSFI, pontuação da FSDS, pressão vaginal em repouso e durante manobra de Valsalva e eventos adversos emergentes do tratamento foram examinados.Trinta indivíduos foram inscritos, mas 28 foram avaliados para medições de eficácia. A terapia térmica por RF melhorou a pontuação VLQ, pontuação FSFI e pontuação FSDS; no entanto, a pressão vaginal não aumentou. O efeito da terapia térmica por RF atingiu o pico no seguimento de 4 semanas e estabilizou na semana 12. Nenhum efeito adverso foi observado, exceto dor vaginal transitória de grau 1.A terapia térmica por RF realizada duas vezes em toda a parede vaginal mostrou perfil promissor de eficácia e segurança e tem mérito para investigação adicional.
Krychman, M. et al., 2017. Effect of Single-Treatment, Surface-Cooled Radiofrequency Therapy on Vaginal Laxity and Female Sexual Function: The VIVEVE I Randomized Controlled Trial.  The Journal of Sexual MedicineAvaliar a eficácia e segurança da terapia de RF monopolar refrigerada à superfície para o tratamento da flacidez vaginal no estudo VIVEVE I.O estudo VIVEVE I foi um estudo prospectivo, randomizado, simples-cego e controlado por simulação. Nove centros de estudo no Canadá, Itália, Espanha e Japão participaram. As mulheres que apresentavam flacidez vaginal foram rastreadas e o consentimento informado foi obtido. Os principais critérios de inclusão do estudo foram estado pré-menopausa, idade de pelo menos 18 anos, pelo menos um parto vaginal a termo e resultados de exame genito-pélvico normais. Indivíduos inscritos foram randomizados para receber terapia de RF monopolar refrigerada à superfície (Ativo [90 J/cm²] vs Simulação [1 J/cm²], respectivamente) entregue ao tecido vaginal. Foi realizada uma única sessão de RF.Ausência de frouxidão vaginal foi relatada por 43,5% e 19,6% das participantes nos grupos Ativo e de Simulação, respectivamente. As diferenças nos escores totais do FSFI e FSDS-R (Ativo vs Simulação) foram de 1,8 e -2,42, respectivamente, em favor do tratamento Ativo. Eventos adversos ao tratamento foram relatados por 11,1% e 12,3% dos indivíduos nos braços Ativo e Simulação, respectivamente.Um único tratamento de terapia de RF monopolar refrigerada à superfície mostrou-se seguro e associado à melhora da flacidez vaginal e da função sexual. Os resultados deste estudo apoiam o uso de uma nova terapia não cirúrgica para a flacidez vaginal.
Krychman, M. et al., 2018. Effect of Single-Session, Cryogen-Cooled Monopolar Radiofrequency Therapy on Sexual Function in Women with Vaginal Laxity: The VIVEVE I Trial.Journal of Womens HealthAvaliar o impacto da terapia de RF monopolar refrigerada por criogênio (CMRF), para o tratamento da flacidez vaginal, nos domínios da função sexual incluídos no FSFI.O ensaio clínico VIVEVE I foi prospectivo, randomizado, simples-cego e controlado por Simulação. Nove centros de estudos clínicos no Canadá, Itália, Espanha e Japão foram incluídos. Esta subanálise incluiu mulheres na pré-menopausa com frouxidão vaginal autorrelatada que tiveram ≥1 parto vaginal a termo e um escore total FSFI inicial ≤26,5, indicando disfunção sexual. Indivíduos inscritos foram randomizados para receber terapia CMRF [Ativa (90 J/cm²) vs. Simulação (≤1 J/cm²)] aplicada no tecido vaginal. Foi realizada uma única sessão de RF. Análises independentes foram conduzidas para cada domínio FSFI para avaliar tanto a mudança média, bem como a mudança clinicamente importante para indivíduos tratados com Ativo vs Simulação aos 6 meses após a intervenção.Indivíduos randomizados para tratamento ativo tiveram melhora maior do que indivíduos do grupo simulação em todos os domínios da função sexual do FSFI aos 6 meses pós-intervenção. A análise da mudança de covariância das análises de linha de base mostrou melhorias estatisticamente significativas, em favor do tratamento ativo, para excitação sexual, lubrificação e orgasmo. Além disso, o tratamento ativo foi associado a melhorias clinicamente importantes e estatisticamente significativas no desejo sexual, excitação e orgasmo.Esta subanálise mostrou que a terapia com CMRF está associada a melhorias estatisticamente significativas e clinicamente importantes na função sexual em mulheres com flacidez vaginal.
Lordelo, P. et al., 2016. Radiofrequency in female external genital cosmetics and sexual function: randomized clinical trial.International Urogynecology JournalAvaliar as respostas clínicas à RF não ablativa em termos de seu resultado cosmético na genitália externa feminina e seu efeito na função sexual.Um estudo controlado randomizado de mascaramento único foi realizado em 43 mulheres (29 sexualmente ativas) que estavam insatisfeitas com a aparência de sua genitália externa. As mulheres foram divididas em um grupo RF e um grupo controle. Oito sessões de RF foram realizadas uma vez por semana em região de grandes lábios vaginais, com temperatura de 39-41°C, pelo tempo de 2 minutos após atingir a temperatura alvo. As fotografias foram avaliadas pelas mulheres e três profissionais de saúde cegos por meio de duas escalas Likert de 3 pontos. A função sexual foi avaliada pelo FSFI. A satisfação das mulheres e a avaliação dos profissionais de saúde foram analisadas pelo teste do chi-square e comparações binomiais inter e intragrupos.As taxas de resposta de satisfação foram de 76% e 27% para os grupos RF e controle, respectivamente. Todos os profissionais encontraram associação de melhora clínica no grupo tratado com RF em comparação ao grupo controle. A pontuação geral da função sexual do FSFI aumentou 3,51 pontos no grupo RF vs 0,1 pontos no grupo controle.A RF é uma alternativa para obtenção de resultado cosmético para a genitália externa feminina, com mudanças positivas na satisfação das pacientes e nos escores do FSFI.
Alinsod, R. M., 2016. Transcutaneous temperature controlled radiofrequency for orgasmic dysfunction.Lasers in Surgery and Medicine.Avaliar a segurança, tolerabilidade e eficácia clínica da RF Transcutânea com Temperatura Controlada (TTCRF) no tecido vulvovaginal para disfunção orgástica.Foram incluídas 25 mulheres sexualmente ativas, com idades entre 21 e 65 anos e dificuldade autorrelatada em atingir orgasmos durante o intercurso sexual. Cada paciente recebeu 3 sessões com intervalos de cerca de 1 mês. O tratamento foi realizado com uma sonda fina em forma de S com um emissor de RF de metal do tamanho de um selo em uma superfície da ponta (tempo total médio de 25 minutos). O tratamento externo abrangeu os lábios maiores e menores, monte inferior do púbis, corpo perineal e capuz do clitóris. Foi realizado tratamento completo da vagina com concentração na parede anterior. A temperatura do tecido durante a terapia foi elevada e mantida entre 40°C e 45°C.Vinte e três das 25 pacientes relataram uma redução média no tempo até o orgasmo de 50%. As pacientes também notaram efeitos significativos de aperto vaginal, aumento da umidade vaginal e melhora da sensibilidade vulvar e clitoridiana. Todos as pacientes anorgásmicas relataram a capacidade de atingir orgasmos. Duas pacientes tiveram resposta mínima.O TTCRF é uma opção não hormonal e não cirúrgica, eficaz para mulheres com dificuldade em atingir o orgasmo. O tratamento também demonstrou efeitos visíveis de estreitamento nos tecidos femininos e pareceu aumentar o fluxo sanguíneo local, resultando em aumento da tensão e umidade vaginal.
Fasola, E.; Bosoni, D., 2019. Dynamic quadripolar radiofrequency: pilot study of a new high-tech strategy for prevention and treatment of vulvar atrophy.Aesthetic Surgery JournalRealizar avaliações qualitativas e semiquantitativas de mudanças de curto prazo na estética vulvar para ilustrar a eficácia de um programa de rejuvenescimento vulvar pela terapia com RF quadripolar dinâmica acelerado em mulheres com atrofia vulvar leve a moderada.Vinte mulheres com atrofia vulvar leve a moderada foram prospectivamente triadas e avaliadas. Fotografias em série documentaram o impacto estético da terapia com RF quadripolar dinâmica na área vulvar durante o período de estudo de 2 meses. O tratamento ocorreu em 3 sessões de 10 minutos cada, com intervalo de 7 a 10 dias entre elas, utilizando eletrodos em contato com a pele dos grandes lábios, e temperatura alvo de 42°C. A melhora estética geral foi classificada em uma Escala de Melhoria Estética Global modificada para criar uma ferramenta de classificação semiquantitativa de 10 pontos.Todas as mulheres foram submetidas com sucesso a 3 procedimentos de RF quadripolar dinâmica com intervalo de 7 a 10 dias. Os sinais e sintomas de atrofia vulvar e a gama de julgamentos estéticos da área vulvar foram melhorados na maioria das mulheres após a primeira sessão de RF quadripolar dinâmica, e as melhoras observadas na estética vulvar tiveram significativa persistência 1 mês após o término do programa de rejuvenescimento. Não ocorreram complicações ou efeitos colaterais.A melhora dos sinais e sintomas da atrofia vulvar pelo rejuvenescimento dos grandes lábios por RF quadripolar dinâmica, confirma a eficácia e segurança deste procedimento ambulatorial tecnicamente simples. Em mulheres com atrofia leve a moderada, um programa de rejuvenescimento rápido de sessões espaçadas obteve melhorias significativas.
Wilson, M. J. V. et al., 2018. Histologic and clinical changes in vulvovaginal tissue after treatment with a transcutaneous temperature controlled radiofrequency device.American Society for Dermatologic SurgeryAvaliar alterações clínicas e histológicas induzidas pela RF transcutânea com temperatura controlada no tecido vulvovaginal.Este foi um estudo prospectivo e não randomizado. Dez mulheres com flacidez vulvovaginal (FVV) leve a moderada, com ou sem vaginite atrófica, disfunção orgásmica e/ou IU de esforço foram submetidas a 3 sessões de RF transcutânea, com intervalo de 4 semanas entre elas, pelo tempo de 30 minutos e a temperatura alvo de 42°C a 45°C, com a energia sendo aplicada no canal vaginal, grandes e pequenos lábios. Cinco participantes foram submetidas a biópsias pré e pós-tratamento dos grandes lábios e canal vaginal para histologia. As avaliações foram realizadas na linha de base e nos dias 10, 30, 60 e 120.A FVV avaliada melhorou significativamente desde a linha de base até o dia 10, com melhora mantida até o dia 120. A satisfação sexual melhorou significativamente no dia 60. A melhora na vaginite atrófica atingiu significância no dia 120. Embora a disfunção orgásmica e IU de esforço tenham melhorado de forma constante, a diferença na melhora não atingiu significância estatística. A histologia revelou que o pós-tratamento aumentou o colágeno, elastina, vascularização e pequenas fibras nervosas.O rejuvenescimento vaginal com a RF transcutânea com temperatura controlada mostrou melhorias significativas na vaginite atrófica, FVV e satisfação sexual sem eventos adversos. Melhorias mais leves em disfunção orgásmica e IU de esforço foram observadas. Essas observações clínicas foram apoiadas por achados histológicos de neocolagênese, Neoelastogênese e neoangiogênese. A satisfação das participantes com os resultados do tratamento foi alta.
RF= Radiofrequência; QV= Qualidade de Vida; IU= Incontinência Urinaria; Pad Test= teste do absorvente; ICIQ-SF= Consulta Internacional sobre Incontinência Questionário – Formulário Resumido; ICIQ-OAB= Consulta Internacional sobre o Módulo de Bexiga Hiperativa do Questionário de Incontinência; VHI= Índice de Saúde Vaginal; VMI= Índice de Maturação Vaginal; SGM= Síndrome Geniturinária da Menopausa; VLQ= Questionário de Flacidez Vaginal; FSFI= Índice de função sexual feminina; FSDS= Escala de Angústia Sexual Feminina; FSDS-R=Escala de Angústia Sexual Feminina Revisada; CMRF= Radiofrequência Monopolar Refrigerada por Criogênio; TTCRF= Radiofrequência Transcutânea com Temperatura Controlada; FVV= Flacidez Vulvovaginal.

4 DISCUSSÃO

A terapia por RF não ablativa tem se mostrado uma opção de tratamento não cirúrgica para as DAP, sendo uma técnica executada por profissionais fisioterapeutas especializados na reabilitação pélvica. Objetivou-se com o presente estudo, revisar a literatura a respeito da eficiência da terapia por RF não ablativa nas DAP, buscando se há evidencias que corroborem com sua aplicação.

 Sodré et al. (2019) em um estudo piloto com 10 voluntários homens de até 65 anos com relato de IU pós procedimento de prostatectomia radical, aplicaram a RF não ablativa endoanal por 5 sessões, com intervalo de 7 dias entre elas, com temperatura ajustada em 41°C e tempo médio de 10 minutos de duração.

A avaliação da perda urinária ocorreu por meio do teste do absorvente e o questionário ICIQ-SF (Consulta Internacional sobre Incontinência Questionário – Formulário Resumido) foi utilizado para qualificar a perda urinária e avaliar o impacto da IU na QV dos pacientes. Dor, foi o único efeito colateral observado. A técnica se mostrou eficiente quanto à IU, uma vez que 90% dos participantes apresentaram diminuição da perda de urina e 30% deles apresentou resolução completa da IU, mas tal resultado não impactou na melhora da QV (SODRÉ et al., 2019).

Segundo os autores, estes achados justificam-se pelas respostas fisiológicas do organismo ao aumento da temperatura promovida a partir da RF: aumento da angiogênese e vascularização local e estimulação do tecido da matriz de colágeno e elastina, resultando na desnaturação e remodelação de suas fibras. Outra justificativa, é a existência da possibilidade de a espessura do esfíncter liso ser aumentado com a terapia. Quanto a QV não ter apresentado melhora significativa, a hipótese apresentada é de que a diminuição da perda urinaria não foi suficiente, uma vez que os participantes ainda precisaram manter uso de absorventes (SODRÉ et al., 2019).

Os autores salientaram dois pontos que também corroboram para afirmar que a aplicação da RF teve efeitos positivos: 7 dos 10 voluntários haviam realizado o procedimento cirúrgico a mais de 6 meses, sugerindo que a reposta clínica positiva encontrada ocorreu pelo tratamento com a RF e não por uma resolução espontânea, mas ressaltam a importância de se ter um grupo controle para confirmar tal hipótese. E o segundo ponto, é que os participantes não realizaram nenhum treinamento de fortalecimento da MAP, sugerindo também que a reposta clínica positiva ocorreu pela realização do tratamento com o uso da técnica. (SODRÉ et al., 2019).

Em um estudo que também abordou o tratamento da IU, Lordelo et al. (2017) trouxeram os resultados de um estudo fase 1 em 10 pacientes do sexo feminino, com idade variando entre 43 e 66 anos, que apresentavam como queixa principal, a IU de esforço. O objetivo do estudo foi avaliar a resposta clínica e os efeitos adversos da terapia por RF no meato uretral externo. O tratamento foi realizado em 5 sessões, de frequência semanal, pelo tempo de 2 minutos a partir do alcance de temperatura alvo entre 39°C e 41°C.

            A técnica apresentou bons resultados e se mostrou promissora, uma vez que houve melhora na perda urinária (20% sem perda, 30% com perda leve, 40% com perda moderada e nenhuma voluntária apresentou perda severa) e não houve constatação de efeitos adversos. A satisfação com o tratamento foi relatada por 90% das pacientes (LORDELO et al., 2017).

            Tais achados são justificados pela vasodilatação, melhora da oxigenação e da drenagem, e alterações no colágeno promovidos pelo efeito diatérmico da RF no tecido. Os autores levantaram a hipótese de que tais eventos podem melhorar a circulação do plexo venoso contribuindo assim para o mecanismo de fechamento uretral, além de ressaltarem a importância da realização de ensaios clínicos randomizados para melhor avaliar a eficácia do método (LORDELO et al., 2017).

 Pinheiro et al. (2021) realizaram um estudo piloto de braço único em mulheres diagnosticadas com SGM que apresentavam queixas de pelo menos um dos sintomas da Síndrome Geniturinária da Menopausa e teve como objetivo descrever os achados referentes a resposta clínica da terapêutica nesses sintomas, alterações citológicas e efeitos adversos. O estudo foi composto por 11 pacientes, que realizaram 5 sessões de tratamento, com intervalo de 7 dias entre elas, utilizando eletrodo ativo intracavitário com temperatura fixa de 41°C, por um total de 4 minutos.

O tratamento mostrou-se positivo, reduzindo os sintomas da SGM, melhorando o quadro de disfunção sexual em cerca de 90% das pacientes e melhorando a IU na maioria das voluntárias que relataram tal queixa. A citologia também mostrou resultados positivos, com alteração na contagem celular em cerca de 55% das voluntárias. Não foram observados efeitos adversos na aplicação da técnica, e 90% das participantes relataram satisfação com o tratamento (PINHEIRO et al., 2021).

Os autores justificam esses achados a partir do conhecimento de que o aumento controlado da temperatura no tecido pela aplicação da RF gera um aumento da circulação sanguínea, promove vasodilatação e melhora a oxigenação local. A hipótese é de que tais efeitos no tecido vaginal restauram a maioria das funções vaginais, melhorando o trofismo, metabolismo celular e lubrificação, pela ocorrência de neocolagênese, neoelastogênese e remodelação tecidual pela desnaturação do colágeno. E, além desses efeitos atingirem o canal vaginal, eles atingem também a mucosa uretral melhorando assim também os sintomas da IU (PINHEIRO et al., 2021).

Com objetivo de avaliar o resultado cosmético da aplicação da terapia por RF capacitiva não ablativa em genitália externa feminina e na função sexual, Lordelo et al. (2016) realizaram um ensaio clínico randomizado de mascaramento único com 43 mulheres que não estavam satisfeitas com a aparência externa de sua genitália. Foram realizadas 8 sessões da terapia, com intervalo de 7 dias entre elas, aplicada nos grandes lábios externos com temperatura de 39°C a 41°C, pelo tempo de 2 minutos após atingir a temperatura alvo.

            Apenas 36 mulheres concluíram o tratamento; elas foram divididas em um grupo estudo (RF ligada) e um grupo controle (RF desligada). No grupo estudo, 76% das mulheres relataram satisfação com a aparência estética dos grandes lábios após o tratamento versus 26% do grupo controle. Já no quesito função sexual, o grupo estudo apresentou uma melhora significativa pós tratamento, diferente do grupo controle onde a pontuação geral do FSFI não mostrou um aumento significativo. Não houve relatos de desconforto ou de efeitos colaterais, e a mulheres se mostraram satisfeitas com a aparência externa de suas genitálias pós tratamento com RF em ambos os grupos (LORDELO et al., 2016).

Os resultados alcançados pelo grupo estudo podem ser explicados pelo mecanismo de ação da RF, onde o efeito diatérmico atinge fibras de colágeno e elastina, fazendo com que haja uma maior produção e reorganização dessas estruturas. Já em relação ao grupo controle, a hipótese levantada pelos autores para satisfação com tratamento relatada pelas pacientes, é que tenha ocorrido o “efeito Hawthorne”, onde o indivíduo sente respostas positivas por acreditar estar passando por uma intervenção. Outra hipótese se dá a partir do gel solúvel em água aquecida utilizado durante a conduta que pode ter melhorado a hidratação da região genital externa (LORDELO et al., 2016).

Wilson et al. (2018) operaram um estudo prospectivo e não randomizado com o objetivo de avaliar alterações clínicas e histológicas induzidas pela RF transcutânea com temperatura controlada no tecido vulvovaginal. O tratamento ocorreu em 3 sessões, com intervalo de 4 semanas entre elas, em um tempo de 30 minutos e temperatura alvo de 42°C a 45°C, com a energia sendo aplicada no canal vaginal, grandes e pequenos lábios.

Dez mulheres, de idades entre 23 e 60 anos, que possuíam a autodescrição de flacidez vulvovaginal (leve a moderada), que tinham ou não vaginite atrófica (50%), disfunção orgásmica (80%) e/ou IU de esforço (90%) foram incluídas no estudo (WILSON et al., 2018).

Como resultados, houve melhora do interesse sexual, na excitação sexual e na capacidade de manter a lubrificação, sendo relatados pelos indivíduos uma satisfação significativa com sua vida sexual. Os sintomas de IU de esforço tiveram redução de 50% em 5 de 9 indivíduos que relataram a queixa. Cerca de 80% das mulheres afirmaram estarem “satisfeitas” ou “muito satisfeitas” com o tratamento. Nenhum efeito colateral foi observado na aplicação da técnica (WILSON et al., 2018).

Os autores explicam que tais resultados positivos se deram pela elevação da temperatura no tecido a um grau terapêutico resultante da conduta com RF, gerando neocolagênese e o endurecimento do tecido, aumentando o fornecimento de sangue pela vasodilatação local, estimulando assim a função glandular vaginal. Os autores levantaram também a hipótese da “teoria da neurogênese térmica”, onde o efeito diatérmico pode induzir a formação de novos nervos, aumentando assim a percepção sensorial, melhorando a satisfação sexual (WILSON et al., 2018).

A avaliação histológica da amostra (80% das coletadas nos grandes lábios e 100% das coletadas no canal vaginal) apresentaram melhora na maturação epidérmica, com melhor organização da camada basal e aumento da camada granular. Houve evidência de neocolagênese, aumento no número de fibroblastos e aumento da vascularização, achados que podem ser associados ao rejuvenescimento da pele e mucosa. (WILSON et al., 2018).

As análises histológicas de 3 pacientes também apresentaram um aumento sutil nas fibras nervosas, sendo exposto pelos autores que este estudo em questão foi o primeiro a observar o processo de neurogênese ou neuroregeneração após tratamento vaginal com RF (WILSON et al., 2018).

A presente revisão encontrou algumas limitações, como a pouca quantidade de artigos encontrados, estudos com pequenas amostras e ausência de grupo controle, e de dados subjetivos, além da presença de viés. Necessita-se, portanto, de mais estudos, com maiores amostras contendo um grupo controle para que se possa conseguir resultados mais confiáveis acerca da eficiência da aplicação da terapia por radiofrequência não ablativa no tratamento das DAP.

5 CONCLUSÃO

A terapia por RF não ablativa utilizada no tratamento das DAP mostrou resultados positivos sobre a aplicação da técnica, com baixos efeitos colaterais ou adversos. Os estudos evidenciaram que pacientes, homens e mulheres, tiveram melhora significativa dos sintomas de IU. Apresentaram também melhora considerável nos sintomas da SGM, da flacidez, da atrofia vaginal, da estética vaginal e da função sexual de pacientes femininas. Achados em avaliações histológicas corroboraram com as respostas clínicas encontradas. Tendo ocorrido também relatos de satisfação com o tratamento pela maioria dos pacientes avaliados.

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1Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário de Salvador (UNICEUSA). Recebimento da “Láurea Acadêmica” e Monitora da disciplina “Anatomia Musculoesquelética” do curso de Fisioterapia

2Mestre e Doutoranda em Processos Interativos dos Orgãos e Sistemas pela Universidade Federal da Bahia, Docente do curso de Fisioterapia Do Centro Universitário de Salvador (UNICEUSA), Salvador-BA, Brasil

3Mestre e Doutora em Medicina e Saúde Humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Docente do curso de Fisioterapia Do Centro Universitário de Salvador (UNICEUSA), Salvador-BA, Brasil – E-mail: marirobatto@gmail.com – Telefone: (71) 99972-0687

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