QUÍMICA EM MOVIMENTO: UM JOGO INTERDISCIPLINAR PARA O ENSINO DE QUÍMICA E EDUCAÇÃO FÍSICA 

CHEMISTRY IN MOTION: AN INTERDISCIPLINARY GAME FOR TEACHING CHEMISTRY AND PHYSICAL EDUCATION

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10795439


Reinaldo Almeida Neto1,
Eversson dos Santos Gonçalves2


RESUMO

Este artigo apresenta “Química em Movimento,” um jogo educacional inovador projetado para integrar conceitos de Química e Educação Física. Utilizando estratégias de aprendizagem ativa e abordagens interdisciplinares, o jogo visa aprimorar o engajamento dos alunos e a compreensão do conhecimento. As fundamentações teóricas são baseadas nas teorias de aprendizagem ativa, interdisciplinaridade e gamificação na educação. Testes iniciais demonstraram satisfação notável dos alunos, melhoria na visualização de estruturas químicas e assimilação do conhecimento sobre o uso de substâncias para condições de saúde específicas.

Palavras-chave: Educação Interdisciplinar, Aprendizagem Ativa, Gamificação, Química, Educação Física.

1 INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, a educação enfrenta o desafio de preparar estudantes não apenas para exames e avaliações, mas para um mundo em constante mudança, onde a capacidade de pensar de forma crítica, criativa e interdisciplinar é indispensável. Neste contexto, emerge “Química em Movimento”, um projeto pedagógico inovador que transcende a tradicional separação entre disciplinas, ao integrar Química e Educação Física em um formato lúdico e colaborativo. Este jogo representa uma proposta educativa alinhada às demandas contemporâneas por um ensino que estimule o engajamento, a cooperação e a aplicação prática do conhecimento em situações reais.

A interdisciplinaridade, fundamentada nas teorias de aprendizagem construtivista de Piaget e Vygotsky, sugere que o conhecimento é mais significativamente assimilado quando construído ativamente pelos aprendizes, em contextos que fomentam a interação social e a resolução de problemas. “Química em Movimento” coloca esses princípios em prática, desafiando os estudantes a aplicarem conceitos químicos na construção de modelos moleculares, enquanto realiza atividades físicas que não apenas reforçam o aprendizado, mas também promovem a saúde e o bem-estar.

Além disso, a gamificação, aplicada como estratégia pedagógica, visa aumentar a motivação e o envolvimento dos alunos por meio de elementos típicos de jogos, como pontos, competição e regras claras. Este aspecto é especialmente relevante em um cenário educacional onde a motivação para o aprendizado tradicional tem se mostrado um desafio.

Este artigo busca, portanto, discutir o desenvolvimento, a implementação e os impactos preliminares do “Química em Movimento” como ferramenta pedagógica interdisciplinar. Serão abordadas a fundamentação teórica que embasa o projeto, a metodologia de aplicação do jogo em ambiente escolar, os resultados obtidos a partir da observação direta dos participantes e feedbacks coletados, além das potenciais implicações para futuras práticas educativas. O objetivo é oferecer insights sobre como abordagens inovadoras podem contribuir para uma educação mais integrada, significativa e adaptada às necessidades do século XXI.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

O projeto “Química em Movimento” baseia-se em uma sólida fundamentação teórica que entrelaça os princípios da aprendizagem ativa, da interdisciplinaridade e da gamificação, visando proporcionar uma experiência de aprendizado rica e multifacetada. A sinergia dessas abordagens pedagógicas cria um ambiente onde o conhecimento é construído de maneira participativa, contextualizada e engajadora.

Aprendizagem Ativa: As ideias de Jean Piaget sobre a epistemologia genética sustentam o princípio da aprendizagem ativa, enfatizando que o conhecimento é construído a partir da interação do indivíduo com o seu ambiente (Piaget, 1972). Piaget propõe que o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de processos adaptativos de assimilação e acomodação, fundamentando a ideia de que os alunos aprendem melhor quando engajados ativamente na exploração e na resolução de problemas.

Interdisciplinaridade: A interdisciplinaridade, conforme discutida por Ivani Fazenda, é uma abordagem que visa superar a fragmentação do saber, promovendo uma compreensão mais integrada e profunda dos conhecimentos ao conectar diferentes áreas de estudo (Fazenda, 1991). Esse enfoque é complementado pela visão de Vygotsky sobre a construção social do conhecimento, que destaca a importância da linguagem e da interação social como elementos fundamentais para o desenvolvimento cognitivo (Vygotsky, 1984). Juntos, Piaget e Vygotsky oferecem uma base para entender como a interdisciplinaridade pode facilitar processos educativos mais ricos e conectados à realidade dos alunos.

Gamificação: A gamificação, entendida como a aplicação de elementos de design de jogos em contextos não lúdicos, é empregada para aumentar o engajamento e a motivação dos estudantes (Bittencourt & Silva, 2012). Essa estratégia pedagógica busca capitalizar a predisposição natural dos alunos para o jogo, incentivando a aprendizagem por meio de desafios, competições e recompensas, tornando o processo educativo mais atraente e dinâmico.

Conclusão Teórica: Ao integrar essas teorias e abordagens, “Química em Movimento” emerge como uma proposta educacional inovadora que não apenas almeja aprimorar o entendimento dos alunos sobre conceitos de química e a importância da atividade física, mas também busca fomentar habilidades críticas como o pensamento lógico, a colaboração e a criatividade. O respaldo teórico de autores renomados na área da educação, como Piaget, Vygotsky, Freire, Fazenda e pesquisadores contemporâneos em gamificação, confere uma base sólida para a implementação e a avaliação desse projeto pedagógico.

3 METODOLOGIA

O projeto “Química em Movimento” foi concebido como uma ferramenta educacional interativa que visa integrar os conceitos de Química e Educação Física, promovendo o aprendizado ativo, a interdisciplinaridade e o engajamento dos alunos através da gamificação. A metodologia adotada para implementação e avaliação deste projeto pedagógico é delineada a seguir:

Desenvolvimento do Jogo: “Química em Movimento” é estruturado em torno de um tabuleiro onde os alunos, organizados em equipes, são desafiados a construir estruturas moleculares representando substâncias químicas essenciais para tratar doenças ou aliviar desconfortos. Cada equipe inicia o jogo com um cartão desafio, que detalha uma condição de saúde específica e a molécula necessária para seu tratamento. Este cartão também inclui o desenho estrutural em representação de linha de ligação da substância, servindo como guia para a montagem do modelo molecular usando um kit em modelagem 3D.

Atividades Físicas: Para adquirir os “átomos” necessários à construção das moléculas, os participantes devem completar atividades físicas específicas, cada uma associada a um elemento químico diferente. A natureza da atividade física e sua intensidade são determinadas pelo número atômico do elemento, criando uma ligação direta entre a química e o exercício físico. Por exemplo, a aquisição de um “átomo” de oxigênio (número atômico 8) requer que um aluno ou uma equipe complete oito flexões. Além disso, a obtenção de “átomos” de hidrogênio é incentivada através da expressão de palavras positivas pelo aluno, enquanto “átomos” de carbono são ganhos após completar um sprint rápido de 6 metros. Cada elemento químico é associado a uma atividade física específica, cuja intensidade é proporcional ao número atômico do elemento. Essa abordagem não só estimula o aprendizado e a memorização dos conceitos químicos de forma ativa e lúdica, mas também promove a prática de exercícios físicos, contribuindo para o bem-estar dos alunos.

Aplicação em Sala de Aula: A implementação do jogo ocorre em um ambiente de sala de aula adaptado ou em um espaço aberto apropriado, onde é possível realizar as atividades físicas. O professor atua como facilitador, orientando os alunos durante o jogo, esclarecendo dúvidas sobre os conceitos químicos e as regras do jogo, e incentivando a participação de todos.

Avaliação: A eficácia do jogo como ferramenta de aprendizado é avaliada por meio de observações diretas do engajamento dos alunos, questionários de feedback preenchidos pelos participantes e análise do desempenho dos alunos em testes de conhecimento aplicados antes e após a implementação do jogo. São avaliados critérios como aumento no interesse pela matéria, compreensão dos conceitos químicos, colaboração entre os alunos e percepção sobre a importância da atividade física.

Análise dos Resultados: Os dados coletados são analisados qualitativamente e quantitativamente para determinar os impactos do jogo no processo de ensino-aprendizagem. Especial atenção é dada às percepções dos alunos sobre a aprendizagem interdisciplinar e ao grau em que o jogo facilitou uma compreensão mais integrada e aplicada dos conceitos de Química e Educação Física.

A metodologia do “Química em Movimento” representa uma abordagem inovadora na educação, alinhada com as teorias pedagógicas contemporâneas que enfatizam a importância da aprendizagem ativa, da interdisciplinaridade e do engajamento dos alunos. Por meio desta iniciativa, busca-se não apenas melhorar o entendimento dos alunos sobre conceitos científicos complexos, mas também fomentar uma atitude positiva em relação à atividade física e à aprendizagem colaborativa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A implementação do jogo “Química em Movimento” em sala de aula revelou resultados significativos quanto ao engajamento dos alunos, à compreensão de conceitos químicos e à valorização da atividade física, corroborando as hipóteses teóricas que fundamentam o projeto. Esta seção discute os principais resultados obtidos e suas implicações pedagógicas.

Engajamento e Motivação: Observou-se um aumento notável no engajamento dos alunos durante as sessões do jogo. A gamificação, aliada à movimentação física, despertou um entusiasmo visível, divergindo das tradicionais aulas teóricas. Este resultado vai ao encontro de estudos anteriores que destacam a eficácia da aprendizagem baseada em jogos para promover a motivação e o interesse dos alunos (Bittencourt & Silva, 2012).

Compreensão de Conceitos Químicos: A abordagem interdisciplinar adotada pelo jogo facilitou uma maior compreensão e retenção dos conceitos químicos. A conexão entre a atividade física e a construção de moléculas proporcionou uma aprendizagem significativa, demonstrando que a aplicação prática de conceitos teóricos pode aprimorar a compreensão dos estudantes, em linha com os princípios de Piaget e Vygotsky sobre a construção ativa do conhecimento (Piaget, 1972; Vygotsky, 1984).

Valorização da Atividade Física: Relatos dos alunos indicaram uma percepção positiva em relação à inclusão de atividades físicas como parte do processo de aprendizagem. Este achado sugere que a integração da Educação Física no currículo de outras disciplinas pode ser uma estratégia eficaz para promover hábitos de vida saudáveis, além de reforçar a importância da saúde física na educação integral dos alunos.

Colaboração e Trabalho em Equipe: A dinâmica do jogo estimulou a colaboração entre os alunos, evidenciando a importância do trabalho em equipe para o sucesso nas tarefas propostas. Este aspecto ressalta o valor da aprendizagem cooperativa, uma competência cada vez mais valorizada no século XXI, tanto no âmbito acadêmico quanto profissional.

Discussão: Os resultados obtidos com a implementação do “Química em Movimento” destacam o potencial dos jogos interdisciplinares como ferramentas pedagógicas inovadoras. O projeto exemplifica como a união entre teoria e prática, somada à interação social e à movimentação física, pode criar um ambiente de aprendizado mais estimulante e eficaz. Além disso, reafirma a relevância da adaptação das metodologias de ensino às necessidades e aos interesses dos alunos contemporâneos, promovendo uma educação que vai além do conteúdo programático tradicional.

Em suma, “Química em Movimento” demonstra ser uma estratégia educacional promissora, capaz de contribuir significativamente para o desenvolvimento de uma aprendizagem mais integrada, ativa e significativa. Futuras pesquisas e aplicações práticas devem continuar explorando e expandindo o potencial dos jogos educacionais interdisciplinares, visando o aprimoramento contínuo das práticas pedagógicas.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “Química em Movimento” revelou-se uma ferramenta pedagógica inovadora e eficaz, alinhando-se perfeitamente às demandas contemporâneas por uma educação que não apenas transmita conhecimento, mas também estimule o engajamento, a colaboração e a aplicação prática do aprendizado. A integração entre Química e Educação Física, mediada pela gamificação, proporcionou um ambiente de aprendizado dinâmico e estimulante, que motivou os alunos a se envolverem ativamente no processo educativo, promovendo não apenas a aquisição de conhecimentos específicos, mas também o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais para o século XXI.

Os resultados obtidos com a implementação deste jogo educacional destacam o potencial significativo da aprendizagem ativa, da interdisciplinaridade e da gamificação no aprimoramento da experiência educativa. Observou-se uma melhoria na compreensão dos conceitos químicos, um aumento no interesse pela matéria e pela prática de atividades físicas, além de uma valorização da aprendizagem colaborativa entre os alunos. Tais achados reforçam a ideia de que metodologias inovadoras, que rompem com o modelo tradicional de ensino, podem contribuir substancialmente para a motivação dos estudantes, tornando o processo de aprendizagem mais significativo, prazeroso e efetivo.

Este projeto também sublinha a importância de adaptar as práticas pedagógicas às novas realidades e expectativas dos alunos, incorporando elementos lúdicos e interativos que podem tornar o aprendizado mais atraente. “Química em Movimento” não apenas atende a essas exigências, mas também demonstra como a educação pode beneficiar-se de uma abordagem mais holística e integrada, preparando os alunos não só para os desafios acadêmicos, mas também para os desafios da vida cotidiana.

Conclui-se, portanto, que “Química em Movimento” representa um valioso contributo para o campo educacional, oferecendo uma perspectiva promissora sobre como os jogos interdisciplinares podem ser empregados para enriquecer o ensino e a aprendizagem. Encoraja-se a continuação da pesquisa e do desenvolvimento de estratégias pedagógicas similares, visando uma educação mais interativa, engajadora e adaptada às necessidades do século XXI, capaz de formar cidadãos mais preparados, críticos e ativos na sociedade.

REFERÊNCIAS

Bittencourt, I. I., & Silva, B. D. (2012). Gamificação: Aplicando Mecânicas de Jogos em Contextos Educacionais. In Seminário de Pesquisa em Tecnologia da Informação e da Linguagem Humana.

Fazenda, I. (1991). Interdisciplinaridade: História, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus.

Freire, P. (1996). Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra.

Piaget, J. (1972). A Epistemologia Genética. Petrópolis: Vozes.

Vygotsky, L. S. (1984). A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes.


1Licenciado em química pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Professor de química pelo Estado da Bahia no Colégio Estadual Professora Maria Olímpia, Aurelino Leal. e-mail: coinalmeida.invest@gmail.com

2Licenciado em Educação Física pela Universidade Leonardo da Vinci – UNIASSELVI.
e-mail: everssongoncalves36@gmail.com