QUALITY OF MILK PRODUCED BY CROSSBRED COWS
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10440466
Brenda Pereira da Silva1
Ana Carolina do Nascimento Deboni2
Caroline Baena Fernandes3
Grasiella Gomes Machado Carvalho4
Kelen do Carmo Christino5
Letícia Victoria Rodrigues Acosta Saltos6
Lucas Costa dos Santos7
Pâmela Vianna Pereira8
Thuane de Aguiar Porn9
Marina Jorge de Lemos10
Resumo
O leite é um produto de origem animal obtido através da prática da ordenha, sem interrupções, em condições ótimas de higiene, coletados de vacas sadias e bem alimentadas. O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, apresentando constante crescimento da produção leiteira e, são raros os municípios que não desenvolvem a prática leiteira. Mesmo possuindo destaque da alta produção e das ótimas projeções de crescimento, o país ainda possui produção e consumo de leite com qualidade contestável, não se enquadrando nos padrões internacionais de qualidade. A composição e qualidade do leite podem ser influenciadas por diferentes fatores, como nutrição, manejo, idade e principalmente a genética do animal e época de produção. Um grande limitante da melhoria da qualidade e aumento da produção de leite no Brasil é a produtividade baixa de raças zebuínas e pouca seleção nas que usadas nos sistemas de produção. Com isto, o objetivo do presente trabalho foi analisar o efeito da genética sobre a qualidade do leite produzido por vacas zebuínas criadas no Rio de Janeiro. Para o experimento, foram adquiridos dois litros de leite produzidos por vacas mestiças, vaca com sangue mais Holandês e com sangue mais Zebuíno, criadas em ambiente equalizado. As variáveis analisadas foram: teor de proteína, gordura, lactose e sólidos totais,
de acordo com a norma internacional IDF 141C. Para realização da análise estatística dos dados de qualidade, as médias foram submetidas à análise de variância com o auxílio do programa Biostat e no caso de efeito significativo, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. O leite mais zebuíno apresentou o maior percentual de todos os componentes analisados e todas as amostras atenderam os requisitos estabelecidos pela Instrução Normativa 76 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Palavras-chave: Gado zebu leiteiro. Lactose. Proteína. Sólidos totais
1 INTRODUÇÃO
O setor lácteo é de suma importância para o Brasil, tanto no âmbito social quanto no econômico, sendo fonte de renda para milhares de produtores (CANI & FRANGILO, 2008). O leite, além de ser um produto de fácil acesso para população, devido seu baixo custo, é considerado um excelente alimento, pois é rico em vitaminas, minerais, carboidratos, ácidos graxos e proteínas. Sua fácil produção e valor baixo, fazem com que o leite seja muito consumido no Brasil, estando presente na mesa da maioria dos brasileiros (DEITOS et al., 2011).
No Brasil, são raros os municípios que não desenvolvem a prática leiteira, não sendo diferente nos municípios do estado do Rio de Janeiro. O Brasil é o terceiro maior produtor de leite do mundo, apresentando constante crescimento da produção leiteira (MORAES & BENDER FILHO, 2017). Porém, embora o país possua uma posição de destaque no ranking mundial de produção de leite, tanto a produtividade quanto a qualidade do leite produzido no Brasil estão abaixo do ideal. Dentre os principais fatores que afetam a qualidade do leite destaca-se a genética dos animais e o período de produção (ALVES & FONSECA, 2006).
A produção de leite por raças zebuínas ou mestiças com gado zebu predomina nas fazendas brasileiras. Dentro de cada raça a composição do leite pode variar conforme os resultados do melhoramento genético, qualidade e quantidade da dieta ofertada aos animais durante o período da lactação.
Mesmo com dados significativos dentro das raças Zebuínas, ainda é observada muita inconstância na produtividade e, principalmente, qualidade do leite produzidos por animais com esta genética, devido à pouca seleção genética dentro das diferentes raças (MORAES & BENDER FILHO, 2017).
Atualmente, a população está cada vez mais preocupada com a qualidade do alimento consumido. Dentre estes alimentos, destaque pode ser dado ao leite, uma vez que o mesmo participa da dieta de milhares de pessoas ao redor do mundo. A qualidade do leite pode ser avaliada por meio de testes que determinam as características físico-químicas, como as análises do teor de gordura, proteínas, lactose e sólidos totais (DEITOS, 2011).
2 REVISÃO DE LITERATURA
Em torno de 1940, os produtores leiteiros iniciaram os cruzamentos entre as raças Gir e Holandesa, buscando animais que possuíssem a rusticidade da Gir e a alta capacidade de produção leiteira da Holandesa (CANAZA-CAYO et al., 2014).
Desde a época de 70, o Brasil vem trabalhando para aumentar a produtividade dos rebanhos leiteiros, onde os animais produziam valores inferiores a 1.00kg por lactação/ano, muito abaixo dos países com tecnologia avançada. Apenas em 1996, a raça Girolando foi oficializada pelo Ministério da Agricultura, oriunda do cruzamento das raças Gir e Holandesa. A formação desta raça possuía como objetivo a criação de uma raça capaz de produzir leite, nas condições tropicais e subtropicais e em um sistema economicamente produtivo e viável (FREITAS et al., 2002).
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, a produção de leite foi estimada, em cerca de 34,6 bilhões de litros apenas neste ano. Os animais da raça Girolando, dentre puro-sintéticos 5/8 ou diversos grupos genéticos, são responsáveis por produzir mais de 80% de todo leite no Brasil (ABCG, 2011).
O gado Holandês é um taurino (Bos taurus taurus), bem exigente com relação a necessidades de manejo, conforto e cuidados, apresentam maios susceptibilidade à parasitas e ao estresse térmico, pois apresentam menor capacidade respiratória e menor eficiência de mecanismos termorreguladores. Porém, é um animal com elevada precocidade, capacidade produtiva e mansidão (FREITAS, 2009).
Já os zebuínos (Bos taurus indicus), possuem adaptabilidade ao ambiente tropical brasileiro, devido à maior quantidade de glândulas sudoríparas e membros mais irrigados e longos quando comparados aos taurinos (SILVA, 2008). Com isso, é essencial a utilização destes animais mestiços (Bos taurus taurus x Bos taurus indicus) na pecuária leiteira nacional, com o objetivo de aliar a produtividade leiteira dos taurinos com a rusticidade dos zebuínos, produzindo assim, animais com melhores índices de desenvolvimento corporal, produção leiteira, eficiência reprodutiva (RIBEIRO et al., 2017). Os animais da raça Girolando, oriunda do cruzamento das raças Gir e Holandês apresentam potencial genético elevado para a produção leiteira e são adaptadas às diferentes condições tropicais de manejo e ambientais, (MIRANDA; FREITAS, 2009).
3 METODOLOGIA
Para a pesquisa, foi feita uma parceria com o setor de bovinocultura leiteira da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, localizado no município de Seropédica, no estado do Rio de Janeiro. Neste local os animais são ordenhados duas vezes ao dia em ordenhadeira mecânica, sendo realizada os parâmetros de qualidade do Teste da caneca de fundo preto, pré-dipping e pós-dipping. Posteriormente, todo o leite é destinado para o consumo dos alunos e funcionários do local.
Foram coletadas quatro amostras de vacas mestiças, sendo elas, dos animais com o sangue mais zebuíno, mais holandesa, cruzamento 15/16 e 13/16. Todas as amostram foram devidamente acondicionadas e destinadas ao laboratório de análises bromatológicas. As variáveis analisadas foram: teor de proteína, gordura, lactose e sólidos totais, de acordo com a normal internacional IDF 141C (International Dairy Federation 141 C, 2000).
Para a realização da análise estatística dos dados de qualidade, as médias foram submetidas à análise de variância com auxílio do programa Biostat e no caso de efeito significativo, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados de qualidade do leite produzido pelas diferentes genéticas bovinas se encontram na tabela 1 abaixo:
Tabela 1: Resultados obtidos após as análises das diferentes amostras de leite
Grau de sangue | Proteína | Gordura | Lactose | Extrato Seco Total (EST) |
Mais Zebu | 3,9 | 4,3 | 5,1 | 14,3 |
Mais Holandesa | 3,2 | 3,5 | 4,8 | 12,2 |
15/16 | 3,1 | 3,6 | 4,9 | 13,1 |
13/16 | 3,5 | 3,7 | 4,7 | 12,7 |
Nesta pesquisa, o leite mais zebuíno se mostrou com maior teor de gordura, com média de 4,3%, seguido do cruzamento 13/16 com 3,7%, 15/16 com 3,6% e mais holandesa 3,2%. A gordura é o componente que mais varia no leite por fatores ambientais, de raça e nutricionais, de modo geral, o nível de gordura é inversamente proporcional à quantidade de leite que o animal produz (Pereda et al., 2005; Venturini et al., 2007). O resultado que condiz com Deitos (2010) e Fonseca e Santos (2000), onde a raça Holandesa produz leite com baixo teor de gordura, o que pode estar relacionado com o estresse calórico, enquanto as raças zebuínas apresentam maiores teores de gordura quando comparado às raças especializadas e suas cruzas.
O leite mais zebuíno também se mostrou com maior percentual de proteína quando comparado as outras amostras com 3,9%, seguida do cruzamento 13/16 com 3,5%, mais holandesa com 3,2% e 15/16 com 3,1%. A proteína é o segundo parâmetro de qualidade do leite para a indústria, por conta do rendimento industrial. Segundo Cristiane (2006), dentre as raças leiteira, a Holandesa é a que possui menor concentração de proteína no leite, porém, diversos fatores podem alterar este teor, como a estação do ano e estágio de lactação.
O leite zebuíno apresentou maior percentual com 5,1%, seguido de 4,9%, 4,8% e 4,7% da 15/16, mais holandesa e 13/16, respectivamente. A lactose é componente que menos sofre variação percentual, é responsável por controlar o volume de leite produzido por meio da pressão osmótica com a água, além disso, é de grande importância para a indústria por conta da fabricação de bebidas lácteas fermentadas, ou seja, este componente pode interferir desde a qualidade do produto até a vida útil de prateleira do mesmo (Ribas, 1994).
O leite mais zebuíno apresentou maior teor dos extratos sólidos totais (EST) com 14,3%, seguido da 15/16 com 13,1%, 13/16 com 12,7% e mais holandesa com 12,2%. Isto corresponde a soma de todos os componentes do leite, com exceção da água. Este componente é utilizado como indicador de qualidade do leite e é bastante preconizado para a indústria de lácteos, pois seus componentes como a proteína, lactose, vitaminas e minerais, promovem um rendimento dos produtos que são oriundos do leite (Passos, 2010).
Todos os resultados vão de acordo com a superioridade da composição química do leite das vaca Zebu quanto o leite de vaca Holandesa da pesquisa de Jensen RG (1995), onde diz que a concentração de gordura é de 4,9%, proteína 3,9%, lactose 5,1% e extratos sólidos totais 14,7% para as vacas zebuínas, enquanto para as Holandesas gira em torno de 4,1% de gordura, 3,6% de proteína, 4,7% de lactose e 13,1% de extratos sólidos totais.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A qualidade do leite produzido por vacas mestiças se encontrava dentro do padrão de qualidade e requisitos estabelecidos pela Instrução Normativa 76 (IN 76) do Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento (MAPA).
REFERÊNCIAS
- ALVES, C.; FONSECA, L. M. Avaliação das variações sazonais na qualidade do leite cru refrigerado, por meio dos parâmetros de composição centesimal, CCS e CBT. In: CONGRESSO NACIONAL DE LATICÍNIOS. Juíz de Fora. Anais… Juiz de Fora: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG, 2006. v. 61, p. 416- 419, 2006.
- ALVES, Cristiane. Efeito de variações sazonais na qualidade do leite cru refrigerado de duas propriedades de Minas Gerais. 2006.
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- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE GIROLANDO (ABCG). Produção de leite no Brasil e participação da genética Girolando com ênfase em reprodução, 2011.
- BATTISTI, Andre Costa et al. ANALISE DA QUALIDADE DO LEITE: UM APONTAMENTO PARA INDUSTRIA E CONSUMIDOR, 2015.
- CANAZA-CAYO, Ali William et al. Estrutura populacional da raça Girolando. Ciência Rural, v. 44, p. 2072-2077, 2014.
- CANI, P.C; FRANGILO. R.F. Como produzir leite de qualidade. Vitória, ES: ACPLES/Seag-ES, 2008. 36p.
- CRUZ, Patrícia Ferreira Fernandes da et al. Efeito da composição genética nas características de termorregulação em vacas Girolando em Tapira, MG. 2015.
- DA SILVA, JOSÉ EDMÁRIO. AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO E QUALIDADE DO LEITE DE VACAS HOLANDESAS CRIADAS NA REGIÃO AGRESTE DE PERNAMBUCO, BRASIL. 2018.
- DE FREITAS, A. F.; DURÃES, M. C.; MENEZES, C. R. A. Girolando: raça tropical desenvolvida no Brasil. 2002.
- DE FREITAS, Ary Ferreira et al. Programa de melhoramento genético da raça Girolando: teste de progênie: Sumário de Touros 2009. 2009.
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- DEITOS, A.C.; MAGGIONI, D.; ROMERO, E.A. Produção e qualidade de leite de vacas de diferentes grupos genéticos. Revista Campo Digital, v. 5, n. 1, 2010.
- DIAZ GONZALEZ, Felix Hilario. Composição bioquímica do leite e hormônios da lactação. Uso do leite para monitorar a nutrição e o metabolismo em vacas leiteiras. Porto Alegre: UFRGS. p. 5-21, 2001.
- FONSECA, Luís Fernando Laranja da; SANTOS, Marcos Veiga dos. Qualidade do leite e controle de mastite. 2001.
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- International Dairy Federation (IDF)141C – Determination of milkfat, protein and lactose content – Guidance on the operation of mid-infrared instruments. Brussels, Belgium, 2000. 15p.
- MORAES, B.M.M.; BENDER FILHO, R. Mercado Brasileiro de lácteos: análise do impacto de políticas de estímulo à produção. Ver. Econ. Sociol. Rural, v.55, n. 4, 2017.
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- VENTURINI, Katiani Silva; SARCINELLI, Maryelle Freire; SILVA, LC da. Características do leite. Boletim Técnico, Universidade Federal do Espírito Santo,
Pró-Reitoria de Extensão, Programa Institucional de Extensão, PIE-UFES, v. 1007, n. 6, 2007.
Brenda Pereira da Silva – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu e-mail: brendapereira1014@gmail.com1
Ana Carolina do Nascimento Deboni – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu2
Caroline Baena Fernandes – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu3
Grasiella Gomes Machado Carvalho – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu4
Kelen do Carmo Christino – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu5
Letícia Victoria Rodrigues Acosta Saltos – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu6
Lucas Costa dos Santos – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu7
Pâmela Vianna Pereira – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu8
Thuane de Aguiar Porn – Discente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu9
Marina Jorge de Lemos – Docente do Curso Superior de Medicina Veterinária da Universidade Iguaçu Campus Nova Iguaçu10