QUALIDADE DE VIDA DE MÃES DE CRIANÇAS DIAGNOSTICADAS COM O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408090925


Jéssica França Mendonça1; Jéssica Almeida Cruz2; Hanna Barbara de Andrade Barbosa3; Priscilla Duarte Soares Correa4; Andréa Branco Marinho5; Jilielisson Oliveira de Sousa6; Isabel Cristina Borges de Menezes7; Marcos William dos Santos Marques8; Ana Clara Barboza Mendes9; Edilene Márcia de Sousa10; Carolina Manhães Moura Reis11; Isabelle Cristine Mendes da Silva12; Sarah Goes Barreto da Silva Moreira13


RESUMO:

INTRODUÇÃO: O bem-estar psicológico e emocional de uma mãe, especialmente daquela que tem um filho com necessidades especiais, pode ser muito influenciado pela sua qualidade de vida (QV). OBJETIVO: Avaliar como o diagnóstico do autismo pode impactar a QV das mães de crianças com TEA. METODOLOGIA: Para realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o tema qualidade de vida e saúde mental em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista, foram utilizadas múltiplas bases de dados, incluindo PubMed, SciELO e Lilacs. Além disso, também foi utilizado o mecanismo de busca Google Acadêmico. Os termos de pesquisa utilizados foram “Qualidade de vida”, “Transtorno do espectro do autismo” e “Saúde mental”. Os critérios de inclusão dos artigos foram que estivessem disponíveis gratuitamente em português e publicados entre 2020 e 2024. Artigos duplicados foram excluídos do processo de revisão. Após um minucioso processo de seleção, os autores identificaram e selecionaram 12 artigos que atendiam aos critérios para serem incluídos na tabela de amostra. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A investigação demonstrou que as intervenções destinadas a melhorar o bem-estar das mães com crianças com necessidades especiais, como o autismo, podem produzir resultados positivos em termos de bem-estar emocional e qualidade de vida geral. As provações e responsabilidades diárias enfrentadas por estas mães únicas resultam frequentemente em exaustão física e mental, levando a níveis elevados de stress e a uma diminuição da qualidade de vida. No entanto, ao implementar intervenções que priorizem o bem-estar emocional e forneçam apoio à saúde mental, estas mães podem experimentar uma série de benefícios, incluindo níveis reduzidos de stress, melhores mecanismos de resposta e melhoria da saúde emocional. Estas melhorias podem ter um impacto profundo no bem-estar geral destas mães e também influenciar positivamente as crianças sob os seus cuidados. CONCLUSÃO: As mães atípicas enfrentam vários obstáculos significativos, incluindo o julgamento social, o malabarismo entre trabalho e prestação de cuidados, dificuldades financeiras e falta de sistemas de apoio. Contudo, existem estratégias que podem melhorar a vida dessas mães, como estabelecer uma rede de apoio, buscar assistência profissional e implementar práticas eficazes de gestão do tempo e de autocuidado.

Palavras-chave: Qualidade de vida, Transtorno do espectro do autismo, Saúde mental.

ABSTRACT:

INTRODUCTION: The psychological and emotional well-being of a mother, especially one who has a child with special needs, can be greatly influenced by her quality of life (QoL). OBJECTIVE: To assess how the diagnosis of autism can impact the QoL of mothers of children with ASD. METHODOLOGY: To conduct an integrative review of the literature on the topic of quality of life and mental health in individuals with Autism Spectrum Disorder, multiple databases were used, including PubMed, SciELO, and Lilacs. In addition, the Google Scholar search engine was also used. The search terms used were “Quality of life”, “Autism spectrum disorder”, and “Mental health”. The inclusion criteria for the articles were that they were freely available in Portuguese and published between 2020 and 2024. Duplicate articles were excluded from the review process. After a thorough screening process, the authors identified and selected 12 articles that met the criteria for inclusion in the sample table. RESULTS AND DISCUSSION: Research has shown that interventions aimed at improving the well-being of mothers of children with special needs, such as autism, can produce positive outcomes in terms of emotional well-being and overall quality of life. The daily trials and responsibilities faced by these single mothers often result in physical and mental exhaustion, leading to high levels of stress and a decreased quality of life. However, by implementing interventions that prioritize emotional well-being and provide mental health support, these mothers can experience a number of benefits, including reduced levels of stress, improved coping mechanisms, and improved emotional health. These improvements can have a profound impact on the overall well-being of these mothers and also positively influence the children in their care. CONCLUSION: Atypical mothers face several significant obstacles, including social judgment, juggling work and caregiving, financial difficulties, and a lack of support systems. However, there are strategies that can improve the lives of these mothers, such as establishing a support network, seeking professional assistance, and implementing effective time management and self-care practices.

Keywords: Quality of life, Autism spectrum disorder, Mental health.

INTRODUÇÃO:

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (2013), comumente conhecido como DSM-V, categoriza o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), como um transtorno do neurodesenvolvimento que tem um impacto global. Esse transtorno se apresenta precocemente na vida e é caracterizado por déficits que prejudicam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Para satisfazer os critérios diagnósticos, estes défices devem persistir em diferentes contextos, afectando a comunicação e a interacção social, e exibindo padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou actividades. Os sintomas também devem estar presentes precocemente e causar comprometimento clínico significativo. Kupfer (2000) destaca que um diagnóstico não determina o destino ou modo de vida de um indivíduo, pois cada diagnóstico carrega uma rede de significados socialmente construídos que podem confinar os indivíduos dentro de estereótipos e representações. A autora destaca que essa rede de significados contribui para a exclusão, a marginalização e a falta de progresso na vida. Contudo, o diagnóstico tem impactos significativos no contexto familiar (Pinto et al., 2016). Algumas famílias podem adaptar-se positivamente à realidade de ter um filho com necessidades especiais, enquanto outras podem sentir exaustão e desajustamento familiar ao longo do processo de cuidado (Matsukura & Sime, 2008).

O ato de cuidar engloba diversas ações que visam ajudar o outro, garantir o seu bem-estar e protegê-lo de qualquer forma de dano (CONCEITO.DE/CUIDADO,2019). Com isso, o cuidador principal assume uma posição crucial na vida do indivíduo, pois tem a tarefa de prestar assistência nas necessidades fundamentais, oferecer apoio emocional, ouvir e estimular o desenvolvimento da independência social diariamente (COSTA et al. 2019).

A necessidade de dedicar tempo ao cuidado de crianças com TEA acarreta alterações no desempenho ocupacional dos pais e cuidadores, principalmente nas atividades de vida diária (AVD). Com isso, muitas vezes o autocuidado é adiado, levando ao surgimento de doenças e diversas consequências sociais. Estas consequências incluem depressão, tensão, tensão nas relações emocionais, perda de perspectiva de vida, perturbações na rotina, interrupções nas tarefas diárias, dificuldades financeiras e muito mais.

O conceito de qualidade de vida (QV) é complexo, pois é moldado por vários fatores, como o bem-estar físico do indivíduo, o estado psicológico, o nível de autonomia, as condições de vida e as conexões sociais. Esta compreensão abrangente da qualidade de vida leva os críticos a considerar também o seu contexto económico e político (Pereira et al., 2012).

Cuvero (2008) realizou uma avaliação da qualidade de vida (QV) vivenciada por cuidadores de indivíduos com TEA, constituídos principalmente por mães. Os resultados revelaram desafios significativos tanto nos aspectos físicos quanto mentais, ressaltando as disparidades entre esses cuidadores e os responsáveis ​​pelo bem-estar de crianças e adolescentes com desenvolvimento típico. Além disso, em comparação com pais de crianças com outras perturbações do desenvolvimento, os cuidadores de indivíduos com TEA, independentemente do sexo, enfrentam uma maior probabilidade de sofrer stress parental (Bosa, Sifuentes, 2010).

Dessa maneira, o objetivo principal deste artigo é analisar a  qualidade de vida de mães de crianças diagnosticadas com TEA. 

METODOLOGIA:

O presente estudo constitui um exame abrangente do corpo de literatura disponível referente a um assunto ou campo de estudo específico, comumente referido como revisão integrativa. Esta metodologia de pesquisa específica tem imenso valor, pois permite que os estudiosos obtenham uma compreensão holística de investigações anteriores e identifiquem áreas que ainda precisam ser exploradas, informando assim a formulação de novas investigações de pesquisa (Pereira et al., 2018). 

Além disso, a revisão integrativa serve como uma ferramenta valiosa não apenas para estabelecer uma base sólida para a construção de teorias e modelos, mas também para fornecer um arcabouço teórico para futuros empreendimentos de pesquisa (Estrela, 2018).

Na condução deste estudo, foi empregada a abordagem descritiva, com o objetivo de fornecer uma visão abrangente e compreensão do estado atual de um fenômeno específico, sem se aprofundar em explicações causais ou fazer inferências. Extensa pesquisa foi conduzida em múltiplas bases de dados, incluindo PubMed, SciELO, Lilacs e Google Acadêmico, no período de Junho a Julho de 2024. Os termos de pesquisa utilizados para localizar artigos relevantes foram “Qualidade de vida”, “Transtorno do espectro do autismo” e “Saúde mental” descritores científicos (DeCS) conforme delineado por Bardin (2011).

Para serem considerados para inclusão no estudo, os artigos deveriam atender a dois critérios específicos: deveriam ser publicados em português e estar totalmente acessíveis para leitura. Além disso, os artigos deveriam ter sido publicados nos últimos quatro anos. Por outro lado, alguns critérios de exclusão foram aplicados. Foram excluídos automaticamente os estudos duplicados, assim como os artigos que não eram relevantes para o assunto abordado ou que estavam categorizados como trabalhos de conclusão de curso. O processo de seleção envolveu todos os autores, que revisaram cuidadosamente cada artigo e eliminaram aqueles que não atendiam aos critérios especificados. Ao final, foram escolhidos um total de oito artigos para compor a amostra final.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: 

A partir de um exame minucioso dos vários estudos, os autores escolheram meticulosamente apenas 12 amostras que foram consideradas adequadas para inclusão na Tabela 1. Esta tabela apresenta uma gama abrangente de dados, organizados numa ordem específica, incluindo o título, ano de publicação, diário e objetivos.

NTÍTULOSREVISTA/ ANO DE PUBLICAÇÃOOBJETIVOS
1Estresse, depressão e ansiedade em mães de autistas: Revisão nacionalRevista Psicopedagogia/ 2022
2Acesso e tratamento de crianças com transtorno do espectro autista na saúde pública: implicações e barreiras: uma revisão narrativaRepositório UFRGS/ 2023Examinar o acesso ao tratamento de crianças com TEA no Sistema Único de Saúde (SUS), a rede de saúde pública do Brasil.
3As experiências de famílias com filhos autistas: uma revisão integrativa da literatura. Ciências PsicológicasCiências Psicológicas/ 2021Realizar uma revisão integrativa de literatura sobre a temática do autismo e da família, visando analisar a produção científica nacional e internacional existente sobre o tema no período de 2013 a 2020.
4Revisão integrativa sobre a vivência de mães de crianças com transtorno de espectro autista.Revista Psicologia e Saúde/ 2020Identificar na literatura científica a sobrecarga das mães de crianças com TEA e as formas encontradas por elas para lidar com dificuldades cotidianas decorrentes dessa problemática.
5Famílias frente a crianças com diagnóstico de autismo: um olhar para a atuação de profissionais da psicologia Psychology and families among autism diagnosis: a literature reviewBrazilian Journal of Development/2021Conhecer a atuação de psicólogos(as), no que tange às relações familiares diante do diagnóstico de autismo. 
6Práticas Integrativas e Complementares (PIC) em crianças com Transtorno Espectro Autista (TEA) no Sistema Único de Saúde (SUS): uma revisão de literaturaRevista Artigos. Com/ 2021Comprovar a eficácia das Práticas Integrativas Complementares (PIC) como um compilado de terapias direcionado a diagnósticos em fase inicial da patologia, a fim de proporcionar autonomia e melhor qualidade de vida para os indivíduos que delas se utilizam, com enfoque especial no Sistema Único de Saúde (SUS) por ser este responsável em ofertá-las. 
7Análise dos impactos do diagnóstico do espectro autista no âmbito familiar: desafios e possibilidadesPesquisa, Sociedade e Desenvolvimento/2022Analisar o diagnóstico do transtorno do espectro autista  (TEA) e os seus impactos na família,  bem  como  a  importância  do psicólogo  neste processo.
8Desempenho ocupacional de cuidadores de crianças com transtorno do espectro autista (tea): uma revisão da literaturaRevista Eletrônica Acervo Saúde/ 2020Identificar as mudanças ocorridas no desempenho ocupacional de cuidadores de crianças com transtorno do espectro autista (TEA), e apresentar contribuições da Terapia Ocupacional para melhoria da qualidade de vida, diante das possíveis alterações.
9Aspectos relacionados a sobrecarga do cuidador de uma criança com Transtorno do Espectro Autista: uma revisão de literaturaResearch, Society and Development/ 2022Investigar pesquisas existentes na literatura sobre aspectos relacionados à sobrecarga do cuidador de uma criança diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (APT), tais como: rede de apoio, acesso a serviços de saúde para acompanhamento com profissionais especializados, apoio financeiro e moradia. 
10Saúde mental e qualidade de vida de pais de pessoas com TEA durante a pandemia COVID-19: uma revisão narrativaRevista Psicologia, Diversidade e Saúde/ 2021Revisar estudos sobre a saúde mental e/ou qualidade de vida de pais durante a pandemia.
11Desenvolvimento histórico do conceito de Qualidade de Vida: uma revisão da literaturaRevista Ciencia y cuidado/ 2021Analisar os aspectos conceituais e teóricos que o conceito de qualidade de vida incorpora e as suas contribuições em diferentes disciplinas
12Autismo: uma revisão integrativaSaúde Dinâmica, 2020Apontar os avanços científicos em relação ao diagnóstico e tratamento dos pacientes e esclarecer os fatores inerentes ao convívio familiar dos mesmos
Fonte: Autores (2024)

Segundo Schwartzman (2003), o conceito de qualidade de vida é um processo dinâmico e em constante mudança que envolve interações contínuas entre o paciente e seu ambiente. Estas interações são influenciadas por vários fatores, incluindo fatores orgânicos como o tipo de doença e a sua progressão, fatores psicológicos como a personalidade e mudanças de valores, crenças e expectativas, bem como fatores sociais e familiares como o apoio social recebido e percebido. É importante notar que a avaliação global da vida de um paciente abrange não apenas o bem-estar físico, mental e social, mas também se estende além do âmbito dessas interações.

O TEA, transtorno marcado por problemas de desenvolvimento neurológico que se manifestam precocemente na vida, é caracterizado por dificuldades de comunicação, socialização e padrões comportamentais. Normalmente, esse distúrbio é diagnosticado entre as idades de dois e três anos. Aproximadamente 80% dos indivíduos com TEA também apresentam algum nível de deficiência intelectual (TEIXEIRA G, 2016).

Os critérios diagnósticos envolvem vivenciar perdas em três áreas específicas, conhecidas como tríade de perdas. Estas áreas incluem:

a) um prejuízo qualitativo na interação social; b) perda de habilidades qualitativas na comunicação verbal e não verbal, bem como nas brincadeiras imaginativas; e c) comportamentos e interesses restritivos e repetitivos. É importante notar que a presença universal de deficiências qualitativas na interação social e na comunicação é um aspecto fundamental do diagnóstico (DSM-5, 2013; CID-10, 2003).

Ao receber um diagnóstico de TEA, os pais experimentam uma série de respostas emocionais. Segundo Fávero e Santos (2005), a literatura reconhece que pais e mães são significativamente afetados quando tomam conhecimento do transtorno autista de seus filhos. Goitein e Co. (2011) sugerem ainda que estes familiares podem sentir-se frustrados e assumir a culpa pela condição do seu filho. Além disso, podem continuar a sentir fadiga, sensação de impotência, vulnerabilidade e até sentimentos de isolamento (Fadda & Cury, 2019).

Os pais de crianças diagnosticadas com TEA têm uma enorme responsabilidade, pois devem navegar numa situação que necessita de adaptações familiares e pessoais. As perspectivas dos membros da família desempenham um papel crucial na promoção de ligações fortes e cooperativas entre pais e profissionais especializados no trabalho com crianças com TEA. Pesquisas recentes indicam que os pais consideram o Sistema de Comunicação por Troca de Imagens (PECS) altamente eficaz para melhorar as habilidades de comunicação de seus filhos (ALSAYEDHASSAN et al, 2019). Esta metodologia tem um valor significativo no ensino de indivíduos com distúrbios de comunicação e/ou TEA como se comunicar de forma eficaz, promovendo assim maior interação e engajamento (GAIATO, 2018).

Ao longo dos vários estágios de desenvolvimento, as famílias que lidam com o autismo encontrarão novos desafios semelhantes aos enfrentados pelas famílias de crianças sem autismo (Minatel & Matsukura, 2014). Pesquisa realizada com crianças e adolescentes autistas revela que o cotidiano dessas famílias gira em torno das necessidades e dificuldades da criança ou adolescente com autismo, tanto dentro de casa quanto em ambientes sociais. Embora alguns desafios, como atividades sociais, acessos de raiva e idiossincrasias, sejam comuns a todas as faixas etárias, outros são específicos de um determinado estágio de desenvolvimento. Para crianças de até 12 anos, muitas vezes surgem dificuldades na aceitação do diagnóstico, na comunicação, no manejo de questões comportamentais, em lidar com a sobrecarga de atenção e no enfrentamento do preconceito do meio social envolvente. Em contraste, durante a adolescência, os pais relatam maiores desafios em termos de dependência dos filhos, higiene, atividades que envolvem toque e contato físico, comportamento desafiador, acessos de raiva, automutilação, socialização com colegas e navegação no desenvolvimento da sexualidade (Segeren & Françozo, 2014).

O impacto de um diagnóstico de autismo vai além da saúde do indivíduo, afetando toda a unidade familiar. Apesar deste reconhecimento, continua a existir uma lacuna notável no apoio pós-diagnóstico, levando muitas famílias a encontrar desafios nos aspectos emocionais, sociais e económicos. Isso agrava ainda mais o sofrimento vivenciado pelos familiares, conforme destacado por Bonfim et al. (2020), que enfatiza a necessidade de assistência profissional e terapia de intervenção precoce para crianças com diagnóstico de TEA. Dadas as implicações da condição e os ajustamentos que a acompanham, as famílias também necessitam de apoio e orientação para navegar nesta nova realidade e adaptar-se às exigências e mudanças emergentes.

Os resultados indicam que o papel do cuidador tem sido retratado como um dever exigente (Cardon, & Marshall, 2020; Alshahrani, & Algashmari, 2021), resultando em dificuldades e cansaço no dia a dia de todos os membros da família, particularmente das mães. Isto é especialmente verdadeiro para as mães que são as cuidadoras principais de crianças com TEA (Silva et al., 2019; Silva et al., 2020; Tavares et al., 2020). As responsabilidades associadas ao cuidado dos filhos e às tarefas domésticas continuam a recair desproporcionalmente sobre as mães, que agora se dedicam integralmente a estas obrigações (Silva et al., 2019; Dias et al., 2021).

O bem-estar dos pais com filhos no espectro do autismo é influenciado por vários fatores, incluindo necessidades financeiras e desafios no acesso a cuidados de saúde e apoio social. Os pais de indivíduos com TEA muitas vezes enfrentam maiores demandas financeiras, pois trabalham mais horas para cobrir os custos de terapia, educação especializada e assistência médica (Gomes et al., 2015). Muitas mães, em particular, sofrem redução de salários ou desistem dos seus empregos para cuidar dos seus filhos autistas, resultando numa diminuição do rendimento familiar. Além disso, há falta de serviços adequados de saúde, educação e recreação, bem como apoio limitado para a inclusão de indivíduos com TEA, levando a uma estigmatização significativa (OPAS, 2017). Estas dificuldades são agravadas no actual contexto de quarentena, onde as medidas de distanciamento social suspenderam numerosos serviços presenciais, actividades escolares e interacções sociais, causando ao mesmo tempo um impacto negativo substancial na situação económica das famílias.

O bem-estar das mães é fortemente influenciado pela sua capacidade de acesso a atividades de lazer, serviços de saúde, transporte e outros recursos essenciais. É imperativo que as iniciativas políticas priorizem a disponibilização destes recursos para melhorar a qualidade de vida das mães. Além disso, abordar a depressão materna requer uma abordagem sensível e abrangente. Conforme sugerido por Sanini et al (2010), é crucial expandir as oportunidades recreativas e de lazer para cuidadores de crianças com transtornos invasivos do desenvolvimento. Além disso, devem ser implementadas estratégias de intervenção para criar um ambiente de apoio onde estas mulheres possam expressar-se, partilhar as suas experiências, aliviar a sua dor e sofrimento e aliviar as suas ansiedades e incertezas (Najarsmeha; Cezar, 2011).

Segundo Nobre e Souza (2018), enfatiza-se que as mães enfrentam necessidades significativas de cuidados, levando a um estresse avassalador que pode impactar negativamente o seu bem-estar geral. O peso da responsabilidade materna no processo de cuidar está intimamente ligado à perpetuação social de uma construção histórico-cultural que atribui às mães o dever primário de cuidar dos seus filhos (Pinto et al., 2016). Os autores sublinham a importância da dedicação total e do foco da mãe no cuidado, resultando muitas vezes no sacrifício da sua carreira profissional. Esta divisão de atenção entre outros filhos, o cônjuge e as responsabilidades domésticas leva a consequências físicas e psicológicas significativas.

As mães, em comparação com os pais, enfrentam um risco maior de sofrer efeitos emocionais, sociais, físicos e psicológicos prejudiciais como consequência do autismo dos seus filhos. Esta vulnerabilidade acrescida decorre da procura incessante de atenção que algumas crianças com autismo necessitam, deixando as mães com oportunidades limitadas para cuidar do seu próprio bem-estar. (Constantinidis, Silva, Ribeiro, 2018; Dardas, Ahmad, 2014; Pereira, Fernandes, Relva, 2018). Por outro lado, a melhoria do apoio social e o aumento da renda familiar possuem o potencial de impactar positivamente a qualidade de vida das mães com filhos com transtorno do espectro do autismo (TEA), potencialmente atribuído à disponibilidade de recursos suplementares para lidar com o estresse.

CONCLUSÃO: 

Portanto, as mães atípicas enfrentam vários obstáculos significativos, incluindo o julgamento social, o malabarismo entre trabalho e prestação de cuidados, dificuldades financeiras e falta de sistemas de apoio. Contudo, existem estratégias que podem melhorar a vida dessas mães, como estabelecer uma rede de apoio, buscar assistência profissional e implementar práticas eficazes de gestão do tempo e de autocuidado. Estas melhorias não beneficiam apenas as próprias mães, mas também têm uma influência positiva no seu estado emocional, nas relações com os filhos e parceiros, bem como na sua produtividade e satisfação globais, tanto nos aspectos pessoais como profissionais da vida. É crucial reconhecer e enfrentar os desafios únicos enfrentados pelas mães atípicas, a fim de promover o seu bem-estar e melhorar a qualidade de vida para si e para as suas famílias.

REFERÊNCIAS: 

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da Silva, A. C. G., de Sousa Filho, C., de Jesus Andrade, C., & Ribeiro, B. C. (2021). Famílias frente a crianças com diagnóstico de autismo: um olhar para a atuação de profissionais da psicologia Psychology and families among autism diagnosis: a literature review. Brazilian Journal of Development, 7(7), 69579-69592.  Disponível em: https://scholar.archive.org/work/4ymjow5g5rhotludsekgiyzse4/access/wayback/https://brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/download/32689/pdf

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Medrado, A. A., Campos, R. C., Siquara, G. M., & Pondé, M. P. (2021). Saúde mental e qualidade de vida de pais de pessoas com TEA durante a pandemia COVID-19: uma revisão narrativa. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 10(3), 507-521. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/article/view/3545.

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1Graduada em Psicologia 
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
jessica.franmend@gmail.com 
2Graduada em Psicologia 
Universidade da Amazônia – UNAMA
jessicaalmeidacruz@hotmail.com
3Mestre em Psicologia 
Universidade Federal de Sergipe (UFS)
barbara.gael@hotmail.com 
4Mestre em Enfermagem
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
5Graduada em Enfermagem 
Universidade Estácio de Sá – UNESA
andreabmcabm@gmail.com 
6Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde 
Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL
jilielisson@gmail.com  
7Graduada em Medicina 
Pontifícia universidade católica de Goiás (PUC – GO)
isabelcbm01@gmail.com
8Bacharel em Medicina
Universidade Federal de Goiás – UFG
marcoswilliam.marques@gmail.com 
09Graduada em Medicina 
Pontifícia universidade católica de Goiás (PUC – GO)
anaclarabarbozamendes@gmail.com 
10Mestranda pelo programa de Pós-graduação em Ciências Aplicada à Saúde (PPgCAS)
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV)
edilene.marcia@estudante.ufjf.br 
11Mestre em Educação Profissional em Saúde 
Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
carolinareis.cap31@gmail.com 
12Mestrado em Educação Agrícola
Instituto Federal de Educação de Pernambuco
isabellecristine@recife.ifpe.edu.br
13Doutora pelo programa de Pós-graduação em Enfermagem e Biociências PPGENFBIO/UNIRIO
sarrahbarretorj@gmail.com