PSIQUIATRIA NUTRICIONAL: UM OLHAR CLINICO SOBRE A DEPRESSÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411201015


Patrícia Maria Barbiero1
Orientador: Gilmar Nascimento2


RESUMO

A psiquiatria nutricional é uma área emergente que investiga a relação entre alimentação e transtornos mentais, com ênfase na depressão, uma condição multifatorial. Estudos sugerem que a alimentação pode influenciar o desenvolvimento e o tratamento dessa doença. O objetivo deste estudo é analisar a influência da nutrição na melhora dos sintomas da depressão. A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão de literatura, com levantamento de dados de artigos nas bases de dados PubMed, SciELO, Google Acadêmico e e-books da minha biblioteca, publicados entre 2020 e 2022, nos idiomas português e inglês. Espera-se que os resultados evidenciem que dietas personalizadas e suplementação nutricional, associadas a tratamentos individuais, podem ter um impacto positivo no manejo da depressão, promovendo a melhora dos sintomas. Conclui-se que dietas personalizadas e suplementação nutricional com tratamento personalizado para cada paciente pode ter impacto no tratamento de diferentes doenças incluindo a depressão.

Palavras-chave: Depressão. Vitaminas. Minerais. Ácidos graxos. Psiquiatria nutricional.

ABSTRACT

Nutritional psychiatry is an emerging field that investigates the relationship between diet and mental disorders, with an emphasis on depression, a multifactorial condition. Studies suggest that nutrition can influence the development and treatment of this illness. The aim of this study is to analyze the influence of nutrition on the improvement of depressive symptoms. The research was conducted through a literature review, gathering data from articles in the PubMed, SciELO, Google Scholar databases, and e-books from my library, published between 2020 and 2022, in both Portuguese and English. It is expected that the results will highlight that personalized diets and nutritional supplementation, when combined with individualized treatments, may have a positive impact on the management of depression, promoting symptom improvement. It is concluded that personalized diets and nutritional supplementation, along with individualized treatment for each patient, can have an impact on the treatment of various illnesses, including depression.

Keywords: Depression. Vitamins. Minerals. Fatty acids. Nutritional psychiatry.

1. INTRODUÇÃO

A psiquiatria nutricional é um ramo em evolução que explora as interações complexas entre alimentação, metabolismo e saúde mental. Estudos recentes têm mostrado que a dieta desempenha um papel crucial não só na manutenção da saúde física, mas também na prevenção e no tratamento de transtornos psiquiátricos. Um dos transtornos mais comuns, e ao mesmo tempo desafiadores, no contexto da psiquiatria nutricional é a depressão, que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Diversos estudos indicam que a alimentação pode influenciar a função cerebral, os níveis de neurotransmissores e a inflamação, todos fatores- chave no desenvolvimento e na progressão de quadros depressivos (Jacka et al., 2017).

A depressão é uma condição multifatorial que envolve fatores genéticos, ambientais e biológicos. A interação entre esses fatores pode ser modulada por aspectos dietéticos, como a ingestão de nutrientes essenciais para o funcionamento cerebral, como ácidos graxos essenciais, vitaminas, minerais e aminoácidos. Nutrientes como o ômega-3, encontrado principalmente em peixes gordurosos, e o folato, presente em vegetais de folhas verdes, têm sido amplamente estudados por suas propriedades neuroprotetoras e sua capacidade de reduzir os sintomas depressivos (Sarris et al., 2012). Além disso, dietas ricas em alimentos ultraprocessados e pobres em nutrientes podem estar associadas ao aumento da prevalência de depressão, indicando que a alimentação pode influenciar tanto o desenvolvimento quanto o agravamento dos sintomas depressivos (Lai et al., 2014).

Pesquisas recentes têm reforçado a ideia de que abordagens integradas, que combinam tratamento psiquiátrico convencional com intervenções nutricionais, podem ser mais eficazes no manejo da depressão. A psiquiatria nutricional oferece uma oportunidade única de tratar o paciente de maneira holística, levando em consideração tanto os aspectos psicológicos quanto nutricionais do quadro clínico. Modificar a dieta, incluindo a suplementação de nutrientes específicos ou a promoção de hábitos alimentares saudáveis, pode ter um impacto significativo na redução dos sintomas depressivos e na melhora da qualidade de vida dos pacientes (Firth et al., 2019). Dessa forma, a colaboração entre psiquiatras e nutricionistas tem se mostrado fundamental para o sucesso do tratamento da depressão, abordando a doença sob uma perspectiva mais abrangente e personalizada.

O presente estudo possui relevância pois a área da psiquiatria nutricional traz uma perspectiva integrativa sobre o tratamento e manejo da depressão, considerando não apenas os fatores biológicos e psicológicos, mas também fatores nutricionais que podem influenciar diretamente o estado mental e emocional do paciente. O artigo pode incentivar a colaboração entre profissionais de diferentes áreas, como psiquiatras, nutrólogos e nutricionistas, promovendo uma abordagem holística para o tratamento da depressão.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Psiquiatria Nutricional: Uma Nova Fronteira no Cuidado à Saúde Mental

A psiquiatria nutricional foi amplamente popularizada na década de 2000, quando a pesquisa sobre o impacto da dieta e do microbioma intestinal na saúde mental começou a ganhar destaque. Em particular, estudos como os de Sarris et al.(2012), que demonstraram os efeitos terapêuticos de intervenções dietéticas, como o aumento da ingestão de ácidos graxos ômega- 3, abriram caminho para o reconhecimento de que as estratégias nutricionais podem ser um complemento eficaz aos tratamentos convencionais da depressão e outros transtornos psiquiátricos.

2.2. Fundamentos Teóricos da Psiquiatria Nutricional

A relação entre dieta e saúde mental tem ganhado destaque nas últimas décadas, especialmente com o reconhecimento de que a alimentação pode impactar a função cerebral e os processos neuroquímicos, essenciais no desenvolvimento da depressão. Estudos recentes feitos por Firth et al (2020) e Carless et al (2021) têm demonstrado que deficiências nutricionais, como a falta de vitaminas B, ácidos graxos ômega-3 e minerais como magnésio e zinco, podem contribuir para o aparecimento e a persistência de sintomas depressivos.

Essas substâncias são cruciais para a síntese de neurotransmissores como serotonina e dopamina, que desempenham papéis chave na regulação do humor.

A inflamação sistêmica tem se mostrado um dos mecanismos biológicos centrais envolvidos na depressão, e a nutrição pode modulá-la de maneira significativa. Dietas ricas em alimentos processados, com alto teor de açúcares e gorduras saturadas, têm sido associadas a um aumento nos marcadores inflamatórios, como a proteína C-reativa (CRP), exacerbando o quadro depressivo. Em contrapartida, padrões alimentares anti-inflamatórios, como a dieta mediterrânea, que enfatiza o consumo de frutas, vegetais, peixes e azeite de oliva, têm sido correlacionados a uma redução nos sintomas de depressão, sugerindo que uma alimentação saudável pode atuar como um agente terapêutico na modulação da resposta inflamatória e no alívio dos sintomas depressivos (Lai et al., 2020; Li et al., 2022).

Além disso, a microbiota intestinal tem sido cada vez mais reconhecida como um fator crucial na saúde mental, com impactos significativos no desenvolvimento e no tratamento de transtornos como a depressão. A pesquisa sobre o eixo intestino-cérebro indica que a composição da microbiota intestinal pode afetar a produção de neurotransmissores, a função do sistema imunológico e a resposta ao estresse. Estudos mais recentes sugerem que dietas ricas em fibras e prebióticos, presentes em alimentos como vegetais, grãos integrais e leguminosas, podem promover uma microbiota saudável, resultando em efeitos benéficos sobre o humor e os sintomas depressivos. Além disso, o uso de probióticos como suplemento tem mostrado um potencial terapêutico promissor para a redução da ansiedade e da depressão, por meio da modulação da microbiota intestinal (Messaoudi et al., 2021; Capron et al., 2021).

Assim, a interação entre deficiências nutricionais e a microbiota intestinal representa uma área promissora de pesquisa para compreender melhor os mecanismos subjacentes à depressão, sugerindo que intervenções nutricionais poderiam ser uma abordagem eficaz para a gestão da saúde mental.

2.3. Evidências Científicas

Evidências sugerem que a deficiência de nutrientes chave, como ácidos graxos ômega-3, vitamina D, folato, vitaminas do complexo B e zinco, está frequentemente associada à depressão. Um estudo realizado por Firth et al. (2020) demonstrou que intervenções dietéticas que melhoram a ingestão desses nutrientes têm o potencial de reduzir significativamente os sintomas depressivos. Da mesma forma, dietas com padrões anti-inflamatórios, como a dieta mediterrânea, têm sido associadas a uma redução no risco de depressão devido ao seu impacto na modulação da inflamação sistêmica, um mecanismo biológico central na patogênese da doença (Li et al., 2022). Dietas ricas em alimentos processados e pobres em nutrientes, como as que contêm altas quantidades de açúcares refinados e gorduras saturadas, têm sido associadas a um aumento na resposta inflamatória, exacerbando os sintomas depressivos.

Além disso, o papel da microbiota intestinal na saúde mental tem ganhado destaque, com estudos sugerindo que a composição da microbiota pode afetar a regulação do humor e contribuir para o desenvolvimento da depressão. Pesquisas recentes indicam que intervenções dietéticas que promovem uma microbiota saudável, como dietas ricas em fibras e prebióticos, podem melhorar os sintomas depressivos por meio da modulação do eixo intestino-cérebro.

Um estudo de Messaoudi et al. (2021) sugere que o uso de probióticos também pode ter efeitos benéficos sobre o humor, ajudando a reduzir os sintomas de ansiedade e depressão. Esses achados destacam a importância de uma abordagem nutricional integral no tratamento da depressão, oferecendo uma alternativa complementar ou adjuvante às terapias convencionais, como a psicoterapia e a farmacoterapia (Hendrickson et al., 2020).

Um estudo feito em 2020 pelo JAMA network Open utilizou um ensaio clínico randomizado com 226 pacientes com depressão maior e investigou a suplementação com ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA). Os resultados indicaram que a suplementação de EPA foi eficaz na redução dos sintomas depressivos, com maior efeito observando-se em pacientes com níveis baixos de ômega-3. A suplementação foi mais eficaz do que o placebo, sugerindo que os ácidos graxos ômega-3 podem ser uma adjuvante importante no tratamento da depressão (Lopresti et al., 2020).

Já em 2021 o Journal of Clinical Psychiatry fez uma meta análise de ensaios clínicos randomizados e encontrou que a suplementação com ômega-3, especialmente com altas doses de EPA, mostrou-se eficaz na redução dos sintomas depressivos, com resultados mais pronunciados em indivíduos com transtornos depressivos leves a moderados. Essa pesquisa conclui que a suplementação de ácidos graxos ômega-3 pode ser uma estratégia valiosa para o tratamento da depressão, especialmente quando combinada com terapias convencionais (Kiecolt-Glaser et al., 2021).

2.4. Microbiota Intestinal e Saúde Mental

Outro aspecto central da psiquiatria nutricional é a relação entre a saúde intestinal e a saúde mental, conhecida como o “eixo intestino-cérebro”. A microbiota intestinal, o conjunto de micro-organismos que vivem no trato digestivo, tem um papel crucial na modulação do humor e da função cognitiva. Esses micro-organismos produzem neurotransmissores, influenciam o sistema imunológico e afetam diretamente a função cerebral.

Dieta inadequada pode alterar a composição da microbiota, levando a inflamações sistêmicas que são frequentemente associadas a transtornos psiquiátricos. Intervenções dietéticas que favorecem a saúde intestinal, como o consumo de prebióticos, probióticos e alimentos fermentados, têm mostrado potencial para melhorar sintomas de depressão e ansiedade.

2.5. Abordagens Terapêuticas na Psiquiatria Nutricional

Uma das abordagens mais investigadas é a suplementação com ácidos graxos ômega-3, especialmente o EPA (ácido eicosapentaenoico), que tem demonstrado efeitos positivos na modulação da inflamação cerebral e na regulação de neurotransmissores envolvidos no humor.

Lopresti et al. (2020) e Kiecolt-Glaser et al. (2021) encontraram que a suplementação com ômega-3 tem benefícios significativos no alívio dos sintomas depressivos, particularmente em pacientes com baixos níveis desses ácidos graxos essenciais. A combinação de ômega-3 com tratamentos convencionais, como medicamentos antidepressivos, pode potencializar os efeitos terapêuticos, proporcionando uma intervenção nutricional eficaz e de baixo custo.

Além da suplementação com ácidos graxos, dietas anti-inflamatórias, como a dieta mediterrânea, têm se mostrado altamente promissoras no manejo da depressão. Firth et al. (2021) destacaram em sua revisão que a adesão a essa dieta, rica em antioxidantes, ácidos graxos monoinsaturados e fibras, está associada a uma redução dos sintomas depressivos. A dieta mediterrânea atua não apenas pela modulação da inflamação, mas também por promover um equilíbrio no metabolismo cerebral e na função do sistema nervoso central, fatores essenciais no controle da depressão. Além disso, intervenções dietéticas com foco em alimentos frescos e naturais, e a exclusão de alimentos ultraprocessados, têm mostrado um impacto positivo na redução do risco de doenças mentais, incluindo a depressão, ao melhorar o perfil inflamatório e oxidativo do organismo.

Uma abordagem emergente na psiquiatria nutricional envolve a modulação da microbiota intestinal, conhecida como o eixo intestino-cérebro. O crescente corpo de pesquisa sobre a relação entre o microbioma intestinal e a saúde mental sugere que intervenções dietéticas podem melhorar o estado emocional ao promover um equilíbrio saudável da microbiota. O’Mahony et al. (2020) e Tremblay et al. (2023) demonstraram que dietas ricas em probióticos, prebióticos e fibras podem reduzir a inflamação intestinal e influenciar positivamente a atividade cerebral, oferecendo uma estratégia adicional no tratamento da depressão. Além disso, a suplementação com probióticos tem mostrado efeitos benéficos, ajudando a restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal, o que pode contribuir para a melhoria dos sintomas depressivos, criando um vínculo entre a saúde intestinal e o bem-estar psicológico. Essas abordagens indicam que a nutrição não só tem o potencial de melhorar os sintomas depressivos, mas também pode atuar como um fator preventivo ao influenciar positivamente os sistemas biológicos fundamentais que regulam o humor e o comportamento.

3. MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de uma revisão de literatura a partir do levantamento de dados sobre artigos utilizando a base de dados: PubMed, Scielo, Google acadêmico, ebooks (de minha biblioteca) publicados entre os anos 2020 e 2022, nos idiomas em português e inglês. Foram empregados descritores como: psiquiatria nutricional, transtornos mentais, nutrição, saúde mental, depressão, transtorno depressivo, microbiota intestinal, vitaminas, minerais.

4. DISCUSSÃO

A relação entre nutrição e saúde mental é multifacetada, envolvendo fatores como a modulação da inflamação, a regulação do eixo intestino-cérebro e a síntese de neurotransmissores. Vários estudos recentes sugerem que intervenções nutricionais, como a suplementação de ácidos graxos ômega-3, vitaminas do complexo B, vitamina D e minerais como zinco e magnésio, podem ter um impacto significativo na redução dos sintomas depressivos. Por exemplo, estudos como o de Lopresti et al. (2020) e Kiecolt-Glaser et al. (2021) demonstraram que a suplementação com ômega-3, especialmente o EPA, tem efeitos anti- inflamatórios que contribuem para a melhora do humor em pacientes com depressão. Além disso, a correção de deficiências nutricionais, como a de vitamina B12 e ácido fólico, tem se mostrado eficaz no alívio dos sintomas depressivos, corroborando a ideia de que a nutrição desempenha um papel fundamental na regulação do humor e no suporte ao tratamento da depressão.

Além dos ácidos graxos e vitaminas, a dieta como um todo desempenha um papel crucial na saúde mental. A dieta mediterrânea, por exemplo, rica em ácidos graxos insaturados, antioxidantes e fibras, tem sido associada a um menor risco de depressão e uma melhor resposta ao tratamento. Firth et al. (2021) e O’Neil et al. (2022) demonstraram que a adesão a esse tipo de dieta pode melhorar significativamente os sintomas depressivos, possivelmente devido aos seus efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores. Em paralelo, há um crescente interesse sobre a modulação da microbiota intestinal, uma vez que o eixo intestino-cérebro desempenha um papel importante na regulação do sistema nervoso central. Pesquisas recentes indicam que dietas ricas em probióticos e prebióticos podem influenciar positivamente o equilíbrio da microbiota, resultando em efeitos benéficos na saúde mental. O estudo de O’Mahony et al. (2020) sugeriu que a modulação da microbiota intestinal pode representar uma intervenção eficaz na prevenção e no tratamento da depressão, reforçando a importância de uma abordagem nutricional para o cuidado da saúde mental.

Embora a evidência científica sobre a psiquiatria nutricional seja promissora, ainda existem lacunas importantes que precisam ser abordadas. A maioria dos estudos realizados até o momento é de natureza observacional ou ensaios clínicos com amostras pequenas, o que limita a generalização dos resultados. Além disso, a combinação de abordagens nutricionais com tratamentos farmacológicos e psicoterápicos precisa ser mais bem explorada, a fim de definir estratégias terapêuticas integradas que maximizem os benefícios para os pacientes. A alimentação, como fator modificável e de baixo custo, oferece um grande potencial no manejo da depressão, especialmente quando incorporada de maneira personalizada e individualizada ao tratamento tradicional. Pesquisas futuras são essenciais para determinar quais intervenções nutricionais são mais eficazes, como elas interagem com tratamentos convencionais e quais os mecanismos subjacentes a esses efeitos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psiquiatria nutricional tem se afirmado como uma abordagem inovadora e eficaz no tratamento da depressão, com um corpo crescente de evidências científicas que apontam para o impacto significativo da alimentação e dos nutrientes na saúde mental. Diversas intervenções nutricionais, como a suplementação com ácidos graxos ômega-3, a correção de deficiências vitamínicas (como as vitaminas B12 e D), o aumento do consumo de alimentos anti- inflamatórios e a modulação da microbiota intestinal, têm demonstrado benefícios no alívio dos sintomas depressivos. Estudos recentes, como os de Lopresti et al. (2020) e Firth et al. (2021), corroboram a importância de uma dieta balanceada e de micronutrientes essenciais, como o ômega-3 e a vitamina D, na melhoria do quadro clínico de pacientes com depressão. Esses achados reforçam a ideia de que a nutrição, ao influenciar diretamente a inflamação, a neuroplasticidade e o equilíbrio neuroquímico, desempenha um papel crucial na modulação do humor e na saúde mental em geral.

Além disso, a crescente compreensão do eixo intestino-cérebro e a relação entre a microbiota intestinal e a saúde mental oferece novas perspectivas terapêuticas. A modulação da microbiota por meio de dietas ricas em prebióticos, probióticos e fibras tem mostrado efeitos promissores, como indicado pelos estudos de O’Mahony et al. (2020) e Tremblay et al. (2023),

esses dados sugerem que a alimentação pode agir não apenas na melhoria da saúde física, mas também como uma ferramenta de intervenção eficaz na prevenção e no tratamento da depressão. No entanto, mais estudos clínicos randomizados e de longo prazo são necessários para estabelecer com maior clareza as melhores práticas e os protocolos terapêuticos nutricionais, bem como para identificar os mecanismos biológicos subjacentes a esses efeitos.

Por fim, é importante reconhecer que, embora a psiquiatria nutricional tenha demonstrado um grande potencial terapêutico, ela deve ser encarada como uma abordagem complementar aos tratamentos farmacológicos e psicoterápicos convencionais. A integração de terapias nutricionais personalizadas com tratamentos tradicionais pode resultar em benefícios mais amplos e sustentáveis para os pacientes. O campo da psiquiatria nutricional continua a evoluir, e novas pesquisas são fundamentais para aprimorar as intervenções, explorar as interações entre nutrição e psicofarmacologia e definir diretrizes práticas para o manejo da depressão. Dessa forma, a nutrição pode se consolidar como um pilar adicional no tratamento da depressão, ampliando as opções terapêuticas e promovendo uma abordagem mais holística e personalizada para o cuidado da saúde mental.

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1 Acadêmica de Medicina da Faculdade Metropolitana de Rondônia
2 Professor do Curso de Medicina da Faculdade Metropolitana de Rondônia