PSICOFARMACOLOGIA DO TRANSTORNO DE ANSIEDADE: QUESTÕES FARMACOLÓGICAS E AS INTERVENÇÕES EM TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL (TCC)

PSYCHOPHARMACOLOGY OF ANXIETY DISORDER: PHARMACOLOGICAL ISSUES AND INTERVENTIONS IN COGNITIVE BEHAVIORAL THERAPY (CBT)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505231138


Myrelle Cristine Lima Marinho1
Victor Khalyl Sales dos Santos2
Daniel de Camargo Loureiro3
Camila Gonçalves Ribeiro4
Herlânia Rodrigues Fernandes5
Cândida Helena Lopes Alves6
Dannilo Jorge Escorcio Halabe7
Nayara Silva dos Anjos8
Hemerson Silva de Jesus Júnior9
Mizael Calácio Araújo10


Resumo

Os benzodiazepínicos são psicofármacos amplamente prescritos no manejo dos transtornos de ansiedade, devido à sua ação ansiolítica rápida e eficaz. No entanto, apresentam risco de dependência física e psicológica quando utilizados de forma abusiva ou prolongada. Este artigo revisa os mecanismos de ação, efeitos colaterais e potencial de dependência dessas substâncias, destacando a terapia cognitivo-comportamental (TCC) como uma intervenção promissora. A Terapia Cognitiva-Comportamental, ao abordar pensamentos e crenças disfuncionais, auxilia na mudança de padrões comportamentais e promove a recuperação de indivíduos dependentes. que integre intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas, a fim de lidar com a complexidade da dependência de benzodiazepínicos e promover uma reabilitação mais eficaz e duradoura.  

Palavras-chave: Psicologia Cognitiva, Ansiolíticos, Psicotrópicos, Ansiedade,  Psicofarmacologia, Benzodiazepínicos

1. INTRODUÇÃO

O transtorno de ansiedade e os estados ansiosos apresentam alta prevalência na população contemporânea, sendo reconhecidos como um dos transtornos mentais mais comuns. O aumento do estresse percebido no cotidiano, aliado aos distúrbios do sono e outros fatores associados, tem contribuído para a crescente busca por substâncias que induzem sensações de prazer e alívio emocional. Nesse contexto, os benzodiazepínicos são amplamente prescritos, principalmente por seus efeitos ansiolíticos e miorrelaxantes (Filho, 2018; Camargo, 2023).

Paralelamente ao aumento da demanda por psicofármacos, observa-se um preocupante uso indiscriminado dessas substâncias, o que se configura como um desafio global de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2017, um gasto anual de 17 bilhões de dólares com eventos adversos relacionados a medicamentos. O Brasil figura entre os 10 maiores consumidores mundiais de fármacos, com destaque para os benzodiazepínicos, especialmente entre idosos, mulheres e populações com baixos níveis de escolaridade e renda (Suzuki, 2015; Camargo, 2023; ANVISA, 2021; Ministério da Saúde, 2005).

Diante dos riscos associados ao uso prolongado e abusivo dos benzodiazepínicos, este estudo se propõe a revisar, de forma sistemática, os mecanismos farmacológicos envolvidos, os efeitos colaterais e o potencial de dependência dessas substâncias. Além disso, busca-se discutir as possibilidades de intervenção terapêutica em usuários dependentes, com ênfase na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). O objetivo é contribuir para uma compreensão mais ampla e integrada do problema, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento.

2. REVISÃO DA LITERATURA

A literatura científica tem evidenciado a relevância da ansiedade como fenômeno psicopatológico e social, e o consequente aumento do uso de benzodiazepínicos como forma de enfrentamento medicamentoso. Essa prática, embora eficiente em curto prazo, levanta preocupações a longo prazo quanto à dependência e aos efeitos adversos associados ao seu uso indiscriminado.

2.1 Ansiedade e uso de benzodiazepínicos

A ansiedade é uma emoção regulada por redes neurais complexas, envolvendo diversas regiões cerebrais, como a amígdala, o córtex pré-frontal e o hipocampo. Essas áreas atuam em conjunto na percepção e resposta a estímulos ameaçadores, tanto reais quanto imaginários. Quando ocorre um desequilíbrio nesse sistema regulatório — seja por predisposição genética, fatores ambientais ou neuroquímicos — manifesta-se o transtorno de ansiedade, caracterizado por medo excessivo, preocupação persistente e sintomas físicos como taquicardia, sudorese e tensão muscular (Hovatta & Koshinen, 2023).

Os benzodiazepínicos surgiram na década de 1950 como uma alternativa mais segura aos barbitúricos, então amplamente utilizados como ansiolíticos, porém associados a alto risco de dependência, overdose e depressão respiratória. A descoberta dos benzodiazepínicos revolucionou o tratamento dos transtornos ansiosos, oferecendo maior eficácia clínica e menor toxicidade em casos de uso isolado (Costa et al., 2020). Esses fármacos atuam como moduladores alostéricos positivos do receptor GABA-A, aumentando a ação do ácido gama-aminobutírico (GABA), o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central. Isso resulta em efeito calmante, redução da excitação neuronal e alívio dos sintomas ansiosos.

Apesar da eficácia terapêutica no curto prazo, o uso prolongado de benzodiazepínicos é desencorajado devido ao risco de tolerância, dependência física e psicológica, além de sintomas de abstinência quando descontinuados abruptamente. Estudos indicam também que o uso crônico pode estar associado a prejuízos cognitivos, como comprometimento da memória, atenção e função executiva, especialmente em idosos. Por isso, recomenda-se o uso criterioso, geralmente por períodos curtos, e sempre com acompanhamento médico rigoroso (Oliveira-Freire et al., 2022).

Além disso, há uma crescente valorização de abordagens psicoterapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que demonstram eficácia duradoura no manejo da ansiedade sem os efeitos adversos dos psicofármacos. Em muitos casos, os benzodiazepínicos são utilizados como tratamento adjuvante, apenas durante as fases mais agudas do transtorno, enquanto se inicia uma terapia de base mais sustentável a longo prazo.

2.2 Mecanismo de ação dos benzodiazepínicos

Os benzodiazepínicos atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) por meio da modulação dos receptores GABA-A (Silva et al., 2022; Oliveira et al., 2021; Marshalla et al., 2022). Ao se ligarem ao sítio extracelular entre as subunidades α e γ desses receptores, promovem a abertura de canais de cloro, aumentando a entrada de íons Cl- e gerando hiperpolarização neuronal. Esse processo inibe a transmissão dos impulsos nervosos, resultando em efeitos como sedação, relaxamento muscular e redução da ansiedade.

2.3 Efeitos colaterais e dependência

Entre os efeitos adversos mais frequentes dos benzodiazepínicos estão a letargia, a amnésia anterógrada e a redução do estado de alerta. Seu uso durante a gestação pode causar malformações craniofaciais, e em idosos, aumenta o risco de quedas e acidentes (Goodman & Gilman, 2019). Embora considerados seguros em casos de superdosagem isolada, sua associação com outros depressores do SNC pode ser fatal.

O uso crônico dessas substâncias pode levar à tolerância e à dependência, caracterizadas por necessidade de doses crescentes para obtenção dos mesmos efeitos e aparecimento de sintomas de abstinência após interrupção (Savala et al., 2022).

2.4 Intervenções psicoterapêuticas complementares

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) destaca-se como uma intervenção eficaz na abordagem de pacientes com dependência de benzodiazepínicos. Ao trabalhar crenças disfuncionais e padrões de pensamento automático, a TCC contribui para a redução da ansiedade e o abandono gradual do uso dos psicofármacos, promovendo uma reestruturação cognitiva e emocional. Essa abordagem deve ser integrada a um plano terapêutico multidisciplinar que inclua avaliação médica, apoio social e, quando necessário, desmame medicamentoso supervisionado.

3. METODOLOGIA 

O presente artigo é uma revisão integrativa, que é um tipo de pesquisa qualitativa que tem como objetivo sintetizar o conhecimento existente sobre o uso dos benzodiazepínicos, a abstinência e o tratamento e prevenção com base na terapia cognitivo-comportamental. 

A coleta de dados foi realizada por meio de uma revisão sistemática da literatura. Foram consultadas bases de dados eletrônicas, como Google Acadêmico, Scielo, Pepsic e PubMed. Utilizando descritores como “benzodiazepínicos”, “síndrome de abstinência”, “transtornos de ansiedade”, “abuso de substâncias” e “terapia cognitivo-comportamental”. 

Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em português ou inglês, nos últimos 10 anos, que abordassem os temas de interesse de forma relevante e com rigor metodológico.  

Foram identificados um total de 19 artigos que atendiam aos critérios de inclusão. Os artigos foram selecionados por meio de uma leitura dos títulos e resumos, seguida de uma leitura na íntegra. A análise dos dados foi realizada por meio de uma análise temática, que é um tipo de análise qualitativa que busca identificar os temas e padrões que emergem dos dados. 

A análise temática, que é um tipo de análise qualitativa, busca identificar os temas e padrões que emergem dos dados. A análise temática foi realizada em três etapas sendo a primeira a leitura flutuante que consiste em uma leitura flutuante dos dados, com o objetivo de obter uma visão geral do material. A segunda etapa consistiu na identificação dos temas que emergiram dos dados e em seguida, a terceira etapa consistiu na categorização dos temas identificados. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante dos resultados analisados, é notório que o uso indiscriminado de benzodiazepínicos se tornou um problema grave de saúde pública. Segundo Magno (2015) as mulheres são as maiores consumidoras desses tipos de medicamentos, porém se vê o abuso desse tipo de medicamento em todo o mundo. Fato que foi evidenciado durante a pandemia de COVID-19, que segundo Barros et al (2020), levou a população a enfrentar um desequilíbrio na saúde mental durante a quarentena devido ao isolamento social, estresse, solidão, insônia, irritabilidade, perdas financeiras e o humor depressivo. E outro fator que foi atribuído é a falta de informações adequadas sobre a doenças e as fake news, fatores esses que somados com o medo, incerteza e ansiedade. 

Nesse contexto, a pesquisa realizada por Ferreira (2023), revelou um possível aumento do consumo de ansiolíticos durante a pandemia de COVID-19, dentre os psicofármacos mais mencionados foram o “Alprazolam e Clonazepam”, que são benzodiazepínicos. 

Consequentemente, o consumo irregular desse tipo de medicamento pode causar alterações no comportamento do indivíduo, como também levar a dependência física e psíquica. Tais fatores ocasionam complicações pessoais e sociais graves nos indivíduos (Magno, 2015). 

4.1 O que são os Benzodiazepínicos? 

O nome “benzodiazepínico” se refere a uma estrutura química específica no qual consiste em um anel aromático composto por sete membros de 1, 4-diazepina e quatro grupos que podem ser substituídos sem perderem a efetividade. O receptor GABA é o principal responsável pela ação dos benzodiazepínicos, ele atua inibindo o SNC aumentando a sua resposta através da abertura dos canais de cloro (Senra, 2021; Rang, Dale & Ritter, 2020). 

Os benzodiazepínicos são medicamentos com efeito ansiolítico, hipnótico, relaxante muscular e anticonvulsivante. São utilizados em caso de transtornos do sono, convulsão e principalmente nos transtornos da ansiedade sendo considerado um medicamento seguro pois seu efeito depressor do SNC é menos expressivo e causa menos danos a esse sistema. Esses medicamentos devem, no entanto, serem utilizados a curto prazo, no máximo até 3 meses, com isso pacientes que fazem uso excedendo o prazo indicado acabam desenvolvendo dependência devido a seu uso contínuo e desregulado (Faria et al., 2019). 

Os efeitos adversos são maiores em pacientes que fazem o uso prolongado como déficit de atenção, alucinações, demência, diarreia, taquicardia, vômito, alterações no comportamento e dores abdominais, articulares e torácicas. Esses medicamentos causam problemas nas funções cognitivas de tal forma que seus efeitos podem não ser reversíveis mesmo após o encerramento de seu uso (Nascimento et al., 2022). 

Os benzodiazepínicos são fármacos com alta lipossolubilidade, são bem absorvidos pelo corpo humano atingindo seu pico plasmático cerca de 1 hora após a ingestão por via oral, contudo, alguns como Diazepam, Clonazepam e Nitrazepam ligam-se às proteínas plasmáticas sendo dessa forma absorvidos de maneira mais lenta. Esses fármacos sofrem dois tipos de reações: Fase 1, onde se transforma em metabólitos por meio da ação do citocromo P450 e a Fase 2, onde se transforma em glicuronídeos e com isso são excretados pelos rins através da urina (Toledo & Marques, 2022). 

De acordo com a Portaria 344 de 1998 do Ministério da saúde, os benzodiazepínicos são medicamentos psicotrópicos que obtém a notificação de receita no receituário B1 da cor azul no qual são obrigatórios: o nome do emitente e do usuário, nome do medicamento com a dosagem ou concentração, forma farmacêutica, quantidade, posologia e data de emissão, além disso nas receitas B1 a quantidade para o tratamento pode ser de até 60 dias no máximo (Brasil, 1998).  

Os medicamentos ansiolíticos, como já foi citado anteriormente, podem causar dependência, principalmente quando utilizados de maneira incorreta, causando assim crises de abstinência e tolerância. Esta dependência é explicada devido às propriedades farmacológicas e a seu alto grau de solubilidade, além do tempo de meia-vida menor. Como os benzodiazepínicos são geralmente utilizados a curto prazo, a pessoa que extrapola os dias estabelecidos acaba por se acostumar àquele medicamento, desenvolvendo uma dependência em relação ao seu uso. O uso prolongado do medicamento, bem como o aumento gradual de seu consumo, é explicado pelo estado de tolerância. Neste estado, o corpo se torna resistente às doses normais do medicamento, iniciando assim a necessidade de doses ​​muito maiores ou até mesmo de outros fármacos para que o indivíduo consiga propor os mesmos efeitos (Silva et al., 2018). 

Compreender o mecanismo de ação dos benzodiazepínicos é crucial para entender não apenas seus efeitos terapêuticos, mas também o seu potencial para causar dependência. O uso prolongado desses medicamentos pode alterar a resposta neuroquímica do cérebro, o que leva ao desenvolvimento de tolerância e, eventualmente, dependência. A seguir, exploraremos como essa dependência se desenvolve e os impactos que ela pode ter sobre os indivíduos. 

4.2 O Transtorno por Uso de Substância e as intervenções em TCC  

O diagnóstico do transtorno por uso de substâncias, como a dependência de benzodiazepínicos, é essencial para o manejo adequado dos pacientes. De acordo com o DSM-5-TR (2023), o transtorno é caracterizado pelo uso problemático de medicamentos ansiolíticos que resulta em sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo. Para receber um diagnóstico, o indivíduo deve apresentar pelo menos dois dos onze critérios, desenvolvidos em um período de 12 meses. Esses critérios incluem usar mais ou por mais tempo do que o esperado, desejos persistentes ou tentativas fracassadas de reduzir ou controlar o uso, e passar muito tempo em atividades relacionadas a substâncias. Além disso, os indivíduos podem sentir fissuras (forte desejo de usar), falha no cumprimento de obrigações importantes devido ao uso, problemas sociais ou interpessoais relacionados ao uso, abandono de atividades importantes, uso em situações fisicamente perigosas e continuar o uso apesar dos problemas de saúde, tolerância e abstinência.  

Segundo Nunes et al. (2016), as crises de abstinência podem ser notadas dois a três dias após o uso de benzodiazepínicos de ação curta e cinco a dez dias após a suspensão dos benzodiazepínicos de ação prolongada. As manifestações podem ser físicas, como tremores, sudorese, palpitações, sonolência e náuseas, ou psicológicas, como insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, irritabilidade, agitação, convulsões e alucinações, que afetam diretamente a vida do indivíduo. 

Diante dos desafios apresentados pelo diagnóstico do transtorno por uso de substâncias, é fundamental explorar abordagens terapêuticas eficazes. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma das intervenções mais promissoras nesse contexto, visto que tem se mostrado eficaz na modificação de comportamentos e pensamentos disfuncionais relacionados ao uso dessas substâncias. 

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) foi desenvolvida na década de 60 por Aaron Beck. Inicialmente criada para tratar casos de depressão, porém, atualmente a TCC foi ampliada, através do empirismo colaborativo, para abranger diversos contextos, inclusive estudos mostram que se tornou muito efetiva em diversos transtornos mentais, incluindo a dependência química.  (Melo, 2020; Ávila & Soratto, 2020). 

O modelo cognitivo propõe que os pensamentos disfuncionais são comuns na maioria dos transtornos psicológicos, porém, quando o indivíduo começa a avaliar seus pensamentos de forma adaptativa, ele começa a sentir um decréscimo na emoção negativa e no comportamento mal-adaptativo. Dessa forma, a TCC é considerada uma abordagem diretiva, e tem como característica um tempo mais curto de tratamento em comparação às terapias tradicionais. (Melo, 2020; Beck, 2022). 

Segundo Beck (2013), a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) aplicada à dependência química exige uma compreensão individualizada de cada paciente. O terapeuta auxilia na mudança de pensamentos e crenças, promovendo assim uma alteração emocional e comportamental positiva (Melo, 2020). 

No contexto da terapia cognitivo-comportamental (TCC), o terapeuta busca identificar e questionar as crenças disfuncionais que o cliente possui sobre si mesmo, suas experiências e seu futuro. Essa investigação objetiva e sistemática permite testar a validade dessas hipóteses (Ávila & Soratto, 2020). A figura abaixo mostra como é o modelo cognitivo-comportamental básico: 

Figura 1. Descrição do modelo cognitivo

Diagrama

O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

Fonte: Beck, 2022 (adaptado).

De acordo com Marquezini (2019), as cognições são o foco do tratamento psicoterápico de usuários de drogas, onde serão trabalhados pensamentos, imagens, conceitos, ideias e crenças construídas ao longo da vida do indivíduo. Estimula-se a identificação e avaliação das crenças disfuncionais, buscando formas alternativas de processamento da realidade, que por sua vez, influenciam na emoção e no comportamento do indivíduo. 

Segundo Ávila e Soratto (2020) “o modelo cognitivo do uso de substâncias baseia-se na situação estímulo, crenças centrais e sobre o uso de drogas, pensamento automático, fissura (craving), crenças permissivas, plano de ação e uso continuado de recaída”. Neste modelo, as técnicas básicas usadas são em primeiro lugar, o fortalecimento da aliança terapêutica através de um entendimento empírico, em combinação com a aceitação incondicional. 

Quando há situações de risco interno ou externo, crenças centrais sobre o sujeito, o futuro e o mundo no que se refere ao uso das drogas, são ativadas, esse processo na maioria das vezes ocorre de forma inconsciente, e dessa forma dando origem a pensamentos automáticos. Todo esse processo leva o sujeito a iniciar e continuar o uso da droga, mesmo com o sentimento de culpa e fracasso, gerando assim um sofrimento psíquico (risco interno) que ativa suas crenças centrais, levando o sujeito a continuar o uso da substância. Também pode se considerar a existência de um modelo cognitivo adicto, onde os estímulos são os próprios transtornos psicológicos (ansiedade, depressão) ativando as crenças antecipadoras e orientadas ao alívio, como por exemplo, “Rivotril vai ajudar a melhorar minha ansiedade”, que criará pensamentos automáticos do tipo “usar”. Gerando assim as fissuras, crenças facilitadoras “só um hoje não vai fazer mal”, estratégia de ação “buscar a medicação”. (Ávila & Soratto, 2020; Marquezini, 2019). 

Sobre a eficácia da TCC no tratamento de dependência química podemos afirmar que pode ser comprovada pela fundamentação teórica consistente e pelas técnicas utilizadas, dentre as quais podemos citar a identificação de pensamentos automáticos e a psicoeducação, que contribui para que o paciente seja seu próprio terapeuta. Além disso, a TCC trabalha com a hipótese de que a pessoa pode sofrer uma recaída ao longo do tratamento e por isso dispõe de uma ferramenta conhecida como prevenção de recaídas que se configura como uma alternativa eficaz na redução do uso de drogas (Ávila & Soratto, 2020). 

O modelo de prevenção da recaída, advinda da TCC, tem como objetivo auxiliar o cliente a identificar e evitar situações de risco e mudar o estilo de vida. As técnicas utilizadas vão trabalhar conceitos relacionados à dependência química, como o estado de motivação para a mudança, as situações de risco, o processo de recaída, as decisões aparentemente irrelevantes e os fatores cognitivos associados à recaída. (Marquezini, 2019).  

A TCC utiliza a prevenção de recaídas, uma técnica eficaz que auxilia os pacientes a identificarem e evitarem situações de risco, além de promover mudanças no estilo de vida. Isso contribui para a redução do uso de drogas, mesmo em casos em que o paciente enfrenta altos riscos de recaída. 

5. CONCLUSÃO

Com sua abordagem focada em modificar padrões cognitivos e comportamentais, a TCC oferece uma solução não farmacológica eficaz para pacientes dependentes de benzodiazepínicos. Considerando os riscos associados ao uso prolongado desses medicamentos, a implementação de terapias psicoterapêuticas é uma medida essencial. 

Diante do que foi exposto através da revisão de literatura, os benzodiazepínicos são medicamentos psicotrópicos muito utilizados para o tratamento de diversas condições, como a insônia, convulsões e principalmente no caso do transtorno da ansiedade e quando utilizados por longos períodos podem acabar causando problemas a quem o utiliza como a abstinência e a tolerância. 

Dessa forma, faz-se necessário a corroboração de outros tratamentos que visam evitar esses estados de dependência farmacológica, com isso, tratamentos como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), surge como uma intervenção eficaz e não farmacológica, ajudando na mudança de cognições e comportamentos que levam à dependência.  

É fundamental conscientizar a população sobre os riscos do uso irrestrito de benzodiazepínicos e promover alternativas terapêuticas, como a TCC, para prevenir a dependência e garantir um tratamento mais seguro e eficaz. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, psicólogos, farmacêuticos e outros profissionais de saúde, é essencial para o sucesso do tratamento e prevenção da dependência de benzodiazepínicos. 

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1Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Edufor e-mail: myrelleclima@gmail.com
2Discente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade Edufor e-mail: vic.khalyl@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Farmácia do Centro Universitário de Ensino Superior Dom Bosco e-mail: danieldecamargoloureiro27@gmail.com
4Docente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade Edufor. Mestre em Psicologia (UFMA). e-mail: camilagori@hotmail.com
5Discente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade Edufor e-mail: herlania.rodrigues.fernandes@alunoedufor.com.br
6Docente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade Edufor. Pós-Doutora em Saúde Mental e-mail: candida.alves@hotmail.com
7Docente do Curso Superior de Psicologia da Faculdade Edufor. Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP). e-mail: dannhalabe@gmail.com
8Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Edufor e-mail: nayara.silva.dos.anjos@alunoedufor.com.br
9Discente do Curso Superior de Farmácia da Faculdade Edufor e-mail: hemerson.silva.de.jesus.junior@alunoedufor.com.br
10Docente do Curso Superior de Farmácia Faculdade Edufor. Doutor em Biodiversidade e Biotecnologia (BIONORTE). e-mail: mizaelcalacioo@outlook.com