PROTOCOLO DE MANEJO DE COLANGIOCARCINOMA EM UM HOSPITAL TERCIÁRIO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7492271


Francisco Soares de Alcântara Neto
Felipe de Lima Monteiro*
Davi Oliveira Aragão
Francisco Homero Botelho Castelo
Marianna Barroso Maciel Costa


1 INTRODUÇÃO

São denominados como colangiocarcinoma todos os cânceres com diferenciação colangio crítica, ocorrendo no fígado ou nas vias biliares, exceto na ampola de Vater e na vesícula biliar. Com base no sítio em que surge a neoplasia, o colangiocarcinoma pode ser dividido em intra-hepático e extra-hepático.

Colangiocarcinoma intra-hepático, compreendendo 10% dos casos totais aproximadamente, caracteriza-se pelo aparecimento de tumor no epitélio biliar dos ductos biliares intra-hepáticos, acima do nível dos ductos hepáticos direito e esquerdo. Colangiocarcinoma extra-hepático, que significa 90% dos casos, pode ainda ser subdividido em peri-hilar e distal. Aquele representa lesões no ducto hepático comum, proximais ao ducto cístico, até o nível dos ductos hepáticos direito e esquerdo, aliás o tumor de Klatskin (também classificado como peri-hilar) é definido como tumor de ducto biliar envolvendo a bifurcação do ducto hepático. O tumor peri-hilar conta em aproximadamente 50% de todos os casos de colangiocarcinoma.

No geral, os colangiocarcinomas representam 3% de todas as malignidades gastrointestinais, sendo a incidência anual na população do Ocidente de 0,74 a 1,05 por 100.000 habitantes. Em determinadas localidades asiáticas, a incidência pode ser um pouco mais elevada, aproximadamente 113 por 100.000 para homens e 50 por 100.000 para mulheres. Todos os anos, aproximadamente 6.000 novos casos de colangiocarcinoma são detectados nos Estados Unidos, a maioria dos pacientes é diagnosticada da quinta até a sétima décadas de vida, além da incidência ser discretamente maior em homens do que em mulheres. Não há dados oficiais sobre esse tipo de câncer no Brasil.

O colangiocarcinoma desenvolve-se a partir da transformação maligna de colangiócitos, cuja carcinogênese é bastante complexa e é resultado de uma cascata de anormalidades genéticas e metabólicas. Acredita-se que a inflamação crônica seja a característica mais comum e mais importante de muitos fatores de risco relacionados com essa transformação maligna. Além disso, alterações nos genes K-ras, p53 e P16INK4A são prevalentes em todos os colangiocarcinomas. Em termos de histopatologia, mais de 90% dos colangiocarcinomas são adenocarcinomas, cujos subtipos histológicos são esclerosante, nodular e papilar. Outras modalidades desse câncer incluem carcinoma de células escamosas, carcinoma de pequenas células e sarcomas.

Apesar da incidência crescente no mundo inteiro, o colangiocarcinoma ainda é considerado um tumor raro, por isso pode afirmar-se que ele é pouco operado por cirurgiões gerais ou até cirurgiões digestivos. Nesse sentido, sua baixa frequência fez fracassar várias tentativas para construir ensaios terapêuticos. Por outro lado, numa tentativa de aumentar a eficiência do estabelecimento de diagnóstico, estadiamento e tratamento do colangiocarcinoma, esse trabalho reúne evidências científicas da literatura para construir um protocolo para tal doença no Hospital Geral César Cals, considerando as peculiaridades de funcionamento daquela instituição.

2 JUSTIFICATIVA

De acordo com o site do Ministério da Saúde, os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) são documentos que determinam parâmetros para o diagnóstico de uma doença ou de um agravo à saúde; o tratamento estabelecido, com os medicamentos e outros produtos adequados, se necessário; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico e o seguimento e a verificação dos resultados de tratamento, a serem seguidos pelos gestores do SUS (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

No contexto da saúde pública cearense, o Hospital Geral Dr César Cals de Oliveira, equipamento mais antigo da rede pública da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), constitui-se em unidade terciária de alta complexidade, referência em Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Obstetrícia e Neonatologia. Dentre os programas e os projetos que visam à excelência nos cuidados aos pacientes, destacam-se o Banco de Leite Humano, a Casa da Gestante, o Centro de Imagem e Endoscopia, o Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e Pesquisa, o Núcleo de Segurança do Paciente, Núcleo de Atenção à Adolescente Gestante (NASA), a Unidade Hospital Geral e os Ambulatórios de Especialidades. Além disso, as estatísticas comprovam o grande desempenho do Hospital César Cals, com um total de 297 leitos e onde são realizados por mês, em média, 51.040 exames, 4.000 consultas, 1.723 atendimentos em Emergência Obstétrica e mais de 400 partos.

Nesse sentido, considerando a importância de um protocolo para orientar um serviço de referência, foi proposta a criação do Protocolo de Manejo de Colangiocarcinoma em um Hospital Terciário. Dessa forma, espera-se que este seja usado como guia na conduta diagnóstica e terapêutica do colangiocarcinoma.

3 OBJETIVO

Elaborar protocolo sobre Colangiocarcinoma para o serviço de Cirurgia Geral do Hospital Geral Dr César Cals de Oliveira – HGCCO.

4 METODOLOGIA

O trabalho consiste numa Pesquisa-Ação. O desafio inicialmente detectado é a baixa incidência do colangiocarcinoma, tornando-o uma doença rara cujo diagnóstico é realizado em estágios avançados geralmente. Como dito na introdução, vários ensaios clínicos com o propósito de criar uma conduta formal para o colangiocarcinoma fracassaram devido essa incidência reduzida.

Com base nos pontos levantados, foi elaborado o Protocolo de Manejo de Colangiocarcinoma em um Hospital Terciário, por meio de revisão da literatura e adequação com as condições de funcionamento do Hospital Geral Dr César Cals de Oliveira, com o fito de estabelecer o diagnóstico e os tratamentos apropriados do Colangiocarcinoma.O Protocolo deverá ser implantado posteriormente, bem como a avaliação do mesmo, a fim de averiguar as vantagens de sua prática em termos estatísticos.

5 PROTOCOLO

5.1 FATORES DE RISCO 

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de via biliar incluem colangite esclerosante primária, presença de cistos no colédoco, síndrome de Lynch e múltiplos papilomas biliares, adenoma de ducto biliar, infecções parasitárias hepáticas (como ascaridíase, esquistossomose ou até infecções por Opisthorchis viverrini e Clonorchis sinensis), doença de Caroli, hepatolitíase, exposição a alguns produtos químicos (como Thorotrast, agente de contraste radiológico intravenoso) e hepatite C. Dentre esses exemplos, discorrer-se-á sobre os três primeiros.

A colangite esclerosante primária, processo autoimune resultando em inflamação crônica e estenose de ductos biliares, é o maior fator de risco para o desenvolvimento de colangiocarcinoma no Ocidente. Aliás, este frequentemente surge vinte a trinta anos mais cedo em pacientes com colangite esclerosante primária do que naqueles apresentando tumor esporádico. Além disso, esses tumores relacionados com esta condição normalmente apresentam-se em estágio mais avançado, devido às dificuldades em detectar as mudanças de malignidade em estenoses inflamatórias. A associação entre colangite esclerosante primária e doença inflamatória intestinal também se caracteriza como um aumento de chance para o surgimento de colangiocarcinoma.

A ocorrência de múltiplos cistos de colédoco não tratados implica em maior risco para mudança maligna, surgindo o colangiocarcinoma. A incidência desta doença é aproximadamente de 10 a 20%, se o cisto não for ressecado pela idade de 20 anos. Apesar da diminuição das taxas de tumor após tratamento, esses pacientes continuam sob risco de desenvolvimento tardio de colangiocarcinoma depois da ressecção de cistos coledocociais, por isso necessitam de seguimento a longo prazo.

Algumas desordens genéticas, como a síndrome de Lynch e a papilomatose biliar, podem gerar um risco mais elevado para colangiocarcinoma. A papilomatose biliar é uma doença rara cujas múltiplas pápulas existentes dentro da árvore biliar estão associadas com o desenvolvimento de adenocarcinoma papilar nessas lesões.

5.2 MANIFESTAÇÃO CLÍNICA

A apresentação clínica do colangiocarcinoma intra-hepático frequentemente ocorre como uma massa hepática assintomática, detectada durante exame físico ou por meio de exames de imagem transversal. Quando os sintomas surgem, normalmente são inespecíficos, como dor abdominal, anorexia, perda de peso ou mal-estar. Dentre os sinais que apontam para colangiocarcinoma intra-hepático avançado, destacam-se maior sensibilidade no quadrante abdominal superior direito e hepatomegalia.

Por outro lado, a manifestação clínica mais comum do colangiocarcinoma extra-hepático (peri-hilar e distal), em aproximadamente 90% dos casos, constitui-se de sintomas de colestase, como icterícia indolor, acolia fecal, colúria e prurido, devido a obstrução biliar. A icterícia pode ser ausente em casos de colangiocarcinoma peri-hilar não associado a obstrução de fluxo biliar em nenhum segmento do fígado. Uma vesícula biliar palpável sugere estágio avançado para o colangiocarcinoma extra-hepático.

5.3 DIAGNÓSTICO 

Para o colangiocarcinoma intra-hepático, a apresentação clínica, como discutida acima, é pouco específica e insuficiente para estabelecer um diagnóstico. Em casos assintomáticos, a ultrassonografia transabdominal pode detectar uma massa hepática incidental, a partir do qual procede-se a investigação para colangiocarcinoma. Além disso, essa modalidade de exame de imagem também é útil no rastreamento dessa doença em pacientes com risco para câncer primário de fígado (exemplo: cirrose, hepatite B ou C crônica, colangite esclerosante primária). 

Na ultrassonografia, o colangiocarcinoma intra-hepático apresenta-se como uma massa hepática hipoecoica, sendo tumores hipervasculares com mínima evidência de fluxo sanguíneo interno ao Doppler. Os achados ultrassonográficos suspeitos para colangiocarcinoma normalmente necessitam ser complementados por exame de imagem transversal contrastado (como TC ou RM), a fim de melhor caracterizar a lesão e planejar o procedimento cirúrgico.

A tomografia computadorizada demonstra o colangiocarcinoma intra-hepático como uma lesão hipodensa com margens irregulares, infiltrativas e de grau variável de realce tardio na fase venosa portal. Ela também é capaz de mostrar a presença de dilatação biliar intra-hepática proximal, o envolvimento venoso portal ou hepático e a atrofia lobar.

Nas imagens da ressonância magnética, o colangiocarcinoma intra-hepático aparece como lesão hipointensa em T1 e hiperintensa em T2, com mistura de contraste dentro das lesões em imagens tardias (de a seis a oito minutos após injeção de contraste). A combinação de ressonância magnética com colangiopancreatografia pode ser útil na visualização do sistema ductal e das estruturas vasculares, assim determinando a extensão anatômica do tumor.

Dentre os diagnósticos diferenciais do colangiocarcinoma intra-hepático, os principais exemplos são carcinoma hepatocelular e tumores metastáticos no fígado. Nesse sentido, apenas a avaliação pela história clínica e exames de imagem não é suficiente para estabelecer o diagnóstico de colangiocarcinoma intra-hepático. A biópsia hepática é essencial para essa definição, sendo sua sensibilidade dependente da localização e do tamanho do tumor e da experiência do operador. 

Por outro lado, a rotineira biópsia do tumor não é recomendada, porque há o risco de disseminação durante o procedimento. Normalmente ela é utilizada para estabelecer a presença de doença irressecável, a qual está presente em mais da metade dos pacientes na manifestação inicial. Um diagnóstico radiográfico presumido, sem necessidade de biópsia, é suficiente para pacientes não-cirróticos nos quais já se definiu a ressecção cirúrgica. 

No que concerne ao colangiocarcinoma extra-hepático, as manifestações clínicas, como já exposto anteriormente, são mais marcantes e características de síndrome colestática. Muitos colangiocarcinomas apresentam-se em estágio mais avançado, por isso manifestam-se com sinais sistêmicos de malignidade, como mal-estar, fadiga e perda de peso. Alguns casos são detectados de forma incidental, como resultado de exames de imagem realizados por outras indicações.

Assim como no colangiocarcinoma intra-hepático, os exames de imagem constituem a principal modalidade diagnóstica para o extra-hepático. Na ultrassonografia, dilatação de ducto biliar, principalmente quando relacionada com uma lesão tipo massa e uma história clínica consistente, aponta para o diagnóstico de colangiocarcinoma extra-hepático. Contudo, apenas esse exame é insuficiente para estabelecer o diagnóstico de tal patologia, já que ele pode não detectar pequenos tumores e não definir com precisão a extensão do tumor. O ultrassom Doppler pode detectar trombose vascular ou compressão induzida pelo tumor.

De fato, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são mais sensíveis para a detecção do colangiocarcinoma extra-hepático do que a ultrassonografia. A TC provê boa visualização de lesões tipo massa intra-hepática, dilatação de ductos intra hepáticos, linfadenopatía localizada em metástasis extra-hepáticas, porém não é uma boa modalidade de exame para estudar a extensão do tumor.

A ressonância magnética, por sua vez, além de evitar radiação, é capaz de delinear a anatomia hepatobiliar, sendo um excelente exame para a investigação de um colangiocarcinoma extra-hepático suspeito. A ressonância magnética, combinada com a colangiopancreatografia, é capaz de estabelecer a extensão local do envolvimento do ducto biliar, e a angiorressonância pode detectar anormalidades parenquimatosas, incluindo a presença de metástases hepáticas e envolvimento vascular hilar.

A confirmação histológica do diagnóstico de colangiocarcinoma é importante particularmente nos casos de tumores irreversíveis ou para ensaios clínicos. Ela não costuma ser realizada rotineiramente devido à dificuldade na sua obtenção. Além disso, a citologia padrão, colhida por colangiopancreatografia retrógrada ou colangiografia transhepática, é positiva em menos de 50% dos casos de colangiocarcinoma, assim resultados negativos não excluem a malignidade.

Em termos de exames de sangue, nenhum caracteriza-se como diagnóstico para colangiocarcinoma. A função hepática pode mostrar um padrão de obstrução biliar, apesar das transaminases serem frequentemente normais, estando elevadas apenas em quadro de obstrução aguda ou de colangite. Na doença avançada, pode haver alteração de alguns marcadores de malignidade, como albúmina, VHS, PCR e hemoglobina.

No geral, a sensibilidade e a especificidade dos marcadores tumorais, como CA 19-9 e CEA, são baixas, e eles não ajudam no monitoramento da progressão da doença. Logo, não costumam ser empregados para o rastreamento ou o diagnóstico na população em geral. Contudo, apresentam boa utilidade no seguimento de pacientes com colangite esclerosante primária, podendo auxiliar no curso da doença.

Embora os exames de imagem sejam bastante refinados, uma quantidade significativa de pacientes é caracterizada como portador de doença metastática apenas na cirurgia. Assim, para o serviço de clínica cirúrgica do Hospital César Cals, recomenda-se o emprego de laparoscopia diagnóstica para todos os pacientes com suspeita de colangiocarcinoma, tanto intra-hepático quanto extra-hepático, ao exame de imagem. No caso de tumores potencialmente ressecáveis, o procedimento cirúrgico serviria para confirmar essa possibilidade, além de poder descartar carcinomatose peritoneal, cuja sensibilidade de detecção na TC abdominal é baixa. Em se tratando de tumores irressecáveis ao exame de imagem, além de a laparoscopia ser capaz de ratificar essa característica, ela torna-se fundamental na localização do melhor sítio para realização de biópsia cirúrgica.

5.4 ESTADIAMENTO

O estadiamento pré-operatório do colangiocarcinoma é importante para guiar o plano de tratamento e determinar o prognóstico dos pacientes. Os exames radiológicos são ferramentas necessárias a fim de avaliar a extensão da doença locorregional, ou metastática, o estadiamento e a ressecabilidade. No que concerne esta última, seus principais parâmetros determinantes são a invasão para veia porta ou artéria hepática e a análise volumétrica da porção do fígado não afetada.

A avaliação de envolvimento vascular pode ser realizada por meio de US Doppler ou angiotomografia, com níveis semelhantes de sensibilidade e especificidade para ambos os exames. O estudo radiográfico, em geral, possui limitações para o estabelecimento da porção anatomo-biliar afetada. Nesse sentido, o exame que mais apresenta exatidão é a ressonância magnética, juntamente com o colangio pancreato-ressonância magnética.

Em termos de acometimento linfonodal ou à distância, a tomografia computadorizada torna-se útil na medida em que detecta doença metastática afetando linfonodos regionais, peritônio ou pulmões. A combinação PET-FDG eTC também permite a obtenção de informação anatômica e funcional em uma única leitura. O PET-FDG é considerado um exame de baixa precisão no diagnóstico, pois tanto o colangiocarcinoma como outros adenocarcinomas envolvendo o fígado apresentam alta avidez durante a análise. Por outro lado, seu papel no estadiamento é bastante relevante, considerando ser importante ferramenta para descoberta de metástases insuspeitas.

Além disso, como a multiplicidade de tumor, a invasão vascular e as metástases linfonodais ou à distância são fatores chaves para o prognóstico do colangiocarcinoma, nota-se que a inclusão de biomarcadores, como CEA ou CA 19-9, melhora a acurácia do prognóstico. Por exemplo, pacientes com colangiocarcinoma irressecável costumam apresentar níveis de CA 19-9 mais elevados do que aqueles com doença ressecável.

5.5 CLASSIFICAÇÃO TNM-AJCC COLANGIOCARCINOMA INTRA-HEPÁTICO

TNM
TX: O tumor primário não pode ser avaliado.NX: Os linfonodos regionais não podem ser avaliados.MX: A presença de metástase à distância não pode ser avaliada.
T0: Não há evidência de tumor primário.N0: Ausência de metástase em linfonodos regionais.M0: Ausência de metástase à distância.
Tis: Carcinoma in situ.N1: Presença de metástase em linfonodos regionaisSegmentos 5-8 (fígado direito): Linfonodos regionais incluem os hilar, periduodenal e peripancreático.Segmentos 2-4 (fígado esquerdo): Linfonodos regionais incluem os frênico inferior, hilar e gastro-hepático.M1: Presença de metástase à distânciaMetástase para linfonodos celíaco, periaórtico ou pericaval é considerada metástase à distância.
T1: Tumor único sem invasão vascular.T1a: Tamanho ≤ 5 cm.T1b: Tamanho > 5 cm.
T2: Tumor único com invasão vascular intra-hepática ou múltiplos tumores, com ou sem invasão vascular.
T3: Tumor perfurando peritônio visceral.
T4: Tumor envolvendo estruturas extra-hepáticas locais por invasão direta.


Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition.

Estágio de acordo com TNM

0TisN0M0
IAT1aN0M0
IBT1bN0M0
IIT2N0M0
IIIAT3N0M0
IIIBT4N0M0
IIICQualquer TN1M0
IVQualquer TQualquer NM1

Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition.

5.6 CLASSIFICAÇÃO TNM-AJCC COLANGIOCARCINOMA EXTRA-HEPÁTICO (PERI-HILAR)

TNM
TX: O tumor primário não pode ser avaliado.NX: Os linfonodos regionais não podem ser avaliados.MX: A presença de metástase à distância não pode ser avaliada.
T0: Não há evidência de tumor primário.N0: Ausência de metástase em linfonodos regionais.M0: Ausência de metástase à distância.
Tis: Carcinoma in situ.N1: Metástase para um ou três linfonodos regionais (hilar, ducto cístico, colédoco, artéria hepática, pancreaticoduodenal posterior e veia porta)M1: Presença de metástase à distância.
T1: Tumor confinado ao ducto biliar, com extensão até a camada muscular ou tecido fibroso.N2: Metástase para quatro ou mais linfonofos regionais.
T2: Tumor invade além da parede do ducto biliar.T2a: Tumor invade até o tecido adiposo adjacente.T2b: Tumor invade o parênquima hepático adjacente.
T3: Tumor invade ramos unilaterais da veia porta ou da artéria hepática.
T4: Tumor invade veia porta principal ou seus ramos bilateralmente; invade artéria hepática comum ou ramos biliares de segunda ordem unilateral com invasão de veia porta ou artéria hepática contralateral.

Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition

Estágio de acordo com TNM

0TisN0M0
IT1N0M0
IIT2a-bN0M0
IIIAT3N0M0
IIIBT4N0M0
IIICQualquer TN1M0
IVAQualquer TN2M0
IVBQualquer TQualquer NM1

Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition.

5.7 CLASSIFICAÇÃO TNM-AJCC COLANGIOCARCINOMA EXTRA-HEPÁTICO (DISTAL)

TNM
TX: O tumor primário não pode ser avaliado.NX: Os linfonodos regionais não podem ser avaliados.MX: A presença de metástase à distância não pode ser avaliada.
T0: Não há evidência de tumor primário.N0: Ausência de metástase em linfonodos regionais.M0: Ausência de metástase à distância.
Tis: Carcinoma in situ.N1: Metástase para um a três linfonodos regionais (linfonodos ao longo do ducto biliar comum e artéria hepática; linfonodos pancreaticoduodenal posterior e anterior; linfonodos ao longo da parede lateral direita da artéria mesentérica superior).M1: Presença de metástase à distância.
T1: Tumor invade a parede do ducto biliar com profundidade < 5 mm.N2: Metástase para quatro ou mais linfonodos regionais.
T2: Tumor invade parede do ducto biliar com profundidade 5-12 mm.
T3: Tumor invade parede do ducto biliar com profundidade > 12 mm.
T4: Tumor envolve eixo celíaco, artéria mesentérica superior a/ou artéria hepática comum.

Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition.

Estágio de acordo com TNM

0TisN0M0
IT1N0M0
IIAT1T2N1N0M0M0
IIBT2T3T3N1N0N1M0M0M0
IIIAT1T2T3N2N2N2M0M0M0
IIIBT4T4T4N0N1N2M0M0M0
IVQualquer TQualquer NM1

Fonte: AJCC Cancer Staging Manual, 8th Edition.

5.8 TRATAMENTO

Após o estadiamento completo, deve-se avaliar a ressecabilidade da lesão. O tratamento cirúrgico é a única modalidade potencialmente curativa para o colangiocarcinoma, porém a maioria dos pacientes costuma ser diagnosticada em estágios mais avançados, nos quais essa opção não é mais viável. Quando se trata de doença irreversível, apenas o tratamento paliativo pode ser oferecido. 

Os critérios de irreversibilidade para o colangiocarcinoma intra-hepático incluem tumor solitário, localmente avançado, envolvendo os fluxos sanguíneo ou biliar bilateralmente, múltiplos tumores intra-hepáticos e doença metastática.

Os critérios de irressecabilidade para tumores extra-hepáticos são envolvimento vascular bilateral tanto dos ramos da artéria hepática quanto da veia porta, envolvimento unilateral de artéria hepática com extensa difusão ductal contralateral, envolvimento da veia porta principal, difusão intraductal do tumor bilateralmente, até os ramos biliares intra-hepáticos. 

Os pacientes em estágios I ou II, em geral, apresentam maiores chances de tumor ressecável, logo recomenda-se que sejam submetidos a tratamento cirúrgico primeiramente. 

A técnica cirúrgica empregada para o colangiocarcinoma intra-hepático é a ressecção hepática, a qual deve objetivar o alcance de uma margem sem tumor e de um remanescente do fígado bem vascularizado bem como uma adequada drenagem venoso e biliar.

A técnica cirúrgica utilizada para o colangiocarcinoma extra-hepático depende da localização do mesmo. Quando se encontra no terço inferior da árvore biliar, é necessário empreender a duodenopancreatectomia para ressecção. Tumores do terço médio, localizados da borda superior do pâncreas até a confluência do ducto hepático, podem ser tratados com ressecção do ducto biliar e linfadenectomia regional. Para os tumores do terço superior (como o colangiocarcinoma hilar), uma ressecção eficiente exige a excisão de ducto biliar e uma hepatectomia parcial, com ou sem lobectomia do caudado.

Após o procedimento cirúrgico, recomenda-se que os pacientes sejam encaminhados para um serviço de oncologia clínica, a fim de iniciar quimioterapia adjuvante com capecitabina, durante seis meses.

Pacientes portadores de tumor irressecável devem ser encaminhados para o serviço de oncologia clínica a fim de proceder com quimioterapia paliativa, dependendo do estado funcional do paciente. Normalmente, a quimioterapia sistêmica de primeira linha é a combinação de gencitabina e cisplatina. 

A taxa de sobrevida para pacientes com tumor ressecável, após tratamento, é em torno de cinquenta meses, enquanto para os com tumor irressecável, essa estatística é aproximadamente doze meses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O protocolo proposto demonstra os principais aspectos em relação ao correto diagnóstico e tratamento do colangiocarcinoma. O seu emprego na prática clínica cirúrgica do Hospital Geral Dr César Cals de Oliveira revelará sua importância na detecção de diagnóstico precoce, em redução de mortalidade e de custos. No futuro, outros trabalhos deverão ser empreendidos a fim de ratificar o protocolo apresentado, além de incluir novas tecnologias relacionadas à conduta dessa patologia.

REFERÊNCIAS

  • Bridgewater J et al. Guidelines for the diagnosis and management of intrahepatic cholangiocarcinoma. Journal of Hepatology 2014 vol. 60 (1268-1289).
  • Banales M J et al. Cholangiocarcinoma 2020 : the next horizon in mechanisms and management. Nature reviews : Gastroenterology & Hepatology, volume 17, September 2020 (557-588).
  • CEARÁ, Governo do Estado do (org.). Hospital Geral Cesar Cals – HGCC. 2017. Disponível em: https://www.hgcc.ce.gov.br/institucional/o-hospital. Acesso em: 28 dez. 2021.
  • Jarnagin, William R. Blumgart’s surgery of the liver, biliary tract, and pancreas. Sixth edition (2017).
  • Michael J. Zinner, Stanley W. Ashley, O. Joe Hines. Maingot’s abdominal operations. Thirteenth edition (2019).

*Orientador(a): Prof. Felipe de Lima Monteiro