“HER FOR HER” PROJECT: AN EXPERIENCE REPORT IN THE PINDOBAL COMMUNITY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411172014
Izabel Rodrigues da Silva1,
Maisa Castelo Branco Couto de Miranda2,
Yara Rocha Bastos Castelo Branco3,
Lélia Lilianna Borges de Sousa Macedo4
RESUMO
O fisioterapeuta é um dos profissionais de saúde que pode e deve contribuir muito ao prestar atendimento às pessoas das comunidades carentes, pois é uma contribuição feita a uma parcela dos que estão excluídos ao acesso dos serviços de saúde como um todo. Com isso, identificou-se a necessidade de atendimento a mulheres em situação de vulnerabilização social em uma comunidade quilombola e indígena por se evidenciar dados relacionados a fatores de saúde desse público por serem mais fragilizadas quanto a falta de assistência aos serviços de saúde e dificuldades de acesso as informações. Sendo assim, buscou-se conscientizar as mulheres sobre os cuidados no período gestacional e puerperal. Este relato de experiência mostra o quão positivo foi o desenvolvimento desse projeto na comunidade quilombola, o qual possibilitou uma atuação interdisciplinar na atenção básica e fisioterapêutica que se dispôs numa visão ampliada do processo terapêutico e de intervenção e /ou construção na busca dos enfrentamentos dos problemas de saúde. A ação foi efetiva no que tange à prevenção e promoção à saúde da população alvo e de todos os que a compunha que se torna mais bem capacitada para seu cuidado, dado o processo de conscientização; também permitiu uma visão mais ampla acerca das necessidades de atenção e cuidado requeridos pela população.
Palavras-chave: Saúde da mulher. Grávidas. Puérperas. ISTs. Comunidade quilombola.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que os reflexos da globalização pelo mundo têm cooperado para a ampliação das desigualdades sociais a níveis sociais, econômicos e tecnológicos. Isto é, essa realidade tem incidido imediatamente no nosso cotidiano com uma enxurrada de produtos e serviços com benefícios incríveis para facilitar nossa vida, mas que trazem consigo diversas mudanças e disparidades nos modos de ser e viver das pessoas, principalmente daquelas comunidades que vivem longe dos centros urbanos, ficando estas marginalizadas ou “excluídas” por muitos setores da sociedade. Logo, esses fenômenos repercutem visivelmente na saúde das pessoas como um todo.
Dessa forma, o projeto “ELA PARA ELA” se desenvolveu na Comunidade Pindobal (zona Rural, próximo à região do Socopo, zona leste de Teresina) em parceria com o Centro Universitário UniFacid. O atendimento foi realizado por um grupo de estudantes do curso de fisioterapia no intuito de avaliar as condições de saúde e assistir mulheres integrantes de famílias remanescentes quilombolas e indígenas no período gravídico-puerperal, numa comunidade rural localizada na zona leste de Teresina, conhecida como Pindobal.
A comunidade está localizada em uma área particular, uma propriedade privada, onde a prefeitura não possui autorização do proprietário para implementar ações. Trata-se de um conjunto de residências situadas na zona Rural, próximo à região do Socopo, ainda que na fronteira entre as áreas urbana e rural.
É uma comunidade com muitas vulnerabilidades, dentre elas dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde, saneamento e educação e, que por muitas vezes, são menos assistidas pela sociedade como um todo no que diz respeito à orientação em saúde e assistência médica, mas que continuam a resistir à urbanização e tentam manter seu modo de vida simples e em contanto com a natureza, vivendo, porém, em condições precárias devido à falta de recursos naturais e à difícil integração à vida urbana e não tribal.
Em suma, para a efetividade deste projeto, identificou-se a necessidade de atendimento a mulheres em situação de vulnerabilização social em uma comunidade quilombola e indígena por se evidenciar dados relacionados a fatores de saúde desse público por serem mais fragilizadas quanto a falta de assistência dos serviços de saúde, as dificuldades para terem acesso à informação que levam a qualidade de vida, pois essa comunidade está localizada em áreas remotas, afastadas dos centros urbanos. Outra dificuldade bastante evidenciada é a falta de recursos financeiros.
O intuito foi trabalhar e orientar sobre a importância da prevenção e promoção da saúde e intervir, de uma forma ampla, na saúde da população, especialmente, mulheres puérperas, bem como orientações sobre as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), pois essa população é de certa forma considerada vulneráveis para diversos agravos de saúde, devido às dificuldades de acesso aos serviços públicos de saúde, saneamento e educação (De Souza, 2020).
Ao realizar um trabalho multidisciplinar, além de estimular a participação dos indivíduos em seu cuidado ao explicar a importância dos cuidados com a saúde como um todo, dos cuidados com as crianças pequenas e o processo de amamentação das crianças que ainda estão nessa fase.
A demanda sócio comunitária consiste da necessidade de levar informação e atendimento fisioterapêutico a mulheres grávidas no período gravídico-puerperal para o cuidado de si e do bebê que carrega, da manutenção da saúde, a fim de evitar o adoecimento e mais ainda da necessidade de dar maior visibilidade para esse grupo, da efetivação de políticas públicas de saúde a ele destinado e de maior inserção da fisioterapia na produção de um cuidado em saúde que considere os saberes e práticas destes com o propósito de contribuir com a melhoria dos seus indicadores de condições de vida e saúde.
Assim, o objetivo é de auxiliá-las na prevenção, acesso aos serviços de saúde, haja vista que, geralmente, elas não possuem acesso aos hospitais e médicos e, quando possuem, acabam cruzando com diversas violências, entre elas o racismo. Logo, busca-se informar e conscientizar as mulheres sobre a importância dos pré-natais, dos planejamentos e imprevisibilidades do parto e demais desconfortos caudados pela gestação seja ela planejada ou não.
O projeto “ELA PARA ELA” se mostrou de grande valia na formação do futuro profissional em fisioterapia, pois ao realizar atendimentos juntos aos professores têm-se a oportunidade de vivenciar um intercâmbio de experiências da profissão e dispor de habilidades necessárias para proporcionar mais qualidade de vida aos problemas de saúde da comunidade e, principalmente da mulher grávida a qual está inserida naquela realidade de atendimento/tratamento.
Além do que, a motivação vem do desejo em preparar a mulher quilombola em situação de vulnerabilidade social, para que aprendam a lidar com a maternidade, proporcionando informações educativas sobre a gravidez, o parto e o cuidado do bebê, conceder orientações essenciais sobre hábitos de vida e higiene pré-natal, orientar sobre o uso de medicações que possam afetar o feto ou o parto ou medidas que possam prejudicar o feto, fazer prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças próprias da gestação e orientar psicologicamente a gestante para o enfrentamento da maternidade.
O momento apresenta-se de fundamental importância, pois é relacionando teoria e prática que se faz novas descobertas e aprendizados indispensáveis à formação acadêmica e em oferecer qualidade no atendimento.
Nesse sentido, a apreensão da realidade é um aspecto extremamente importante em nossas ações, um elemento de aprendizagem ao perceber os desafios e assim, construir um projeto pertinente à situação natural na qual o sujeito da pesquisa estava inserido e desenvolver atividades relacionadas ao atendimento a esse público.
Deve se destacar a problematização que dá origem a presente pesquisa, de forma claro e preciso. O problema deve servir como um instrumento para a obtenção de novos conhecimentos; ser delimitado; ter aplicabilidade social; ser claro e preciso; e, refletir uma vivência do pesquisador.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
No Brasil, assim como em outros estados e países, as mulheres quilombolas foram e são essenciais para a sobrevivência dos quilombos, pois são elas, as responsáveis por transmitir as tradições, preservar os recursos naturais e cuidar da família e da terra. Por isso, muitas desconhecem ou não têm acesso ao planejamento reprodutivo e às assistências no período gravídico-puerperal, devido as sobrecargas de trabalho para o sustento, do trabalho na terra e do cuidado do lar e dos seus pares (Pereira; Allegretti; Magalhães, 2022).
Percebe-se assim, que as mulheres quilombolas têm dificuldades de acesso e, diga-se de passagem, ao acesso precário ao planejamento reprodutivo assim como o acompanhamento no período da gravidez como um todo, pré-natal, do parto e pós-parto (De Jesus Pereira; Ferreira, 2016). Desta forma, constatamos ao longo da história e do passar do tempo como se deu e muitas vezes ainda se dá o planejamento reprodutivo dessas mulheres, suas vivencias e experiências reprodutivas, submetidas às condições desfavoráveis, como gravidez não planejada e acesso restrito aos serviços de saúde, assim como, o acesso precarizado no período gravídico-puerperal.
A Atenção Básica pela sua relevância deve compreender a saúde reprodutiva das mulheres quilombolas em sua singularidade e sua inserção sociocultural, buscando alcançar a atenção integral em saúde. Assim, deve propor e desenvolver ações de cuidados e acompanhamento regulares a todo planejamento reprodutivo que inclui o período gravídico-puerperal (De Jesus Pereira; Ferreira, 2016, P. 2).
Na comunidade Pindobal ficou evidenciado que algumas mulheres ainda passam pelo período puerperal, ou seja, muitas mães ainda amamentavam seus filhos mesmo após 1 ano de idade. Mesmo sendo o puerpério, um período de riscos para as mulheres, muitas vezes é negligenciado. As atenções voltam-se muito para os cuidados com o bebê, e as modificações na mulher neste período ficam desassistidas. Considerando tais modificações e, principalmente, o impacto que podem ter, torna-se relevante conhecer as alterações psicossociais e fisiológicas ocorridas no puerpério (Silva; Krebs, 2021, p. 3).
Além disso, diante da importância de se discutir sobre a mulher quilombola nos seus preceitos culturais deve-se compreender no âmbito, as evidências de um panorama envolto de desigualdades de gênero na sociedade nos dias que correm, que ainda existe uma ideologia no qual o homem culturalmente prevalece como a maior autoridade e a tendência consiste em ocultar a presença, a contribuição das mulheres e suas especificidades como um ser reprodutivo (Pereira; Allegretti; Magalhães, 2022).
Por outro lado, é de suma importância levar em consideração a integralidade da vida dessa pessoa, o contexto sociofamiliar e comunitário dessas mulheres, os vínculos afetivos e de apoio, a história reprodutiva, planejamento familiar, sexual e reprodutivo. Isso se deve ao fato de que muitas mulheres sendo elas quilombolas ou não passam por muitas dificuldades por não terem acesso e conhecimento de um preparo e cuidado com sua saúde durante a gestação, bem como do feto que carregam. E, essa gravidez sendo planejada ou não traz consigo inúmeras mudanças na vida e no corpo da mulher, trazendo alegrias, dúvidas, medos, angústias e inseguranças (Gomes et al, 2019).
Percebemos isso na fala de Rios e Vieira (2007) que
a carência de informações, ou informações inadequadas sobre o parto, o medo do desconhecido, bem como os cuidados a serem prestados ao recém-nascido nos primeiros dias são fatores mais comuns de tensão da gestante, que influenciam negativamente durante todo o processo (p. 3).
Percebe-se que o desconhecimento quanto a atuação do fisioterapeuta no período gestacional, no trabalho de parto e no puerpério pode dificultar a incorporação desse profissional em uma equipe de saúde voltada à Ginecologia e Obstetrícia, bem como a aceitação das usuárias (gestantes e puérperas) diante das abordagens fisioterapêuticas (SANTOS et al., 2017 Apud SANTOS et al., 2019).
Sendo assim, o fisioterapeuta é um dos profissionais de saúde que pode e deve contribuir muito nesse período gravídico-puerperal tão importante para a mulher, sendo capaz de promover a humanização do parto, exercícios respiratórios ou relaxantes, o incentivo e o direcionamento à mudança de posições durante a gestação e no parto, de acordo com a preferência da parturiente, massagem para aliviar tensões, viabilizar o relaxamento dos músculos do assoalho pélvico com deambulação ou dança, oportunizar exercícios de mobilidade pélvica, isto é, oferecer maior conforto durante todo esse período.
o fisioterapeuta pode atuar no período gravídico-puerperal, ou seja, desde atendimentos durante a gestação, com o objetivo de preparar a mulher para as alterações corporais e para o parto, passando pelo acompanhamento do trabalho de parto e do parto, até a assistência e as orientações em relação à amamentação e ao uso de técnicas de relaxamento após o parto, por exemplo (Braz, Ribas; Macedo, 2019, p. 7).
O acompanhamento fisioterapêutico na gestação tem o intento de reduzir os desconfortos fisiológicos naturais da gestação assim como prepará-la para o parto, isto é, os desconfortos quando reduzidos, proporcionam a gestante melhor qualidade de vida, resultando bem-estar ao feto (Santos et al., 2019).
Por outro lado, a amamentação é um período único para a conexão entre mãe e filho, mas nem sempre é um processo fácil, exclusivo até o sexto mês de vida do bebê. Ademais, ajuda na involução uterina da puérpera, logo após o parto e auxilia o corpo a retomar suas características anteriores à gravidez. Além disso, previne hemorragias e atua no controle emocional da mulher (Amorim, 2011 apud Nunes; Gonçalves; Latorre, 2019).
Nessa fase, o fisioterapeuta tem uma atuação superimportante para auxiliar a mãe a passar por esse período, levando informações, orientações e esclarecimentos relacionados à prática da amamentação, adequar seus comportamentos posturais a fim de promover saúde
O acompanhamento de um profissional fisioterapeuta é de grande importância na orientação do posicionamento correto durante o manejo da amamentação, pois contribui para a prevenção de complicações que venham a afetar a mama, como dores e deformidades musculares, além de promover uma alimentação eficaz para o bebê (Tomé, 2008; Real et al., 2009 apud Dos Anjos Alves et al., 2017).
O acompanhamento de um profissional fisioterapeuta é de grande importância na orientação do posicionamento correto durante o manejo da amamentação, pois contribui para a prevenção de complicações que venham a afetar a mama, como dores e deformidades musculares, além de promover uma alimentação eficaz para o bebê (Tomé, 2008; Real et al., 2009 apud Dos Anjos Alves et al., 2017).
Outro aspecto bastante abordado na comunidade foi a questão das ISTs. O assunto ainda é um tabu para muitas pessoas e a falta de informação e conhecimento sobre o assunto pode dificultar na prevenção e no cuidado precoce.
As ISTs, são infecções transmitidas de um ser humano para outro principalmente por meio do ato sexual sem preservativo, seja ele oral, vaginal ou anal. Uma outra forma de transmissão é através da mãe para o filho durante a gravidez, parto ou ainda pelo aleitamento. Existem dezenas de ISTs, porém as que estão em maior evidência nos últimos anos devido ao aumento do número de casos são a SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em inglês AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome), sífilis, hepatites virais B e C, gonorreia, herpes e o papilomavírus humano (HPV). (De Souza, 2020, p.8).
Seu alto índice de disseminação está diretamente relacionado à falta ou à utilização incorreta do preservativo – a camisinha – seja ela masculina ou feminina. Esse fato pode estar relacionado à situação precária dos serviços de saúde e à precariedade da educação sexual difundida tanto pelas escolas quanto pelos pais, além de outras formas utilizadas pelos jovens para obter informações, como a internet ou até mesmo por trocas de experiências entre eles (Santos et al. 2009 apud Ciriaco, 2019, p. 2).
Logo, O uso da camisinha (masculina ou feminina) em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o método mais eficaz para evitar a transmissão das IST, do HIV/aids e das hepatites virais B e C. Serve também para evitar a gravidez. É preciso ter atenção, pois quem tem relação sexual desprotegida pode contrair uma IST. Não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião. A pessoa pode estar aparentemente saudável, mas pode estar infectada por uma IST.
3 METODOLOGIA
Este relato de experiência se caracteriza como uma exposição das experiências vivenciadas por um grupo de estudantes durante uma disciplina do curso de fisioterapia com o intuito de contribuir com a construção de conhecimento na área da saúde. Assim, esse trabalho serve para mostrar as impressões do que se viveu: dificuldades enfrentadas, as ações realizadas e os resultados obtidos em toda essa ação.
Assim sendo, Mussi, Flores & Almeida (2021, p. 6), afirmam que o relato de experiência
é um tipo de produção de conhecimento, cujo texto trata de uma vivência acadêmica e/ou profissional em um dos pilares da formação universitária (ensino, pesquisa e extensão), cuja característica principal é a descrição da intervenção.
Dessa forma, o relato de experiência narra uma vivência experienciada com o desejo de contribuir de forma relevante e positiva a área de atuação a qual estamos inseridas. Uma fantástica vivência profissional tida como exitosa e, que contribuiu significativamente com a discussão e a troca de ideias e de conhecimentos cruciais para a melhoria do cuidado na saúde.
Assim, é imprescindível colocar em prática aquilo que se aprende no contexto da sala de aula, é uma fase muito importante no processo de ensino aprendizado dos futuros profissionais. É uma das formas para aliar a teoria com a prática, através de projetos de extensão. Com eles, se integra a observação, prática assistida e a intervenção entre alunos e pacientes.
Nesse sentido, para se ter um ambiente amigável e produtivo, eficiência da atividade desenvolvida e melhor desempenho tanto individual quanto grupal, cada membro da equipe ficou responsável por desenvolver uma atividade para que se desse o progresso e evolução do trabalho utilizando recursos e técnicas que são empregadas para avaliações, diagnósticos e tratamentos à medida que as necessidades das pacientes fossem claras aos discentes com meios para promover cuidados e promoção de saúde com vistas a fornecer informação, melhora ou resolução do(s) problema(s).
Logo, foi planejado ações de conscientização sobre o período de amamentação de algumas mães que se fizeram presentes na ação, realizou-se dinâmica com as crianças e com os adultos sobre a higiene das mãos no dia a dia e conscientizou-se sobre as infecções sexualmente transmissíveis.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A demanda sócio comunitária consiste da necessidade de levar informação e atendimento fisioterapêutico a uma comunidade rural tendo em vista o menor acesso aos serviços de saúde dessa população em função da maior vulnerabilização social e das maiores dificuldades de acesso que esses grupos sociais estão submetidos, pois os moradores de comunidades rurais como essa, procuram menos pelos serviços de saúde devido a menor oferta de serviços nas proximidades rurais, exigindo dos usuários gastos financeiros para deslocamentos. E, diga-se de passagem, a comunidade a qual estão inseridos é de difícil acesso, onde para se chegar a pé, é leva-se em torno de 30 minutos e tem na motocicleta o melhor transporte para adentrar, depois da bicicleta.
Essa dificuldade de assistência à saúde, em geral, se deve ao grande distanciamento dos centros urbanos, o acesso a comunidade é ruim e bem dificultoso (cerca de uns 30 minutos de caminhada até chegar a um conjunto de casas humildes), as autoridades competentes falham nos serviços prestados fornecendo assistência insuficiente em diversos aspectos, como na saúde, educação, saneamento, transporte, habitação, emprego e renda.
O acesso à saúde é uma importante dimensão das desigualdades entre áreas urbanas e rurais. O acesso é menor nas áreas rurais em função da maior vulnerabilidade social de sua população e das maiores dificuldades de acesso que seus grupos sociais estão submetidos. O acesso à saúde influencia, entre outros aspectos da vida social, a dinâmica demográfica, com impactos sobre a mortalidade e a expectativa de vida (ARRUDA; MAIA; ALVES, 2018, p. 2).
Nessa comunidade, sentiu-se a necessidade de cada vez mais realizar atividades de promoção a saúde como essa, pois ficou visível nas falas de alguns moradores que isso é uma coisa que raramente acontece, mas que deveria acontecer mais vezes. Percebe-se que as pessoas são tão carentes desses serviços que um morador chegou a perguntar se aquela ação estava relacionada a ações políticas.
Chega a ser chocante ouvir uma fala dessas pelo fato de que o acesso à saúde embora seja garantido por lei, em muitas localidades, as pessoas, principalmente, em áreas rurais e remotas como a Comunidade Pindobal muitas vezes são excluídas da assistência à saúde. Ou seja, muitas áreas rurais enfrentam dificuldades com transporte e comunicação, desigualdades de financiamento à saúde, além de escassez e distribuição desigual de profissionais de saúde, com as piores condições de trabalho. Isso tudo faz com que essa parcela da população fique marginalizada.
Além disso, a falta de recursos financeiros e a falta de informação sobre os direitos à saúde podem dificultar ainda mais o acesso aos serviços necessários. Outro desafio enfrentado pela comunidade é a falta de profissionais de saúde capacitados nessas regiões, o que pode resultar em longas filas de espera e atendimentos precários em algumas áreas.
Percebemos isso na fala de Rios e Vieira (2007) que
A carência de informações, ou informações inadequadas sobre o parto, o medo do desconhecido, bem como os cuidados a serem prestados ao recém-nascido nos primeiros dias são fatores mais comuns de tensão da gestante, que influenciam negativamente durante todo o processo (p. 3).
É por isso que promover saúde em comunidades carentes é tão importante e necessário, pois ajuda a prevenir doenças e melhora a qualidade de vida geral para aqueles que vivem nessas comunidades. Por outro lado, percebeu-se que é uma comunidade que tem dificuldades no acesso ao cuidado, as informações, mas que tentam cuidar da saúde, embora esbarrem em limitações como a falta de médicos, demora em conseguir consultas e nas realizações de exames. A dificuldade maior são as condições financeiras.
Mesmo sendo o puerpério, um período de riscos para as mulheres, muitas vezes é negligenciado. As atenções voltam-se muito para os cuidados com o bebê, e as modificações na mulher neste período ficam desassistidas. Considerando tais modificações e, principalmente, o impacto que podem ter, torna-se relevante conhecer as alterações psicossociais e fisiológicas ocorridas no puerpério (Silva; Krebs, 2021, p. 3).
Nesse sentido, o fisioterapeuta é um dos profissionais de saúde que pode e deve contribuir muito nesse período gravídico-puerperal tão importante para a mulher, sendo capaz de promover a humanização do parto, exercícios respiratórios ou relaxantes, o incentivo e o direcionamento à mudança de posições durante a gestação e no parto, de acordo com a preferência da parturiente, massagem para aliviar tensões, viabilizar o relaxamento dos músculos do assoalho pélvico com deambulação ou dança, oportunizar exercícios de mobilidade pélvica, isto é, oferecer maior conforto durante todo esse período.
O fisioterapeuta pode atuar no período gravídico-puerperal, ou seja, desde atendimentos durante a gestação, com o objetivo de preparar a mulher para as alterações corporais e para o parto, passando pelo acompanhamento do trabalho de parto e do parto, até a assistência e as orientações em relação à amamentação e ao uso de técnicas de relaxamento após o parto, por exemplo (Braz, Ribas; Macedo, 2019, p. 7).
Outro aspecto bastante abordado na comunidade foi a questão das ISTs. O assunto ainda é um tabu para muitas pessoas e a falta de informação e conhecimento sobre o assunto pode dificultar na prevenção e no cuidado precoce.
As ISTs, são infecções transmitidas de um ser humano para outro principalmente por meio do ato sexual sem preservativo, seja ele oral, vaginal ou anal. Uma outra forma de transmissão é através da mãe para o filho durante a gravidez, parto ou ainda pelo aleitamento. Existem dezenas de ISTs, porém as que estão em maior evidência nos últimos anos devido ao aumento do número de casos são a SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, em inglês AIDS – Acquired Immunodeficiency Syndrome), sífilis, hepatites virais B e C, gonorreia, herpes e o papilomavírus humano (HPV). (De Souza, 2020, p.8).
Vale lembrar que essa ação comtemplou todos os objetivos previstos, portanto, foi realizado com sucesso. O sucesso de se deu com a participação ativa de uma boa parcela da comunidade e com o auxílio de alguns alunos que auxiliaram na disseminação das informações, com o desenvolvimento da dinâmica e para isso, se utilizou de alguns materiais como panfletos, cartazes, cadernetas da gestante e a criança e entrega de kits com preservativos.
O público participante se envolveu desde o chamamento, o convite a participar dessa ação social tão importante para eles, desde sua chegada a casa de atendimento, tendo o objetivo de promover reflexão e conhecimento sobre o período puerperal, bem como o conhecimento dos diversos tipos de ISTs, sintomas, formas de transmissão. A ideia foi provocar essa comunidade a falarem sobre suas dúvidas, problemas, desejos e proporcionar informação de qualidade, gratuita e segura para seus moradores.
Assim sendo, a comunidade participou ativamente desta ação, e ficaram felizes e satisfeitos com a visita que segundo eles é um momento bem difícil de acontecer por lá.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto possibilitou uma atuação interdisciplinar na atenção básica e fisioterapêutica que se dispôs numa visão ampliada do processo terapêutico e de intervenção e /ou construção na busca dos enfrentamentos dos problemas de saúde na perspectiva da integralidade ao compreender os fatores sócio econômicos como determinantes deste processo, pois escutar e dialogar com essas mulheres são exercícios obrigatórios para a troca de experiências e saberes, ou seja, são saberes que se complementam na produção do conhecimento.
A ação foi efetiva no que tange à prevenção e promoção à saúde da população alvo e de todos os que a compunha que se torna mais bem capacitada para seu cuidado, dado o processo de conscientização; também permitiu uma visão mais ampla acerca das necessidades de atenção e cuidado requeridos pela população. Além disso, foi importante também para os acadêmicos, que aprenderam e aprendem de forma mais prática acerca do cuidado à saúde, exercitando táticas de abordagem e conscientização de um potencial usuário do sistema de saúde.
Além disso, é uma oportunidade interessante para os graduandos de fisioterapia a lidarem com diversos públicos com o objetivo de aprimorarem suas habilidades de trabalho disponibilizar atendimento fisioterapêutico e atividades educativas em saúde à população local, bem como, a importância da experiência na atenção básica para a formação acadêmica do fisioterapeuta viabilizar a assistência fisioterapêutica a uma classe menos favorecida e estimular a autonomia, liderança e o olhar crítico do estudante através do conceitual metodológico da educação popular.
Em vista disso, os graduandos em fisioterapia que atuam na área da saúde da mulher possuem grande expertise para promover o bem-estar global da gestante fornecendo informações e condutas específicas mediante avaliação para prevenir e amenizar os diversos sintomas decorrentes das adaptações do organismo materno que ocorrem neste período com o objetivo de minimizar tais desconfortos, além do alívio da dor; atua ativamente junto à mulher no preparo global para o parto, e no treinamento dos músculos do assoalho pélvico.
Desta forma, busca-se suprir a carência na procura e atendimento neste nível de atenção à saúde, oportunizando a população o acesso à assistência durante a gestação e no puerpério. Nesse âmbito, dúvidas foram sanadas no que diz respeito ao corpo da mulher, alterações anatômicas, fisiológicas e biomecânicas sofridas nesses ciclos e os desconfortos e dores que podem comprometer a qualidade e a funcionalidade do organismo da mulher como, edema nos membros inferiores, dispneia, lombalgia e sintomas de deficiência do assoalho pélvico, como a incontinência urinária e anal.
Sendo assim, a ação do fisioterapeuta, é de total importância no preparo para o parto, pois pode potencializar ainda mais os efeitos benéficos de sua atuação na hora do trabalho de parto e a fisioterapia na gestação promove o bem-estar da grávida e ainda a prevenção de complicações relacionadas ao sedentarismo. São inúmeros benefícios para que a mulher tenha uma gestação saudável contribuindo para uma experiência positiva de parto e aquisição de conhecimentos e hábitos que serão úteis por toda a vida.
O Projeto de fisioterapia em saúde da mulher teve por objetivos prestar assistência fisioterapêutica a mulheres que dela necessitem; contribuir com a melhoria na qualidade de vida da população por meio de ações educativas que visem à manutenção e promoção da saúde; estabelecer vínculos e incentivar o controle social; possibilitar a experiência acadêmica na atenção básica, de forma interdisciplinar, estimulando seu protagonismo e o planejamento participativo.
Logo, o projeto oportunizou aos estudantes o desenvolvimento de várias habilidades e competências profissionais que dificilmente se encontrariam nos âmbitos da sala de aula e da faculdade, pois proporciona experimentar o cuidar à saúde das pessoas antes mesmo de cuidar de agravos ou sequelas. Permite ainda, construir vínculos, que possibilita aos participantes uma visão que vai além do cuidar, permitindo ver o ser humano como um todo, onde a subjetividade, afetividade e humanização nas relações são primordiais.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário UniFacid – Campus Teresina-PI.
e-mail: bellzih@hotmail.com
2Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário UniFacid – Campus Teresina-PI.
e-mail: maisamiranda395@gmail.com
3Discente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário UniFacid – Campus Teresina-PI.
e-mail: yarrarocha@yahoo.com.br
4Docente do Curso Superior de Fisioterapia do Centro Universitário UniFacid – Campus Teresina-PI. Doutora em Biologia Celular e Molecular Aplicado à Saúde (BioSaúde/ULBRA). e-mail: leliafisio@hotmail.com.br