Camila Ludovique
Lillian Demolei
Resumo
A infraestrutura de recarga para veículos elétricos (VEs) está em franca expansão impulsionada pela ampliação da oferta de VEs no mercado automobilístico. Neste sentido, este artigo analisou fatores de riscos associados à rede de recarga rápida, levantando falhas típicas, custos e receitas que afetam a viabilidade do negócio. Tendo como perspectiva os indicadores de manutenção, este artigo considerou as principais variáveis que informam o processo de tomada de decisão relacionado à oferta de manutenção e seguro para os eletropostos, fornecendo aos operadores um modelo de avaliação de oferta dos serviços de manutenção e seguro que destaca as relações entre a evolução do mercado de mobilidade elétrica, os parâmetros de manutenção, operação e receita das redes de eletropostos. O resultado principal da análise indicou que apesar de no curto prazo trabalhar com um sistema apenas corretivo é interessante do ponto de vista econômico, no longo prazo, essa atuação é inviável. O aumento da utilização da rede atrelado ao envelhecimento dos equipamentos leva ao aumento do número de paradas, tornando a manutenção corretiva mais frequente. Assim, ofertar os serviços de manutenção preventiva torna a operação e os custos mais previsíveis, facilitando a rotina tanto dos usuários quanto dos operadores da rede.
Palavras-Chaves: Mobilidade Elétrica, Rede de Recarga Rápida, Manutenção e Seguros
Introdução
A infraestrutura de recarga para veículos elétricos (VEs) está em franca expansão impulsionada pela ampliação da oferta de VEs no mercado automobilístico. Como resultado, o mercado está em um momento de transição na forma de abastecimento dos veículos, substituindo os tradicionais postos de gasolina por totens de recarga elétrica (Bibra et al., 2021). Embora a maioria das recargas devam ocorrer em carregadores domésticos, que apresentam potência, custo e risco reduzido, uma rede robusta de carregadores rápidos (DC) é fundamental para atender a demanda energética do parque veicular (U.S. Departament of Energy, 2022).
Felizmente, como parte do programa de P&D da ANEEL, o Brasil já implantou cerca de 85 estações de recarga rápida para atender o carregamento dos 8 mil veículos puramente elétricos em circulação em 2022 (Neocharge, 2022). A tendência é que esses valores continuem a crescer de forma exponencial no curto e médio prazo, conforme aponta o direcionamento do mercado. No entanto, além de promover a instalação dos eletropostos é preciso ter em mente que a rede de recarga precisará de manutenção regular.
Dessa forma, os operadores da infraestrutura de recarga rápida devem criar planos de gerenciamento de seus ativos de recarga, os quais devem incluir como manter e reparar as estações de carregamento, dimensionando os custos e benefícios da manutenção e da cobertura de seguro para a rede instalada (IER, 2022). Uma prática, entretanto, pouco exercida atualmente no mercado. Neste sentido, o objetivo deste relatório é fornecer um direcionamento estratégico para o planejamento da manutenção e garantia de cobertura de seguro para redes de recarga rápida da EDP, fomentando a discussão entre os agentes envolvidos na cadeia de fornecimento e indicando as melhores práticas.
Para tal, este artigo analisou fatores de riscos associados à rede de recarga rápida, levantando falhas típicas, custos e receitas que afetam a viabilidade do negócio. Tendo como perspectiva os indicadores de manutenção, este artigo considerou as principais variáveis que informam o processo de tomada de decisão relacionado à oferta de manutenção e seguro para os eletropostos. Em última instância, a finalidade do relatório é fornecer aos operadores um modelo de avaliação de oferta dos serviços de manutenção e seguro que destaca as relações entre a evolução do mercado de mobilidade elétrica, os parâmetros de manutenção, operação e receita de redes de eletropostos.
As informações que compõem o artigo foram retiradas de documentos de acesso livre e de reuniões com fornecedores e prestadores de serviços. O mapeamento de tais informações permitiu a elaboração de dois cenários de atuação para a oferta de seguro, manutenção preventiva e corretiva. A partir da avaliação analítica desenvolvida, recomendações foram derivadas para subsidiar a tomada de decisão.
Em relação à estrutura do artigo, apresenta-se, na primeira seção, uma visão geral da metodologia de pesquisa aplicada. Na segunda seção é detalhado as características e riscos associados às redes de recarga rápida, bem como estratégias mitigadoras. Na terceira seção é exposto os principais tipos de seguros aplicáveis aos eletropostos. A quarta seção apresenta os condicionantes da manutenção. Na sequência, a quinta seção apresenta os cenários de atuação propostos. Por fim, na seção 6 são efetuadas as considerações finais do relatório, seguida da bibliografia utilizada no estudo.
1. Metodologia
A metodologia de pesquisa contou com consultas à literatura e entrevistas com agentes do mercado de mobilidade elétrica, visando caracterizar a estrutura do negócio, identificar riscos e estratégias de mitigação, como ilustrada na Figura 1. Para o tratamento dos riscos mais severos, as seguradoras foram consultadas. Já problemas de manutenção foram abordados em reuniões com fornecedores de equipamentos e prestadores de serviço especializados em mobilidade elétrica.
Figura 1: Metodologia de pesquisa
A partir da coleta de informação, foi desenvolvido um modelo de avaliação de oferta dos serviços de manutenção e seguro, envolvendo determinantes de mercado, receitas e parâmetros de manutenção pontuados no quadro a seguir.
Quadro 1: Parâmetros da modelagem
Áreas de Intervenção | Variáveis |
---|---|
Mercado VEs e Carregadores | Número de VEs no Brasil |
Relação Carregador por VE | |
Share de DC2 no mercado de carregadores (%) | |
Número de DC Brasil | |
Número de carregadores da rede | |
Share da rede no mercado de DC (%) | |
Indicadores de Manutenção | Tempo de disponibilidade anual por carregador (horas/ano) |
Tempo total de manutenção (horas) | |
Número de paradas por carregador no ano | |
Custos Manutenção e Seguro | Custo Manutenção Preventiva e Corretiva (R$/estação) |
Seguro anual (R$/estação) | |
Curva de aprendizado/escala (Redução % do custo) | |
Indicadores Operacionais | Número de recargas potenciais por estação no ano |
Recarga Média (kwh) | |
Valor da recarga (R$/kWh) |
O modelo de avaliação visa fornecer uma análise de decisão para gestores de rede de eletropostos. Neste sentido, dois cenários de atuação, que refletem os custos e benefícios da manutenção preventiva e contratação de seguros para o negócio, foram propostos:
- O Cenário Corrente, nomeado de “Deixa a vida me levar”, assume como premissa que a rede irá ofertar somente a manutenção corretiva para os eletropostos;
- O Cenário Alternativo, intitulado de “O seguro morreu de velho”, por outro lado, assume que a rede de eletroposto irá fornecer manutenção preventiva, corretiva e cobertura de seguro para todas as estações de recarga rápida.
Desta forma, a metodologia apresentada permite usar de processos racionais para selecionar a melhor alternativa de atuação e promover o debate entre os agentes envolvidos. O modelo de avaliação, desenvolvido em Excel, permite que as premissas aqui utilizadas sejam atualizadas ao longo do projeto, refletindo assim as condições mais atuais do mercado de mobilidade elétrica.
2. Riscos associados às redes de eletropostos
Uma vez concluído o processo de aquisição e instalação da infraestrutura de carregamento, há uma série de considerações operacionais a serem observadas, incluindo os custos de manutenção e os associados à segurança do negócio. Tais precauções são fundamentais para garantir tanto a rentabilidade do negócio quanto a saúde dos funcionários e clientes. Neste contexto, esta seção fornece uma visão geral da infraestrutura de carregamento para VEs, os componentes de hardware, software, riscos e estratégias de mitigação.
2.1 Características da rede de recarga rápida e seus desafios de manutenção
De modo geral, as estações de carregamento para VEs são um conjunto de eletrônicos de potência montados em um totem que fornece energia da rede para as baterias do veículo de forma segura. Tipos diferentes de carregadores fornecem diferentes níveis de corrente e tensão para atender aos requisitos específicos da bateria do veículo. No entanto, é comum que a potência dos carregadores em rodovias varie de 50 KW a 500 kW. No futuro, espera-se que as melhorias na química da bateria possibilitem taxas de carregamento ainda mais altas, porém, atualmente, a maioria dos carregadores rápidos estão na faixa de 50 kW a 350 kW (Energy Agency, 2022).
Além disso, o equipamento de carregamento normalmente tem algum grau de inteligência fornecido por um software que cuida da autenticação do usuário, comunicação do veículo, coleta, monitoramento de dados e pagamento. Logo, a configuração de um eletroposto é caracterizada por estruturas físicas e digitais que permitem a transmissão de energia e de informação (Energy Agency, 2022).
Outra característica relevante deste tipo de infraestrutura de recarga veicular é sua configuração em rede, ilustrado na Figura 2. Embora a maioria dos carregadores tenha um sistema default de identificação de falhas e restauração virtual do sistema, a localização dispersa dos ativos impõe certas barreiras logísticas aos serviços de manutenção corretiva e preventiva. Entre os principais desafios, destacam-se: a falta de profissionais especializados pelo território brasileiro e a baixa disponibilidade de peças no mercado nacional, fatores que acabam, em última instância, influenciando o tempo médio de reparo das estações (MSamlin, 2021).
Figura 2: Característica em rede da infraestrutura de recarga para veículos elétricos
Por ser um mercado jovem, poucos eletricistas, técnicos e fornecedores de peças estão aptos a realizar a manutenção dos equipamentos, o que acarreta na contratação de equipes e fornecedores, por vezes, distantes dos centros de ocorrência do chamado. De acordo com fornecedores nacionais do serviço, contratos que garantem o atendimento em, por exemplo, 24 horas após a abertura do chamado encarem-se a prestação do serviço e, por isso, atualmente os eletropostos têm um tempo total de manutenção elevado, ficando por dias fora de serviço. A baixa disponibilidade dos ativos acaba, por sua vez, afetando a experiência do usuário, o que tem impacto direto na imagem do negócio.
Um problema que não só o Brasil enfrenta. De acordo com estudos internacionais (MOTAVALLI, 2022), as falhas nos carregadores são mais frequentes do que as empresas admitem e o problema de manutenção é generalizado. Na região de São Francisco, Estados Unidos, dos 657 carregadores rápidos, apenas 72.5% estavam em funcionamento. Relatos de usuários via redes sociais e no website plugshare apontam na mesma direção: é comum encontrar uma sequência de carregadores fora de operação, seja na Austrália, no Reino Unido ou na China. Dessa forma, as pesquisas indicam que embora os proprietários de VEs estejam satisfeitos com seus veículos, há uma frustração e ansiedade em relação ao estado da infraestrutura de recarga pública disponível.
Essas dificuldades de manutenção, no entanto, podem levar a eventos mais severos, como explosões, incêndios, perda dos ativos e até mesmo morte, como detalhado a seguir.
2.2 Riscos atrelados a operação da rede de eletropostos
Os testes e certificados emitidos pelos fabricantes comprovam que os equipamentos são confiáveis, apesar disso, existem, principalmente, três riscos associados a esses dispositivos de alta tensão (Zurich, 2022):
- Choque elétrico;
- Incêndios de alta tensão relacionados a baterias de íons de lítio; e,
- Ataques cibernéticos.
Choque Elétrico
A alta tensão necessária para carregar os VEs deixam os usuários vulneráveis ao conectar, desconectar e manusear cabos. Assim, danos a cabos e equipamentos de carregamento – causados por atrito, arraste, colisões e condições climáticas – podem aumentar o risco existente de choque elétrico. Além disso, os eletropostos são vulneráveis a roubo de cobre e vandalismo, que podem deixar a fiação da estação exposta causando ferimentos ou até mesmo a morte (Resiliant, 2022).
Apesar disso, atualmente, não existem regulamentos que exijam inspeções periódicas nos postos de carregamento de veículos elétricos. Com o programa em sua infância no Brasil, incidentes ou acidentes ainda não foram relatados. Globalmente, no entanto, existem ocorrências. Assim, o treinamento de segurança e as inspeções periódicas de manutenção podem ajudar a minimizar lesões e, com sorte, evitar reclamações ou litígios.
Para mitigar o risco de choque elétrico, as seguintes diretrizes são sugeridas (Zurich, 2022):
- A manutenção básica do isolamento de cabos, plugues e fiação pode reduzir significativamente o risco de choque elétrico nas estações de carregamento;
- A manutenção das unidades de carregamento rápido em Corrente Contínua (CC) deve ser mantida e reparada de acordo com as recomendações do fabricante, sendo inspecionadas anualmente. A manutenção e o serviço planejados devem ser reportados e acompanhados;
- É relevante que a equipe de manutenção receba treinamento adequado, destacando os riscos do equipamento CC, como operar o equipamento, requisitos para inspeções visuais diárias, como isolar as unidades de carregamento e procedimentos de emergência para desligamento;
- É fundamental divulgação as medidas de segurança para os clientes no local, como instruções sobre o que fazer em caso de emergência ou se alguém receber um choque elétrico de alta voltagem;
- As áreas de carregamento e estacionamento devem ser claramente marcadas com sinais. As unidades de carregamento CC rápido devem ser claramente marcadas para diferenciá-las dos carregadores convencionais devido aos riscos associados à corrente contínua;
- Outras medidas básicas de segurança elétrica, como usar sapatos com sola de borracha, também reduzirão o risco de ferimentos;
- Qualquer acidente ou danos às estações de recarga testemunhado deve ser imediatamente comunicado a um membro da equipe para proteção do local;
- Onde houver acesso público irrestrito às estações de recarga, considere se é necessária proteção física adicional contra danos maliciosos e vandalismo.
Incêndios de alta tensão relacionados a baterias de íons de lítio
As baterias de íons de lítio, que são responsáveis por fornecer energia para os veículos elétricos, são uma tecnologia relativamente nova. Projetadas para serem o mais leves possíveis e com alta capacidade de armazenamento de energia, são suscetíveis a danos por superaquecimento ou quando submetidas a altas temperaturas por meio de uma reação térmica descontrolada (Maddox, 2015).
Em qualquer carro, um curto-circuito pode iniciar um incêndio, contudo o líquido eletrolítico inflamável contido nas baterias de íons de lítio pode causar um evento espontâneo de alta tensão, queimando a temperaturas extremamente altas e liberando grandes quantidades de gases tóxicos.
Além disso, a intensidade do incêndio combinada com a pouca experiência que as equipes de resgate têm com veículos elétricos, significa que essas chamas podem se alastrar, representando uma ameaça para as pessoas, propriedades e meio ambiente, como ilustrado no Box 1.
Algumas recomendações para mitigar esses riscos são (Zurich, 2022):
- As unidades de carregamento, idealmente, devem ser instaladas em ambientes externos e localizados o mais longe possível de edifícios, estruturas e serviços públicos importantes;
- Idealmente, os carregadores devem ficar afastados dos tanques de combustíveis ou inflamáveis, como compostos de resíduos, armazenamento de paletes ou cilindros de gás e combustíveis líquidos;
- As unidades de carregamento em áreas externas estão expostas a mudanças nas condições climáticas e embora sejam projetadas para resistir a um grau de exposição de submersão, o local onde as estações são instaladas deve ser avaliado quanto a inundações. As inundações podem vir de várias fontes, como rios, águas superficiais durante chuvas fortes e drenagem de chuva inadequada. As unidades de carregamento não devem ser instaladas em nenhum local onde há inundação ou o escoamento excessivo de água superficial;
- Nas circunstâncias em que as unidades de carregamento de veículos elétricos são instaladas internamente, as áreas de carregamento/estacionamento devem estar localizadas o mais próximo possível das saídas e, de preferência, ao nível do solo para permitir o fácil acesso dos bombeiros;
- As áreas de carregamento/estacionamento no subsolo apresentam complexidades adicionais para o combate a incêndios, portanto, esses locais devem ter uma atenção redobrada;
- As áreas internas de carregamento e estacionamento de veículos elétricos devem ser equipadas com detecção automática de incêndio. Os detectores de incêndio devem ser instalados perto das unidades de carregamento. Os alarmes devem ser transferidos automaticamente para um centro de recepção de alarmes aprovado e permanentemente atendido;
- Além da localização das estações de recarga e do fornecimento de detecção e supressão automática de incêndio, há uma ampla gama de controles operacionais gerais que garantem a segurança, como: proteção da estação contra impactos acidentais com veículos e inspeção visual diária.
Ataques cibernéticos
As redes de eletropostos dependem de dados, software e sensores, incluindo inteligência artificial para coordenar sistemas operacionais e facilitar a experiência dos usuários. Por causa disso, os dispositivos sofrem com o perigo de ataques cibernéticos, que podem comprometer a operação do sistema e a segurança dos dados. À medida que a eletrificação do transporte avança, os ataques cibernéticos às redes de eletropostos podem se tornar mais frequentes e afetar toda a infraestrutura de abastecimento nacional. Para mitigar esse risco é recomendado o investimento em sistema de proteção de dados, como: controladores, conversores e sistemas de monitoramento em tempo real (Resiliant, 2022).
Box: Acidente envolvendo estações de recarga rápida
100 veículos pegam fogo na estação de carregamento de veículos elétricos de Delhi
Em junho de 2022, um grande incêndio ocorreu na estação de estacionamento de veículos elétricos Jamia Nagar, em Delhi. Segundo relatos, cerca de 100 veículos estacionados pegaram fogo no acidente. Mas ninguém se machucou. O motivo exato que iniciou o incêndio permanece desconhecido. No entanto, de acordo com os bombeiros, o fogo pode ter começado por causa de um curto-circuito. As estações de carregamento de veículos elétricos usam eletricidade de alta tensão. Esses carregadores são principalmente carregadores de corrente contínua (CC) de alta capacidade que transportam uma quantidade surpreendente de energia. As autoridades alertam que existem vários perigos nas bombas tradicionais de combustível também: vários acidentes horríveis ocorrem envolvendo postos de gasolina e foi ao longo dos anos que os regulamentos os tornaram mais seguros. As estações de carregamento de veículos elétricos provavelmente seguirão o mesmo caminho.
Fonte: Batterynews, 2022.
Em suma, os riscos identificados no negócio devem ser tratados. Para tanto, as opções frequentemente aplicadas envolvem um mix de ações que tem como objetivo: diminuir, evitar, compartilhar e aceitar o risco. A opção de evitar implica em não participar do mercado. Na contramão, a ação de aceitar os riscos pressupõe que a organização assume o risco sem fazer nada a respeito. Entre estes dois extremos, existem as ações que visam diminuir, ou seja, implementam controles, e ações que visam compartilhar, isto é, transferem parte dos riscos para outra parte interessada (Weaver, 2007).
Neste sentido, a próxima seção explora alternativas de contratação de seguro para os riscos menos frequentes, porém com elevado impacto ao negócio, como no caso de explosões, e a quarta seção apresenta alternativas de contratação de manutenção para os riscos mais frequentes e de baixo impacto, como no caso de falhas do sistema.
3. Estratégia para a contratação de seguro para a rede de eletropostos
O objetivo desta seção é apresentar o direcionamento para a contratação de seguro para as redes de eletropostos, identificando principais coberturas e estratégias. Cinco seguradoras foram consultadas, além de pesquisas a documentos de domínio público. Devido a novidade do negócio, identificou-se na pesquisa que há no mercado uma incerteza na tratativa do seguro para as estações de recarga.
Diante disso, os tradicionais postos de gasolina foram utilizados como referência para a discussão do tema e cotação do seguro. Ambos empreendimentos apresentam riscos de explosão, incêndio e encontram-se próximos a rodovias, centros comerciais e residenciais. Nestes casos, a cotação do seguro depende da localização e características do local e garante responsabilidade civil e patrimonial do empreendimento.
No caso específico dos postos de combustíveis, estes são obrigados por lei a fornecer seguro de vida para funcionários, seguro contra incêndio e seguro contra acidentes ambientais. Provavelmente, à medida que a infraestrutura de eletroposto avança, medidas semelhantes devem ser exigidas das redes de eletropostos (BrasilPostos, 2020).
Ademais, os postos de combustíveis devem prover seguro ao transportador4. Este seguro, contudo, não deve se aplicar no caso dos eletropostos, pois a distribuição energética é realizada via condutores elétricos e não por rodovias, como no caso dos combustíveis líquidos.
Neste sentido, esta seção discute a seguir os três tipos de contratação de seguro proposto pelas seguradoras: o seguro para equipamentos e máquinas, o seguro empresarial e o seguro de vida, indicando valores de referência.
Seguro para Equipamentos e Máquinas
Dado o elevado valor das estações de carregamento rápido, que custam entre 500 mil a 2 milhões de reais, a contratação de seguros de riscos diversos para as máquinas e equipamentos é interessante para o empreendedor, apesar de ainda não obrigatória. Esta modalidade de seguro garante além da cobertura do equipamento danos aos operadores e, por isso, foi considerada na análise. Apesar disso, há uma incerteza na aplicação deste tipo de cobertura para o caso dos eletropostos.
Para a base de cálculo do seguro, assumiu-se os valores praticados no mercado de seguros, os quais indicam uma taxa anual de 3% do valor do equipamento. Contudo, quanto mais itens são incluídos na proposta ou maior for o valor do equipamento, a taxa pode ser reduzida a até 0,5% (Fraga, 2022). Neste contexto, a Tabela 1 apresenta a título de ilustração o valor médio anual para a contratação do seguro para uma estação de recarga no valor de R$500 mil reais e uma taxa de 1% ao ano.
Tabela 1: Referências de valores para o seguro de equipamentos
Equipamento | Valor da estação | Valor anual médio do seguro |
---|---|---|
Estação de Recarga Rápida | R$ 500 mil | R$ 5.000,00 |
Seguro Empresarial
Por outro lado, uma cotação de seguro empresarial realizada para dois eletropostos, assumindo as coberturas e condições descritas na Tabela 2, indica que o valor do seguro seria de R$ 5.584,00, renovados anualmente.
Tabela 2: Coberturas e valores do prêmio do seguro para cada eletroposto
Cobertura | Limite Máximo de Indenização | Prêmio Anual | P.O.S. – Participação Obrigatória do Segurado |
Incêndio, explosão, fumaça e queda de aeronave | R$ 2 milhões | R$ 992,44 | POS não contratada |
Danos elétricos | R$ 200 mil | R$ 513,68 | 10% das indenizações com mínimo de R$2000,00 |
Subtração de bens | R$ 200 mil | R$ 828,07 | POS não contratada |
Impacto de veículos | R$ 200 mil | R$ 132,13 | 10% das indenizações com mínimo de R$ 1.500,00 |
Vendaval | R$ 200 mil | R$ 2.299,49 | 15% das indenizações com mínimo de R$5.000,00 |
Despesas fixas | R$ 200 mil | R$ 151,48 | 5 dias de paralisação do estabelecimento |
Responsabilidade civil | R$ 200 mil | R$ 666,77 | 10% das indenizações com mínimo de R$ 500,00 |
Ou seja, podemos considerar que o valor mínimo anual do seguro é de, aproximadamente, R$ 2.792,00 por eletroposto, a depender, entretanto, do valor dos ativos e equipamentos segurados. Por fim, destaca-se que estes valores são estimativas iniciais, a cotação deve ser realizada caso a caso, com o maior nível de detalhamento possível.
Seguro de Vida para Funcionários
Em relação ao seguro de vida, no caso do posto de gasolina, é necessário a contratação de uma apólice para o seguro de vida dos trabalhadores de carteira assinada. Este é um tipo de seguro presente em boa parte das convenções coletivas dos sindicatos de profissionais empregados em postos de combustível. Sem o benefício, o posto abre margem para que os funcionários entrem com ações trabalhistas contra os empregadores, justamente por não cumprirem as convenções coletivas.
No caso dos eletropostos, a figura do frentista não é prevista e o atendimento é realizado em sua maioria pelos próprios clientes, o que isenta o negócio da contratação do seguro de vida para funcionários. Todavia, no contexto de um estacionamento particular e com funcionários ligados diariamente a operação e manutenção das estações é relevante a contratação da apólice. Por outro lado, se o eletroposto for instalado em um posto de combustível, parcerias com o host podem ser estabelecidas para compartilhar os custos da contratação do seguro de vida para os funcionários que trabalham e circulam na área de risco.
Para a contratação do seguro de vida para o negócio, existe a obrigatoriedade de pagar o prêmio do seguro para a empresa responsável, na forma de um valor mensal ou integral, que cobre os riscos assumidos pela prestadora do serviço. Os preços de seguro de vida costumam variar conforme os tipos de cobertura e com a seguradora que está oferecendo o produto. O valor da indenização também pode fazer o custo do seguro aumentar. Além disso, para a cotação, as empresas ainda avaliam a idade do profissional, a sua saúde e vários outros fatores. Apesar disso, a título de exemplo, a Tabela 3 apresenta cotações de referência para o seguro de vida.
Tabela 3: Referências de valores para o seguro de vida
Seguradora | Nome do seguro | Valor mensal |
---|---|---|
Bradesco | AP Premiável Bradesco | R$ 8,44 |
Bradesco | Proteção Vida Bradesco | R$ 14,58 |
Caixa Seguradora | Seguro de Vida Caixa | R$ 9,26 |
Caixa Seguradora | Fácil Assistência Premiada | R$ 14,90 |
Porto Seguro | Vida Mais Simples | R$ 9,30 |
SulAmérica | Individual | R$ 41,30 |
Banco do Brasil | BB Seguro Vida – Vida Leve | R$ 9,13 |
Banco do Brasil | BB Seguro Vida – Vida Total | R$ 35,18 |
Youse | Seguro de vida | R$ 10,00 |
Fenasbac | Individual | R$ 16,07 |
Ressalta-se que essas análises e custos são exploratórios, pois, atualmente, os órgãos reguladores trabalham para desenvolver normativas próprias relacionadas ao carregamento elétrico. Enquanto isso, o que vale é a legislação vigente – Resolução Normativa Nº 819, de 19 de junho de 2018 – a qual aponta que:
“A prestação de atividades recarga de veículos elétricos pela distribuidora se dá por sua conta e risco, sendo que eventual repercussão negativa não ensejará pleito compensatório quanto à recuperação do equilíbrio do contrato de concessão ou permissão.”.
Isto é, as empresas do ramo de eletropostos não devem considerar os seguros apenas como obrigações legais, mas como acessórios estratégicos que reduzem os riscos de prejuízo e de danos permanentes causados por situações inesperadas. Neste sentido, o mercado segurador oferece uma série de produtos para diferentes situações com orçamento e garantias personalizadas. Portanto, uma boa cotação é essencial, envolvendo gerentes, equipe técnica, advogados e seguradoras.
4. Estratégia para a manutenção da rede de eletropostos
O objetivo desta seção é apresentar os fatores críticos para a manutenção dos eletropostos de recarga, pontuando barreiras e estratégias de atuação. Neste sentido, podemos afirmar que, de maneira geral, a manutenção das operações da rede está relacionada ao: i) estabelecimento de um plano de manutenção anual; ii) profissionais capacitados no mercado; iii) disponibilidade local de peças; iv) custo de manutenção; e v) tempo de reação das equipes. Dessa forma, estes serão os principais tópicos discutidos nesta seção.
De acordo com os fabricantes de eletropostos, todas as estações de recarga rápida de uma rede devem ser inspecionadas regularmente como parte da manutenção preventiva, mesmo as estações raramente utilizadas (Caldwell, 2022). No mínimo, cada peça de equipamento deve ser cuidadosamente inspecionada e testada uma vez por ano. Eletropostos que são utilizados com mais regularidade devem ser inspecionados pelo menos duas vezes por ano. Neste contexto, uma rotina de manutenção adequada deve envolver (Jungers et al., 2022):
- Inspeção visual do equipamento quanto a danos;
- Teste da interface entre equipamento e usuário; e,
- Realização de testes de potência para certificar que o equipamento fornece a energia que está classificada para fornecer e que os mecanismos de segurança integrados estão funcionando.
Para a execução do plano de manutenção da rede é fundamental garantir que as equipes de manutenção estejam treinadas para a realização dos reparos nas estações de recarga. Seja através de uma equipe própria ou trabalhando por meio de parceiros comerciais, as redes de eletropostos devem garantir treinamento específico para técnicos e eletricistas.
Técnicos não treinados podem não ter os equipamentos de teste, ferramentas ou peças de reposição adequados para diagnosticar e reparar um problema de forma segura e eficiente em campo. Além disso, equipes de manutenção com um número reduzido de profissionais capacitados no tema terão dificuldades de atender as chamadas de reparo, o que atrasará as reparações e deixará os carregadores fora de operação por dias.
Assim como o treinamento mencionado, as equipes de manutenção precisam de (Caldwell, 2022):
- Informações detalhadas. As equipes de campo geralmente têm informações limitadas ou incorretas ao entrar em campo e, por isso, o diagnóstico e reparo dos equipamentos pode demorar. Para reduzir o tempo de reparo, a equipe que gere os equipamentos deve procurar dar aos técnicos o máximo de informação possível sobre o tipo de eletroposto; código de erro ou problema relatado; quantidade de carregadores, portas e conectores; idade do equipamento; tipo de instalação; e histórico de reparos.
- Ferramentas especiais. Os técnicos estão acostumados a usar ferramentas especializadas para seu ofício, como chaves isoladas e medidores para medir tensão e corrente. Para manutenção e reparo das estações, os técnicos precisarão de ferramentas menos comuns, como medidores que possam simular uma falha de carregamento e detectar a resposta do da estação.
- Peças especiais. A equipe de manutenção precisa ter peças de reparo críticas e não críticas pré-encomendadas e estocadas no veículo de atendimento da chamada antes de ir para um trabalho de inspeção ou reparo. Isso porque, quase tudo, exceto a fiação da estação, é considerado equipamento especializado, incluindo cabos e controladores.
Atualmente, algumas empresas nacionais especializadas exclusivamente na manutenção de eletropostos, como a BeGreen Mobilidade, oferecem serviços especializados no reparo das estações e podem contribuir para diminuição do tempo de inatividade dos carregadores de dias para horas. Outra alternativa para garantir a manutenção das estações seria incentivar indivíduos e organizações locais a gerenciar e manter os carregadores após a instalação (Caldwell, 2022). Esses incentivos operacionais também podem apoiar a certificação e o treinamento de parceiros comerciais, vitais para o funcionamento em rede do negócio. Seja de uma forma ou de outra, os custos de manutenção dos eletropostos podem representar fatias relevantes do faturamento dos eletropostos na escala atual do mercado (Energy Agency, 2022).
Apesar disso, poucos estudos focam na redução das despesas de manutenção das estações e a maioria dos empreendimentos dão preferência à redução dos custos de instalação, não atentando-se aos gastos de manutenção das mesmas e ao custo total de propriedade das estações. Como resultado, instalações que apresentam um custo baixo de aquisição, podem apresentar um custo elevado de operação e, portanto, um custo total de propriedade mais elevado. Em outros termos, o barato pode sair caro.
Neste sentido, para evitar custos futuros os operadores de redes de recarga podem solicitar aos fornecedores alguns indicadores de manutenção dos equipamentos, tais como (Voelcker, 2012):
- Tempo médio entre falhas. Indicador da confiabilidade do equipamento, mede o tempo total de bom funcionamento médio entre as falhas do eletroposto;
- Tempo médio de reparo. Esse indicador avalia à mantenabilidade, ou seja, a facilidade que uma equipe de manutenção encontra em fazer um equipamento voltar a executar suas funções após uma falha;
- Taxa de falha. Esse indicador pode ser entendido como percentual de indisponibilidade apresentado pelos equipamentos por motivos de manutenção (quebras).
Outros parâmetros, como disponibilidade, confiabilidade e custo de manutenção por faturamento também podem ser solicitados para melhor planejar as despesas com manutenção de cada estação (Correa, 2021). Ou seja, é necessário ponderar na hora da compra dos eletropostos o custo total do ativo, balanceando os dispêndios de construção e de operação dos equipamentos durante o ciclo de vida do produto.
Além desses fatores técnicos, que podem variar de fornecedor para fornecedor, o custo da manutenção é dado em função das condições de frequência e tempo de atendimento. Isto é, quanto menor o tempo de compromisso de reparo estabelecido e mais frequentes forem os chamados, maior será o custo da manutenção. Contratos que garantem o reparo em até 24 horas, por exemplo, tendem a custar mais do que contratos sem compromisso de tempo de reparo, pois não têm despesas de viagens e disponibilidade de funcionários durante o final de semana.
A fim de ilustrar tal relação, a Figura 3 apresenta uma abordagem para o tema, tendo como premissa que:
I – O eletroposto de recarga rápida (150 kWh) custa em média 500 mil reais;
II – O custo de reparo anual sem prioridade é de 2 a 3% do valor do equipamento; e
III – O custo da manutenção com compromisso de tempo de reparo pode atingir até 10% do valor do equipamento.
Figura 3: Relação entre o tempo de reparo e custo da manutenção
Essas premissas derivam de informações providas por fornecedores de tecnologia e prestadores de serviços no âmbito nacional. De acordo com outra fonte (U.S. Departament of Energy, 2022), embora os custos reais de manutenção variem, os proprietários das estações de recarga rápida podem estimar os custos médios de manutenção em mais de US$ 800 ou R$ 4.000,00 por ano, por carregador, para garantir a operação dos equipamentos. Como visto, o valor averiguado no mercado brasileiro é bem superior ao identificado na literatura internacional.
O tempo de reparo, por sua vez, está associado à localização da equipe e disponibilidade de peças (Caldwell, 2022). Quanto maior for a distância entre o ponto de chamada e equipe, maior será o tempo e custo de atendimento da ocorrência. Atualmente, a maioria dos carregadores estão instalados em São Paulo, no entanto, a expansão da rede para o centro-oeste torna vital o estabelecimento de parcerias com provedores de serviço no local. Chamados de manutenção corretiva em Brasília, por exemplo, serão mais caros do que os atendimentos na região de São Paulo, ponto atual dos principais fornecedores de serviço.
Adicione ao problema logístico a necessidade de peças específicas que, frequentemente, não estão disponíveis no mercado nacional. A título de exemplo, se determinado equipamento é fornecido por um fabricante asiático e não há peças substitutas, é necessário realizar todo o processo de importação do material até a entrega no ponto de chamada, o que pode demorar meses. Assim, é preciso desenvolver centros de distribuição de peças críticas e não críticas no Brasil, permitindo o transporte eficiente dos materiais até as diversas localidades da rede de recarga.
De acordo com os fabricantes, alguns dos reparos frequentes relacionados aos eletropostos são problemas no sistema de refrigeração. Trocas de ventiladores, filtros, líquidos e exaustores utilizados para diminuir a temperatura são atividades comuns para manter os carregadores rápidos operando, além de ajustes em peças e substituição de cabos e plug-ins. Outros problemas habituais são a perda de conexão com a nuvem, telas sensíveis ao toque sem resposta ou indisponíveis, falhas no sistema de pagamento, falhas no início da cobrança, falhas na rede ou conectores quebrados (Voelcker, 2012). Assim, para a manutenção efetiva dos eletropostos, essas peças críticas precisam estar no local certo com o profissional adequado.
Neste sentido, a característica em rede do negócio torna necessário uma abordagem em rede para a manutenção, sendo este um dos fatores críticos para o sucesso dos empreendimentos. O quadro a seguir resume as principais barreiras e recomendações para garantir a manutenção preventiva e corretiva da rede de eletropostos.
Quadro 2: Fatores para o sucesso da manutenção dos eletropostos
Fatores para o sucesso | Barreiras identificadas | Recomendações |
Plano de manutenção preventiva e corretiva | Localização dispersa dos eletropostos | Contratação de equipes terceirizadas especializadas ou realização de parcerias e capacitação de equipes técnicas na área do eletroposto, garantindo tempo mínimo de atendimento de chamadas |
Profissionais capacitados | Poucos técnicos estão capacitados a realizar a manutenção | Parcerias com escolas técnicas, como Senac, e incentivos a políticas públicas de capacitação profissional no tema |
Disponibilidade de peças | A maioria das estações são importadas, com poucos fornecedores locais de peças semelhantes, o que acarreta em um tempo elevado para reposição | Incentivo a políticas de produção nacional das peças e estações |
Custo e tempo de reparo | A fase e escala atual do mercado impõe aos operadores tempo e custos elevados de manutenção | Parcerias com fornecedores locais, centros de distribuição de materiais e logísticos podem reduzir o elevado custo e tempo até a manutenção |
5. Cenários de atuação
A fim promover uma discussão analítica acerca da oferta da manutenção e seguro para a infraestrutura de eletropostos foi desenvolvido um modelo de avaliação assumindo dois cenários de atuação. O cenário corrente considera apenas a manutenção corretiva dos postos e ausência de cobertura de seguro. Por outro lado, o cenário alternativo supõe a contratação da manutenção preventiva, corretiva e seguro.
O quadro abaixo sintetiza as principais premissas do exercício proposto, que analisa o período de 2022 a 2030, relacionando o impacto do crescimento da mobilidade elétrica nos indicadores de manutenção da rede de eletropostos.
Quadro 3: Premissas dos cenários de atuação
Premissas | Cenário Corrente Deixa a vida me levar | Cenário Alternativo O seguro morreu de velho |
---|---|---|
Número de estações de recarga rápida | O crescimento do número de VEs acarreta na expansão da rede de eletroposto | O crescimento do número de VEs acarreta na expansão da rede de eletroposto |
Tempo de disponibilidade anual | As estações idealmente deveriam operar 12 horas por dia durante todo o ano, com tolerância máxima de parada correspondente a 5% do tempo | As estações idealmente deveriam operar 12 horas por dia durante todo o ano, com tolerância máxima de parada correspondente a 5% do tempo |
Tempo total de manutenção | A estação fica parada por um tempo elevado devido à falta de manutenção preventiva e ausência de prioridade no reparo | Redução do tempo parado do equipamento devido a manutenção preventiva e manutenção corretiva com compromisso de tempo de reparo |
Número de paradas | Quantidade elevada de paradas devido à falta de assistência técnica | Redução do número de paradas devido a identificação prévia de falhas |
Tempo médio entre falhas | Tempo médio entre falhas é baixo, com paradas recorrentes | Aumento do tempo médio entre falhas |
Tempo médio de reparo | Tempo elevado de reação da equipe de manutenção | Redução do tempo médio de reparo devido a contratação de equipe com prioridade de atendimento |
Taxa de falha | Percentual elevado de indisponibilidade das estações | Redução do percentual de indisponibilidade das estações |
Custo da manutenção corretiva sem compromisso | Custo reduzido com a manutenção, até 3% do valor do equipamento | Não considera a contratação do serviço |
Custo da manutenção preventiva e corretiva com compromisso | Não considera a contratação do serviço | Aumento do custo de manutenção para atender o chamado em 24 horas |
Seguro anual das estações | Não considera a contratação do serviço | Garante cobertura patrimonial e civil das estações |
Número de recargas anual por estação | A taxa elevada de indisponibilidade reduz o número de recargas anuais | Aumento do número de recargas |
Receita média anual por recarga | A taxa elevada de indisponibilidade reduz a receita anual no longo prazo | Aumento da receita anual no longo prazo devido ao aumento da taxa de indisponibilidade |
Dentro dessa metodologia, o número de carregadores rápidos (DC) é dado em função do número de veículos puramente elétricos no mercado nacional. Para a elaboração da simulação, foi considerado o cenário de difusão publicado pela EPE (PNME, 2022), o qual assume para o Brasil um total de 180 mil VEs, em 2030, o que representa uma taxa de crescimento anual de aproximadamente 50% ao ano para o período. Além disso, assumiu-se que:
I – A cada 10 VEs é necessário 1 carregador público (Booth, 2022; ICCT, 2021; IEA, 2020);
II – A participação dos carregadores DC cresce de 10% do mercado de carregadores públicos para 13%. Conforme evidencia a experiência internacional (Energy Agency, 2022), a democratização dos VEs nas cidades leva ao aumento de clientes que residem em prédios e não têm acesso a carregadores residenciais e, portanto, necessitam de carregadores rápidos em ambientes públicos;
III – No Brasil, em 2022, a rede de eletroposto detinha 21% do mercado de carregadores rápidos (18/85) e essa participação é mantida constante no período de análise.
O resultado da análise aponta para um crescimento exponencial da rede de carregadores rápidos (DC). o número de carregadores da rede salta de 18 carregadores, em 2022, para cerca de 500 unidades, em 2030, como pode ser observado na Figura 4. O mercado potencial brasileiro, dado as premissas, seria de cerca de 2.340 estações de recarga rápida. Para efeito de comparação, em 2022, o mercado americano contava com um total de 6 mil estações de carregadores rápidos, ou seja, em 2030, o mercado nacional representaria um terço do mercado americano atual.
Figura 4: Crescimento potencial da rede de eletroposto
Frente a expansão esperada da rede e das operações, um sistema de manutenção dos equipamentos é fundamental para garantir os serviços e experiência dos clientes. Neste sentido, as subseções a seguir detalham dois cenários de atuação, comparando prós e contras no curto e longo prazo.
5.1 Cenário corrente
Primordialmente, a linha narrativa do cenário corrente7 assume que:
I – Devido ao aumento da experiência das equipes de manutenção, o tempo total de manutenção corretiva apresenta uma pequena melhora no período, passando de 14 dias para 12 dias de atendimento durante o período analisado(Rempel et al., 2022);
II – O aumento da procura por recarga leva ao aumento do número de quebra dos equipamentos, que, em média, ocorrem 1 vez ao ano, em 2022, para cerca de 4 vezes ao ano, em 2030;
III – O custo da manutenção corretiva é de 10 mil reais por chamado;
IV – Ganhos de escala levam a uma redução de 15% no custo de atendimento dos chamados de reparo (Chris Nelder et al., 2020).
A Figura 5 ilustra o painel de resultados do cenário corrente, considerando as premissas acima. Nota-se que o aumento de chamadas leva a redução do tempo médio entre falhas. Isto é, se, em 2022, a probabilidade era de 1 falha a cada 160 dias, em 2030, chamadas de reparo podem ocorrer a cada 40 dias. Neste contexto, a taxa de falha dos equipamentos aumenta e o cliente tem, em 2030, 28% de chance de encontrar um equipamento da rede EDP fora de serviço na sua próxima tentativa de recarga.
Figura 5: O painel indica como (a) os indicadores da área de manutenção impactam na (b) taxa de utilização dos carregadores e nos (c) indicadores de faturamento da rede no cenário corrente
Apesar do aumento da venda de energia, observa-se no gráfico (b) que o número médio de recargas diárias por estação apresenta um crescimento marginal no período. Isso é explicado em parte pelo aumento da taxa de falha e do tempo elevado de reparo das estações que passam dias fora de serviço e impactam o indicador. Por sua vez, o custo da manutenção, que considera um ticket médio de R$10.000,00 por chamada corretiva, cresce em função do aumento de paradas. No período, o peso da manutenção corretiva no faturamento total acompanha essa tendência, saltando de 24% do faturamento para 68%.
5.2 Cenário alternativo
A linha narrativa do cenário alternativo, por outro lado, sugere que a rede de eletropostos contrata de terceiros o serviço de manutenção preventiva e corretiva, além de garantir a cobertura de seguro patrimonial e de responsabilidade civil. Assim, a empresa terceirizada fica responsável por atender chamadas corretivas e pela execução das manutenções preventivas. Neste contexto, o tempo total de manutenção atual, considerado de 14 dias, apresenta melhorias incrementais no período, atingindo a meta de atender os chamados em até 24 horas, em 2030. A manutenção preventiva, em contrapartida, reduz o número de paradas das estações, que, em média, ocorrem 1 vez ao ano, em 2022, para cerca de 0.25 chamadas por carregador, em 2030.
Frente às premissas adotadas, os resultados apontam para um aumento no tempo médio entre falhas, como ilustrado na Figura 6. Em 2022, a probabilidade de falha, que era de uma a cada 160 dias, atingirá, em 2030, 345 dias. Seguindo a tendência, a taxa de falha dos equipamentos diminui e fica abaixo dos 5%, valor de disponibilidade das estações especificado pela maioria dos fornecedores.
Nota-se no gráfico (b) que o número médio de recargas diárias por estação triplica no período. O aumento da disponibilidade dos carregadores permite o aumento do potencial de utilização dos mesmos e do número de eventos de conexão na rede, além de afetar a satisfação dos usuários de veículos elétricos que, mais contentes com a infraestrutura, passam a promover entre amigos e familiares a adoção da mobilidade elétrica.
O custo da manutenção, por outro lado, assume duas tendências opostas: devido ao aumento da exigência de tempo de atendimento, o custo do serviço de manutenção aumenta no período – saindo de 13 mil, em 2022, para 50 mil reais, em 2030, por estação – em contrapartida, ocorre uma redução de 30% desses valores justificados pelo amadurecimento do mercado (Nelder et al., 2020). Adiciona-se ainda, o prêmio do seguro, considerado na faixa de R$3.000,00 por estação, o qual também apresenta ao longo do tempo uma redução exponencial de 30% no valor global devido ao aumento de escala. Dadas as premissas, o peso da manutenção corretiva no faturamento total diminui ao longo do tempo, saltando de 32% do faturamento para 17%.
Figura 6: O painel indica como (a) os indicadores da área de manutenção impactam na (b) taxa de utilização dos carregadores e nos (c) indicadores de faturamento da rede no cenário alternativo
5.3 Comparando atuações
A comparação dos resultados entre os cenários aponta para a redução do tempo total de manutenção da rede no cenário alternativo. A diferença entre receita e o custo da manutenção entre os cenários indica que, no curto prazo, é mais vantajoso economicamente atuar com uma equipe reduzida, apenas realizando manutenções corretivas. No médio prazo, no entanto, essa tendência se inverte, sendo mais vantajoso uma equipe de manutenção preventiva especializada. Os ganhos relativos acumulados no período atingem 65 milhões de reais, sendo mais vantajoso ofertar os serviços de manutenção preventiva, corretiva e seguro para a rede de eletropostos.
Figura 7: Comparação entre cenários os cenários de atuação
6. Considerações finais
Este artigo forneceu uma primeira abordagem para os riscos e responsabilidades associados à operação da infraestrutura de recarga rápida no Brasil. Como visto, a operação da rede de recarga necessita de um plano de manutenção preventivo e assistência corretiva para o pleno funcionamento das estações e serviços oferecidos aos clientes. Mais do que isso, é preciso também segurar o negócio e a sociedade civil dos riscos inerentes à atividade, protegendo o empreendimento de infortúnios.
Neste sentido, o relatório disponibilizou diversas alternativas para a oferta de seguro e de manutenção para a rede de eletropostos, ponderando prós, contras e custos. Ademais, o exercício analítico proposto permitiu relacionar a evolução do mercado de veículos elétricos, a expansão da rede de recarga rápida, os indicadores de manutenção da rede e o peso dos serviços de assistência no faturamento da rede. O resultado principal da análise indicou que apesar de no curto prazo trabalhar com um sistema apenas corretivo é interessante do ponto de vista econômico, no longo prazo, essa atuação é inviável. O aumento da utilização da rede atrelado ao envelhecimento dos equipamentos leva ao aumento do número de paradas, tornando a manutenção corretiva mais frequente. Assim, ofertar os serviços de manutenção preventiva torna a operação e os custos mais previsíveis, facilitando a rotina tanto dos usuários quanto dos operadores da rede.
Por fim, ainda há uma longa trajetória de amadurecimento das condições aqui levantadas e do próprio mercado de infraestrutura de recarga rápida. Neste aspecto, a metodologia aqui oferecida permite a atualização dessas condições, contribuindo assim para os trabalhos futuros.
Agradecimentos
Este artigo e pesquisa foi financiado pelo Projeto de P&D da ANEEL: “Desenvolvimento de soluções para operação nacional de mobilidade elétrica: mobilidade elétrica centrada no utilizador”, desenvolvido pela empresa EDP em conjunto com diversos agentes do setor elétrico e automobilístico.
Referências
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