PROCESSOS DE ESTERILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAIS, COM ÊNFASE NA PREVENÇÃO DE CONTAMINAÇÕES

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/os102411261026


André Gomes Cardoso (USJT) andree.gomess26@gmail.com


RESUMO

Este estudo realiza uma revisão bibliográfica dos processos de esterilização de equipamentos e materiais, com foco na prevenção de contaminações, a partir de artigos publicados nos últimos dez anos (2014-2024). Os objetivos específicos incluem sintetizar a literatura existente sobre a evolução histórica e avanços tecnológicos em métodos de esterilização e destacar inovações recentes que melhoraram a eficácia e a segurança desses processos. Abordam-se métodos como o uso de óxido de etileno e ácido peracético, cada um com suas especificidades para garantir a eficácia na eliminação de microrganismos, principalmente em materiais sensíveis ao calor. Além disso, o uso de autoclaves, que operam com vapor, é detalhado quanto às diferenças técnicas, como os modelos gravitacionais e de vácuo. Para assegurar a qualidade da esterilização, o controle físico-químico e microbiológico é essencial, conforme os protocolos estabelecidos pela Portaria Interministerial n° 482 e pelas metodologias do INCQS e da AOAC, que envolvem testes com microrganismos esporulados.

Palavras chaves: Esterilização; Hospital; Qualidade

1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A ESTERILIZAÇÃO HOSPITALAR
2.2 PRINCÍPIOS DA ESTERILIZAÇÃO
3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 MÉTODOS E PROCESSOS DA ESTERELIZAÇÃO HOSPITALIZAR
4.2 CONTROLE DA ESTERELIZAÇÃO
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


  1. INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais antigos, a humanidade tem buscado oferecer atenção, proteção e cuidados especiais às pessoas doentes. Os hospitais foram criados com o objetivo de tratar os pacientes e isolar do restante da população, evitando a propagação de agentes infecciosos. No entanto, essa segregação não foi suficiente para impedir a propagação de doenças infecciosas, que se espalharam com facilidade. Isso deve às condições presentes no ambiente hospitalar, onde a tríade epidemiológica (agente, hospedeiro e meio ambiente) interagia de forma intensa, favorecendo ainda mais a transmissão de infecções (Da Silva et al, 2005).

Apesar dos esforços para conter a propagação de agentes infecciosos nos hospitais, os ambientes hospitalares oferecem condições propícias para o surgimento e manutenção de infecções, devido ao próximo contato entre os pacientes, à manipulação frequente de equipamentos e à vulnerabilidade dos pacientes (Fernandes, 2000). Dessa forma, tornou-se evidente a necessidade de desenvolver métodos mais eficazes para controlar infecções e garantir a segurança tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde, tal como o processo de esterilização (Da Silva et al, 2005).

A esterilização de materiais médicos é o processo que elimina microrganismos de forma que não possam ser detectados em um meio de cultura-padrão onde, anteriormente, havia proliferação. O nível de esterilidade é determinado pela quantidade de microrganismos que sobrevivem à esterilização por unidade de produto (MEDEIROS, 2021). Os mecanismos de esterilização são classificados em métodos físicos, químicos e mecânicos. Entre os métodos químicos, destaca-se a aplicação de Óxido de Etileno (ETO) (Mcdonnell; Sheard, 2012).

O processo de esterilização a vapor, por exemplo. garante a assepsia dos materiais usados ​​na fabricação de medicamentos. O método de esterilização a vapor saturado é amplamente preferido, pois é reconhecido como o mais eficaz, rápido, econômico e com menor impacto ambiental. Para manter o nível adequado de esterilidade, a qualificação das autoclaves e a validação de suas cargas (os itens que precisam ser esterilizados para uso) são critérios essenciais de órgãos reguladores (Rodrigues,2010).

Por sua vez o óxido de etileno (ETO) é uma alternativa eficaz para a esterilização de materiais médicos hospitalares sensíveis a altas temperaturas, devido à sua ação em baixas temperaturas, alta penetração e propriedades não corrosivas. No entanto, o gás óxido de etileno é altamente tóxico, inflamável e explosivo, apresentando características carcinogênicas, mutagênicas e teratogênicas. A utilização deste agente esterilizante é regulamentada pela Portaria Interministerial nº 482, de 16 de abril de 1999 (Dos Santos, De Souza e Matte,2020).

Partindo disso, o objetivo deste projeto é realizar uma revisão bibliográfica sobre os processos de esterilização de equipamentos e materiais, com ênfase na prevenção de contaminações partindo de artigos dos últimos dez anos (2014-2024). Como objetivos específicos tem-se:

  1. Sintetizar a literatura existente, considerando a evolução histórica e os avanços tecnológicos nos métodos de esterilização;
  2. Destacar as inovações recentes que têm melhorado a eficácia e a segurança desses processos.

A escolha adequada do método de esterilização é crucial para garantir ambientes de saúde livres de contaminação, protegendo tanto pacientes quanto profissionais. Com isso, esse estudo se justifica por oferecer uma visão crítica que auxilie os profissionais da saúde e da indústria na seleção do método mais eficaz, promovendo ambientes seguros e isentos de contaminação.

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A ESTERILIZAÇÃO HOSPITALAR

O hospital deve ser considerado um ambiente insalubre por sua natureza, uma vez que abriga hospedeiros mais suscetíveis e microrganismos mais resistentes. Esses microrganismos podem contaminar artigos hospitalares, colonizar pacientes graves e causar infecções que são mais difíceis de tratar. O risco de infecção depende, em grande parte, da quantidade e virulência dos microrganismos presentes, bem como da resistência anti-infecciosa do paciente — tanto local quanto sistêmica e imunológica. Além disso, a conscientização e a capacitação da equipe médica e paramédica que atua na instituição são fundamentais para a prevenção dessas infecções (Morina e Modena, 2008).

A esterilização visa a eliminação de microrganismos viáveis de artigos odonto-médico-hospitalares. Um artigo é considerado estéril quando a probabilidade de sobrevivência de microrganismos é inferior a 1 em 1.000.000. Para alcançar esse objetivo, o processo de esterilização envolve várias etapas, que incluem: uma limpeza eficaz, o uso de materiais de embalagem adequados, a correta disposição dos instrumentos, a carga apropriada do esterilizador, a escolha correta do agente esterilizante em termos de qualidade e quantidade, o funcionamento adequado do equipamento, a definição precisa dos parâmetros do ciclo (como tempo, temperatura e umidade) e o monitoramento de todo o processo de esterilização (Moura, 2008).

Segundo Ascari et al. (2013), o processo de esterilização começa com o recebimento dos materiais na área considerada suja. Em seguida, ocorre a limpeza, o preparo, o empacotamento e a esterilização dos itens, culminando na distribuição do material esterilizado para as unidades consumidoras. É fundamental que haja um registro detalhado de cada etapa e dos monitoramentos realizados, incluindo testes de validação do processo de esterilização, para garantir a eficácia e a segurança do procedimento. Essas práticas são essenciais para assegurar que os materiais estejam livres de contaminantes e prontos para uso seguro em ambientes clínicos e hospitalares.

Além do mais, a evolução dos instrumentos cirúrgicos para atender às demandas assistenciais em saúde gerou a necessidade de um espaço específico para a limpeza e conservação desses materiais. Isso trouxe à tona questões sobre as fontes de contaminação e medidas preventivas, como a lavagem das mãos, a assepsia nos procedimentos cirúrgicos, a separação de pacientes feridos dos infectados e o cuidado com roupas e artigos (Costa Aguiar, 2009).

No início, o Centro de Material Esterilizado (CME) não operava de forma centralizada; muitos materiais eram preparados nas próprias unidades de internação e apenas esterilizados ali. Além disso, o CME e o Centro Cirúrgico (CC) muitas vezes funcionavam no mesmo espaço. A complexidade tecnológica dos materiais e equipamentos cirúrgicos aumentou a demanda por novas formas de preparação e processamento, exigindo dos profissionais de enfermagem uma qualificação adequada para lidar com a complexidade e a diversidade dos processos de trabalho (Leite, 2008).

De acordo com Muller, Ascari e Neiss (2014) a legislação referente ao Centro de Material Esterilizado (CME) foi criada com o intuito de estabelecer normas para o funcionamento e a organização desse serviço, além de garantir a padronização em todas as instituições de saúde. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é responsável pela formulação dessas diretrizes, que devem ser rigorosamente seguidas. A Resolução RDC nº 307, datada de 14 de novembro de 2002, classifica o CME como uma unidade de apoio técnico, cuja principal função é fornecer materiais médico-hospitalares que tenham sido devidamente processados, assegurando condições adequadas para a assistência à saúde de pacientes, tanto enfermos quanto saudáveis (BRASIL, 2002).

A esterilização ou desinfecção ideal para dECM (matriz extracelular descelularizada) deve não apenas eliminar microrganismos, mas também garantir que o material esterilizado seja seguro e mantenha suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Por isso, escolher o método certo é muito importante (Tao et al, 2021).

Para verificar se um método de esterilização ou desinfecção é adequado para dECM, o processo é o seguinte: primeiro, deve-se testar se o dECM está estéril; em seguida, após a esterilização ou desinfecção, é necessário verificar se há substâncias tóxicas no biomaterial; por último, depois de confirmar que os materiais são seguros, é preciso avaliar se as mudanças em suas propriedades físicas e químicas afetam a função desejada do dECM. Isso inclui checar se os materiais usados para promover a cicatrização do tecido retêm fatores de crescimento e se as membranas para cobrir feridas têm a dureza e elasticidade adequadas (Tao et al,2021).

2.2 PRINCÍPIOS DA ESTERILIZAÇÃO 

A resistência dos microrganismos a agentes destrutivos é fundamental para entender os métodos de esterilização. Embora ainda tenhamos um conhecimento limitado sobre os motivos e mecanismos que conferem maior resistência a algumas células, é crucial considerar como essas células conseguem restabelecer condições favoráveis à sobrevivência. De acordo com Wyss (1969), existem três respostas possíveis quando um agente nocivo afeta o sistema celular:

  1. O sistema é comprometido, levando à morte do organismo ou à incapacidade de reproduzir.;
  2. O sistema desenvolve resistência e se adapta;
  3. O sistema passa por mudanças, podendo ser uma adaptação temporária ou permanente.

Tanto vírus quanto formas vegetativas apresentam limites de resistência ao calor, variando de 50°C em vapor aquecido até 150°C em calor seco. Entretanto, entre os diferentes tipos de vírus, há uma considerável variação nas temperaturas que causam a morte. Os esporos são os organismos vivos mais resistentes. Eles mantêm uma atividade metabólica mínima, mas contêm enzimas que permitem uma rápida transformação do estado latente para a forma vegetativa. Por exemplo, esporos de Bacillus anthracis secos foram encontrados viáveis mesmo após seis anos. De acordo com uma pesquisa que marca a teoria sobre o tema no Brasil de Assunção (1973) a esterilização se baseia em princípios fundamentais:

  1. Temperatura: O uso de calor, seja úmido (vapor sob pressão) ou seco, é uma das formas mais comuns de esterilização. A temperatura e o tempo de exposição devem ser adequados para eliminar todos os microrganismos, incluindo esporos;
  2. Tempo: A duração da exposição ao agente esterilizante é essencial. O sucesso do processo depende do tempo necessário para garantir a destruição de todas as formas de vida;
  3. Umidade: O calor úmido geralmente é mais eficaz do que o seco, pois a umidade ajuda na penetração do calor nas células, acelerando a eliminação dos microrganismos;
  4. Concentração do agente esterilizante: A eficácia dos agentes químicos utilizados na esterilização varia com a concentração e o tempo de contato. Soluções mais concentradas tendem a ser mais eficazes, embora possam ser mais tóxicas;
  5. Natureza do material: Diferentes materiais reagem de maneiras distintas à esterilização. Materiais porosos ou que retêm umidade podem exigir métodos específicos para assegurar que todas as superfícies sejam adequadamente tratadas;
  6. Carga microbiana: A quantidade inicial de microrganismos presentes impacta a eficácia da esterilização. Cargas mais altas podem exigir maiores tempos de exposição ou temperaturas mais elevadas;
  7. Ambientes controlados: A esterilização deve ser realizada em condições que evitem a recontaminação, como em ambientes controlados e utilizando embalagens adequada.

Esses princípios são essenciais para garantir que os métodos de esterilização sejam eficazes e seguros, promovendo a saúde e prevenindo infecções em ambientes clínicos e laboratoriais.

  1. METODOLOGIA

Optou-se pela metodologia da revisão integrativa. A pesquisa seguiu etapas previamente definidas, desde a formulação do problema até a análise e discussão dos resultados, com o objetivo de descrever o panorama atual do tema, priorizando estudos recentes e relevantes. A análise será realizada de forma qualitativa, o que implica na seleção cuidadosa de métodos e teorias adequadas, na compreensão e análise de múltiplas perspectivas, na reflexão contínua dos pesquisadores sobre suas investigações como parte essencial do processo de construção do conhecimento, além da adoção de diversas abordagens e técnicas (Gil, 2002).

Uma revisão integrativa é um método de pesquisa que busca compilar, analisar e resumir os resultados de estudos independentes sobre um determinado tema. Seu objetivo é contribuir para uma compreensão mais ampla do assunto e, assim, possibilitar melhorias na qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. Além de informar o desenvolvimento de políticas, protocolos e procedimentos, a revisão integrativa também estimula o pensamento crítico necessário na prática cotidiana (Souza, Silva e Carvalho, 2010). Para isso, serão utilizadas as etapas citadas por Souza, Silva e Carvalho (2010) em seu estudo:

  1. Formulação da questão orientadora: Para essa etapa é crucial, pois determina quais estudos serão incluídos, os métodos de identificação e as informações a serem extraídas de cada estudo selecionado. É importante definir os participantes, as intervenções a serem avaliadas e os resultados a serem medidos. A formulação deve ser clara, específica e baseada em um embasamento teórico que incorpore conhecimentos prévios do pesquisador;
  2. Busca e seleção na literatura: Essa fase está diretamente relacionada à anterior. A busca em bases de dados deve ser ampla e diversificada, incluindo pesquisas em bases eletrônicas, busca manual em periódicos, referências citadas nos estudos selecionados, contato com pesquisadores e uso de materiais não publicados. Os critérios de seleção devem garantir a representatividade da amostra, indicando a confiabilidade dos resultados. Idealmente, todos os estudos encontrados devem ser incluídos, ou, se isso não for viável, uma seleção aleatória deve ser feita. Caso ambas as opções sejam inviáveis devido ao volume de trabalhos, os critérios de inclusão e exclusão devem ser claramente apresentados e discutidos em relação à questão orientadora;
  3. Coleta de dados: Para extrair os dados dos artigos selecionados, é necessário utilizar um instrumento previamente elaborado. Isso garantirá a coleta completa de informações relevantes, minimizará erros na transcrição e assegurará a precisão na verificação das informações, servindo como registro. Os dados devem incluir a definição dos participantes, metodologia, tamanho da amostra, medição de variáveis, método de análise e conceitos teóricos utilizados;
  4. Análise crítica dos estudos incluídos: Assim como na análise de dados em pesquisas convencionais, esta fase requer uma abordagem organizada para avaliar a robustez e as características de cada estudo. A experiência clínica do pesquisador ajuda a avaliar a validade dos métodos e resultados, além de determinar sua aplicabilidade prática;
  5. Interpretação e discussão dos resultados: Neste estágio, os resultados são interpretados e discutidos em relação ao referencial teórico. São identificadas possíveis lacunas no conhecimento e estabelecidas prioridades para futuras pesquisas. Para manter a integridade da revisão integrativa, é crucial que o pesquisador destaque suas conclusões e inferências, além de explicitar quaisquer vieses presentes;
  6. Apresentação da revisão integrativa: A apresentação da revisão deve ser clara e abrangente, permitindo que o leitor avalie criticamente os resultados. Deve conter informações relevantes e detalhadas, fundamentadas em metodologias apropriadas, sem omitir nenhuma evidência.

Para a realização das etapas, será inicialmente feita uma investigação em bancos de dados nacionais e internacionais, como PubMed e BVS (Biblioteca Virtual da Saúde) e o Google acadêmico com foco na busca por artigos relevantes para a discussão, utilizando termos como: esterilização, processos, hospitalar (tanto em português como em inglês). A pesquisa será filtrada para incluir apenas artigos publicados entre 2019 e 2024, e os idiomas selecionados serão inglês e português. Optou-se por incluir apenas publicações de periódicos internacionais devido à qualidade das pesquisas nessas fontes.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

4.1 MÉTODOS E PROCESSOS DA ESTERELIZAÇÃO HOSPITALIZAR

O óxido de etileno desempenha um papel crucial na esterilização de dispositivos médicos, representando cerca de 50% do mercado global (McEVOY et al., 2021). Seu mecanismo de esterilização é altamente eficaz na eliminação de microrganismos, incluindo formas esporuladas, bactérias, fungos e vírus. O processo baseia-se na alquilação de proteínas, lipídios e ácidos nucleicos, provocando alterações estruturais que levam à destruição de agentes patogênicos.

Sua eficácia é especialmente destacada em temperaturas abaixo de 55ºC, o que possibilita sua utilização em materiais sensíveis ao calor. No entanto, é fundamental realizar um processo de aeração posterior para reduzir a presença de resíduos toxinas (Lira e Araújo, 2023).

Nos métodos químicos, como a utilização de óxido de etileno e peróxido de hidrogênio, a esterilização é realizada por meio de reações químicas controladas que eliminam os microrganismos. É fundamental considerar as propriedades físico-químicas do instrumento a ser esterilizado, assim como sua compatibilidade com o agente esterilizante. Além disso, é essencial avaliar especificamente o uso do instrumento no ambiente clínico para escolher o método de esterilização mais adequado, garantindo assim a eficácia na eliminação de microrganismo (Lira e Araújo, 2023).

De acordo com Costa (2021) a etapa de aeração pós-esterilização com óxido de etileno (ETO) visa reduzir os resíduos de óxido de etileno, etilenoglicol e etilenocloridrina, que são considerados tóxicos para os pacientes, tornando necessária sua remoção. Esse processo pode ser realizado na própria câmara do esterilizador (aeração mecânica) ou em salas específicas (aeração ambiental). A aeração ambiental é preferencialmente realizada em salas de uso restrito, com pressão negativa, controle de ar e fluxo (mínimo de 25 trocas de ar por hora).

Por sua vez, o ácido peracético é o componente ativo de diversos desinfetantes. Esses produtos comerciais geralmente contêm uma mistura equilibrada de ácido peracético, peróxido de hidrogênio, ácido acético, água e um estabilizante. Como agente oxidante, o ácido peracético age desestabilizando proteínas, alterando a permeabilidade das paredes celulares e oxidando certas ligações em proteínas, enzimas e outros compostos metabólicos (Barros, 2019).

Desde os anos 1940, o ácido peracético tem sido pesquisado para uso no branqueamento e no tratamento de polpas de celulose. Além disso, sua eficácia contra uma ampla variedade de microrganismos é bem estabelecida, sendo efetivo como bactericida, fungicida, esporicida e virucida, mesmo em concentrações baixas. No Brasil, o uso do ácido peracético é comum nas áreas de assistência à saúde, na indústria alimentícia e no setor ambiental. Em 1993, o Ministério da Saúde aprovou seu uso como desinfetante e agente esterilizante (Barros, 2019)

O uso do vapor como agente esterilizante é uma prática que remonta a períodos anteriores aos primeiros estudos de microbiologia que comprovam sua eficácia. Os registros mais antigos do uso de vapor para a conservação de alimentos datam do século XVI, mas foi no século XIX que essa técnica se popularizou para a esterilização (Bueno et al, 2021).

Além disso, os autores comentam que as autoclaves são fabricadas por diversas empresas, que utilizam tecnologias e métodos de funcionamento variados. Algumas possuem funcionamento analógico, outras digital; algumas são mais compactas, enquanto outras são mais robustas. Embora todas utilizem o vapor como agente esterilizador, existem diferenças entre os modelos e marcas disponíveis no mercado. Uma das principais distinções entre as autoclaves está no método de remoção do ar das câmaras de esterilização, o que as classifica em diferentes tipos. Os dois principais tipos disponíveis são as autoclaves gravitacionais e as autoclaves de vácuo (Bueno et al, 2021).

Nas autoclaves gravitacionais, o ar é removido por gravidade, onde o vapor é injetado junto com o ar, expulsando-o da câmara. Já as autoclaves de vácuo utilizam bombas de vácuo para uma remoção forçada do ar, o que torna o processo de esterilização mais rápido e eficiente. Dentro das autoclaves de vácuo, há uma variação técnica entre modelos de vácuo único e vácuo fracionado. A primeira utiliza uma bomba de alta capacidade com um único ciclo de sucção, enquanto a segunda realiza múltiplos ciclos de sucção para uma remoção mais eficaz do ar.

Para que a esterilização em uma autoclave seja eficaz, três parâmetros principais — temperatura, pressão e tempo — são ajustados ao longo de um ciclo, o qual é dividido em etapas específicas. Essas etapas incluem: aquecimento, remoção do ar, entrada de vapor, esterilização, exaustão e secagem, realizadas nessa ordem. Ao final de todas essas etapas, quando realizadas adequadamente, obtém-se um material completamente estéril (Bueno et al, 2021).

4.2 CONTROLE DA ESTERELIZAÇÃO

O controle de qualidade físico-químico e microbiológico é uma etapa fundamental para garantir que as configurações previstas sejam atendidas e que não haja microrganismos nos dispositivos médicos após a esterilização. Isso é garantido por meio de análises para a saúde, inspeções visuais e testes microbiológicos ou analíticos especializados, validando a segurança dos produtos para a saúde após a esterilização com ETO e a funcionalidade adequada dos dispositivos, conforme os critérios da Portaria Interministerial n° 482, de 16 de abril de 1999 (Lira e Araújo, 2023).

Outro ponto importante é que no Brasil, no fabricante de uma nova tecnologia deve apresentar o laudo da prova de esterilidade conforme a metodologia estabelecida pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que segue integralmente o protocolo da Association of Official Analytical Chemists International (AOAC), metodologia oficial adotada pela Food and Drug Administration (FDA) (Graciano, 2017).

O autor completa que a metodologia padrão indicada pela AOAC utiliza dois micro-organismos em forma esporulada como testes: Bacillus subtilis, American Type Culture Collection (ATCC) 19.659, e Clostridium sporogenes, ATCC 3.584. Os testes são realizados em dois tipos de carreadores: 120 de porcelana da Fischer Scientific Co™, nº 7.907, e outros 120 carreadores de alças com aproximadamente 6,5 cm de fio de seda cirúrgico nº 2 para cada micro-organismo. Todas as culturas e suas subculturas (240 culturas no total para cada micro-organismo) passam por uma incubação inicial de 21 dias, seguida de um choque térmico a 80°C e uma incubação complementar de 72 horas. Caso não haja recuperação dos micro-organismos teste em 100% das amostras após esses procedimentos, a tecnologia de esterilização avaliada será considerada aprovada.

A validação do desafio com micro-organismos esporulados carreados pelos penicilindros e alças deve ser realizada frente ao ácido clorídrico (HCl) na concentração de 2,5N, expondo-os ao ácido por intervalos de 2, 5, 10 e 20 minutos. Para assegurar a confiabilidade do inóculo, é necessário que os esporos resistam pelo menos 2 minutos, podendo suportar até mais de 20 minutos de exposição. Esse procedimento é importante para garantir que os esporos utilizados nos testes sejam resistentes o suficiente para representar um verdadeiro desafio aos processos de esterilização avaliados. A resistência dos esporos à exposição ao HCl confirma sua robustez e, consequentemente, sua adequação como controle nos ensaios de esterilização, oferecendo uma base confiável para avaliar a eficácia dos agentes esterilizantes (Graciano, 2017).

Além do mais, Gaciano (2017) comenta que a resposta dos esporos ao HCl permite identificar potenciais falhas nos métodos de esterilização testados, assegurando que apenas as tecnologias que demonstrem eficácia comprovada sejam aprovadas para uso. Em ambientes de saúde, a esterilização adequada é essencial para a prevenção de infecções e a segurança do paciente, e a validação de métodos e agentes esterilizantes é um componente crítico para manter altos padrões de controle de qualidade e segurança nos processos de desinfecção e esterilização.

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise realizada neste estudo confirma a importância dos processos de esterilização para a segurança em ambientes de saúde e destaca a necessidade de métodos rigorosos de controle para prevenir contaminações em dispositivos médicos e hospitalares. A esterilização desempenha um papel essencial na mitigação de riscos para pacientes e profissionais, sendo ainda mais relevante diante do crescimento da resistência microbiana e da complexidade dos dispositivos médicos modernos.

Um dos objetivos que foram cumpridos foi o de destacar os métodos de esterilização hospitalar. Foi destacado o óxido de etileno como eficaz na esterilização de materiais sensíveis ao calor, mas requer rigorosa aeração para remover resíduos tóxicos. O ácido peracético se apresenta como alternativa ambientalmente segura e versátil, utilizado em diferentes setores, enquanto as autoclaves a vapor, especialmente as de vácuo, são práticas e economicamente vantajosas para materiais resistentes ao calor. Contudo, a garantia de segurança depende não só da aplicação desses métodos, mas também de controles de qualidade que assegurem sua eficácia, seguindo padrões regulamentados, como os definidos pela Portaria Interministerial n° 482 e metodologias do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e da Association of Official Analytical Chemists (AOAC).

Observou-se também que o uso de metodologias padronizadas e validadas, que incluem micro-organismos esporulados para avaliar a eficiência dos processos, é indispensável na proteção contra falhas e na maximização da segurança. Para as micro e pequenas empresas que atuam com esterilização, particularmente na fabricação de dispositivos médicos, a adoção de tecnologias sustentáveis pode assegurar a qualidade dos produtos e fortalecer a responsabilidade com a saúde pública.

Além disso, a revisão bibliográfica realizada também indicou a evolução dos métodos de esterilização nas últimas décadas, reforçando a importância de compreender as particularidades de cada técnica para uma escolha adequada, fundamental à eficácia dos processos e à segurança dos produtos.

Sugere-se que pesquisas futuras aprofundem o estudo de novos métodos de remoção de resíduos tóxicos em processos com óxido de etileno, o desenvolvimento de agentes esterilizantes mais sustentáveis, o impacto da esterilização na durabilidade de dispositivos médicos e o efeito dos métodos de esterilização na resistência microbiana. Adicionalmente, estudos sobre a relação custo-benefício das técnicas de esterilização para pequenas e médias empresas podem contribuir para a viabilidade econômica e competitividade no mercado, assegurando a qualidade dos produtos e serviços ofertados. Essas sugestões visam ampliar o conhecimento na área, promovendo práticas seguras, sustentáveis e economicamente viáveis na esterilização, essenciais à qualidade dos serviços de saúde e à segurança dos pacientes.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar minha gratidão à Instituição de Ensino Superior Universidade São Judas Tadeu, que por meio de seu apoio e incentivo à pesquisa, proporcionou um ambiente acadêmico inspirador para o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço também à coordenação e à administração do curso de Engenharia Biomédica, que sempre estiveram disponíveis a oferecer suporte em todos os momentos.

Aos professores e ao corpo docente, sou grato pela dedicação e por todo o conhecimento compartilhado ao longo dessa jornada acadêmica, que foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho e meu crescimento pessoal e profissional.

Gostaria também de agradecer a todos os colegas e profissionais os quais tive o prazer de compartilhar conhecimentos e que, direta ou indiretamente, colaboraram com a elaboração deste trabalho, seja com ideias, sugestões ou apoio durante o processo.

A todos, meu sincero obrigado!

REFERÊNCIAS

ASSUMPÇÃO, Celina. Princípios básicos de esterilização a vapor. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 26, n. 1-2, p. 67-78, 1973.

ASCARI, R.A. et al. Fluxo De Materiais Odonto-Médico-Hospitalares Durante o Seu Processamento em Unidades Básicas de Saúde. Rev. UDESC em Ação v. 6, n. 2012.

BARROS, Ana Lúcia Ribeiro. Estudo do ácido peracético utilizado para desinfecção no ambiente hospitalar. 2019. Tese de Doutorado.

BUENO, Diogo De Souza; TORRES, Leandro Henrique; AMORIM, Rafael Duarte. Investigação No Processo De Esterilização Por Autoclave. 2017.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução – RDC nº 307, Diário Oficial, da República Federativa do Brasil, Brasília, de 14 de novembro de 2002.

COSTA, E. A. M. Aeração de dispositivos médicos esterilizados a óxido de etileno: considerações acerca da regulação brasileira. Revista SOBECC, v. 26, n. 3, 181-188, 2021.

DA SILVA, RÚBIAN MESSIAS et al. Utilização do óxido de etileno para esterilização de material médico–hospitalar. Revista Uningá, v. 4, n. 1, 2005.

DOS SANTOS, Letícia Martineli; DE SOUZA, Janaina Samantha Martins; MATTE, Juliana. Esterilização em óxido de etileno. Enfermagem Revista, v. 24, n. 2, p. 19-32, 2021.

FERNANDES, A. T. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2000.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. Editora Atlas SA, 2002.

LIRA, Maria Danielle Clemente Costa et al. Avaliação do controle de qualidade no processo de esterilização com óxido de etileno. 2023.

McEVOY, B. et al. Advancing the sustainable use of ethylene oxide through process validation. Biomedical Instrumentation & Technology, v. 55, p. 35-44, 2021.

MOURA, M.E.B. et al. Representações sociais da infecção hospitalar elaboradas pelos profissionais de saúde. Rev Bras Enferm, Brasília v. 61, n. 4, p. 418-22, jul./ago., 2008.

RODRIGUES, Leonardo Teixeira et al. Estratégia para validação de processos de esterilização por vapor saturado em autoclaves nas indústrias farmacêuticas. 2010. Tese de Doutorado.

MCDONNELL, Gerald E.; SHEARD, Denise. A practical guide to decontamination in healthcare. John Wiley & Sons, 2012.

MULLER, VANDERLÉIA; ASCARI, ROSANA AMORA; NEISS, MARILUCI. Reconhecimento do processo de esterilização hospitalar. Revista Uningá, v. 40, n. 1, 2014.

TAO, M. et al. Sterilization and disinfection methods for decellularized matrix materials: review, consideration and proposal. Bioactive Materials, v. 6, n. 9, p. 2927–2945, 2021. DOI: 10.1016/j.bioactmat.2021.02.010.

SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), v. 8, p. 102-106, 2010.

WYSS, J. Principies and methods of sterilization in healt sciences 5.a ed. Illinois, Charles C. Thomas, 1969, p. 74.