REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7941420
Angelo Leonardo Moscôso da Veiga e Silva¹
Érika Cristina Nogueira Marques Pinheiro²
Karoline Socorro da Fonseca Santos³
RESUMO
As primeiras civilizações da humanidade possuem na História métodos que até hoje são utilizados na engenharia e toda a tecnologia oriunda dos avanços da ciência. Existem registros de obras e conceitos de resistência no manejo de pedras como espécie de fundações para compor a estabilidade de cavernas e materiais de proteção do homem. Com o passar dos anos, o processo executivo das fundações é realizado sob cumprimento de normas técnicas que visam maximizar a eficácia construtiva e minimizar riscos tanto durante quanto após a entrega definitiva de imóveis. Observa-se, a complexidade dessa etapa considerando que se trata da construção da base que irá transferir toda a carga total ao solo prevista em projeto. As fundações do tipo estaca raiz, por sua vez, através de um tubo metálico, garantem a estabilidade da perfuração, e são executadas para reforço de outros métodos, fundações de obras com vizinhanças sensíveis a vibrações ou poluição sonora, ou em terrenos com presença de matacões, rocha ou até mesmo concreto. Esse trabalho trata-se de um estudo de caso a fim de demonstrar o processo executivo dos serviços de fundação do tipo estaca raiz em uma residência familiar na cidade de Manaus/Amazonas, expondo cada etapa dos serviços que compõem a infraestrutura da residência, desde o estudo do solo, justificativa da escolha do tipo de fundação e execução final. Foi verificado que a obra atendeu às condições regulamentadoras, com eficácia na conclusão da etapa de fundação estaca raiz.
Palavras-chave: Estaca Raiz, Execução de Fundação, Solos
RESUMEN
Las primeras civilizaciones de la humanidad tienen en su historia métodos que aún se utilizan en la ingeniería y en toda la tecnología resultante de los avances de la ciencia. Existen registros de obras y conceptos de resistencia en el manejo de piedras como tipo de cimentación para componer la estabilidad de cuevas y materiales para la protección del hombre. A lo largo de los años, el proceso ejecutivo de los cimientos se realiza bajo el cumplimiento de normas técnicas que tienen como objetivo maximizar la eficiencia de la construcción y minimizar los riesgos durante y después de la entrega final de los edificios. Se observa la complejidad de esta etapa, considerando que es la construcción de la base que transferirá la carga total al suelo, conforme previsto en el proyecto. Las fundaciones del tipo pilote raíz, a su vez, a través de un tubo metálico, garantizan la estabilidad de la perforación, y se realizan para reforzar otros métodos, fundaciones de obras con barrios sensibles a las vibraciones o a la contaminación acústica, o en terrenos con presencia de cantos rodados, roca o incluso hormigón. Este trabajo es un estudio de caso con el fin de demostrar el proceso de los servicios ejecutivos de la fundación tipo de estaca raíz en una residencia familiar en la ciudad de Manaus / Amazonas, la exposición de cada paso de los servicios que componen la infraestructura de la residencia, desde el estudio del suelo, la justificación de la elección del tipo de cimentación y la ejecución final. Se verificó que el trabajo cumplió con las condiciones reglamentarias, con eficacia en la finalización de la etapa de la estaca raíz de la fundación.
Palabras clave: Cimentación por pilotes, Trabajos de cimentación, Suelos.
ABSTRACT
The first civilizations of mankind have in their history methods that are still used today in engineering and all the technology that comes from the advances in science. There are records of works and concepts of resistance in the handling of stones as kind of foundations to compose the stability of caves and materials for man’s protection. Over the years, the executive process of the foundations is carried out under compliance with technical standards that aim to maximize the constructive efficiency and minimize risks both during and after the final delivery of buildings. One can observe the complexity of this stage considering that it is the construction of the base that will transfer the total load to the soil as foreseen in the project. Root pile foundations, in turn, through a metallic tube, guarantee the stability of the borehole, and are executed to reinforce other methods, foundations of works with sensitive neighborhoods to vibrations or noise pollution, or in soils with the presence of boulders, rock or even concrete. This work is a case study in order to demonstrate the executive process of the foundation services of the root pile type in a family residence in the city of Manaus/Amazonas, exposing each step of the services that compose the infrastructure of the residence, from the study of the soil, justification of the choice of the type of foundation and final execution. It was verified that the work met the regulatory conditions, with effectiveness in the completion of the foundation step of the root pile.
Keywords: Root Pile, Foundation Spacing, Soils.
1. INTRODUÇÃO
A história da humanidade revela que a sobrevivência das primeiras comunidades é regida por métodos que até hoje são utilizados na engenharia e toda a tecnologia oriunda dos avanços da ciência. Assim, desde a Pré-história e período Neolítico, existem registros de obras e conceitos de resistência no manejo de pedras como espécie de fundações para compor a estabilidade de cavernas e materiais de proteção do homem.
Com o passar dos anos, o processo executivo das fundações nas obras é realizado sob cumprimento de normas técnicas que visam maximizar a eficácia construtiva e minimizar riscos tanto durante quanto após a entrega definitiva de imóveis. Observa-se, portanto, a complexidade dessa etapa considerando que se trata da construção da base que irá transferir toda a carga total ao solo prevista em projeto.
Entre os principais problemas que compõem a patologia das fundações têm-se as fissuras, deslocações, assentamentos e rotações que possivelmente podem afetar a estrutura da edificação (Alonso, 2020). Contudo, a garantia do desempenho de uma fundação profunda de uma obra de construção civil pode ser obtida a partir de um teste em verdadeira grandeza de uma estaca, conforme determina a NBR 6122 (ABNT, 2019).
Existem vários tipos de fundações com diferentes métodos de execução, características para cada tipo de obra. A fundação estaca raiz refere-se a um dos métodos utilizados para perfuração em rocha, usual na execução de fundações principalmente quando se há o obstáculo de rocha. Entretanto, não se limita apenas a perfuração de rochas, há casos em que apenas em solo é necessário à estaca raiz devido às suas características como difícil capacidade de perfuração. Obtendo assim duas situações distintas de utilização do método, estaca raiz embutida em solo e a embutir em solo e rocha. Sua execução ocorre por meio de um tubo metálico para garantir a estabilidade da perfuração, logo, devido a este processo em solo, resulta-se a necessidade de um diâmetro nominal maior que o diâmetro do revestimento (Ferreira, 2022).
Verifica-se, portanto, que o estudo de fundações para a construção civil, ainda que notoriamente exista relevância em diversas etapas de uma obra e mesmo após, compreende um nicho de poucos profissionais na área. A importância de demonstrar o que ocorre além da teoria na execução de fundações, se deve à complexidade existente nos processos em razão ao cumprimento de normas técnicas vigentes para qualquer edificação, principalmente em fatores de segurança, seja por sistemas construtivos tradicionais ou modernos.
Dessa forma, o presente tema contribui a cada localidade territorial de maneira exclusiva, ao se considerar que toda obra tem suas características inerentes a serem discutidas desde projeto até a etapa final dos serviços. No estado do Amazonas, assim como demais estados brasileiros, o estudo do processo executivo de fundações influencia diretamente na eficaz entrega de obras, minimizando um cenário negativo de acidentes contra indivíduos, prejuízos orçamentários e retrabalhos.
Ademais, nesse trabalho será realizado, em formato de artigo, um estudo a fim de demonstrar o processo executivo dos serviços de fundação do tipo estaca raiz em uma residência familiar na cidade de Manaus/Amazonas. Serão expostas cada etapa do processo que compõe a infraestrutura da residência, desde o estudo do solo, justificativa da escolha do tipo de fundação e execução final.
2. METODOLOGIA
A abordagem metodológica utilizada neste artigo foi a descritiva, visto que buscou-se exibir as particularidades executivas da etapa de fundações estaca raiz para a construção de uma residência familiar, em Manaus/Am. Na medida que foi disposta a discriminação de serviços, houve pesquisa de dados, conceitos técnicos bem como revisão da literatura.
Trata-se de um estudo de caso por meio do qual, além do estudo de fundações para a infraestrutura executiva da obra, visa analisar o cumprimento do projeto básico realizado, projetos complementares, cronograma da obra e quantitativo de materiais e planilha orçamentária.
Figura 1 – Fluxograma da Metodologia
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 HISTÓRICO DA FUNDAÇÃO TIPO ESTACA RAIZ
Os estudos de Lizzi (1977) em pesquisas teóricas e experimentais foram essenciais para a área de fundações. Com a denominação de “pali radice” a estaca tipo raiz foi patenteada na Itália na década de 50. Originalmente com a função de reforço de fundação, utilizada principalmente para restauração de monumentos e edifícios com problemas. Já na década de 70 passou a ser utilizada como elemento de fundação para as novas obras.
No Brasil, a execução desse tipo de fundação cada vez mais ganha espaço e propostas para aprimoramento de métodos de execução, sendo utilizada não só como reforço de fundação, mas com elemento principal de fundação de prédios, pontes, viadutos e até contenção de talude e encostas.
3.2 DEFINIÇÕES E PROPRIEDADES DA FUNDAÇÃO ESTACA RAIZ
Em geral, as fundações têm o objetivo a transmissão de cargas da construção ao solo e isso ocorre pelo uso de elementos que permitam esta distribuição através das vigas, pilares paredes, sapatas e estacas a fim de garantir a estabilidade da estrutura (Sousa et. al., 2018).
Em relação às fundações do tipo estaca, a composição e a consistência do aglomerado que são utilizados na fabricação da argamassa, a armação longitudinal, o processo de perfuração e o emprego de ar comprimido na concretagem, em conjunto, concorrem para conferir à estaca uma adequada resistência estrutural e ótima aderência ao terreno, o que garante uma elevada capacidade de carga (Brito, 1987).
Para o entendimento dos métodos utilizados para obras de fundação estaca raiz, deve-se primeiramente verificar suas particularidades. A NBR 6122 (ABNT, 2019), descreve como estaca raiz uma estaca moldada in loco, em que a perfuração é revestida integralmente, em solo, por meio de segmentos de tubos metálicos (revestimento) que são rosqueados à medida que a perfuração é executada. O revestimento é recuperado e a estaca raiz é armada em todo seu comprimento, com perfuração preenchida por uma argamassa de cimento e areia.
O Quadro 1 expressa algumas das características de estacas raiz.
Quadro 1 – Particularidades da Estaca Raiz
ESTACA RAIZ |
1) Não produzem vibrações nem choques; |
2) Podem ser executadas através de obstáculos, como peças de concreto e blocos de rocha; |
3) Há possibilidade de trabalho em ambientes restritos, devido aos equipamentos que são, geralmente, de pequeno porte; |
4) Pode ser executada tanto na vertical como em qualquer inclinação; |
5) Suportam solicitação de esforços de compressão bem como de tração. |
Fonte: Adaptado de Brasecol (2013)
Essas particularidades expostas no Quadro 1, são fundamentais para o entendimento na escolha do método executivo desse tipo de fundação e aplicabilidade de acordo com o tipo de obra.
3.3 PRINCIPAIS NORMAS TÉCNICAS
Assim como qualquer etapa que compõe o processo executivo total de uma obra, os serviços para de fundações requerem indispensavelmente o cumprimento de normas técnicas vigentes.
A Tabela 1, portanto, lista as principais normas para as fundações, que permeiam desde o estudo inicial do solo até a aplicação dos métodos construtivos
Tabela 1 – Normas Técnicas para execução de fundações
NORMA | DESCRIÇÃO |
NBR 6118 (ABNT, 2014) | Projeto de estruturas de concreto |
NBR 6122 (ABNT, 2019) | Projeto e execução de fundações |
NBR 8953 (ABNT, 2015) | Concreto para fins estruturais – Classificação por grupos de resistência |
NBR 12655 (ABNT, 2015) | Concreto – Preparo, controle e recebimento – Procedimento |
NBR 14931 (ABNT, 2004) | Execução de estruturas de concreto – Procedimento |
NBR 7212 (ABNT, 2012) | Execução de concreto dosado em central |
NBR 6484 (2020) | Sondagem de Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio |
Além das normas brasileiras dispostas acima, são utilizadas as normas de uso geral do exercício da construção civil.
3.4 EQUIPAMENTOS
A Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia (ABEF, 2012) expressa que alguns maquinários são imprescindíveis no campo de obras. No caso de uma fundação do tipo estaca raiz, pode-se citar os equipamentos listados no Quadro 2 abaixo.
Quadro 2 – Principais equipamentos utilizados a execução da estaca raiz
EQUIPAMENTOS PARA A ESTACA RAIZ |
1) Perfuratrizes rotativas: que podem ser mecânicas, hidráulicas ou a ar comprimido. Cujo funcionamento se dá por compressor pneumático, diesel, ou eletricamente; |
2) Conjunto misturador de argamassa; |
3) Bomba de injeção de argamassa; |
4) Bomba de água: aplicada para auxílio na perfuração e limpeza de detritos, para operações em solo; e) Martelo (de superfície ou DTH): para perfurações em rocha; |
5) Compressor de ar: utilizado se previsto em projeto a pressurização da estaca, ou para accionamento dos martelos, caso haja necessidade destes; |
6) Conjunto extrator: realiza a recuperação dos tubos de revestimento; |
7) Reservatórios para acumulação de água: local para destinar a água utilizada na operação; |
8) Conjunto gerador: para casos em que não há fornecimento de energia no local da obra. |
Fonte: Adaptado de Jesus (2017)
Dessa forma, com os equipamentos listados no Quadro 2, juntamente com o conhecimento das técnicas vigentes de execução de fundações, a execução da obra potencialmente torna-se eficaz.
Ademais, com o Quadro 2 e de acordo com (Brito, 1987) também é possível perceber que esse tipo e estaca precisa de equipamentos de dimensões pequenas, por isso são uma boa solução para espaços pequenos e encostas íngremes, onde seja difícil a instalação de bate-estacas tradicionais. Sua perfuração causa mínima perturbação no ambiente circundante.
Dos equipamentos apresentados, segundo Júnior (2019), deve-se atentar com destaque para as perfuratrizes que podem ser do tipo rotativa hidráulica, mecânica ou a ar comprimido, dotada ou não de esteiras para deslocamento, acionadas por motor à explosão ou elétrico ou ainda através de compressor pneumático.
Para viabilizar a construção das estacas, são alocados, ainda, conjunto extrator com capacidade para extrair integralmente o tubo de revestimento do furo, reservatórios para acumulação de água, e conjunto de gerador para uma eventualidade de não haver energia disponível no local dos serviços.
3.5 PROCESSO DE EXECUÇÃO DA ESTACA RAIZ
A etapa de fundações nas obras, são realizadas após o recebimento de alguns documentos técnicos imprescindíveis, tais como relatórios de sondagem do local, planta de locação com cotas de arrasamento, detalhes da armação e carga prevista para a estaca, plantas topográficas, tabela das estacas com numeração, bloco, diâmetro, além de documentos emitidos por fiscalizações municipais.
O método utilizado para fundação estaca raiz divide-se basicamente em 04 (quatro) etapas principais, pontuadas a seguir.
- Perfuração – A perfuração é executada, na vertical ou inclinada, por equipamento perfuratriz. É utilizado normalmente o método rotativo com circulação de água, onde peças são rosqueadas (acrescentadas) à medida que é avançada a perfuração. É introduzido um tubo de revestimento provisório até a extremidade inferior da estaca. No caso de ser encontrado material resistente, a perfuração é prosseguida através de uma coroa diamantada ou um martelo de fundo, por processo percussivo. O segundo caso é mais comumente empregado (Velloso e Lopes, 2010; TEC GEO, 2013).
- Armadura – Após o término da perfuração é introduzida a armadura com guincho auxiliar da perfuratriz. A armadura pode ser composta por uma única barra ou um grupo delas, estribadas corretamente, em forma de “gaiola” (Velloso e Lopes, 2010);
- Injeção de argamassa – Depois de colocada a armadura, é introduzido um tubo até o final do furo para injetar a argamassa. A injeção se dá de baixo para cima, até que seja expulsa toda a água de circulação do interior do tubo. A argamassa deve emergir até a superfície do terreno de forma limpa, sem lama ou detritos, só então é interrompida a injeção (ABEF, 2012);
- Remoção do revestimento – Quando finalizado o processo de injeção de argamassa, inicia-se a retirada do revestimento. É rosqueado um tampão metálico na extremidade de cima do revestimento, o qual é ligado a um compressor que vai dando golpes de ar comprimido sob pressão controlada (de 0,3Mpa a 0,5 Mpa), conforme vai efetuando a extração do revestimento. Ao retirar cada tubo de revestimento, o nível de argamassa deve ser observado e preenchido antes da aplicação de novo golpe de ar comprimido. A remoção das peças ocorre rosqueando e retirando-as conforme vão sendo extraídas do solo.
As etapas descritas acima podem ser observadas de acordo com a imagem abaixo, Figura 2.
Figura 2 – Fase de execução de uma Estaca Raiz
Fonte: Adaptado de Albuquerque e Garcia (2020)
Logo, ao observar o processo descritivo das etapas acima, verifica-se que os equipamentos são utilizados para executar a força necessária da perfuração atingindo a profundidade máxima definida em projeto e força para sacar os revestimentos metálicos após a concretagem (Júnior, 2019).
3.6 ESTUDO DE CASO
O estudo de caso deste artigo tem por objeto a etapa de fundação do tipo estaca raiz para a construção de uma residência familiar, localizada no Complexo Residencial Alphaville 2, Quadra H2, Lote 1, do bairro Ponta Negra, cidade de Manaus/Amazonas. Trata-se de uma área com terreno total de 586m², para uma área de 546m² a ser construída.
O Alphaville 2 faz parte de um complexo residencial de alto padrão da cidade de Manaus, com considerável área total de loteamento. Ao todo são 4 (quatro) Alphavilles no Amazonas. A Figura 3, a seguir, exibe o mapeamento territorial com as demarcações das áreas de cada um.
Figura 3 – Localização do Complexo Residencial Alphaville
Fonte: Google Maps (2023)
Já a Figura 4 exibe o croqui das áreas, com seus respectivos anos de criação. Deve-se considerar as mudanças ocorridas de 2016 a 2023, como visto na Figura 3.
Figura 4 – Croqui de localização do Alphaville 2
Fonte: Adaptado de Silva (2016)
Na Tabela 2 abaixo são exibidos dados quantitativos do complexo residencial, especificamente do Alphaville 2.
Tabela 2 – Dados Quantitativos do Alphaville 2
Fonte: Adaptado de Silva (2016)
Observa-se com a Tabela 2 dados colhidos no ano de lançamento do residencial, em 2007, na cidade de Manaus, com área de loteamento de 148.331m², área verde de 82.662m² e área de lazer de 27.536m².
3.4 Execução da fundação estaca raiz da obra de estudo no Alphaville 2
O processo de execução da fundação estaca raiz da obra, foi primeiramente iniciado com os serviços de investigação geotécnica, ou seja, a análise do solo, levantamentos topográficos para posterior decisão da escolha do tipo de fundação. A Figura 5 a seguir refere-se à demarcação dos pontos estratégicos para o mapeamento topográfico da área e na Figura 6 tem-se o equipamento utilizado para obtenção dos dados.
A sondagem de simples reconhecimento com SPT foi conduzida com base nos procedimentos encontrados na NBR 6484 (ABNT, 2020). Segundo essa norma sobre o procedimento de execução, a sondagem deve ser iniciada com emprego do trado-concha ou cavadeira manual até a profundidade de 1 m, seguindo-se a instalação, até essa profundidade, do primeiro segmento do tubo de revestimento dotado de sapata cortante.
Ainda com base ao cumprimento da NBR 6484 (ABNT, 2020), nas operações subsequentes de perfuração, intercaladas às de ensaio e amostragem, foram utilizados o trado helicoidal até se atingir o nível d’água freático, verificando quando o avanço da perfuração com emprego do trado helicoidal fosse inferior a 50 mm após 10 min de operação. Posteriormente, passa-se ao método de perfuração por circulação de água, também chamado de lavagem.
De acordo com a norma supracitada, não é permitido que, nas operações com traçado, o mesmo seja cravado dinamicamente com golpes do martelo ou por impulsão da composição de perfuração.
Na Figura 7 abaixo, constam os tubos de injeção separados para executar o furo no solo, enchimento com argamassa e inserção da armadura. Já na Figura 8 compreende-se a perfuração do solo já em execução
Em base ao item 3.5 deste artigo e normas vigentes, após o término da perfuração houve a introdução da armadura com guincho auxiliar da perfuratriz.
A Figura 9 demonstra essa etapa do processo.
Percebe-se na Figura 9 o exato momento no qual a armadura entra na tubulação.
Após posicionar a armadura, iniciam-se os serviços da injeção de pressão. Assim, a entrada de pressão expulsa a quantidade de água utilizada no processo de perfuração do solo. Essa etapa prepara a entrada de argamassa inserida a subir pela tubulação até alcançar o topo e extravasar. Então, quando o tubo estava completamente preenchido, ele é fechado na parte superior.
Adita-se ao exposto o uso de compressor que tem o intuito de dar os golpes de ar comprimido sob pressão controlada (de 0,3Mpa a 0,5 Mpa), conforme o enfaticamente da extração do revestimento. A pressão de injeção da argamassa teve valor de 1 kgf/cm².
A Figura 10 abaixo explica a injeção de pressão na tubulação similar ao realizado na obra.
Figura 10 – Trabalho da pressão na fundação
Fonte: Andrade (2003)
A resistência da estaca raiz da obra tem estacas raiz analisadas resistência fck de 25 Mpa, com diferenças de diâmetro, ou seja, existe valor maior em trechos iniciais com revestimento recuperável, e valor menor nos trechos finais sem revestimento, em solo mais rijo.
Considerando que a construção da residência familiar ainda não foi concluída, e sim, caminha na etapa de infraestrutura, os parâmetros comparativos entre estacas foram limitados. Portanto, a fundação estaca raiz realizada, através de coleta de perfil de sondagem SPT, obteve a estratigrafia do solo local bastante variada, com presença de areia, areia argilosa, silte, silte argiloso e arenoso, argila, argila arenosa e siltosa.
Dessa forma, ao que foi executado na obra e apresentado neste artigo, verifica-se uma eficaz conduta dos serviços da empresa técnica, bem como o cumprimento das normas de fundações e da construção em geral. Isso implica, por sua vez, que o cronograma da obra segue operante e ativo.
Analisando em modo geral a decisão de escolha, após estudo do solo das estacas raiz, possui vantagens na relação custo e benefício, visto que mostra-se versátil ao realizar estacas perfuradas, de pequeno diâmetro com grande capacidade de carga, tendo sua estrutura inteiramente armada e injetada com argamassa sob baixa pressão. A Tabela 3 refere-se ao motivo do preço como item de vantagem.
Quadro 3 – Vantagens da estaca raiz em justificativa ao preço
1 | Ausência de vibração do terreno, podendo então ser utilizada em terrenos com construções vizinhas |
2 | Possibilidade de execução em áreas de espaço limitado |
3 | Utilização em terrenos com presença de matacões, rochas e concreto |
4 | Possibilidade de combater esforços de flexão |
5 | Pode ser executada na vertical e inclinada |
Observa-se, portanto, a flexibilidade da estaca raiz em tomadas de decisões em obra. Entretanto, é imprescindível que a escolha desse tipo de fundação apenas seja realizada após as investigações geotécnicas das obras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A produção deste trabalho permitiu verificar os serviços da fundação estaca raiz para a construção de uma residência familiar. Observou-se que a etapa executada ocorreu de maneira satisfatória e sem prejuízos tanto orçamentários quanto de cumprimento do cronograma.
Verificou-se que a decisão do tipo de fundação a ser utilizado em uma obra, deve ser analisada de maneira total, não apenas de forma isolada evidenciando apenas algum quesito, como a redução de custos. Deve-se observar a obra como um todo, os resultados de ensaios fotográficos, de sondagem e tipo de edifício projetado.
Nesse contexto, quando comparada execução por torre executada com fundação direta e com fundações estaca raiz, por exemplo, fica nítido que a fundação direta é mais econômica. Contudo, isso não garante que o orçamento total da obra seja menor calculado, considerando que a execução da estaca raiz é mais econômica, pois há a redução de prazo de execução, com e redução de itens de custo indireto. Trata-se de um uma solução confiável e durável para necessidades de baixa ou alta capacidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBUQUERQUE, P. J. R.; GARCIA, J.R. Engenharia de Fundações. 1 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2020.
ALONSO, Urbano Rodriguez. Previsão e controle das fundações: uma introdução ao controle. 3. ed. Ed. Edgard Blucher: São Paulo, 2020.
ANDRADE, Alysson Rodrigo de. Caracterização dos Elementos de Fundações Aplicáveis em Edificações na Região de Florianópolis. 2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.
ARAÚJO, Nelma Mirian Chagas de; MEIRA, Gibson Rocha. A Segurança do Trabalho na CEE e no Brasil: Um Estudo Comparativo Quanto ao Setor da Construção Civil. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 9., 2002, Foz do Iguaçu., Anais. Foz do Iguaçu, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES E GEOTECNIA (ABEF). Manual de Execução de Fundações e Geotecnia: Práticas Recomendadas. São Paulo: Pini, 2012. 499 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES E GEOTECNIA. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: PINI, 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES E GEOTECNIA. Manual de Execução de Fundações e Geotecnia: práticas recomendadas. 3. ed. São Paulo: PINI, 2012.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Sondagem de Simples Reconhecimento com SPT – Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 2020.
BARROS, Márcia. Apostila de Fundações. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – Departamento de Engenharia de Construção Civil. São Paulo/SP, 2003.
BRITO, José L. Wey de. Fundações do edifício. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – EPUSP. São Paulo/SP, 1987.
FERREIRA, Victor M. Aplicação de métodos para dimensionamento de estaca raiz embutida parcialmente em rocha – Estudo de Caso. Faculdade de Engenharia Civil Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia/MG, 2022.
JESUS, Amanda D. Análise de métodos semi-empíricos para previsão de capacidade de carga de estacas raiz. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Paraná. Curitiba/PR, 2017.
JÚNIOR, Luiz A. N. Estacas raiz são opção de fundação para diferentes situações e solos. AECWeb, 2019. Disponível em: <https://www.aecweb.com.br/revista/materias/estacas-raiz-sao-opcao-de-fundacao para-diferentes-situacoes-e-solos/19437>. Acesso em 20 de abril de 2023.
LIZZI, F. Practical engineering in structurally complex formations (the “in-situ reinforced earth”). In: International Symposium on the Geotechnics of Structurally Complex Formations, 1977, Capri, Italy. Proceedings. Capri: Italian Society of Geotechnical Engineering, 1977. v. 1, p. 327-333.
VELLOSO, Diceu de A.; LOPES, Francisco de R. Fundações – Fundações Profundas. Nova ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 342 p. il. Inclui bibliografias.
SOUSA, Álvaro A.; VENDER, Karolina; MARQUES, Amanda R.; FURQUIM, Gustavo O.; JUNIOR, José L. A. Discutindo o conceito de fundações. III Colóquio Estadual de Pesquisa Multidisciplinar e I Congresso Nacional de Pesquisa Multidisciplinar. Centro Universitário de Mineiros-UNIFIMES. Mineiros/GO, 2018.
SILVA, Carolina P. C. Alphaville e a (des)construção da cidade no Brasil. Tese de doutorado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de Brasília-UNB. Brasília/DF, 2016.
¹Discente de Engenharia Civil
Instituição: Universidade Nilton Lins (UNL) Endereço: Av. Prof. Nilton Lins, 3259, Flores, Manaus – AM
²Engenheira Civil e Mestranda em Engenharia Industrial pela Fundação Universitária Iberoamericana (FUNIBER) – Florianópolis
Instituição: Universidade Nilton Lins (UNL) Endereço: Av. Prof. Nilton Lins, 3259, Flores, Manaus – AM, Brasil
³Engenheira Civil e Pós-Graduanda em Auditoria, Avaliações e Perícias na Engenharia pelo Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG