PRINCIPAIS ERROS MÉDICOS NA NEUROCIRURGIA E SUAS COMPLICAÇÕES PARA O PACIENTE: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7629860


Bruna Postal Oliveira
Rayane Santos de Seles
Orientadora: Lílian Vilela Mancilha


Resumo

Objetivos: destacar os principais casos relacionados a erros médicos em neurocirurgia e os impactos destes para os pacientes, citados na literatura nacional e internacional especializada no assunto. Materiais e métodos: revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo. Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores: Neurosurgery;  Medical;  Error. Resultados e discussão: Através do cruzamento dos descritores obteve-se um retorno de 173 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão. Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 25 artigos dentre os mais relevantes após análise inicial, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos na seqüência.  Observou-se que os estudos abordando a temática dos erros médicos em neurocirurgia trazem uma abordagem geral do tema, não somente em relação ao procedimento cirúrgico em si, mas também analisando a questão dos erros diagnósticos dentro desta especialidade. Conclusão: é possível concluir que os principais erros médicos comuns relacionados à neurocirurgia como especialidade médica incluem os erros de diagnóstico, erros de tratamento e erros durante a realização de intervenções cirúrgicas. A neurocirurgia é uma especialidade onde, em razão de suas particularidades, os erros são inadmissíveis e, diante deles, as seqüelas e até mesmo óbito do paciente são a realidade mais provável. Independente do tipo de erro que possa ocorrer, é fundamental que o profissional esteja capacitado e apto a prevenir tais casos, utilizando-se especialmente de recursos tecnológicos e de uma apurada técnica na realização dos procedimentos e protocolos específicos.

Palavras-chave: Erros Médicos. Negligência Médica. Neurocirurgia.

Abstract

Objectives: to highlight the main cases related to medical errors in neurosurgery and their impact on patients, cited in national and international literature specialized in the subject. Materials and methods: literature review, through a bibliographic survey. The first step was the search for studies, through the database of the Virtual Health Library (VHL), which includes the main scientifically renowned journals and databases around the world. To survey the articles, the following descriptors were used: Neurosurgery; Medical; Error. Results and discussion: By crossing the descriptors, 173 articles that met the inclusion and exclusion criteria were returned. We chose to work with a final sample of 25 articles among the most relevant after initial analysis, whose data were analyzed, extracted and discussed in sequence. It was observed that studies addressing the issue of medical errors in neurosurgery bring a general approach to the topic, not only in relation to the surgical procedure itself, but also analyzing the issue of diagnostic errors within this specialty. Conclusion: it is possible to conclude that the main common medical errors related to neurosurgery as a medical specialty include diagnostic errors, treatment errors and errors during surgical interventions. Neurosurgery is a specialty where, due to its peculiarities, errors are inadmissible and, in view of them, the sequelae and even death of the patient are the most likely reality. Regardless of the type of error that may occur, it is essential that the professional is trained and able to prevent such cases, using especially technological resources and a refined technique in carrying out specific procedures and protocols.

Keywords: Medical Errors. Medical Negligence. Neurosurgery.

1 INTRODUÇÃO

Os erros médicos são eventos que trazem uma série de impactos não somente para a saúde e qualidade de vida do paciente (que muitas vezes pode vir a óbito) mas também para a família deste, para o profissional e para o sistema de saúde pública de uma forma em geral.

São eventos que podem ocorrer em todas as especialidades médicas, muito embora em algumas delas os riscos são sobremodo potencializados. Especificamente em relação aos erros médicos em neurocirurgia, estes são caracterizados como eventos complexos e que podem acarretar uma série de impactos.

Os eventos catastróficos não são apenas fisicamente devastadores para os pacientes, mas também atraem responsabilidades médicas e aumentam os custos de saúde (PEROTTI; SHERIDAN, 2015).

De fato, a neurocirurgia é um campo complexo e dinâmico onde os riscos são altos e os erros permitidos são nulos (SARKAR, 2020).

Por todas estas questões, atualmente a neurocirurgia é uma especialidade associada a alto risco de reclamações por imperícia, que pode ser influenciada pela qualidade e segurança dos atendimentos prestados. De igual forma, observa-se que os erros de diagnóstico têm ganhado cada vez mais atenção como um problema potencialmente evitável. Apesar desta importância, ainda poucos estudos tem abordado tal temática na literatura especializada (OTSUKI; WATARI, 2021).

Diante destas considerações iniciais, um questionamento deve ser realizado: quais os impactos causados pelos erros médicos em neurocirurgia? Quais os principais erros médicos comuns em neurocirurgia e de que forma estes podem ser evitados?

2 OBJETIVOS

O objetivo do presente estudo é destacar os principais casos relacionados a erros médicos em neurocirurgia e os impactos destes para os pacientes, citados na literatura nacional e internacional especializada no assunto.

3 MATERIAIS E MÉTODO

Como metodologia, optou-se pela revisão de literatura, por meio de levantamento bibliográfico. A primeira etapa foi a busca por estudos, através da base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS)[1], que engloba os principais periódicos e bases de dados cientificamente conceituadas em todo o mundo.

Para levantamento dos artigos foram usados os seguintes descritores:

  1. Neurosurgery;
  2. Medical;
  3. Error.

A estratégia de busca utilizou a combinação das palavras-chave, conforme se segue: (neurosurgery) AND (medical) AND (error).

Os critérios de inclusão adotados foram:

1) Relação direta com a temática;

2) Utilização somente de artigos publicados em português e/ou inglês;

3) Somente artigos publicados entre 2011 e 2021, ou seja, nos últimos 10 anos;

4) Artigos disponibilizados na íntegra.

Como critérios de exclusão, foram excluídos da amostra todos os artigos que:

1) Fuga ao tema principal e objetivo deste estudo

2) Apresentaram-se em idioma diferente do português e/ou inglês;          

3) Disponibilizados em ano anterior a 2011;

4) Artigos disponibilizados apenas com seus resumos;

5) Artigos duplicados nas diferentes bases de dados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do cruzamento dos descritores obteve-se um retorno de 173 artigos que atenderam aos critérios de inclusão e exclusão.

Optou-se por trabalhar com uma amostra final de 25 artigos dentre os mais relevantes após análise inicial, cujos dados foram analisados, extraídos e discutidos na sequência.

Observou-se que os estudos abordando a temática dos erros médicos em neurocirurgia trazem uma abordagem geral do tema, não somente em relação ao procedimento cirúrgico em si, mas também analisando a questão dos erros diagnósticos dentro desta especialidade.

De fato, concordando com a visão de Ziewacz et al (2015) os eventos adversos são comuns em neurocirurgia e são responsáveis por graves sequelas aos pacientes. De igual forma, corroborando com a visão de Winkler-Schwartz et al (2020) esta temática dos erros médicos é de grande importância tendo em vista que nesta especialidade o ambiente operatório apresenta inúmeros desafios em relação aos atos cirúrgicos. Conforme destacado por Perotti e Sheridan (2015) os eventos adversos ocorrem em 5% a 10% dos episódios de cuidados de saúde. Ainda, afirmaram que nem todos os eventos adversos são resultado de erro; eles podem surgir de falhas sistêmicas na prestação de cuidados. Os eventos catastróficos não são apenas fisicamente devastadores para os pacientes, mas também atraem responsabilidades médicas e aumentam os custos de saúde.

De igual forma, na visão de Rolston e Bernstein (2015) os erros médicos são comuns e perigosos, sendo que estimativas norte-americanas apontam para em torno de 400.000 mortes por ano apenas nos Estados Unidos. Estes autores destacaram que o campo da neurocirurgia não está imune a esses erros, e muitos estudos começaram a analisar a frequência e os tipos de erros que os pacientes neurocirúrgicos experimentam, juntamente com seus efeitos e causas. Na conclusão dos autores, esses dados são fundamentais uma vez que estão orientando novas inovações para reduzir e prevenir erros, como listas de verificação, entrada computadorizada de pedidos e uma maior valorização das relações volume-resultado.

Também na visão de Kessler et al (2019) o litígio por imperícia médica é uma questão de grande preocupação em neurocirurgia, com 19,1% dos neurocirurgiões enfrentando uma reclamação anualmente. A neurocirurgia apresenta o maior risco de malversação de qualquer especialidade, provavelmente devido ao ambiente clínico complexo e à gravidade da doença .

Analisando os estudos selecionados, no estudo de Latimer et al (2011) os autores citaram os registros iniciais abordando a temática dos erros médicos em neurocirurgia, que datam de 1896 a 1912 quando o médico Harvey Cushing analisou e documentou 30 casos que teve conhecimento na época. Cushing reconheceu e descreveu abertamente ocorrências significativas de erro humano, erros de julgamento e técnica, e descuidos de equipamentos e suprimentos, independentemente de esses eventos afetarem o resultado do paciente. Os erros foram analisados e registrados para serem usados como lições para melhorar o atendimento futuro e serviram como base para a evolução das ciências médicas ao longo dos anos.

Neily et al (2011) em um estudo buscaram descrever procedimentos cirúrgicos incorretos relatados de meados de 2006 a 2009 pelos centros médicos da Veterans Health Administration dos Estados Unidos. Foi realizada uma análise dos procedimentos realizados. As principais categorias foram: procedimento incorretos (paciente, lado, local, procedimento ou implante errado), cirurgia maior ou menor, dentro ou fora da sala de cirurgia, evento adverso ou perigo, especialidade e dano.   Foram realizados 237 relatórios (101 eventos adversos) e encontrada uma diminuição dos danos em comparação com o relatório anterior. A taxa de eventos adversos relatados diminuiu de 3,21 para 2,4 por mês. As chamadas fechadas relatadas aumentaram de 1,97 para 3,24 por mês.  Quando os eventos dentro do centro cirúrgico foram examinados como uma taxa, a Neurocirurgia teve 1,56 e a Oftalmologia teve 1,06 eventos adversos relatados por cada 10.000 casos. A causa mais comum dos eventos adversos foi a falta de padronização dos processos clínicos (18%).   A taxa de eventos adversos e danos relatados diminuiu, enquanto as chamadas ocorridas aumentaram. Apesar das melhorias os autores consideram que há a necessidade de uma melhora ainda maior. Para isto, planos de ação devem incluir o compartilhamento de lições aprendidas com os eventos, mudanças de política com base na revisão da análise da causa raiz e treinamento adicional da equipe médica, conforme necessário.

Vachhani e Klopfenstein (2013) destacaram que, embora extremamente raro, um dos casos de erros médicos em neurocirurgia é a cirurgia no sítio errado, um problema considerado pelos autores como persistente nos Estados Unidos. A incidência é estimada em 2 a 3 por 10.000 craniotomias e cerca de 6 a 14 por 10.000 cirurgias de coluna. Os autores avaliaram os efeitos da implementação de um programa de prevenção à incidência destes casos em um hospital norte-americano. A análise mostrou que 15 eventos de cirurgia em sítio errado foram realizados com uma incidência geral de 0,07% e intervalo de confiança de Poisson de 95% de 8,4 a 25. Todos, exceto um deles, foram cirurgias de coluna de nível incorreto (14/15). Houve apenas 1 caso registrado de cirurgia do lado errado e isso ocorreu após a implantação do programa. Um número estatisticamente maior de eventos ocorreu antes (n=12) em comparação com depois (n=3) da implementação do programa. Os autores concluíram que após a implantação do programa houve uma redução de casos.  Essa redução pode ser atribuída à cirurgia menos frequente da coluna vertebral. Não houve nenhum caso de procedimento errado ou cirurgia do paciente e 1 caso de cirurgia do lado errado ocorreu após a implementação do programa.

Farge e Friedman (2014) afirmaram que durante as últimas 2 décadas, houve uma mudança no sistema de saúde dos EUA no sentido de melhorar a qualidade dos cuidados de saúde prestados, aumentando a segurança do paciente e reduzindo os erros médicos. No entanto, complicações cirúrgicas, eventos de dano ao paciente e alegações de imperícia permanecem comuns no campo da neurocirurgia. Muitos desses eventos são potencialmente evitáveis. Há um número crescente de publicações na literatura médica em que os autores abordam os erros cognitivos no diagnóstico e tratamento e estratégias para reduzir tais erros, mas estes estão em sua maioria ausentes na literatura neurocirúrgica.

Hamdan et al (2015) destacaram que, apesar do progresso substancial na modernização da neurocirurgia, a especialidade ainda encabeça a lista de reivindicações médico-legais. Compreender os fatores associados às reclamações de negligência é vital para que também possa-se identificar áreas de baixo desempenho e, consequentemente, melhorar a segurança do paciente. Os autores buscaram fornecer dados sobre as tendências de reclamações por negligência neurocirúrgica em um período de 10 anos na Inglaterra. Durante este período o número anual de reclamações aumentou significativamente. No total, foram 794 reclamações por negligência; dos 613 casos encerrados, 405 (66,1%) tiveram êxito. O custo total relacionado às reivindicações durante os 10 anos foi de £ 65,7 milhões, com uma reivindicação média por caso bem-sucedido de £ 0,16 milhões (danos totais, defesa e custos do reclamante de £ 45,1, £ 6,36 e £ 14,3 milhões, respectivamente). Reivindicações relacionadas a casos de emergência foram mais caras em comparação com os casos eletivos (£ 209.327 vs. £ 112.627). Casos espinhais representaram os procedimentos litigados mais frequentemente (350; 44,1% do total), realização cirúrgica inadequada o infortúnio mais comum (231; 29,1%) e fatalidade a lesão mais comum implicada em sinistros (102; 12,8%). As alegações de negligência relacionadas à cirurgia no local errado e à síndrome da cauda equina foram frequentemente bem-sucedidas (26/26; 100% e 14/16; 87,5% dos casos encerrados, respectivamente). Com base nos resultados foi possível concluir que na Inglaterra o número de reclamações por negligência neurocirúrgica está aumentando, o custo financeiro é substancial e os encargos são significativos.

Mitchell e Dale (2015) relataram um conjunto de seis erros laterais cranianos e espinhais que ocorreram no departamento de neurocirurgia em Newcastle, Inglaterra, no ano de 2006. O relatório foi parte de uma investigação sobre o problema e como resolvê-lo. Os autores concluíram que os erros colaterais em neurocirurgia podem ser reduzidos por uma combinação de verificação sistemática e educação. Para os autores, a educação é importante para reduzir as taxas de erro.

Otsuki e Watari (2021) avaliaram o efeito dos erros de diagnóstico em reclamações de negligência envolvendo neurocirurgias. O estudo retrospectivo utilizou a nacional japonesa de negligência do banco de dados reivindicações e os casos incluídos fechados entre 1961 e 2017.  Durante o período houve 95 ações judiciais encerradas por negligência envolvendo neurocirurgiões. Destas reivindicações, 36 eram erros de diagnóstico. A morte do paciente foi o desfecho mais comum associado a estes casos. Diagnóstico errado, atrasado e perdido ocorreu em 25, 4 e 7 casos, respectivamente. A condição médica de apresentação mais comum em erros de diagnóstico foi acidente vascular cerebral. A hemorragia subaracnóidea, responsável por 85,7% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC), levou a 27,8% da indenização total pago em erros de diagnóstico. Concluiu-se que os erros de diagnóstico estão associados a um maior número de reclamações aceitas e piores resultados. Identificar erros de diagnóstico é importante em neurocirurgia e medidas são necessárias para reduzir a carga sobre os neurocirurgiões e melhorar a qualidade. Para os autores este foi o primeiro estudo a enfocar os erros diagnósticos em reclamações de negligência médica em neurocirurgia.

Oremakinde e Bernstein (2014) avaliaram a hipótese de que o registro da ocorrência de erros médicos é importante para que haja uma maior conscientização e consequentemente redução no número destes casos em neurocirurgia. Os erros intraoperatórios e suas características foram registrados retrospectivamente entre maio de 2000 e maio de 2013 na prática neurocirúrgica dos autores deste estudo. O padrão de erro observado entre maio de 2000 e agosto de 2006, já descrito anteriormente (Grupo A), foi comparado com o padrão de erro observado entre setembro de 2006 e maio de 2013 (Grupo B). Um total de 1108 casos no Grupo A e 974 casos no Grupo B foram tratados cirurgicamente. Um total de 2.684 erros foram registrados no Grupo A, enquanto 1.892 erros foram registrados no Grupo B. Houve uma diminuição significativa da proporção de casos com erro (87% a 83%), média de erros por caso (2,4 a 1,9), proporção de complicações relacionadas ao erro (16,7% a 5,5%) e impactos clínicos do erro (2,7% a 1,0%) no Grupo B em comparação com o Grupo A. Os erros no Grupo B tenderam a ser mais evitáveis do que aqueles no Grupo A (85,8% vs 78,5%). Uma redução significativa também foi observada com a maioria dos tipos de erro. Foi demonstrada uma tendência descendente nos erros médios por caso dos anos de 2001 a 2012; no entanto, um aumento da gravidade dos erros (22,6% a 29,5%) foi registrado no Grupo B em comparação com o Grupo A. Na conclusão dos autores os dados deste estudo mostraram que o ato de registrar os erros pode alterar comportamentos, resultando em menos erros, ou seja, na prevenção de mais casos.

Kessler et al (2019) buscaram caracterizar os litígios em neurocirurgia a fim de tornar conhecidos os fatores comuns que obrigam os autores a apresentar essas reivindicações. Um total de 225 casos foram identificados e cada um foi analisado quanto à causa do litígio (foram permitidas causas múltiplas). Os casos foram distribuídos em 36 estados e territórios dos EUA Califórnia (n=42; 20%) e Nova York (n=28; 13%) teve o maior número de casos. Os principais motivos de litígio foram falha no diagnóstico (n=109; 28%), falha no tratamento (n=72; 18%), erro de procedimento (n=63; 16%) e falha no encaminhamento para testes de diagnóstico (n=55; 14%). Os diagnósticos mais comuns incluíram adenoma hipofisário (n=26; 12%), neuroma acústico (n=27; 12%) e meningioma (n = 23; 10%). Concluiu-se que os litígios por negligência médica contribuem para altas despesas gerais e esgotamento médico e aumenta o custo do atendimento ao paciente. Ainda, os tumores cerebrais benignos eram os mais comuns em litígios e que os problemas cirúrgicos representavam apenas uma pequena porcentagem.

Park et al (2021) apresentaram uma comparação de resultados da negligência médica entre os diferentes tipos de cirurgia da coluna vertebral e identificar preditores de resultados de litígios. A cirurgia da coluna é altamente litigiosa nos Estados Unidos, com dados sugerindo resultados favoráveis para os cirurgiões acusados. Um total de 257 casos foram identificados para inclusão. Houve 98 casos não instrumentados e 148 instrumentados; 110 de nível único e 99 de nível múltiplo; 83 descompressões, 95 descompressão e fusões e 47 fusão apenas. Ao todo, 182 (71%) resultaram em veredicto do réu, 44 (17%) veredicto do autor e 31 (12%) acordo. Os veredictos dos demandantes resultaram em pagamentos de $ 2,03 milhões, enquanto os acordos resultaram em $ 1,11 milhões. Razões comuns para litígios foram erro intraoperatório, complicações de hardware e gerenciamento pós-operatório impróprio. Os casos eram mais prováveis de resultar para o requerente se a síndrome da cauda equina pós-operatória (55% vs. 26%), uma infecção do sítio cirúrgico (46% vs. 27%), ou outra catastrófica lesão (40% vs. 26%) ocorreu. Prêmios monetários mais altos foram associados a níveis múltiplos versus únicos (mediana de $ 2,61 vs. $ 0,92 milhões), gerenciamento pós-operatório impróprio citado (mediana de $ 2,29 vs. $ 1,12 milhões) e déficits neurológicos permanentes ($ 2,29 vs. $ 0,78 milhões). Os pagamentos do demandante eram mais prováveis se a especialidade do réu fosse neurocirurgia versus cirurgia ortopédica (33% vs. 18%). Concluiu-se que a cirurgia da coluna é um campo litigioso com vários fatores associados aos resultados. Os esforços para reduzir erros e complicações intra-operatórias podem melhorar o atendimento ao paciente e diminuir o risco de litígios.

Gupta et al (2018) destacaram que os esforços para lidar com os erros dos residentes e aumentar a segurança do paciente incluem reformas sistêmicas, como as restrições de horário de trabalho obrigatórias do Conselho de Credenciamento para Educação Médica de Pós-Graduação (ACGME) e iniciativas específicas de especialidades, como o Neurosurgery Milestone Project. No entanto, atualmente existem poucos dados que descrevem a base para esses erros ou delineando tendências no erro do residente neurocirúrgico. Para analisar tais casos, os autores aplicaram um questionário a residentes em neurocirurgia. Foram recebidas trinta e uma (28,7%) respostas. O erro de procedimento / cirúrgico foi o tipo de erro mais comumente observado. Lesão transitória e nenhuma lesão ao paciente foram percebidas como os 2 desfechos mais frequentes. Inexperiência ou erro do residente, apesar do treinamento adequado, foram citados como as causas mais comuns de erro. Vinte e três (74,2%) entrevistados afirmaram que um nível inferior de pós-graduação se correlacionou com um aumento na incidência de erros. Houve uma tendência de associação entre um número maior de residentes em um programa e o número de erros atribuíveis à falta de supervisão. A maioria (93,5%) dos diretores de programa não acredita que as restrições obrigatórias de horário de trabalho reduzam a frequência de erros. Os autores concluíram que o erro de procedimento é a forma de erro mais comumente observada, com o nível do ano de pós-graduação considerado um importante preditor da frequência de erro. A utilidade percebida das reformas sistêmicas que visam reduzir a incidência de erro dos residentes permanece obscura.

Genovese et al (2016) afirmaram que a negligência médica é atualmente um tópico crucial e a anestesia é uma especialidade chave para a melhoria da segurança do paciente. No entanto, a morte e a incapacidade permanente devido à anestesia ainda ocorrem e os estudos de dados de análise de seguros estão aumentando. No estudo destes autores a negligência foi principalmente suspeitada em procedimentos ligados à cirurgia . A maioria das reivindicações foi resolvida por erro de procedimento na realização de anestesia locorregional e procedimentos de entubação oral . 60% de todas as reivindicações encerradas não resultaram em negligência verificada. A má prática confirmada normalmente lida com casos de equipes não vinculadas à cirurgia e não multidisciplinares, causando prejuízo permanente.

Taylor e Ranum (2016) buscaram identificar os principais fatores que contribuíram para a lesão do paciente na prática neurocirúrgica, tanto no período perioperatório quanto fora do período perioperatório. As alegações de negligência médica (n = 355) da The Doctors Company que foram fechadas ao longo de 7 anos foram revistas por especialistas médicos neurocirúrgicos. A análise objetiva do especialista em neurocirurgia dos casos identificou as lesões do paciente e o principal fator que contribuiu para a lesão do paciente. Dor contínua, lesão nervosa e necessidade de cirurgia adicional foram as lesões mais comuns. Em 145 casos (40,8%), o principal fator que contribuiu para a lesão do paciente ocorreu fora da avaliação perioperatória (avaliação e diagnóstico), seleção e manejo da terapia e comunicação entre o médico e o paciente / família. Em 138 (38,9%) casos, o principal fator que contribuiu para a lesão do paciente ocorreu no período perioperatório. A complicação cirúrgica (risco conhecido do procedimento) foi o fator principal em 99 casos (27,9%), e a realização técnica da cirurgia foi o fator principal em apenas 39 casos (11,0%). Concluiu-se que, além de excelente técnica cirúrgica, listas de verificação, trabalho em equipe, medição de resultados e regionalização dos cuidados de sub especialidade, melhorar a segurança do paciente na prática neurocirúrgica requer atenção cuidadosa aos cuidados prestados fora do período perioperatório. O diagnóstico diferencial, a consideração de todos os dados clínicos relevantes, a busca ativa de boas relações médico – paciente e o monitoramento adequado de pacientes recebendo tratamento não cirúrgico também podem ajudar a melhorar a segurança do paciente na prática neurocirúrgica.

López et al (2019) consideram que o interesse e o uso potencial da realidade aumentada (RA) em várias áreas médicas desde o início dos anos 90 tem aumentado de forma consistente. Ele fornece orientação intraoperatória para procedimentos cirúrgicos, tornando visível o que não pode ser visto diretamente, possivelmente afetando os resultados cirúrgicos. Esta técnica é importante para prevenção de erros médicos uma vez que seu uso também permite que o cirurgião mantenha a visão do local operatório de forma permanente e é útil para localizar estruturas, orientar as ressecções e planejar a craniotomia com mais precisão, diminuindo o risco de lesões. A aplicação intraoperatória de um sistema de realidade aumentada ajuda a melhorar a qualidade e as características da imagem do campo cirúrgico. A injeção de imagens 3D com RA permite a integração bem-sucedida de imagens em lesões vasculares, oncológicas e outras, sem a necessidade de desviar o olhar do campo cirúrgico, melhorando a segurança, experiência cirúrgica ou resultado clínico. No entanto, estudos comparativos ainda são necessários para determinar sua eficácia.

Para Hénaux et al (2019) os eventos indesejáveis na sala de cirurgia de neurocirurgia têm sido menos frequentemente o resultado de um erro técnico do que de uma disfunção ligada a habilidades não técnicas (NTSs). Diante disso os autores realizaram uma revisão sistemática dos dados relatados sobre NTS em neurocirurgia. Como resultados observou-se que as habilidades interpessoais (comunicação, trabalho em equipe), habilidades cognitivas (tomada de decisão, consciência situacional) e fatores de recursos pessoais (lidar com o estresse ou fadiga) foram especificamente identificados. Concluiu-se assim que muito poucos estudos foram realizados sobre NTSs neurocirúrgicos, apesar do aumento do número de estudos durante os últimos anos sobre NTSs em outros domínios da cirurgia. A sociedade tem se concentrado cada vez mais na qualidade e segurança do atendimento médico. O desenvolvimento e a aplicação de ferramentas de avaliação do NTS são, portanto, essenciais para auxiliar na formação de futuros neurocirurgiões.

Em um estudo apresentado por Thomas et al (2018) os autores afirmaram que, dentre todas as especialidades, na visão deles os neurocirurgiões têm a maior probabilidade de enfrentar uma reclamação de negligência médica. Estes autores também consultaram dados sobre veredictos do júri e acordos relacionados à neurocirurgia e negligência médica entre 1985 e 2015. Um total de 516 casos foram identificados e 343 casos foram analisados. O veredicto do réu foi alcançado em 165 (48,1%) casos, e o veredicto do querelante foi alcançado em 93 (27,1%) casos. A resolução foi alcançada em 81 casos (23,6%). O pagamento médio para veredictos do demandante foi de $ 2.550.000 (variação, $ 80.000 – $ 216.849.187), e para acordos foi de $ 1.300.000 (variação, $ 100.000 – $ 13.300.000). Erro de procedimento (45,5%), falha no diagnóstico (41,4%) ou falha no tratamento (42,9%) foram os motivos de litígio mais citados. Os neurocirurgiões representaram 21,1% dos arguidos. O pagamento médio do prêmio do reclamante foi o mais alto para casos pediátricos ($ 10.100.000). Concluiu-se com este estudo que o veredicto do réu foi alcançado em quase metade dos casos. Nos casos em que o veredicto do querelante foi alcançado, grandes pagamentos eram comuns, especialmente em casos pediátricos e cerebrovasculares. Uma ênfase na redução de erros de procedimento e na realização de diagnósticos diferenciais oportunos pode reduzir os litígios futuros.

Ravindra et al (2016) acreditam que a definição precisa das complicações, que são usadas para medir a qualidade geral, é necessária para a revisão crítica da prestação de cuidados e melhoria da qualidade em neurocirurgia endovascular, que carece de definições comuns para complicações. Além disso, em intervenções endovasculares, os eventos que podem ser rotulados como complicações nem sempre podem afetar negativamente o resultado. 

Como forma de prevenção destes casos, ainda, Zuckerman et al (2012) destacaram o uso do Debriefing, um processo que permite que os indivíduos discutam o desempenho da equipe em um ambiente construtivo e de apoio, tem sido associado à melhoria do desempenho em vários campos médicos e cirúrgicos, incluindo melhorias em procedimentos específicos, trabalho em equipe e comunicação e identificação de erros. No entanto, a literatura neurocirúrgica sobre esse assunto é limitada. Os autores revisam a literatura de debriefing no campo da medicina, com ênfase específica na sala de cirurgia e ainda relatam sua própria experiência institucional com um módulo de debriefing. Os autores compartilharam os desafios e as lições aprendidas com seu projeto de melhoria da qualidade. Concluíram que o campo da neurocirurgia se beneficiaria com o debriefing, já que seu potencial foi estabelecido em outras especialidades médicas e pode servir como um papel valioso no aprendizado imediato com os erros.

Por fim, na visão de Yang et al (2015) fatores como custos desnecessários, erros médicos e esforços descoordenados contribuem para a morbidade, mortalidade e diminuição da satisfação do paciente. Além dos esforços nacionais, iniciativas locais dentro de departamentos individuais devem ser implementadas para melhorar a satisfação geral sem sacrificar custos.

5 CONCLUSÃO

Diante dos resultados encontrados é possível concluir que os principais erros médicos comuns relacionados à neurocirurgia como especialidade médica incluem os erros de diagnóstico, erros de tratamento e erros durante a realização de intervenções cirúrgicas. A neurocirurgia é uma especialidade onde, em razão de suas particularidades, os erros são inadmissíveis e, diante deles, as sequelas e até mesmo óbito do paciente são a realidade mais provável. Independente do tipo de erro que possa ocorrer, é fundamental que o profissional esteja capacitado e apto a prevenir tais casos, utilizando-se especialmente de recursos tecnológicos e de uma apurada técnica na realização dos procedimentos e protocolos específicos. Esta temática é muito rica e, portanto, merece que mais estudos possam ser realizados analisando especialmente os impactos para pacientes e profissionais da ocorrência destes casos.

REFERÊNCIAS

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