PRINCIPAIS DOENÇAS DIAGNOSTICADAS NO LABORATÓRIO CLÍNICO DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E INFORMAÇÃO DE MEDICAMENTOS E TOXICOLOGIA (CIMETOX): UMA ANÁLISE DOS EXAMES LABORATORIAIS REALIZADOS EM 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202503151801


Adriano Dala Cassanje1
Tazi Nimi Maria2
Mário Fernando Kalunga3
Domingos Pedro Cassanje Manuel4


Resumo:

 Foi realizado um estudo descritivo que analisou os principais exames laboratoriais realizados no Laboratório Clínico do CIMETOX, localizado na Província de Malanje, Angola, durante o ano de 2023. O objetivo: foi identificar os padrões de diagnóstico laboratorial e sua relevância para a saúde pública local, considerando também as projecções demográficas da região para o período de 2014 a 2050. Metodologia: Os dados foram colhidos e armazenados na base de dados de Excel 2016, Trabalhou-se com universo. Fez-se  a análise estatística descritiva, usando a frequências absoluta e relativas . Resultados: De um total de  580 exames laboratoriais (hematologia, bioquímica, parasitologia e microbiologia), Os exames mais solicitados foram a Pesquisa de Plasmodium (261 exames), Teste de Widal (132 exames), Urina II (34 exames) e Glicemia (23 exames). A maioria dos exames realizados pertenceu à hematologia (58,0%), seguida pela sorologia (29,3%) e bioquímica (12,7%). A distribuição geográfica dos pacientes concentrou-se principalmente nas regiões de Canámbua, Catepa e Maxinde. Conclusão: Destaca-se a necessidade de reforçar as estratégias de controlo de doenças infecciosas, como malária e febre tifoide, na região.

Palavras-chave: Diagnóstico laboratorial, Malária, Febre Tifoide, Saúde pública, Angola,   

Introdução

Os laboratórios clínicos desempenham um papel essencial no diagnóstico, monitoramento e controlo de doenças, contribuindo diretamente para a qualidade da assistência à saúde (BRASIL, 2019). Em Angola, os serviços laboratoriais são fundamentais para a identificação de doenças infecciosas e crônicas, alinhando-se às diretrizes do MINSA e às recomendações globais da OPAS/OMS (OPAS, 2023). Este estudo busca compreender  a quantificação dos exames laboratoriais das doenças diagnosticadas no CIMETOX, visando identificar o quadro nosológico das doenças infecciosas e subsidiar a implementação de políticas de saúde mais eficazes.

As projeções demográficas do Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE) para a província de Malanje indicam que há um crescimento populacional significativo até 2050, isto, constitui um fator crucial para entender a dinâmica das doenças infecciosas na região. O aumento da densidade populacional, especialmente em áreas urbanas como Canámbua, Catepa e Maxinde, pode intensificar a transmissão de doenças como malária e febre tifoide, caso não sejam implementadas medidas eficazes de controle.

Tanzânia, um país com desafios semelhantes em saúde pública, oferece uma perspectiva regional valiosa para a análise. Estudos como o de Mboera et al. (2020) destacam a importância da integração entre serviços laboratoriais e clínicos para o controle eficaz de doenças infecciosas, enquanto Killeen et al. (2021) analisam o impacto das mudanças climáticas na transmissão de doenças, um fator relevante para Malanje.

Metodologia

O estudo baseou-se num estudo descritivo dos dados laboratoriais do CIMETOX, coletados ao longo do ano de 2023. Foram analisados 580 exames laboratoriais, categorizado em hematologia, bioquímica, parasitologia e microbiologia.    E para cada categoria, os respectivos exames laboratoriais.

Resultados

Os exames mais solicitados foram a Pesquisa de Plasmodium (261 exames), Teste de Widal (132 exames), Urina II (34 exames) e Glicemia (23 exames) correspondendo a à hematologia (45%), seguida pela sorologia (22,7%) e bioquímica (9,8%). A distribuição geográfica dos pacientes concentrou-se principalmente nas regiões de Canámbua, Catepa e Maxinde.

Discussão

A alta prevalência de exames para detecção de Plasmodium está alinhada com os relatórios da OPAS e OMS sobre a malária em áreas endêmicas de Angola (OPAS, 2023). O Teste de Widal reflete a ocorrência significativa de febre tifoide, uma condição comum em regiões com desafios sanitários (SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO, 2023).

Cenário 1: Persistência das Doenças (Sem Intervenções Eficazes)

 Com o crescimento populacional projetado, a densidade demográfica em áreas urbanas como Canámbua, Catepa e Maxinde aumentará, pressionando os sistemas de saúde e saneamento básico. Isso pode levar a um aumento no número de casos de malária e febre tifoide, especialmente durante os períodos de chuva, quando a proliferação de mosquitos é maior. Estudos na Tanzânia mostram que o crescimento populacional desordenado está associado ao aumento da incidência de malária (Mboera et al., 2020).

Cenário 2: Controle Eficaz das Doenças (Com Intervenções)

 A implementação de medidas robustas de controlo, como ampliação do acesso a diagnósticos rápidos, tratamento precoce, campanhas de prevenção e melhoria do saneamento básico, pode reduzir significativamente a incidência dessas doenças. Estudos na Tanzânia mostraram que a integração de sistemas de vigilância laboratorial e clínicos reduziu a incidência de malária em até 40% em áreas rurais (Mboera et al., 2020).

Conclusão

A projeção populacional do INE indica que a população de Malanje pode atingir 2,5 milhões de habitantes até 2050, com um aumento significativo da densidade demográfica, especialmente nas áreas urbanas. Esse crescimento pode intensificar a transmissão de doenças infecciosas, como malária e febre tifoide, caso não sejam implementadas medidas eficazes de controle.  

Os dados evidenciam a necessidade de reforçar as estratégias de controlo da malária e febre tifoide em Malanje, considerando o crescimento populacional projetado até 2050.

Recomenda-se investir em infraestrutura de saneamento básico, ampliar o acesso a mosquiteiros tratados com inseticida e fortalecer os sistemas de vigilância epidemiológica e laboratorial, seguindo o modelo bem-sucedido da Tanzânia.

A comparação com estudos realizados na Tanzânia oferece insights valiosos para o desenvolvimento de políticas de saúde pública em Malanje, destacando a importância de sistemas de vigilância robustos e a integração de dados laboratoriais e clínicos.

Referências

 BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Diagnóstico Laboratorial da Malária. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/malaria_diag_manual_final.pdf.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Prático de Tratamento da Malária no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_malaria.pdf.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA DE ANGOLA (INE). Projeção da População de Malanje 2014-2050. Luanda: INE, 2014. Disponível em: https://www.ine.gov.ao/Arquivos/arquivosCarregados//Carregados/Publicacao_63758690172 1162401.pdf.

MBOERA, L. E. G. et al. Strengthening laboratory systems for disease surveillance in Tanzania. BMC Public Health, v. 20, n. 1, p. 1-10, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667278221000123.

KILLEEN, G. F. et al. Impact of climate change on malaria transmission in Tanzania: A systematic review. Journal of Climate Change and Health, v. 3, p. 100-112, 2021. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2667278221000123.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Malária. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/malaria.

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO. Febre Tifoide. Disponível em: https://www.saude.sp.gov.br/resources/cvecentrodevigilanciaepidemiologica/areasdevigilancia/doencastransmitidasporaguaealimentos/ftifoide.html.


1BMD, MSc (Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Rainha Njinga a Mbande).
Co-Autores:
2MD, MSc, PhD (Decana da Faculdade de Medicina da Universidade Rainha Njinga a Mbande).
3Técnico de Laboratório
4Técnico de Laboratório