PRINCIPAIS ALTERAÇÕES LABORATORIAIS EM HIPOADRENOCORTISISMO EM CÃES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411151440


Felipe Palma Merink;
Michele Gonçalves Santos;
Prof.ª Drª Leticia Signori de Castro.


RESUMO

Esta revisão bibliográfica sintetiza as principais alterações laboratoriais em cães com hipoadrenocortisismo, uma doença endócrina caracterizada pela deficiência de hormônios corticosteroides. Através de uma análise sistemática da literatura, foram identificadas as principais manifestações laboratoriais, incluindo hiponatremia, hipercalemia, hipocalemia e hipoglicemia, juntamente com outros achados como elevação de ureia e creatinina séricas. Compreender essas alterações é crucial para um diagnóstico preciso e tratamento eficaz, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados. Esta revisão destaca a importância de uma abordagem informada e baseada em evidências para o manejo do hipoadrenocortisolismo em cães, utilizando os conhecimentos disponíveis na literatura científica atual.

Palavras-chave: hipoadrenocorticismo, laboratoriais, diagnóstico e qualidade

INTRODUÇÃO

Em 1563, as glândulas adrenais foram descritas pela primeira vez, mas somente em 1875 que adotaram os respectivos nomes. Sua função manteve-se incompreendida até 1875, quando Thomas Addison relatou o hipoadrecortisismo (Síndrome de Addison) pela primeira vez. (Jericó,2023). Ela é dividida em duas camadas, o córtex e a medula, cada porção com sua função particular, sendo o córtex o liberador de mineralocorticoides (aldosterona), glicocorticoides (cortisol) e os hormônios andrógenos, e em sua medula, a epinefrina e norepinefrina.

O hipoadrenocortisismo é dividido em dois tipos o primário, possuindo subdivisões (típico e atípico), e o secundário. (Jericó,2023) A destruição do córtex da adrenal caracteriza o hipoadrenocorticismo primário típico, causa mais comum em cães. Segundo Kalenyak e Heilmann (2018) o termo hipoadrenocortisismo primário atípico é comumente dado a cães com alterações isolada de glicocorticoides ou combinada de mineralocorticoides, contudo, apresentado normalidade nos eletrólitos. Aspecto secundário, condição rara, caracteriza-se pela deficiência hipofisária do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que em sua ausência gera uma atrofia nas camadas fasciculadas e reticulada do córtex adrenal. (Feldman e Nelson, 2003) Já o hipoadrenocortisismo primário atípico acontece apenas 10% dos casos. (Jericó,2023)

Os mineralocorticoides são responsáveis pelo controle do sódio, potássio e homeostase hídrica, a deficiência em sua secreção impacta diretamente na retenção renal do sódio e cloretos, e na excreção de potássio, consequentemente, gerando hiponatremia, hipocloremia e hipercalemia. Já a insuficiência simultânea de glicocorticoides apresenta normalmente sinais gastrointestinais (anorexia, êmese, perda de peso) e letargia. (Jericó, 2023)

A insuficiência adrenocortical secundária envolve apenas a diminuição na secreção da glicocorticoides, diante disso, as concentrações de eletrólitos continuam dentro dos seus valores de referência. Ela é provocada pela redução da secreção do ACTH hipofisário (Hormônio Adrenocorticotrófico). (Nelson e Couto, 2013)

Achados clínicos de cães que apresentam síndrome de Addison incluem vômitos intermitentes, diarréia, perda de peso, letargia, depressão. anorexia e fraqueza. Em alguns casos, as manifestações podem desaparecer e reaparecer periodicamente. (Greco, 2007)

O diagnóstico da doença é baseado na combinação dos sinais clínicos, na patologia clínica e no reconhecimento de alterações eletrolíticas específicas, em caso de insuficiência adrenal primária. Com o teste de estimulação por ACTH sendo realizado para confirmação do diagnóstico. (Nelson e Couto, 2013)

O tratamento depende do estado clínico do paciente e da natureza de sua insuficiência. Em alguns casos de crise addisoniana aguda requer tratamento intensivo e imediato, diferente de casos que envolvem insuficiência adrenal secundária, que tendem a ter um curso crônico e se tornam mais complicados de diagnosticar do que tratar. (Nelson e Couto, 2013)

O prognóstico tende a ser excelente, não diminuindo tempo de vida do animal, fazendo com que ele tenha uma qualidade de vida ótima. A transparência e comunicação entre tutor e veterinário são primordiais, visto qu   e reavaliações frequentes serão necessárias e orientações sobre manejo serão pontuadas. (Jericó, 2023)

A incidência de hipoadrenocortisismo é baixa. Apenas 1 em cada 2.000 cães atendidos possuem a doença. (Jericó,2023)

OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é analisar e apresentar dados que facilitem veterinários a identificar o hipoadrenocorticismo em cães, proporcionando maior segurança no diagnóstico e contribuindo para uma melhor sobrevida dos pacientes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Realizou-se uma análise retrospectiva de dados de cães diagnosticados com hipoadrenocorticismo (HAC) com base em informações de prontuários de pacientes atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal de Santa Maria e em outros serviços veterinários (Emanuelli et al., 2007).

Os dados consultados incluíram diagnósticos realizados entre os anos de 2007 e 2016, abrangendo informações sobre porte dos cães, média de idade no momento do diagnóstico, sobrevida dos pacientes e diagnósticos diferenciais. Foram analisados exames bioquímicos, exames de imagem, testes endócrinos e todas as anamneses disponíveis. A organização dos dados foi realizada por meio de planilhas e as análises estatísticas envolveram procedimentos descritivos exploratórios. Para avaliação da sobrevida e do grau de controle dos sintomas, os tutores foram contatados para atribuir escores com base na melhora clínica dos cães.

RESULTADOS E DISCUSSÂO

A análise dos dados indicou que, apesar de não haver predileção racial significativa, algumas raças, como Poodles, West Highland Terrier, Labrador Retriever, Rottweiler, Dogue Alemão e Cães D’Água Portugueses, parecem apresentar maior predisposição ao HAC. Em contrapartida, raças como Yorkshire Terrier e Lhasa Apso demonstraram menor predisposição para a doença (Nelson e Couto, 2013).

Em relação à idade no momento do diagnóstico, houve uma variação ampla, entre dois meses e 14 anos (Feldman et al., 2015).

Além disso, com a média de idade de quatro anos, o que destaca a maior ocorrência em cães de meia-idade. Um caso específico envolveu uma cadela sem raça definida diagnosticada aos seis anos, evidenciando a importância de monitorar sinais clínicos em cães dessa faixa etária, especialmente nas raças predispostas. No que se refere à sobrevida dos pacientes, os dados revisados indicam que, com o tratamento adequado, a maioria dos cães com HAC pode ter uma boa qualidade de vida e expectativa de vida semelhante à de cães saudáveis, embora os resultados não apresentem valores específicos sobre a sobrevida a longo prazo. Observou-se que o diagnóstico precoce e o uso contínuo de glicocorticoides e mineralocorticoides foram fatores associados a uma melhor sobrevida. Considerando os diagnósticos diferenciais, constatou-se que, devido à inespecificidade dos sinais clínicos e achados laboratoriais, o HAC pode ser confundido com outras condições, como insuficiência renal crônica, gastroenterites, pancreatite, hepatopatias, neoplasias, hipotireoidismo e diabetes mellitus. Em casos de HAC, os sinais clínicos mais comuns foram perda de apetite, letargia, vômito, perda de peso, poliúria/polidipsia, fraqueza, síncope, hipotermia e desidratação (Greco, 2007).

Portanto, acaba sendo as alterações laboratoriais características hiponatremias, hipercalemia, hipoglicemia e acidose metabólica.

O hipoadrenocorticismo pode ser classificado como típico ou atípico, sendo essa distinção crucial para um diagnóstico e tratamento adequados. O hipoadrenocorticismo típico é caracterizado pela deficiência de glicocorticoides (cortisol) e mineralocorticoides (aldosterona), afetando o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e comprometendo o equilíbrio eletrolítico e cardiovascular (Greco, 2007). A deficiência de aldosterona causa hiponatremia e hipercalemia, e os sinais clínicos mais severos incluem colapso, desidratação e choque, facilitando o diagnóstico laboratorial devido às alterações eletrolíticas marcantes (Jericó, 2023).

Por outro lado, o hipoadrenocorticismo atípico envolve deficiência apenas de glicocorticoides, sem comprometimento de mineralocorticoides, tornando o diagnóstico mais desafiador pela ausência de alterações eletrolíticas. Os sinais clínicos incluem letargia, perda de peso, vômito, diarreia e hipoglicemia, que podem se confundir com outras condições gastrointestinais e endócrinas, sendo que esse tipo pode evoluir para HAC típico, exigindo monitoramento constante (Jericó, 2023).

CONCLUSÃO

A Análise dos dados e relatos possibilitou moldar um perfil clínico e laboratorial do hipoadrenocortisismo em cães. Foi destacado a importância de um diagnóstico preciso e diagnóstico diferenciais.

Entende-se que são necessários mais estudos sobre dados diagnósticos para que haja um consenso entre a predisposição dos animais e sobrevida dos pacientes, apesar disso, conseguimos avaliar que, após o controle do diagnóstico, o paciente consegue manter a qualidade de vida sem maiores problemas.

Com os sinais e achados clínicos variados, os diagnósticos diferencias são amplos o que aumenta o grau de complexidade do diagnóstico, sendo normalmente mais associado a Doença Renal Crônica e Gastroenterites.

Essas informações são de grande ajuda para veterinários no reconhecimento mais eficaz da doença, contribuindo para melhores prognóstico e diagnóstico mais precoce.

Referências Bibliográficas

Greco DS. Hypoadrenocorticism in small animals. Clin Tech Small Anim Pract. 2007 Feb;22(1):32-5. doi: 10.1053/j.ctsap.2007.02.005. PMID: 17542195.

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NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 2. ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

KLASSMANN, Gabriela Ressel; GUSSO, Ana Bianca Ferreira; HIPOADRENOCORTICISMO EM CÃES: RELATO DE CASO. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária FAG – Vol. 5, no 1, jan/jun 2022

Romão FG, Antunes MIPP. Hipoadrenocorticismo em cães: Revisão. Vet. e Zootec. 2012 março

KALENYAK, Katja; HEILMANN, Romy M. Hipoadrenocorticismo em cães: uma atualização sobre patogênese, diagnóstico e terapia. Tierärztliche Praxis Kleintiere, v. 46, n. 3, p. 163–174, 2018.

MARÇAL, M. Avaliação do perfil clínico, diagnóstico e resposta ao tratamento médico em cães com hiperadrenocorticismo: 122 casos (2007-2016). 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária) – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

OLIVEIRA, A. R. T. de. Clínica de pequenos animais: hipoadrenocorticismo primário canino. 2024. Relatório de Estágio (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária) – Escola de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora, Évora, 2024.