REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506191316
Eliott Cavalcante de Mesquita
Matheus Ames Mücke
Paulo Henrique Almendra de Andrade
Rebeca Almendra de Andrade Sadahiro
RESUMO
Objetivo: Este estudo tem como objetivo investigar a prevalência e caracterizar o perfil socioeconômico dos usuários de cigarros eletrônicos entre estudantes da área da saúde em Porto Velho (RO), assim como seu tempo de uso, sintomas associados e possíveis impactos. Método: Trata-se de uma pesquisa observacional transversal com abordagem quantitativa, realizada por meio de questionário eletrônico anônimo autoaplicável. A amostra compreendeu estudantes de cursos da área da saúde, como Medicina, Enfermagem, Psicologia, Odontologia, Nutrição e Fisioterapia, de múltiplas instituições de ensino superior da cidade. Foram analisadas variáveis sociodemográficas, hábitos de uso, fatores motivacionais e sintomas associados. Os dados foram organizados em planilhas eletrônicas e apresentados em frequências absolutas e relativas. A pesquisa foi autorizada pelo comitê de ética e pesquisa do Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA. Resultados: Foram entrevistados 238 alunos de diferentes cursos na área da saúde, os dados revelam uma prevalência de 27,7%(n = 66), um número significativamente alto. Dos que utilizam, 45.45% (n = 30) fazem uso de 6 a 7 dias por semana, sendo um número ainda maior, cerca de 71,2% (n = 47), apresentam desconforto/sintomas associados ao uso. Ainda, cerca de 73,9% (n = 176) disseram fazer uso de outras drogas, sendo 94,1% (n = 174) fazem o uso de álcool, 51,9% (n = 96) utilizam maconha, 20,5% (n = 38) alucinógenos, 20% (n = 37) MDMA e 5,9% (n = 11) fazem uso de cocaína. 65,5% (n = 156). Além disso, cerca de 65,5% (n=156) declaram ter ansiedade e 39% (n = 93) afirmam ter crises de ansiedade. Conclusão: Identificou-se uma elevada prevalência no consumo de cigarros eletrônicos por parte de acadêmicos da área da saúde. Considerando a capacidade desses dispositivos de gerar dependência e a ligação observada com o aumento da ansiedade, torna-se imprescindível tanto o desenvolvimento de ações de conscientização pública quanto o fortalecimento das diretrizes regulatórias que disciplinam sua venda e utilização.
Palavras-chave: Cigarros eletrônicos. Estudantes de saúde. Dependência de nicotina. EVALI. Saúde pública.
INTRODUÇÃO
Os cigarros eletrônicos, conhecidos também como dispositivos eletrônicos para fumar (DEFS), estão cada vez mais presentes no cotidiano da população brasileira. Esse fato acaba indo na contramão de dados sobre o tabagismo no brasil, inclusive entre jovens, onde um estudo demonstrou que houve uma queda na prevalência de uso atual de cigarros de 6,3% em 2009 para 5,4% em 2015. (OLIVEIRA-CAMPOS M et al., 2018)
Com embalagens coloridas, aromatizantes e sabores de frutas, eles vêm ganhando espaço entre um público mais novo. Mesmo tendo a sua comercialização proibida, é facilmente encontrado em sites na internet ou lojas informais. Composto por um produto acoplado a uma resistência e a uma bateria, que ao entrar em ebulição, libera aerossois que geralmente contêm nicotina. Esses produtos geralmente vêm carregados de substâncias nocivas, como carcinógenos e substâncias citotóxicas, as quais são potenciais causadoras de doenças cardiovasculares e pulmonares. (HESS CA et al., 2017 ; NATIONAL INSTITUTE ON DRUG ABUSING, 2020)
Em conjunto com isso, presenciamos um ambiente onde as pessoas estão mais propensas ao abuso do uso de álcool e drogas ilícitas: o ambiente acadêmico. Em especial, acadêmicos da área médica possuem uma tendência maior ao abuso de álcool, uso drogas lícitas e ilícitas, além de possuir uma tendência maior de desenvolverem transtornos psiquiátricos, como a depressão, ansiedade ou até mesmo ideação suicida. (SILVA et al., 2022)
Tendo em vista esses fatores, se mostra importante uma pesquisa correlacionando o uso de uma droga que está em crescente consumo entre a população jovem, com um público que está mais propenso ao uso. Este trabalho objetiva identificar a prevalência de uso de DEFS entre estudantes da saúde em Porto Velho (RO), bem como delinear o perfil sociodemográfico, padrões de consumo e motivações associadas ao uso desses dispositivos.
REFERENCIAL TEÓRICO
Os dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs), também conhecidos como cigarros eletrônicos, vaporizadores ou e-cigs, são dispositivos que aquecem um líquido, conhecido como e-líquido ou juice, para produzir um aerossol inalável. Esse líquido geralmente contém nicotina, propilenoglicol, glicerina vegetal e aromas diversos. O funcionamento básico envolve uma bateria que fornece energia para um atomizador, que aquece o e-líquido. A inalação do aerossol simula a experiência de fumar tabaco convencional, mas sem a combustão, o que inicialmente fez com que esses dispositivos fossem considerados uma alternativa menos prejudicial ao cigarro tradicional. (CHAND et al., 2019)
Desde 2009, no Brasil, é proibida a venda, importação e divulgação de qualquer tipo de dispositivo eletrônico para fumar. Mesmo com a proibição, é relativamente fácil o acesso, disponíveis para comprar tanto pela internet quanto em lojas clandestinas. Recentemente, houve uma atualização no regulamento que trata desses dispositivos, mantendo a proibição existente e reforçando ainda mais sua restrição de uso em locais públicos ou privados fechados. Recentemente o regulamento referente aos dispositivos eletrônicos para fumar foi atualizado e foi mantida a proibição, vigente desde 2009. A decisão foi tomada após extensa avaliação de seus riscos e impactos à saúde pública brasileira. (ANVISA, 2024)
Os cigarros eletrônicos têm se tornado um problema de saúde pública em todo o país. Com base nisso, pesquisas e estudos cada vez são mais frequentes tentando relacionar e aprender mais sobre este novo método de consumo da nicotina. Dentro disso, um estudo realizado em Curitiba, por acadêmicos do curso de medicina da Universidade Positivo, serviu de inspiração para a realização dessa pesquisa.
Em seu trabalho, os pesquisadores concluíram que o nível de prevalência de usuários de DEFS no curso de medicina na capital paranaense é maior do que a média nacional, e está intimamente ligado a quadros ansiosos. Ainda, foi possível traçar um perfil socioeconômico dentre seus usuários, sendo uma população majoritariamente composta por indivíduos do sexo masculino, de classe econômica alta, apresentando uma parcela importante (cerca de 22%) com um grau elevado ou muito elevado de dependência de nicotina. (GARCIA et al., 2024)
Na sociedade em geral, o uso de e-cigarette tem gerado preocupação devido ao seu impacto potencial na saúde pública. A popularidade desses dispositivos entre os jovens é particularmente alarmante. Dados indicam que adolescentes e jovens adultos representam um dos grupos de maior crescimento no uso de DEFs, o que pode resultar em uma nova geração de indivíduos dependentes de nicotina. A glamourização, através da publicidade e das mídias sociais contribui para essa tendência, criando um ciclo vicioso que pode perpetuar os problemas de saúde associados ao uso de nicotina. (ANVISA, 2018).
Por serem fáceis de carregar e de uso discreto, com produtos saborizados, além de não carregar o odor característico do tabaco, esses dispositivos têm ganhado a atenção e um público cada vez mais jovem, representando um risco iminente à saúde pública. (SILVA & MOREIRA, 2019)
A EVALI é uma condição grave que emergiu recentemente como uma consequência do uso de cigarros eletrônicos, particularmente aqueles contendo produtos adulterados, como óleo de vitamina E, THC e acetato de vitamina E. Os pacientes com EVALI frequentemente apresentam sintomas respiratórios agudos, como dispneia grave, tosse persistente e dor torácica. Essa condição pode progredir rapidamente para insuficiência respiratória aguda, exigindo hospitalização e tratamento intensivo, representando um desafio significativo para a gestão clínica. (JOHNSON et al., 2018).
Esses dispositivos têm o efeito de espalhar vapor contendo toxinas que desativam a imunidade nos pulmões. Isso acaba gerando inflamação e danos aos tecidos. Adicionalmente, existem também relatos de casos crônicos relacionados aos cigarros eletrônicos, tais como bronquite prolongada e sintomas respiratórios não específicos. Na maioria das vezes, a tomografia de tórax mostra padrões como pneumonia em organização ou dano alveolar difuso. A análise histopatológica dos casos tem características semelhantes a lesões pulmonares causadas por drogas com toxicidade. Essas lesões podem ser agravadas devido à presença de aditivos e umectantes nos líquidos inalados pelos cigarros eletrônicos. O tratamento principal ainda é a prevenção, e é crucial conscientizar sobre os perigos associados ao uso desses dispositivos. (KALININSKIY et al., 2019)
Além da EVALI, o uso crônico vem sendo associado a outras doenças pulmonares relacionadas ao cigarro eletrônico. Muitas delas, doenças comuns ao cigarro tradicional, o que de certa forma faz sentido, por serem dois tipos de agentes nocivos ao pulmão, com lesões crônicas, além da presença de nicotina. Esta última, em quantidades muito maiores presentes nos DEFS, explicando os altos números de dependentes. (DOS SANTOS et al., 2023)
A bronquiolite aguda é outra doença pulmonar aguda associada ao uso de cigarros eletrônicos. Este quadro é caracterizado pela inflamação dos bronquíolos, essa condição pode causar sintomas como tosse, dispneia e sibilância. Embora menos comum, a bronquiolite aguda ainda representa uma preocupação significativa em relação aos efeitos agudos do uso de cigarros eletrônicos sobre a saúde pulmonar. (GRANA et al., 2013)
A exposição crônica aos componentes tóxicos dos DEFS tem sido associada ao desenvolvimento de bronquite crônica. Esta condição é caracterizada pela inflamação crônica dos brônquios, resultando em tosse produtiva persistente por pelo menos três meses ao longo de dois anos consecutivos. A irritação contínua dos brônquios pelos produtos químicos presentes nos cigarros eletrônicos pode predispor os usuários a essa condição crônica. Mecanismo semelhante ao causado pelo tabagismo tradicional. (MARTIN et al., 2021)
Outra preocupação é a associação entre o uso desses dispositivos e o desenvolvimento de fibrose pulmonar. Caracterizada pela formação excessiva de tecido cicatricial nos pulmões, levando à redução da capacidade pulmonar e dificuldade respiratória progressiva. Embora os mecanismos exatos ainda não sejam completamente compreendidos, a exposição crônica aos componentes químicos dos cigarros eletrônicos pode desencadear processos inflamatórios e destrutivos nos tecidos pulmonares. (MARTIN et al., 2021)
A incidência crescente dessas doenças pulmonares agudas e crônicas relacionadas ao uso de cigarros eletrônicos representa um desafio significativo para a saúde pública. Além do ônus para os sistemas de saúde, essas condições também têm um impacto substancial na qualidade de vida dos indivíduos afetados, mostrando ser essencial pesquisas que tangem e auxiliem no entendimento dessa droga. (SALES at al., 2022)
A nicotina, principal componente do tabaco, atua no cérebro ativando os receptores nicotínicos e desencadeando a liberação de neurotransmissores, especialmente a dopamina, associada ao sistema de recompensa. Essa substância geralmente está associada em grandes quantidades nos cigarros eletrônicos, tornando seu uso substancialmente mais perigoso. (PLANETA, C. S. & CRUZ F. C, 2001)
Pesquisas têm destacado a complexidade da dependência de nicotina, considerando não apenas os efeitos neuroquímicos diretos da substância, mas também os fatores genéticos, ambientais e comportamentais que contribuem para sua persistência. Descobertas recentes têm enfatizado a influência de variantes genéticas na suscetibilidade à dependência de nicotina, bem como na resposta aos tratamentos para cessação do tabagismo. Além disso, estudos têm investigado a interação entre a nicotina e outros fatores, como estresse, ansiedade e trauma, na manutenção do hábito tabágico. (PLANETA, C. S. & CRUZ F. C, 2001)
No contexto clínico, avanços têm sido alcançados na implementação de estratégias de tratamento personalizadas, considerando a diversidade genética e comportamental dos indivíduos. Terapias de reposição de nicotina, medicamentos como a vareniclina e a bupropiona, e intervenções comportamentais têm sido eficazes na promoção da cessação do tabagismo. Além disso, abordagens inovadoras, como a terapia cognitivo-comportamental e o uso de aplicativos móveis para apoio à cessação, têm se destacado por oferecer suporte contínuo e personalizado aos fumantes que desejam parar de fumar. (HAGGSTRÄM et al., 2003)
A relação entre ansiedade e o uso de cigarros eletrônicos tem sido objeto de crescente interesse na comunidade médica, à medida que a popularidade desses dispositivos aumenta. Estudos recentes têm revelado uma associação significativa entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento de sintomas ansiosos em usuários regulares. A presença de nicotina nos cigarros eletrônicos, embora em concentrações variáveis, é um fator contribuinte importante para a ansiedade, pois a nicotina pode desencadear respostas fisiológicas e psicológicas que exacerbam os sintomas. (El-SHERBINY NA & ELSARY AY, 2019)
Essa ansiedade relacionada à nicotina é um fenômeno complexo que pode ser influenciado por uma variedade de fatores, incluindo a sensibilidade individual à nicotina, histórico de tabagismo e condições de saúde mental preexistentes. É destacado a importância de considerar não apenas os efeitos diretos da nicotina, mas também o contexto social e comportamental em que o uso de cigarros eletrônicos ocorre, como o uso concomitante de outras substâncias psicoativas e o ambiente de vaping. (HERCULANO DE MORAIS et al., 2014)
É quase um sentimento instintivo primitivo, em que, ao se deparar com um estresse, podendo físico ou emocional, nosso cérebro busque por substâncias capazes de diminuir esse sentimento. Esse sistema de recompensa está presente no consumo de tabaco ou substância que liberam nicotina, ocasionando um problema extra além do próprio transtorno psiquiátrico: o tabagismo. (RONDINA et al., 2003)
No âmbito clínico, a abordagem da ansiedade relacionada ao uso de cigarros eletrônicos requer uma avaliação cuidadosa dos sintomas e fatores de risco individuais, bem como a implementação de estratégias de tratamento eficazes. Terapias cognitivo-comportamentais e intervenções psicossociais têm sido amplamente utilizadas para ajudar os usuários de cigarros eletrônicos a desenvolver habilidades de enfrentamento e reduzir a ansiedade associada ao uso desses dispositivos. Além disso, a educação sobre os riscos à saúde associados ao uso de cigarros eletrônicos e a promoção de estilos de vida saudáveis são componentes essenciais de intervenções bem-sucedidas.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo observacional, de delineamento transversal e abordagem quantitativa, realizado em junho de 2025. A coleta de dados foi feita por meio de um questionário, disponibilizado na plataforma Google Forms, auto-realizável e anônimo, amplamente divulgado por meio de redes sociais e grupos institucionais de cursos da área da saúde no município de Porto Velho (RO).
O instrumento de coleta continha questões fechadas abordando variáveis sociodemográficas (idade, sexo, raça/cor, renda familiar, instituição de ensino e curso), além de informações relacionadas ao uso de cigarros eletrônicos (frequência, tempo de uso, presença de sintomas relacionados) e saúde mental (diagnóstico e crises de ansiedade). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi apresentado na primeira página do formulário, sendo a continuidade da pesquisa condicionada à sua aceitação.
Foram incluídas no estudo apenas as respostas completas de estudantes que declaram estar matriculados em cursos da área da saúde. Após as devidas exclusões, foram consideradas 238 respostas válidas para análise.
Os dados foram exportados em formato .csv e processados em ambiente Python. Foram realizadas análises descritivas com cálculo de frequências absolutas e relativas, expressas em números e porcentagens, com o objetivo de caracterizar o perfil dos participantes e quantificar a prevalência do uso de cigarros eletrônicos.
Critérios de inclusão
Estudantes da área da saúde, sendo elas: Medicina, Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Odontologia, Biomedicina, Educação Física e Fisioterapia dos centros universitários de Porto Velho.
Critérios de exclusão
Corpo docente e quaisquer pessoas que não se encaixam como estudantes da área da saúde, menores de idade, ou residentes das demais cidades do país. Formulários incompletos e/ou em desacordo com os critérios de inclusão não serão computados.
Análise dos dados
A análise dos dados realizada possui abordagem quantitativa e caráter descritivo, buscando compreender a distribuição das variáveis e características do grupo estudado. As informações obtidas foram exportadas da plataforma Google Forms para o Google Planilhas, onde foi feita a organização e tabulação dos dados.
Gráficos e tabelas foram elaborados para descrever as variáveis de interesse: perfil sociodemográfico dos participantes, níveis de dependência do tabaco, fatores sociais e psicológicos envolvidos no uso de cigarros eletrônicos. A prevalência do uso foi determinada com base na frequência relativa e absoluta das respostas.
Além disso, os dados foram estratificados por variáveis como sexo, idade e curso de graduação, de modo a identificar possíveis padrões ou diferenças dentro dos subgrupos analisados. As análises tiveram como objetivo fornecer uma visão geral do fenômeno, contribuindo para futuras investigações e ações de prevenção ao uso de cigarros eletrônicos entre estudantes universitários da área da saúde.
RESULTADOS
No estudo atual, foram aceitas 238 respostas, sendo 62.6% do sexo feminino, 35,7% do masculino e 1.6% preferiram nao se idenficar. Interessante notar que, ao se excluir pessoas que nao sao usuarias, o perfil de respostas muda drasticamente, sendo 60.6% do sexo masculino e 37,8% do sexo feminino, 1,5% preferiu nao se identificar. Devido a isso, as tabelas foram montadas comparando os números totais, fazendo a diferenciação dos números com duas classes, a de usuários e não usuários de DEFS.
Tabela 1: Distribuição dos entrevistados em suas respectivas IES
IES | Total – 238 | Usuarios – 66 | Não usuarios – 172 |
Metropolitana | 122 (51.3%) | 24 (19.7%) | 98 (80.3%) |
São Lucas | 46 (19.3%) | 19 (41.3%) | 27 (58.7%) |
FIMCA | 46 (19.3%) | 15 (32.6%) | 31 (67.4%) |
UNIR | 11 (4.6%) | 6 (54.5%) | 5 (45.5%) |
FCR | 11 (4.6%) | 2 (18.1%) | 9 (81.9%) |
UNAMA/UNISAPIENS | 2 (0.9%) | 0 | 2 (100%) |
Tabela 2: Distribuição dos entrevistados por sexo
Sexo | Total | Usuarios | Não usuarios |
Feminino | 149 (62.6%) | 25 (37.8%) | 124 (72%) |
Masculino | 85 (35.7%) | 40 (60.6%) | 45 (26.1%) |
PND | 4 (1.6%) | 1 (1.5%) | 3 (1.7%) |
Tabela 3: Faixa etária dos entrevistados
Idade | Total | Usuarios | Não usuarios |
18 – 20 anos | 42 (17.6%) | 17 (25.7%) | 25 (14.5%) |
20 – 30 anos | 148 (62.1%) | 42 (63.6%) | 106 (61.6%) |
30 – 45 anos | 42 (17.6%) | 7 (10.6%) | 35 (20.3%) |
45 – 55 anos | 5 (2.1%) | 0 | 5 (2.9%) |
55 anos ou mais | 1 (0.4%) | 0 | 1 (0.5%) |
Tabela 4: Renda familiar declarada pelos entrevistados
Renda familiar | Total | Usuarios | Não usuarios |
Acima de 10 salários | 92 (38.6%) | 41 (62.1%) | 51 (29.6%) |
até 2 salários mínimos | 35 (14.7%) | 7 (10.6%) | 28 (16.2%) |
De 3 a 5 salarios minimos | 54 (22.69%) | 9 (13.6%) | 45 (26.1%) |
De 6 a 10 salarios minimos | 57 (23.95%) | 9 (13.6%) | 48 (27.9%) |
Tabela 5: Distribuição por raça entre usuários de DEFS e não usuários de DEFS
Raça | Total | Usuarios | Não usuarios |
Branco(a) | 138 (57.9%) | 40 (60.6%) | 98 (56.98%) |
Pardo(a) | 81 (34%) | 21 (31.8%) | 60 (34.88%) |
Negro(a) | 13 (5.4%) | 3 (4.5%) | 10 (5.8%) |
Amarelo(a) ou indigena | 6 (2.5%) | 2 (3%) | 4 (2.3%) |
Tabela 6: Contato/uso de outras substâncias recreativas e sua relação com usuários de DEFS
Contato com outras drogas | Total | Usuarios de DEFS | Não usuarios |
Sim | 176 (73.9%) | 64 (96.97%) | 112 (65.1%) |
Não | 62 (26%) | 2 (3%) | 60 (34.88%) |
Tabela 7: Declaração dos entrevistados sobre diagnóstico de ansiedade
Ansiedade | Total | Usuarios | Não usuarios |
SIm | 156 (65.5%) | 51 (77.2%) | 105 (61%) |
Não | 82 (34.4%) | 15 (22.7%) | 67 (38.95%) |
Tabela 8: Relação de crises ansiosas entre usuários e não usuários de DEFS
Crises de ansiedade | Total | Usuarios | Não usuarios |
Sim | 93 (39.08%) | 26 (39.3%) | 67 (38.9%) |
Não | 145 (60.92%) | 40 (60.6%) | 105 (61.05%) |
Além disso, hábitos de consumo foram investigados, bem como consequências do uso dos dispositivos, sendo explorados os sintomas associados com o uso e o tempo necessário para aparecimento dos mesmos. Cerca de 45,4% dos usuários de DEFS dizem consumir 6 a 7 dias por semana, sendo 86.3% a mais de um ano de uso.. Ainda, 62.1% declara ter sintomas relacionados ao uso, aparecendo geralmente entre 3-6 meses de uso (37%), sendo tosse (23.2%) e fadiga (23.2%) os de maior prevalência.
Tabela 9: Prevalência do uso em dias dos usuários de DEFS
Dias de uso por semana | Usuarios | Percentual (%) |
6 a 7 dias | 30 | 45,4% |
1 dia | 19 | 28.7% |
De 2 a 3 dias | 11 | 16.6% |
De 4 a 5 dias | 6 | 9% |
Tabela 10: Tempo de uso relatado pelos usuários de DEFS
Tempo de uso | Usuarios | Percentual (%) |
1 ano ou mais | 57 | 86.3% |
6 meses | 5 | 7.5% |
3 meses | 1 | 1.5% |
1 mes | 3 | 4,5% |
Tabela 11: Questionamento sobre incidência de sintomas
Sentiu sintomas? | Usuarios | Percentual (%) |
Sim | 41 | 62.1% |
Não | 25 | 37.9% |
Gráfico 1: Tempo de uso até aparecimento de sintomas relatado pelos usuários

Gráfico 2: Divisão percentual dos sintomas relatados pelos usuários de DEFS no primeiro ano de uso

Gráfico 3: Distribuição de uso de outras drogas dentre usuários e não usuários de DEFS

Foi evidenciado que usuários de cigarros eletrônicos possuem alta correlação para utilização de outras substâncias, sejam elas lícitas ou ilícitas como o próprio cigarro eletrônico, em proporções exacerbadas em relação aos não usuários, demonstrando um padrão de comportamento de risco e mais acesso a substâncias ilegais, já que estão inseridos nesse contexto.
DISCUSSÃO
Os achados deste estudo corroboram pesquisas anteriores realizadas em outros centros universitários, como em Curitiba, que apontam o crescimento do uso de DEFS entre estudantes da medicina. A associação com sintomas ansiosos e a busca por alívio imediato estão entre os principais fatores motivacionais. Apesar do acesso restrito, o uso desses dispositivos ocorre de forma disseminada e a dependência nicotínica associada ao uso de DEFS demanda maior atenção das instituições de ensino, através de programas educativos e suporte psicossocial.
Os resultados evidenciaram que 27,7% dos estudantes da área da saúde relataram uso atual de cigarros eletrônicos. Essa prevalência é semelhante à observada em estudos nacionais com populações universitárias, como o de GARCIA et al. 2024) , que identificou uso em 26,9% dos estudantes de instituições públicas e privadas. No entanto, a análise comparativa entre usuários e não usuários revela particularidades importantes que ampliam a compreensão do perfil de quem adere ao uso de DEFs.
No recorte por sexo, observou-se que 60,6% dos usuários eram do sexo masculino, enquanto 72,1% dos não usuários eram do sexo feminino, sugerindo um viés de gênero no comportamento de risco. Essa diferença pode estar relacionada a fatores socioculturais e à maior associação dos homens com o uso recreativo de substâncias
A faixa etária entre 20 e 30 anos concentrou a maior parte dos usuários (63,6%), mas destaca-se o grupo de 18 a 20 anos, que representou 25,8% dos usuários, evidenciando uma adesão precoce, muitas vezes ainda no início da graduação. Esse dado é preocupante, considerando que a experimentação nessa fase pode aumentar o risco de dependência futura, como demonstram estudos internacionais (JOHNSON JM, et al. 2018).
Quando se observa o quesito renda familiar, mais da metade dos usuários (62,1%) possuíam renda superior a 10 salários mínimos, contrastando com 29,6% dos não usuários. Esse achado sugere que o acesso econômico favorece o consumo desses dispositivos, muitas vezes considerados produtos de alto custo, o que também pode estar vinculado à estética e ao status associado ao uso, conforme apontado por estudos de perfil comportamental em jovens adultos (HERCULANO DE MORAIS et al., 2014).
Já no campo da saúde mental, 77,3% dos usuários relataram diagnóstico prévio de ansiedade, enquanto 39,4% apresentaram crises de ansiedade. Esses índices foram superiores aos dos não usuários, reforçando a hipótese de que o uso de DEFs pode estar relacionado à tentativa de autogerenciamento emocional. Embora a causalidade não possa ser afirmada, os dados dialogam com a literatura que relaciona o consumo de substâncias psicoativas a quadros de sofrimento psíquico. (El-SHERBINY NA, ELSARY AY. A cross-sectional study. 2019)
Outro dado que merece atenção é o contato com outras drogas: 96,9% dos usuários de cigarros eletrônicos referiram já ter usado outras substâncias, frente a 65,1% dos não usuários. Além disso, 27,3% dos usuários também relataram uso de outras fontes de nicotina, como narguilé e cigarro convencional, contra apenas 2,9% entre os não usuários. Esses achados reforçam a hipótese de que o cigarro eletrônico faz parte de um padrão de uso mais amplo, caracterizado por maior exposição a substâncias psicoativas e menor percepção de risco.
No conjunto, os dados revelam um perfil de maior vulnerabilidade psicossocial entre os usuários de cigarros eletrônicos, marcado por comportamentos de risco, maior poder aquisitivo, sofrimento emocional e coexistência com outras formas de consumo. Tais evidências reforçam a urgência de estratégias educativas específicas para o ambiente universitário, com foco na promoção da saúde mental, combate à banalização dos DEFs e maior fiscalização de seu acesso, especialmente em instituições formadoras de profissionais da saúde.
CONCLUSÃO
A prevalência de uso de cigarros eletrônicos entre estudantes da área da saúde em Porto Velho (RO) é significativa, 27.7% (n=66) , enquanto a prevalência entre adultos da população geral é 2,6%. Além disso, foi possível observar o perfil do seu usuário, sendo ele majoritariamente: sexo masculino (60.6%), branco (60.6%), com uma renda media acima de 10 salarios minimos (62.1%) A exposição a fatores emocionais, como a ansiedade, a facilidade de acesso e a percepção equivocada de menor risco contribuem para essa realidade. Faz-se necessário o desenvolvimento de ações preventivas e educativas, além da ampliação de estudos que permitam melhor compreensão dos determinantes desse comportamento potencialmente autodestrutivo.
REFERÊNCIAS
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HESS CA, Olmedo P, Navas-Acien A, Goessler W, Cohen JE, Rule AM. E-cigarettes as a source of toxic and potentially carcinogenic metals. Environ Res, v. 152, p. 221-225, 2017.
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