PREVALENCE AND CLINICAL–EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF CASES OF HIV CO-INFECTION AND TUBERCULOSIS IN A SPECIALIZED CARE SERVICE FOR PEOPLE LIVING WITH HIV/AIDS IN BELÉM – PA.
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10300914
Ana Paula Ferreira Marques
Andréa Luiza Vaz Paes
Luiz Filipe Matos da Silva
Thábata Chrystye Ribeiro Tenório Fonseca
Vitor Ferreira Baia
RESUMO
Objetivos: Determinar a prevalência da coinfecção tuberculose – HIV e descrever o perfil clínico desses casos no Serviço de Atendimento Especializado do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). Métodos: Estudo observacional, transversal realizado com uma casuística de 56 pacientes diagnosticados com HIV e atendidos no HUJBB, Belém- PA, entre 2007-2018. Analisaram-se dados relacionados a: sexo/gênero, idade, raça/cor, identificação do caso de tuberculose (caso novo ou retratamento), forma clínica de tuberculose e uso de Tratamento Antirretroviral (TARV) durante o tratamento da tuberculos. Para a tomada de decisão foi adotado o nível de significância α = 0,05 ou 5% Resultados: A prevalência calculada da coinfecção HIV/TB foi de 37.5%, predominando o sexo masculino (76.2%), com idades entre 50-59 anos (47.6%) e cor parda. Houve maior prevalência de casos novos de tuberculose (66.7%), com predomínio de TB pulmonar (85.7%); 66.7% dos pacientes fizeram os tratamentos para TB e HIV concomitantemente e 95.2% foram considerados curados da TB. Conclusão: Foi possível obter um panorama dos pacientes, com predomínio de homens, entre 50-59 anos, com diagnóstico de TB pulmonar, forma ativa, e que realizaram TARV durante o tratamento da TB, cuja maioria completou o tratamento e obteve melhora clínica (cura).
Palavras-chave: 1. Coinfecção. 2. HIV. 3. Tuberculose. 4. Síndrome de Imunodeficiência Adquirida.
SUMMARY
Objective: To determine the prevalence of tuberculosis – HIV coinfection and to describe the clinical profile of these cases in the Specialized Service of the Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). Methods: Observational, cross-sectional study carried out with a sample of 56 patients diagnosed with HIV and treated at the HUJBB, Belém-PA, between 2007-2018. Data related to sex / gender, age, race / color, identification of the case of tuberculosis (new case or retreatment), clinical form of tuberculosis and use of antiretroviral treatment (ART) during the treatment of tuberculosis were analyzed. For decision-making, the significance level α = 0.05 or 5% was adopted. Results: The calculated prevalence of HIV / TB co-infection was 37.5%, with a predominance of males (76.2%), aged 50-59 years (47.6%) and brown color. There was a higher prevalence of new cases of tuberculosis (66.7%), with a predominance of pulmonary TB (85.7%); 66.7% of patients underwent TB and HIV treatments concurrently and 95.2% were considered cured of TB. Conclusions: It was possible to obtain an overview of patients, with a predominance of men, between 50-59 years old, diagnosed with pulmonary TB, active form, and who underwent ART during TB treatment, most of whom completed the treatment and obtained clinical improvement ( cure).
Keywords: 1. Coinfection. 2. HIV. 3. Tuberculosis. 4. Acquired Immunodeficiency Syndrome.
INTRODUÇÃO
A coinfecção HIV-Tuberculose é uma das principais complicações que a população HIV soropositiva enfrenta, representando um risco de vida iminente e com graves repercussões no sistema de saúde. O bacilo da tuberculose (TB) e o vírus da imunodeficiência humana/síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS) em um mesmo organismo causam um intenso comprometimento do sistema imune, acelerando a progressão da infecção pelo HIV para a AIDS por meio da depleção de linfócitos TCD4+ e TCD8+. Para melhor compreensão da importância desse agravo, o risco de uma pessoa com HIV/Aids desenvolver TB ativa é 26 vezes maior em comparação com a população geral. 1,2
Em escala global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no mundo quase 37 milhões de pessoas vivem com o HIV, das quais 25% também apresentam tuberculose.3 A nível nacional, de acordo com o Boletim Epidemiológico AIDS/HIV de 2019, entre 2009-2017, 10% dos casos notificados no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de tuberculose apresentam concomitantemente HIV/AIDS. Analisando a ocorrência da coinfecção por região brasileira, os maiores percentuais de diagnóstico de HIV durante o evento de tuberculose ocorreram na região norte, atingindo 47,4% no estado do Pará.4
Ressalta-se ainda a maior incidência de desfechos desfavoráveis em indivíduos com HIV-TB, os quais incluem a menor taxa de cura da tuberculose, surgimento de formas clínicas graves da doença, maior risco de internação por complicações, retratamentos e, em último caso, o óbito. (MAGNABOSCO et al, 2019). Isto é explicado em parte pela frequente apresentação atípica da doença e da baixa positividade da baciloscopia de escarro e início tardio do TARV.5, 6
Neste contexto, o presente estudo tem por objetivo determinar a prevalência da coinfecção HIV-TB e descrever o perfil clínico e epidemiológico desses casos no Serviço de Atendimento Especializado do Hospital Universitário João de Barros Barreto (SAE HUJBB), Belém-Pará, no período de 2007 a 2018.
METODOLOGIA
TIPO DE ESTUDO E ASPECTOS ÉTICOS
Trata-se de um estudo transversal, realizado no serviço de atenção especializada (SAE) a pessoas vivendo com HIV/AIDS do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB), Belém-PA, entre junho de 2019 a agosto de 2020 após aprovação do Comitê de Ética da Universidade do Estado do Pará – UEPa (parecer nº 3.174.479) e autorização da coordenação do HUJBB. Ressalta-se a não utilização nesta pesquisa de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), devido à ausência de informações necessárias para comunicação com os pacientes fornecidas aos pesquisadores (endereço e contato telefônico) pela coordenação do hospital.
CASUÍSTICA
Neste estudo foi utilizado amostra de 56 pacientes diagnosticados com HIV e cadastrados no SAE do HUJBB. O tamanho da amostra foi calculado com base no número total de pacientes atendidos nesse serviço durante os anos de 2007 a 2018. Adotou-se um nível de significância de 95% e erro amostral de 5%.
COLETA DE DADOS
Foi utilizado protocolo padronizado de autoria dos pesquisadores. As variáveis coletadas foram: sexo/gênero, idade, raça/cor, identificação do caso de tuberculose (caso novo ou retratamento), forma clínica de tuberculose e uso de Tratamento Antirretroviral (TARV) durante o tratamento da tuberculos.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Utilizaram-se Testes G e Qui-Quadrado Aderência para tabelas univariadas e Independência para as tabelas bivariadas. Na análise das variáveis numéricas foi calculado o teste t-Student pareado.
As estatísticas descritiva e analítica foram realizadas no software BioEstat® 5.4. Para a tomada de decisão foi adotado o nível de significância α = 0,05 ou 5%, sinalizando com asterisco (*) os valores significantes.
RESULTADOS
Dentre os 56 indivíduos infectados com HIV incluídos na amostra, 21 tiveram coinfecção HIV-TB, resultando em uma prevalência de 37,5%. Na Tabela 1, observa-se predomínio do sexo masculino entre os pacientes coinfectados (76.2%, p= 0.0291), na faixa etária entre 50 e 59 anos (47.6%). Nos prontuários utilizados neste estudo, o dado raça/cor foi frequentemente omitido, impossibilitando a aplicação de testes estatísticos.
TABELA 1- Caracterização dos casos de coinfecção HIV-TB no SAE PVHA do HUJBB de acordo com sexo e faixa etária, no período de 2007-2018.
TABELA 2 – Caracterização dos casos de coinfecção HIV-TB no SAE PVHA do HUJBB de acordo com o perfil da TB, forma clínica, TARV durante o tratamento e prognóstico, no período de 2007-2018.
Em relação a características da tuberculose, houve predomínio da forma ativa (caso novo), 66.7% da amostra (p= 0.0007), cuja principal apresentação foi doença pulmonar (85.7%). A maioria dos pacientes coinfectados realizaram TARV durante o tratamento para TB, 66.7% (p= 0.0007) e obtiveram, em 95.2% dos casos, melhora clínica (cura) da doença (desfecho final da TB).
DISCUSSÃO
A prevalência de pacientes coinfectados encontrados (37,5%) está acima das que constam em outros estudos. Diversos autores brasileiros têm demonstrado taxas de prevalência de coinfecção HIV-TB menores que 20% em análises temporais com base em dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN)3,7,8. Inúmeros fatores não avaliados na pesquisa podem justificar a prevalência elevada de coinfecção na população estuda, como adesão ao tratamento, diagnóstico tardio ou mesmo número limitado de pacientes na pesquisa apresentada. Demais pesquisas devem ser realizadas na população estudada para esclarecimento destes resultados.
Em relação às características demográficas, a maioria dos pacientes coinfecados era do sexo masculino, resultado semelhante a outros estudos que demonstram maior vulnerabilidade da população masculina à coinfecção HIV-TB. Diversas teorias são apresentadas para justificar esse achado, como comportamento social de menor procura à serviços de saúde, maior exposição ocupacional a doenças e pouca aderência ao tratamento médico1,7, 9.
A faixa etária predominante foi entre 50 e 59 anos, correspondendo à parte da população em idade economicamente ativa, ou seja, indivíduos aptos a exercer atividade econômica. Com base nisso, sabe-se que são estas pessoas as mais vulneráveis a fatores de risco para doenças infectocontagiosas, justificando a maior prevalência na faixa etária citada5,7.
Nos casos de coinfecção observados no estudo, houve maior proporção da tuberculose em sua forma ativa/casos novos (sem história de tratamento anterior), e de apresentação pulmonar da doença (75%). Outros estudos nacionais também apresentaram em seus resultados um alto índice de casos novos e de Tb pulmonar3, 10, 11. Sabendo que a TB extrapulmonar é mais comum quanto menor a contagem de CD4 desses pacientes, pode-se inferir que os mesmos obtiveram diagnóstico da TB em um momento no qual seu status imunológico não estava tão comprometido pelo HIV12,13, 14.
Diversas pesquisas demonstram redução de mortalidade dos pacientes infectados pelo HIV durante o tratamento da TB15,16 e menores índices de cura em pacientes coinfectados comparados àqueles apenas com diagnóstico de TB17,18. Com base nos dados apresentados, a maioria dos pacientes coinfectados (66,7%) fizeram ambos os tratamentos concomitantemente (HIV e TB), fato que pode estar relacionado ao melhor desfecho dos casos estudados, com menor taxa de mortalidade pela doença, o que pode ser visto através do prognóstico com 95,2% dos pacientes sendo considerados curados da TB.
CONCLUSÃO
Por fim, com o presente estudo foi possível obter um panorama dos pacientes atendidos no SAE do HUJBB coinfectados com HIV-TB, predominantemente homens, entre 50-59 anos, com diagnóstico de TB pulmonar, forma ativa, e que realizaram TARV durante o tratamento da TB, cuja maioria completou o tratamento e obteve melhora clínica (cura). A partir desses dados, compreendeu-se melhor o contexto em que estes pacientes estão inseridos, o que auxiliou e auxiliará em estratégias para enfrentamento dos novos e atuais casos de coinfecção HIV-TB, melhorando as ações de saúde voltadas para estes agravos.
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