PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) NO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2021 A 2024

PREVALENCE AND RISK FACTORS FOR STROKE IN THE STATE OF BAHIA FROM 2021 TO 2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202505191009


ZUBA, Bruna Prates1
FONTES, Édmo Alves1
DE OLIVEIRA, Jairo Nunes1
DE SOUSA, Lian Moraes1
TEIXEIRA, Roberta Danielle Pires1
FERREIRA, Thales Jonathan Souza1
TOURINHO, Luciano de Oliveira Souza2


RESUMO

Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) representa uma das principais causas de morbimortalidade no Brasil e no mundo, sendo responsável por elevado número de internações, incapacidades e óbitos. Caracterizado pela interrupção do fluxo sanguíneo cerebral, o AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico, e sua ocorrência está fortemente associada a fatores de risco modificáveis e não modificáveis. Objetivos: Este estudo teve como objetivo analisar a prevalência e os principais fatores de risco associados ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) no estado da Bahia, no período de 2021 a 2024. Justificativa: A pesquisa se justifica pela alta incidência de AVC e pelas graves consequências clínicas e sociais que a doença acarreta. Nesse sentido, compreender os fatores que contribuem para a ocorrência do AVC, pode auxiliar na elaboração de políticas de saúde mais eficazes e direcionadas à realidade regional, promovendo maior qualidade de vida e redução dos índices de mortalidade. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e quantitativo, baseado na análise de dados secundários extraídos de plataformas oficiais como o DATASUS, Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) e Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Foram considerados os registros de internações e óbitos por AVC no estado da Bahia entre os anos de 2021 e 2024, bem como dados relacionados a fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, dislipidemia e sedentarismo. Resultados e discussão: Os dados coletados foram organizados em planilhas e analisados, permitindo identificar padrões e tendências nos casos de AVC, bem como a associação com os principais fatores de risco. Os resultados demonstraram uma prevalência elevada da doença em indivíduos com idade superior a 60 anos, com predomínio do sexo masculino. Conclusão: Conclui-se que o Acidente Vascular Cerebral permanece como um grave problema de saúde pública na Bahia, com fatores de risco bem estabelecidos que demandam ações integradas de prevenção, educação em saúde e fortalecimento da atenção primária.

Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral. Saúde. Bahia.

ABSTRACT

Introduction: Stroke represents one of the leading causes of morbidity and mortality in Brazil and worldwide, being responsible for a high number of hospitalizations, disabilities, and deaths. Characterized by the interruption of cerebral blood flow, stroke can be either ischemic or hemorrhagic, and its occurrence is strongly associated with both modifiable and non-modifiable risk factors.Objectives: This study aimed to analyze the prevalence and main risk factors associated with stroke in the state of Bahia, from 2021 to 2024.Justification: The research is justified by the high incidence of stroke and the serious clinical and social consequences it entails. In this context, understanding the factors that contribute to stroke occurrence can support the development of more effective health policies tailored to the regional reality, promoting a better quality of life and reducing mortality rates.Methodology: This is an epidemiological, descriptive, and quantitative study based on the analysis of secondary data obtained from official platforms such as DATASUS, the Hospital Information System (SIH/SUS), and the Mortality Information System (SIM). Records of hospitalizations and deaths due to stroke in the state of Bahia from 2021 to 2024 were considered, along with data related to risk factors such as arterial hypertension, diabetes mellitus, smoking, dyslipidemia, and physical inactivity.Results and Discussion: The collected data were organized in spreadsheets and analyzed, allowing the identification of patterns and trends in stroke cases, as well as their association with the main risk factors. The results showed a high prevalence of the disease among individuals over 60 years of age, with a predominance in males.Conclusion: It is concluded that stroke remains a serious public health problem in Bahia, with well-established risk factors that require integrated actions in prevention, health education, and the strengthening of primary care.

Keywords: Stroke. Health. Bahia.

1. INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade no mundo, sendo classificado como isquêmico, quando há obstrução do fluxo sanguíneo cerebral, ou hemorrágico, quando ocorre o rompimento de vasos sanguíneos cerebrais (Fernandez et al., 2024). Trata-se de uma condição clínica grave que exige diagnóstico e tratamento imediatos, dada a sua associação com sequelas neurológicas permanentes e elevada mortalidade (Vasconcelos et al., 2024).

No Brasil, o AVC representa um dos maiores desafios para o sistema de saúde pública, tanto pela sua alta prevalência quanto pelos custos associados à reabilitação dos pacientes acometidos. A heterogeneidade regional no acesso à assistência médica, somada às desigualdades socioeconômicas e ao envelhecimento populacional, contribui significativamente para o agravamento desse cenário em estados como a Bahia (Santos et al., 2024).

Na Bahia, observam-se taxas expressivas de internações e óbitos por AVC, especialmente em populações vulneráveis e em municípios com menor cobertura de atenção básica e acesso limitado a serviços de urgência e emergência. Além disso, fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes mellitus, sedentarismo, tabagismo, obesidade e dislipidemias continuam altamente prevalentes na população baiana, elevando as chances de eventos cerebrovasculares, sobretudo entre indivíduos com idade avançada (Santos et al., 2023).

As estatísticas sobre AVC no estado revelam não apenas a magnitude do problema, mas também a necessidade urgente de estratégias eficazes de prevenção e controle, pautadas em ações intersetoriais e políticas públicas consistentes. O monitoramento dos casos ao longo dos anos, bem como a análise dos fatores de risco envolvidos, é essencial para a elaboração de intervenções direcionadas à redução dos índices de morbimortalidade (Rodrigues et al., 2024).

Nesse contexto, o presente estudo se justifica pela importância de compreender a prevalência e os fatores de risco associados ao AVC no estado da Bahia entre os anos de 2021 e 2024, contribuindo para o aprimoramento das estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e cuidado integral à saúde. Assim, objetiva-se investigar o perfil epidemiológico da doença no estado, identificando os principais determinantes sociais e clínicos que influenciam sua ocorrência, a fim de subsidiar ações mais eficazes no enfrentamento dessa condição neurológica de alta relevância para a saúde pública.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de cunho epidemiológico sobre a prevalência e os fatores de risco associados ao Acidente Vascular Cerebral (AVC) no estado da Bahia, no período de 2021 a 2024, com uma abordagem quantitativa, descritiva e epidemiológica. A coleta de dados foi realizada utilizando registros de dados secundários referentes às internações e óbitos por AVC, além de informações sobre fatores de risco, disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) e pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Foram coletadas informações sobre número de casos, bem como dados sociodemográficos dos indivíduos acometidos, incluindo faixa etária, sexo e região de residência. As frequências obtidas foram organizadas em planilhas individuais no Microsoft Excel, software amplamente utilizado para elaboração, edição e gerenciamento de dados eletrônicos. A análise descritiva foi empregada para apresentar o perfil epidemiológico da população acometida pelo AVC na Bahia.

Além disso, não foi necessário submeter o estudo a um Comitê de Ética em Pesquisa, uma vez que se trata de uma pesquisa baseada em dados secundários e sem identificação dos indivíduos acometidos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da investigação dos dados epidemiológicos, foi possível identificar a evolução dos casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) no estado da Bahia no período de 2021 a 2024. 

Tabela 01 – Internações por AVC na Bahia (2021–2024)

1Dados de 2021–2022 retirados de estudo que analisou o período de janeiro de 2021 a julho de 2022, sem números absolutos consolidados.

Fontes: SESAB (2024) e DATASUS (2024).

A análise dos dados de internações por Acidente Vascular Cerebral (AVC) no período de 2021 a 2024 revela importantes tendências epidemiológicas e demográficas, além de aspectos relevantes sobre a organização dos serviços de saúde e os possíveis impactos de ações preventivas.

No ano de 2021, algumas observações qualitativas merecem destaque. Houve predominância de pacientes com 60 anos ou mais, o que está em conformidade com o perfil tradicionalmente observado para AVC, uma condição fortemente associada ao envelhecimento e à presença de comorbidades como hipertensão, diabetes e dislipidemia (Pinheiro et al., 2024).

Outro ponto relevante foi a concentração geográfica dos casos: Salvador respondeu por 32% das internações. Isso pode estar relacionado à maior densidade populacional, à maior oferta de serviços de saúde terciários e ao fluxo de pacientes oriundos do interior que são transferidos para unidades de referência da capital baiana (Miranda et al., 2024).

Em 2022, observa-se uma mudança no perfil étnico dos pacientes. 58,2% das internações ocorreram em pessoas autodeclaradas pardas, o que pode refletir tanto a demografia local quanto desigualdades sociais e de acesso aos serviços de prevenção e tratamento. Essa informação é essencial para reforçar a necessidade de políticas públicas que contemplem a equidade no cuidado. Além disso, 98% dos atendimentos foram classificados como urgência, o que evidencia a natureza súbita e grave do AVC, além de apontar para possíveis falhas na detecção precoce e no controle dos fatores de risco em nível ambulatorial (Melo et al., 2023).

Já em 2023, com o dado consolidado de 3.916 internações, chama atenção o fato de que 12,5% dos casos ocorreram em pessoas com até 49 anos, um grupo considerado jovem para esse tipo de evento. Esse número reforça uma tendência global de aumento de AVC em adultos jovens, possivelmente relacionado ao crescimento de fatores de risco modificáveis, como sedentarismo, tabagismo, consumo de álcool, má alimentação e estresse crônico (Fontes et al., 2024). Tal dado sugere a urgência de ações educativas e preventivas voltadas também para populações mais jovens, desmistificando a ideia de que o AVC é uma condição exclusivamente da terceira idade (Chucre et al., 2024).

Por fim, os dados preliminares de 2024 (até agosto) apontam um total de 7.598 internações, mas com uma redução de 20% em relação ao mesmo período de 2023. Esse dado sugere uma possível melhoria nos mecanismos de prevenção ou mudanças nos critérios de internação e notificação. Entretanto, é necessário cautela na interpretação, pois a redução reflete variações sazonais, subnotificação e mudanças nos fluxos assistenciais, como aumento do manejo ambulatorial de casos leves (Pinheiro et al., 2024).

Tabela 02 – Óbitos por AVC na Bahia (2021–2024)

1Dados de 2021–2022 retirados de estudo que analisou o período de janeiro de 2021 a julho de 2022, sem números absolutos consolidados.

Fontes: SESAB (2024) e DATASUS (2024).

Com base na análise dos óbitos por Acidente Vascular Cerebral (AVC) na Bahia entre 2021 e 2024 revela padrões epidemiológicos relevantes e suscita reflexões importantes sobre a resposta do sistema de saúde diante dessa condição de elevada morbimortalidade.

Nos anos de 2021 e 2022, os dados ainda são parciais, limitando a interpretação conclusiva, mas já permitem algumas observações. Em 2021, destaca-se a predominância de óbitos entre pessoas com 60 anos ou mais, o que corrobora o entendimento de que o AVC é mais prevalente em faixas etárias avançadas, refletindo a associação direta com fatores de risco acumulados ao longo da vida, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias e doenças cardíacas. Esse dado reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à prevenção primária e ao rastreio precoce de comorbidades crônicas, sobretudo em idosos (Braz et al., 2022).

Em 2022, mesmo com dados parciais, observa-se um dado sociodemográfico importante: 59% dos óbitos ocorreram em pessoas autodeclaradas pardas. Esse número evidencia desigualdades no acesso a cuidados preventivos e tratamentos adequados (Santos et al., 2023). A cor/raça, enquanto marcador social no Brasil, frequentemente se associa a determinantes sociais de saúde, como baixa escolaridade, menor renda e maior vulnerabilidade a fatores ambientais e comportamentais (Barbosa et al., 2022).

Além disso, a predominância de atendimentos em caráter de urgência indica que muitos pacientes chegam tardiamente aos serviços de saúde, dificultando a aplicação de intervenções eficazes como a trombólise ou a trombectomia mecânica, que dependem de janelas terapêuticas curtas (Vasconcelos et al., 2024).

Em 2023, com a consolidação dos dados (~5.000 óbitos por AVC no ano), observa-se uma distribuição equilibrada entre os sexos, o que indica que o AVC afeta homens e mulheres de forma similar em termos de mortalidade. Ainda que diferenças fisiológicas e hormonais possam influenciar a apresentação clínica e a recuperação pós-AVC entre os gêneros, a paridade nos óbitos sugere que as disparidades em mortalidade podem estar mais relacionadas ao acesso ao cuidado do que a fatores exclusivamente biológicos (Melo et al., 2023).

O dado agregado de 17.040 óbitos entre 2017 e 2023 evidencia a persistência do AVC como uma das principais causas de morte no estado da Bahia, sendo fundamental como indicador de saúde pública. Por fim, os dados apresentados demonstram a necessidade de um plano de ação regionalizado e intersetorial que una vigilância epidemiológica, prevenção e assistência, com foco em grupos de risco como idosos e populações racialmente vulnerabilizadas. 

Logo, é urgente investir em educação em saúde, capacitação de equipes da atenção primária, ampliação do acesso ao SAMU e aos centros de referência em AVC e implementação de linhas de cuidado específicas, com o intuito de reduzir a mortalidade, como também as sequelas, os custos sociais e econômicos decorrentes da doença.

4. CONCLUSÃO

Diante dos dados analisados, fica evidente que o Acidente Vascular Cerebral permanece como uma das principais causas de mortalidade na Bahia, com impacto significativo entre idosos e populações racialmente vulneráveis. A distribuição dos óbitos, especialmente em pessoas pardas e em atendimentos de urgência, revela desigualdades no acesso aos serviços de saúde e fragilidades na prevenção e no manejo precoce do AVC. A análise reforça a importância de fortalecer a atenção primária, promover o rastreamento de fatores de risco e garantir a equidade na oferta de cuidados, desde a prevenção até a reabilitação

Portanto, este trabalho aponta para a necessidade de políticas públicas mais eficazes e direcionadas que considerem o perfil epidemiológico local e as determinantes sociais da saúde. Logo, investimentos em educação em saúde, capacitação profissional e ampliação da rede de atendimento especializado são fundamentais para reduzir a incidência e a mortalidade por AVC na Bahia. Assim, a construção de um sistema de saúde mais resolutivo e acessível é essencial para enfrentar esse grave problema de saúde pública e melhorar os desfechos clínicos da população baiana.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, B. de O. et al. Diagnóstico precoce do acidente vascular cerebral na emergência: uma revisão de literatura. Revista Eletrônica Acervo Médico, v. 11, 2022. 

BRAZ, A. I. D. et al. Tendências de hospitalizações por acidente vascular cerebral no Ceará 2009-2020. Research, Society and Development, v. 11, n. 8, p. e11611830819, 2022. 

CHUCRE, Á. C. A. et al. Características epidemiológicas do acidente vascular cerebral de pacientes atendidos em Altamira – Pará – Brasil, no período de 2009 a 2020. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 24, n. 11, 2024.  

FERNANDEZ, C. et al. Random Forest-Based Prediction of Stroke Outcome. Revista Eletrônica Acervo Médico t, v. 13, n.3. 2024. 

FONTES, G. N. et al. Incidência de morbidade hospitalar por acidente vascular cerebral isquêmico transitório. In: Anais do Congresso Regional em Saúde Pública, 2024.  

MELO, M. E. S. de et al. Acidente Vascular Cerebral: caracterização clínica e desfechos pós-alta. Research, Society and Development, v. 9, n. 9, p. e195997144, 2023. 

MIRANDA, J. et al. Panorama de mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil (2018-2025). Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 8, p. 4572–4584, 2024. 

PINHEIRO, W. M. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes internados por acidente vascular cerebral no Brasil nos últimos cinco anos. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 10, n. 9, p. 3201–3211, 2024.  

RODRIGUES, A. C. P. et al. O reconhecimento dos sinais e sintomas do acidente vascular cerebral por universitários: uma revisão integrativa. Saúde Coletiva (Barueri), v. 14, n. 92, p. 14052–14063, 2024.  

SANTOS, A. G. dos et al. Fatores de risco relacionados ao acidente vascular cerebral em idosos na atenção primária. Revista Brasileira de Educação e Saúde, v. 13, n. 2, p. 155–162, 2023. 

SANTOS, N. S. S. et al. Caracterização epidemiológica da mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil no período de 2013 a 2022. A.R International Health Beacon Journal, v. 1, n. 4, 2024. 

VASCONCELOS, J. L. M. et al. Estratégias emergentes no manejo do acidente vascular cerebral – perspectivas e desafios. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, n. 3, p. 706–714, 2024.


1Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
2Docente pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna