PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À SINTOMATOLOGIA ANSIOSA E AO ESTRESSE EM ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR 

PREVALENCE AND FACTORS ASSOCIATED WITH ANXIOUS SYMPTOMATOLOGY AND STRESS IN HIGHER EDUCATION STUDENTS

PREVALENCIA Y FACTORES ASOCIADOS A SINTOMATOLOGÍA ANSIOSA Y ESTRÉS EN ESTUDIANTES DE EDUCACIÓN SUPERIOR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501072102


Érica Letícia da Rosa1


Resumo 

Este estudo objetivou-se a analisar a prevalência e os possíveis fatores associados a sintomas de ansiedade e estresse em 128 estudantes de uma faculdade do sul de Santa Catarina. Trata-se de um estudo transversal, realizado através da metodologia quanti-qualitativa, contendo questões sociodemográficas, semiestruturadas e o inventário BAI. Como resultado, observou-se índices elevados de sintomatologia ansiosa. Concluindo-se que os estudantes possuem alta probabilidade de desenvolverem sintomas psicopatológicos. 

Palavras Chaves: Ansiedade; Estresse; Estudantes do ensino superior. 

Abstract

This study aimed to analyze the prevalence and possible factors associated with symptoms of anxiety and stress in 128 students from a college in the south of Santa Catarina. This is a cross-sectional study, carried out using quantitative-qualitative methodology, containing sociodemographic, semi-structured questions and the BAI scale. As a result, high rates of anxious symptoms were observed. Concluding that students have a high probability of developing psychopathological symptoms.

Keywords: Anxiety; Stress; University students.

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo analizar la prevalencia y posibles factores asociados a síntomas de ansiedad y estrés en 128 estudiantes de una universidad del sur de Santa Catarina. Se trata de un estudio transversal, realizado con metodología cuanti-cualitativa, que contiene preguntas sociodemográficas, semiestructuradas y la escala BAI. Como resultado, se observaron altas tasas de síntomas de ansiedad. Concluyendo que los estudiantes tienen alta probabilidad de desarrollar síntomas psicopatológicos.

Palabras clave: Ansiedad; Estrés; Estudiantes universitarios.

Introdução

Conforme dados do Ministério da Educação (2015), a permanência dos estudantes em uma faculdade/universidade vem aumentando ao decorrer dos anos, porém, esse índice ainda é considerado baixo, visto que, o acréscimo foi de apenas 2,5% em relação ao ano anterior. Em complemento, pesquisas realizadas pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2021), somente 21% dos jovens entre 25 e 34 anos completaram o ensino superior, havendo um acréscimo de aproximadamente 3% em relação aos últimos 10 anos.

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) a baixa procura pelo ensino superior no país está diretamente relacionada à educação básica, sendo que apenas 8% dos estudantes se encontravam em projetos de orientação vocacional no ano de 2015. Desta forma, foi especulado que com a modificação do ensino médio haverá uma maior procura para cursos de graduação (Ministério da Educação., 2015). 

Todavia, a entrada para o ensino superior está cada vez mais facilitada, com o decorrer dos anos, as bolsas de estudos e os financiamentos estão mais acessíveis à população. Além de políticas públicas envolvendo a entrada e permanência dos estudantes no ambiente acadêmico, entre elas, podem-se citar os programas de cotas (Sales., 2020).

A entrada e permanência dos estudantes no ambiente acadêmico podem ser bastante desafiadoras, já que, os alunos muitas vezes deparam-se com novas experiências, e precisão se adaptar a uma nova rotina, constantemente é preciso conciliar sua rotina acadêmica de estudos, com suas rotinas diárias, podendo desencadear sintomas relacionados à ansiedade (Silveira et al., 2022). Ademais, fatores como excesso de atividades diárias, poucas horas de sono, diminuição das interações sociais com amigos e familiares, podem estar associados ao elevado índice de estresse e ansiedade nos acadêmicos (Nogueira et al., 2021).

Todavia, o ensino superior também demanda altos níveis de dedicação, proporcionando assim que os alunos acabem elevando seus índices de exigência pessoal, e muitas vezes não sabem lidar com suas inseguranças e frustrações. No entanto, quando o estudante se encontra nas fases finais da graduação, suas preocupações começam a se relacionar ao seu futuro profissional, isto ocorre principalmente com estudantes dos cursos das áreas da saúde, pois estarão lidando com a saúde de outros indivíduos em suas carreiras profissionais (Duarte et al., 2022).

Ainda de acordo com Duarte e colaboradores (2022), os acadêmicos quando estão nas fases finais dos cursos deparam-se com a obrigatoriedade de realização de estágios, onde sentem-se mais ansiosos e estressados, visto que muitas vezes é o primeiro contato prático com a área em que estudam. Ademais, as fases finais do ensino superior também são marcadas pelo trabalho de conclusão de curso (TCC), na qual demanda altos níveis de dedicação dos estudantes, sendo assim, mais um possível fator desencadeador de sintomas associados a transtornos mentais. 

Segundo estudos desenvolvidos por Bernardelli et al. (2022) atualmente uma grande porcentagem de acadêmicos não se sentem preparados para ingressar ao mercado de trabalho dentro de sua área de estudo. Ademais, os estudantes que já trabalham concomitante aos estudos em áreas distintas das quais estudam, sentem medo e ansiedade de se desvincular de seus empregos atuais e ingressar em algo incerto, deixando assim os acadêmicos mais preocupados com seus futuros. 

Estudos referentes à sintomatologia ansiosa nos acadêmicos vêm aumentando significativamente nos últimos anos, pois observa-se que os estudantes estão cada vez mais propensos a desenvolver transtornos psicopatológicos (Mendes & Dias, 2021). De acordo com Jardim, Castro e Ferreira-Rodrigues (2020) geralmente os acadêmicos tendem a desenvolver algum transtorno psicológico ao decorrer do período que se encontram na universidade, sendo, a tríade ansiedade, depressão e estresse os mais recorrentes nesta população.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) a ansiedade e o estresse são considerados problemas de saúde pública que vem aumentando significativamente nos últimos anos. Além disso, a OMS ainda aponta que apenas no ano de 2020 os níveis de estresse e ansiedade aumentaram aproximadamente 25% na população mundial. 

Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR., 2022) a ansiedade pode ser definida como um estado de angústia ou terror, que aparecem de forma antecipatória a situações que podem vir a ser ameaçadoras, assim como, também podem se manifestar através de comportamentos de fuga ou esquiva diante de situações alarmantes futuras. Para Alves e colaboradores (2021) a ansiedade é definida como uma preocupação excessiva a algo que está por vir, porém, quando se encontra de forma exagerada, em situações nas quais atrapalham a vida diária do sujeito, deve-se considerar que esta ansiedade já virou algo psicopatológico. Colaborando com o supramencionado nos estudos efetuados por Souza et al.(2022) os autores salientam que a ansiedade pode se manifestar através de sinais e sintomas, cognitivos, comportamentais e fisiológicos, entre os principais deles se encontram: a) alteração do pensamento; b) visão turva; c) sensação de desmaio; d) taquicardia; e) comportamentos de esquiva, entre outros.

A ansiedade pode aparecer de forma patológica de diversas formas, entre os principais transtornos que englobam a ansiedade encontram-se, os transtornos de ansiedade generalizada (TAG), transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social (fobia social), fobias específicas, entre outras. Todavia, é importante ressaltar que a ansiedade é um fator presente no dia a dia da população, e nem sempre é considerado um fator patológico, e sim uma resposta do organismo em frente a uma situação de ameaça (Oliveira et al.,2022).

Os transtornos de ansiedade e as sintomatologias ansiosas estão cada vez mais presentes na população, principalmente nos jovens adultos, que muitas vezes estão em um processo de se desvincular da adolescência e enfrentar novos desafios na vida adulta (Lopes et al., 2020). Entretanto, geralmente o início da vida adulta também ocorre juntamente com a escolha de uma profissão, e a entrada em uma universidade, o que pode elevar os sintomas de medo e ansiedade, de não estarem fazendo a escolha certa (Borges, Francescato & Hoefel., 2020).

Ademais, uma grande parte dos acadêmicos do ensino superior necessitam trabalhar concomitante aos estudos, possuindo assim uma jornada duplicada. Estudos apontam que esta dupla rotina pode trazer diversos prejuízos biopsicossociais aos indivíduos, visto que, muitos deixam seu descanso de lado para conseguirem concluir com êxito suas atividades diárias, podendo assim elevar seus índices de ansiedade e estresse (Sales., 2020). De acordo com a literatura, os estudantes que precisam se dividir entre estudos, trabalhos e filhos, estão sempre cansados, com falta de tempo e sem disposição para realizar demais atividades voltadas ao seu bem estar físico e emocional. Além de serem pessoas mais propensas a desenvolverem psicopatologias como ansiedade, depressão e estresse excessivo (Borges, Francescato & Hoefel., 2020).

Outras possíveis causas do aumento de estresse e sintomatologia ansiosa em estudantes que possuem tripla jornada, podemos citar, o alto nível de dedicação exigida nas atividades diárias, pouco tempo livre e rotina exaustiva. Ademais, é importante salientar que muitas vezes uma rotina de estudos, trabalho e vida pessoal, pode trazer impactos na saúde, e no desempenho acadêmico e profissional (Sales., 2020).

O estresse entre estudantes universitários também é uma preocupação crescente, com implicações significativas para o bem-estar e desempenho acadêmico dos estudantes. A vida universitária é marcada por uma série de desafios, incluindo pressão acadêmica, transição para um novo ambiente, alta rotina de estudos, essas demandas podem resultar em níveis elevados de estresse (Nogueira et al., 2021).

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (2022), o estresse atinge aproximadamente 90% da população global, sendo considerado um dos principais desencadeadores de doenças físicas e emocionais. De acordo com Margis et al.(2003), o estresse é uma resposta natural do corpo a situações desafiadoras ou ameaçadoras, é um fator biopsicossocial que ajuda na preparação do organismo para lidar com determinadas situações difíceis. É importante salientar que em certos níveis, o estresse não é um fator psicopatológico, porém, quando aparece de forma exagerada é importante averiguar para que não se desenvolva para algum transtorno mental.

Na versão atualizada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5- TR., 2022) o estresse se encontra na categoria “Transtornos Relacionados a Traumas e Estressores”, podendo ser caracterizado como um estado de sofrimento psíquico que ocorre após uma situação estressora intenção. Ademais, Margis et al.(2003) apontam que o estresse pode se tornar patológico quando é persistente, conhecido como “estresse crônico” ele ocorre quando uma pessoa está sempre exposta a situações estressantes ou quando não consegue lidar com seu estresse. O mesmo pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo problemas cardíacos, distúrbios gastrointestinais, problemas com o sono, entre outros. 

Contudo, é importante ressaltar que o estresse e a ansiedade são fatores distintos, o estresse geralmente é uma resposta a pressões ou demandas específicas, de curta duração, e está relacionado a situações temporárias. Já a ansiedade, é uma preocupação excessiva e consistente diante a algo que está por vir (Margis et al., 2003).

Ademais, os autores Duarte et al (2022) ainda afirmam que o estresse e a ansiedade são distúrbios cada vez mais pesquisados atualmente, visto que os índices de pessoas diagnosticadas com o transtorno ou com sintomatologia ansiosa e estresse estão aumentando cada vez mais. Em complemento os autores Afonso Júnior et al (2020) afirmam que a sintomatologia ansiosa e o estresse podem ser algo incapacitante, trazendo diversos prejuízos à vida dos indivíduos. Estudos desenvolvidos na atualidade apontam que a tríade ansiedade, estresse e depressão é algo cada vez mais comum na população, Jardim, Castro e Rodrigues (2020), afirmam que estes transtornos podem aparecer no jovem adulto, contendo intensidade alta de sintomatologia. Além do mais, Borges, Franciscato e Hoefel (2020) apontam que ao início da vida adulta, muitos jovens deparam-se com mudanças significativas em suas vidas e falta de suporte emocional, o que pode elevar os índices de sintomas psicopatológicos.

Com isso, está pesquisa se objetiva a investigar a prevalência e os fatores associados à sintomatologia ansiosa e estressante em estudantes do ensino superior, assim como, compreender se a rotina duplicada de estudos e trabalho pode ser um fator de risco para o aumento destes sintomas e averiguar se os estudantes que estão prestes a entrar no mercado de trabalho são mais ansiosos e estressados do que aqueles que recém ingressaram aos estudos. Para isso as perguntas de partida foram, será que os estudantes do ensino superior possuem altos índices de ansiedade, será que conciliar estudo, trabalho e filhos, pode elevar os sintomas de ansiedade e estresse, por fim, será que os estudantes que se encontram ao final da graduação, são mais ansiosos e estressados do que os acadêmicos que recém ingressaram ao ensino superior. 

Método

Delineamento

Este é um estudo exploratório transversal, realizado a partir de pesquisa de campo, que utilizou da articulação entre as metodologias quantitativa (i.e., para aferir a percepção sobre ansiedade) e qualitativa (i.e., para averiguar as respostas abertas relacionadas à ansiedade e ao estresse) para análise dos dados obtidos. A metodologia quanti-qualitativa possibilitou análise numérica, bem como uma análise mais aprofundada do fenômeno em questão, visto que, pode ser analisado o discurso individual dos participantes sobre o tema. A decisão sobre uma pesquisa exploratória articulando os métodos quanti-quali foi considerada pertinente ao objetivo deste estudo, uma vez que, essa metodologia permitiu um meio de levantamento de dados adequado para responder às hipóteses de pesquisa (Bardein., 1977; Minayo & Sanches., 1993).

Participantes

Participaram deste estudo 128 estudantes de diversas fases dos cursos de graduação de uma faculdade do sul de Santa Catarina, pertencendo às áreas da saúde, exatas, ciências humanas e tecnologia, isto engloba os cursos de: administração (14), arquitetura e urbanismo (05), biomedicina (01), ciências contábeis (08), direito (13), educação física (04), engenharia (04), enfermagem (14), nutrição (13), psicologia (48), sistemas de informação (04). Os contribuintes da pesquisa contemplam ambos os sexos, sendo a prevalência maior do sexo feminino (74.2%), faixa etária diversa, variando entre 18 e mais de 40 anos, a grande maioria não possui filhos (60.6%) e está solteira (o) atualmente (47.7%). Dos 128 participantes da pesquisa, 100 deles trabalham concomitante à faculdade, sendo 62 (48.4%) em período integral e 38 (29.7%) em apenas um turno.

Instrumentos

Utilizou-se o inventário de ansiedade de Beck (BAI), escala desenvolvida por Aaron Beck em 1988, com o intuito de investigar os níveis de ansiedade de seus pacientes, esta escala chegou ao Brasil no ano de 2001, sendo adaptada por Cunha. A mesma possui um questionário de vinte e uma (21) perguntas de múltipla escolha, sobre sintomas ansiosos presentes no sujeito nas últimas semanas. A escala de Beck questiona se o indivíduo sentiu sintomas relacionados à ansiedade, como: falta de ar, taquicardia, sensação de desmaio e/ou sufocamento, formigamento, sudorese, medo de perder o controle de tudo, entre outras. A mesma possui um questionário de vinte e uma (21) perguntas de múltipla escolha, sobre sintomas presentes no sujeito nas últimas semanas. È uma escala de resposta aos itens é do tipo Likert de quatro pontos, variando de 0 (não se aplicou de maneira alguma) a 3 (aplicou-se muito ou na maioria do tempo), a escala apresentou um α = .95, indicando bons valores de fidedignidade.

Utilizou-se também, um questionário sociodemográfico com o objetivo de fazer o levantamento de informações referentes à idade, gênero, estado civil, se possui filhos (e quantidade), local de residência, área de estudo, entre outras. Além disso, aplicou-se um questionário qualitativo desenvolvido pelas autoras, que contou com questões fechadas e abertas sobre situações de vida, como, por exemplo, “Seus familiares são pessoas ansiosas e estressadas”, “Em qual local você sente mais sintomas relacionados à ansiedade e ao estresse”, entre outras questões relacionadas, com o intuito de responder às hipóteses de pesquisa. 

Procedimentos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa em Seres Humanos da ESUCRI – Escola Superior de Criciúma, através do CAAE: 72970323.6.0000.5356, todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), cuja aceitação foi obrigatória para participação no estudo. Conforme a Resolução CNS 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, o TCLE garante sigilo e privacidade dos dados, podendo o participante solicitar informações durante todas as fases da pesquisa, inclusive após a publicação dos dados obtidos. Os participantes responderam à pesquisa de forma voluntária, não havendo em nenhum momento a oferta de qualquer incentivo financeiro ou outro. Além disso, houve garantia de anonimato, bem como foram dadas orientações referentes à condução do estudo.

A coleta de dados ocorreu no período de 23 de agosto de 2023 á 06 de setembro do mesmo ano, através de um formulário elaborado na ferramenta do Google forms, divulgado pelo método Snowball (i.e., bola de neve, técnica de amostragem para pesquisa de grupos) e disponibilizado por meio das redes sociais Instagram e WhatsApp. Após a coleta, os dados foram inseridos no Excel e transferidos para a plataforma IBM SPSS Statistics software (v. 21, An IBM Company SPSS, Chicago, IL), para obtenção dos resultados da análise. Quanto a confiabilidade o estudo apresentou Alfa Cronbach α = .95, indicando bons valores de fidedignidade.

Fidelidade de Escala e Análise de Itens

Para estudar a fidelidade da Escala BAI, o SPSS-21, a fim de encontrar a média e desvio padrão, analisar a consistência interna e determinar os índices de alfa, foram encontrados os valores médios e de desvio padrão para cada item (Tabela 1). A média mais baixa foi (Você sentiu medo de morrer?) SD = .78. A média mais elevada foi (Você se sentiu nervoso) SD = .85. No que refere-se ao total da escala, a mesma apresenta um conjunto de itens com M = .88 e SD = 2.04.

Tabela 1. 

Média e Desvio Padrão dos resultados em itens, considerando a amostra total (N = 180).

Fonte: Desenvolvida pelas autoras.

Na Tabela 2, esta análise também encontrou outros dados estatísticos relevantes através da confiabilidade como, por exemplo: média, SD (i.e., desvio padrão). Utilizou-se o teste Kaiser-Meyer-OlkinMeasureofSamplingAdequacy, o qual apresentou índice de. 87. Chi-Square de 1645.09, Bartlett’s Test of Sphericitydf 210 e sig de 0.00. Para estudar a validade interna da escala, foi aplicada a análise fatorial confirmatória (Marôco, 2014). No entanto, os resultados não apontam para um fator abaixo de. 40. A saturação de cada item da escala é apresentada a seguir:

Tabela 2. 

Análise fatorial confirmatória

Fonte: Desenvolvida pelas autoras.

Resultados

Para analisar a relação entre as hipóteses de pesquisa e o BAI (i.e., Inventário de ansiedade de Beck) utilizou-se um teste não paramétrico para amostras independentes (Independent-Samples Median Test) a fim de analisar o nível de significância de cada constructo. Na análise da relação dos dados sociodemográficos com a escala BAI tivemos um Sig= .00, p ≤ .01 não sendo significativo, rejeitando a relação entre ansiedade e idade. Já em relação ao gênero e ansiedade tivemos uma semelhança significativa com um Sig = .08, p ≥ .05; o mesmo ocorreu em relação ao estado civil com Sig = .05, p ≥ .05; e região onde reside com um Sig= .82, p ≥ .05. Em relação à presença de filhos houve um nível de significância entre os participantes que possuem e a ansiedade com Sig = .39, p ≥ .05.

No que concerne a área de atuação, também obtivemos um número significativo entre ansiedade e área de estudo Sig = .10, p ≥ .05. Já o curso escolhido e ansiedade tivemos um nível de significância de Sig = .32, p ≥ .05.Quanto à fase da graduação em que se encontram, o nível de relação com a ansiedade foi significativo Sig = .92, p ≥ .05. Já na relação entre trabalho concomitante aos estudos tivemos um nível significativo de ansiedade Sig = .23, p ≥ .05.

Com a análise dos dados sociodemográficos relacionados com as perguntas quantitativas, observou-se que, os participantes do estudo possuem índices de ansiedade bastante elevados, entre os principais sintomas presentes nos participantes podemos citar: nervosismo, incapacidade de relaxar, sensação de calor e taquicardia. Entre a sintomatologia menos presente nos participantes, encontra-se o medo de morrer e os tremores. 

Ademais, os contribuintes contemplam ambos os sexos, sendo a maior parte composta por mulheres (74.2%), faixa etária diversa, variando entre 18 e mais de 40 anos, a grande maioria não possui filhos (60.6%). Dos 128 participantes da pesquisa, 100 deles trabalham concomitante à faculdade, sendo 62 (48.4%) em período integral e 38 (29.7%) em apenas um turno. Analisou-se que 63 (49.2%) dos participantes são casados, e 61 (47.7%) estão solteiros, sendo que a grande maioria dos participantes 101 (78.9%) supõem que seus familiares são pessoas ansiosas e estressadas. Além disso, 99 pessoas responderam que se consideram ansiosos e estressados, 13 participantes qualificam-se como pouco ou não ansiosos e estressados, e os outros 16 contribuintes responderam que depende muito da situação. 

Os participantes residem na região da AMREC (i.e., Associação dos Municípios da Região Carbonífera), e da AMESC (i.e., Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense) sendo 61.1% e 38.9%, respectivamente. Quando questionado aos participantes em qual local eles sofrem mais sintomas associados à ansiedade e ao estresse, a grande maioria 37% (47) respondeu na faculdade, seguido por no trabalho 30.7% (39) e em casa 25.2% (32), os demais responderam de forma mais abrangente, podendo variar muito de acordo com a situação, ou quando há algum tipo de pressão, como provas e trabalhos, sendo colocados na categoria “outros”, contendo 09 respostas.  

Analisou-se também, que entre os alunos que estão no final da graduação, 43 deles se sentem preparados para ingressar ao mercado de trabalho, dentro de sua área de estudo, já 10 dos participantes dizem estar com certo receio para algumas possíveis demandas, e 27 responderam que não se sentem seguros para ingressar ao trabalho na área. Dos contribuintes da pesquisa, 119 afirmaram que o ensino superior pode ser um fator desencadeador de estresse e ansiedade, por ser um local onde exige altos níveis de exigência e pressão pessoal, apenas 06 participantes informaram que não consideram o ensino superior uma possível causa de ansiedade. 

Dos estudantes que contribuíram com a pesquisa, 27 informaram que se sentiram mais ansiosos nas fases iniciais do curso, principalmente na primeira fase, por ser o início de um sonho e/ou um retorno aos estudos. Todavia, 43 pessoas responderam que as fases finais são as mais propensas a desenvolverem sintomatologia ansiosa e estresse, a realização dos estágios obrigatórios e do trabalho de conclusão de curso (TCC) são os principais fatores para isso, ademais, 31 estudantes afirmaram que se sentiram ansiosos e estressados ao decorrer de todo o curso, tendo sintomas quando há provas, trabalhos e apresentações. 

Discussão

O presente estudo teve como objetivo investigar a prevalência e os fatores associados a sintomas ansiosos e ao estresse em estudantes de uma faculdade do sul de Santa Catarina. Tendo alguns resultados similares ao estudo realizado por Santiago e Colaboradores (2021), sendo a maioria dos participantes do sexo feminino com altos índices de sintomatologia ansiosa, reafirmando que há uma grande significância entre gênero e ansiedade elevada, sendo as mulheres com predominância maior. 

O presente estudo possui relação com a pesquisa realizada por Moreira, Melo e Jorgetto (2022), na qual apontou que a minoria (28.3%) dos jovens universitários possui filhos, porém, também foi constatado que a presença dos filhos é um fator significativo para o aumento de sintomas relacionados ao estresse (69,1) e a de ansiedade 63.7%. 

Os participantes que trabalham concomitante aos estudos, possuem altos índices de ansiedade, sendo esse um dos nossos maiores índices de significância encontrado, o que vai ao encontro de estudos como de Jardim, Castro e Ferreira-Rodrigues em 2020, quando ele investiga estresse, depressão e ansiedade em seus estudo realizado com estudantes de uma universidade pública de Pernambuco, na qual averiguo que grande parte dos acadêmicos (94.9%) não possuíam estabilidade financeira, e não conseguiam se sustentar, em razão de estarem cursando o ensino superior, não conseguindo conciliar estudos e trabalho, já que esta jornada duplicada eleva os índices de exigência pessoal, juntamente com sintomas associados ao estresse e ansiedade. Averiguou-se que geralmente os acadêmicos necessitam do auxílio de seus familiares para conseguirem conciliar suas diversas atividades. 

Entre os contribuintes da vigente pesquisa, a maioria se sente mais ansioso e estressado nas fases finais da graduação, visto que é uma fase marcada pela realização de estágios práticos e do TCC (i.e. Trabalho de Conclusão de Curso). A pesquisa desenvolvida em 2021 por Silveira e Colaboradores, aponta que aproximadamente 50%dos acadêmicos ficam mais ansiosos neste período, pois estão atuando diretamente com a prática, no caso dos estudantes das áreas da saúde, estão lidando com a saúde de outros indivíduos, o que deixa os acadêmicos mais estressados e ansiosos.

Alguns contribuintes da presente pesquisa informaram não estarem preparados para ingressar ao mercado de trabalho após a conclusão dos estudos, pois presumem que não saberão lidar com diversas situações que podem aparecer no cotidiano, acreditando que as aulas não foram suficientes para encararem a prática. A pesquisa desenvolvida por Jardim, Castro e Ferreira-Rodrigues (2020), aponta que 43 dos 410 participantes não sentiram satisfação com o curso em que escolheram, e 248 já pensaram em desistir em algum momento, sendo mais uma possível causa da falta de bem estar dos acadêmicos. Contudo, esta pesquisa também informa que a maior parte dos estudantes (360) sente-se satisfeitos com o que estão cursando, e 248 nunca pensaram em desistir.

A grande maioria dos estudos referentes à temática, não aponta nenhuma relação entre local de residência associado a sintomas envolvendo a ansiedade. Todavia, o presente estudo apontou que os estudantes que residem muito distante da faculdade sentem-se mais estressados e ansiosos. Visto que, muitos estudantes perdem tempo se locomovendo até a instituição, tendo que adaptar suas rotinas e enfrentar congestionamentos para conseguirem chegar a tempo na faculdade.

Considerações Finais

Diante dos resultados obtidos podemos concluir que a prevalência de sintomatologia associada à ansiedade é significativamente elevada nos acadêmicos do ensino superior. Principalmente, quando relacionadas às questões sociodemográficas, como gênero, trabalho concomitante aos estudos, presença de filhos, fase e área da graduação em que se encontram. Concluiu-se que as mulheres são mais propensas a desenvolver sintomas associados à ansiedade com altos índices de significância. Contudo, foi identificada grande prevalência de sintomas psicopatológicos em estudantes que possuem dupla, ou até tripla jornada diária, sendo apresentados valores elevados de ansiedade e estresse nos acadêmicos que estudam, trabalham e têm filhos. 

Ademais, também foi constatado que a fase em que os acadêmicos se encontram possuem grande relevância com o aumento da sintomatologia ansiosa. Sendo observado que muitos estudantes sentem-se mais pressionados nas fases finais do curso, já que, neste período as demandas acadêmicas estão mais elevadas. Por fim, podemos constatar que o ensino superior é um ambiente na qual os acadêmicos estão propensos a desenvolverem sintomas psicopatológicos, pois, se encontram em um local onde demanda altos níveis de dedicação e exigência pessoal, muitas vezes os estudantes não conseguem lidar com isso, pois precisam conciliar sua rotina de estudos com sua vida pessoal e profissional. 


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMESC Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense

AMREC Associação dos Municípios da Região Carbonífera

BAI Inventário de Ansiedade de Beck

CAAE Certificado de Apresentação de Apreciação Ética

CNS Conselho Nacional de Saúde

DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

ESUCRI Escola Superior de Criciúma

IBM International Business Machines Corporation

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

M. Média

N. Número

OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMS Organização Mundial da Saúde

SD Standard Deviation (Desvio Padrão)

SIG Significance

SPSS Statistical Package For the Social Science

TAG Transtorno de Ansiedade Generalizada

TCC Trabalho de Conclusão de Curso 

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 

Referências

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1https://orcid.org/0009-0007-4793-1936 – Escola Superior de Criciúma, Brasil – ESUCRI. ericaleticia0@gmail.com