PREVALÊNCIA E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DA SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE: UM ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10658561


Andreza Holanda de Oliveira Pinheiro1
Carlos Cunha Oliveira1
Carmen Françuasy Martins Nascimento1
Daniella Christina Valença1
Charles Alberto villacorta de Barros1
Daniella Christina Valença1
Charles Alberto villacorta de Barros1
Rodrigo da Silva Dias1
Herick Pampulha Huet de Bacelar1
José Antonio Cordero da Silva2
Edson Yuzur Yasojima1
⁠Renata de barros braga1
⁠Rafael oliveira chaves1


RESUMO

As diversas situações que o profissional da saúde enfrenta podem levar a um alto nível de estresse, diminuição de satisfação no ambiente de trabalho e declínio na saúde mental e física destes profissionais, com o risco de desenvolver a síndrome psicológica de esgotamento profissional ou Burnout. O objetivo deste estudo foi relatar a prevalência e as estratégias de enfrentamento da síndrome de Burnout em profissionais de saúde. Trata-se de uma revisão bibliográfica, realizada no período de dezembro de 2020 a janeiro de 2021 e foram utilizados artigos publicados nos últimos 5 anos. Como resultados, foram encontrados 65 artigos, após aplicação dos critérios de inclusão, foram excluídos 24, totalizando 41 artigos para compor os resultados. A maioria dos estudos utilizou como base o Inventário Burnout de Maslach que foi projetado para avaliar a Síndrome de Burnout, os estudos demonstram que os alunos entram na área médica com taxas relativamente baixas de burnout (17%), e progride durante escola de medicina. Mulheres norte americanas mostraram ter 1,6 vezes mais probabilidade de desenvolver a síndrome em comparação aos homens. A descrição de que as mulheres também tiveram pontuações mais altas de burnout é consistente com a observação de que a insatisfação com equilíbrio entre vida pessoal e profissional é comum em médicas. Uma explicação pode ser que as mulheres costumam assumir maiores responsabilidades em casa. Concluímos que mais estudos prospectivos e longitudinais são necessários para determinar especificamente as causas do burnout e identificar os instrumentos específicos para medir o bem-estar do médico.

1. INTRODUÇÃO

As diversas situações que o profissional da saúde enfrenta, podem levar a um alto nível de estresse, sendo este um assunto importante a ser discutido, tendo em vista que o estresse pode levar a uma diminuição de satisfação no ambiente de trabalho e declínio na saúde mental e física destes profissionais, com o risco de desenvolver a síndrome psicológica de esgotamento profissional ou burnout. (1)

Segundo a Classificação Internacional de Doenças- 11a Revisão o burnout é descrito como uma síndrome ocasionada por níveis elevados de estresse no ambiente de trabalho, caracterizado por três componentes principais, sendo estes: alta exaustão emocional (EE), alta despersonalização (DP) e baixa realização pessoal (RP).(2)

Com isto, o profissional quando é inserido no ambiente de trabalho está sujeito a passar por desgastes físicos e mentais, o que pode ocasionar problemas psicológicos e comportamentais, caso haja insatisfação no cumprimento de suas tarefas, sendo este um dos motivos para desenvolver a síndrome de burnout. (3)

A ocorrência de novos problemas de saúde, o surgimento de doenças emergentes com diferentes manifestações clínicas e epidemiológicas necessita de uma dinâmica diferenciada para o enfrentamento e a colaboração interdisciplinar. (4)

A síndrome de burnout traz consequências indesejáveis tanto para o profissional quanto para o paciente e a instituição. Sendo assim, torna-se de extrema importância que sejam desenvolvidas estratégias para o enfrentamento desta doença com a finalidade de atenuar os problemas existentes no ambiente de trabalho, diminuir as dificuldades, dar suporte aos trabalhadores, propiciando-lhes melhores condições de vida dentro e fora da organização. Isso irá melhorar a qualidade do serviço prestado ao paciente. (5)

As estratégias de enfrentamento são habilidades desenvolvidas para dominar possíveis situações de estresse ou que necessitem de adaptação. Tais manobras são usadas para remover ou minimizar as influências do agente estressor, tornar toleráveis as circunstâncias ou eventos desagradáveis, adaptar o organismo ao meio, conservar uma autoimagem positiva e continuar se relacionando satisfatoriamente com as pessoas. (6)

Por tanto, o objetivo deste estudo foi relatar a prevalência e as estratégias de enfrentamento da síndrome de Burnout em profissionais de saúde. Para isso foi realizada uma revisão bibliográfica utilizando as bases de dados eletrônicas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada uma revisão bibliográfica, utilizando as bases de dados eletrônicas: Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletrônic Library Online (SCIELO), National Library of Medicine (PUBMED), Biblioteca Virtual em Saúde e Medline. Utilizaram-se os descritores: “Profissional de Saúde”; “Doenças Emergentes”; “Síndrome de Burnout” e “estratégias de enfrentamento”, encontrados no DeCS, da Biblioteca Virtual em Saúde da Organização Panamericana da Saúde.

2.1 BUSCA ELETRÔNICA NAS BASES DE DADOS

Para a busca dos artigos, os descritores adotados foram de forma individual e/ou combinada, em inglês, dentre eles: “Health Personnel”; “Communicable Diseases, Emerging”; “Burnout, professional”, “coping strategy”. Os descritores foram pesquisados nas bases de dados SciELO, Lilacs e Bireme/BVS. A busca foi realizada no período de dezembro de 2020 a janeiro de 2021.

2.2 SELEÇÃO DOS ESTUDOS E EXTRAÇÃO DE DADOS

Critérios de inclusão

1) Estudos originais que relataram a incidência de profissionais de saúde acometidos pela síndrome de Burnout;

2) Estudos originais que relataram a atuação dos profissionais da saúde no enfrentamento de doenças emergentes e que citem o tipo de atividade desenvolvida nesse contexto.

3) Artigos publicados no período de 2015 a 2020.

Critérios de exclusão

1)  Estudos que não sejam nos idiomas de português, inglês e espanhol.

2) Artigos que não abordaram a temática proposta do estudo; artigos não disponibilizados na íntegra.

3. RESULTADOS

A busca realizada nas bases de dados com os descritores, originou o total de 65 artigos encontrados, sendo 20 artigos na base de dados Scielo, 10 no Lilacs, 14 artigos na Bireme/BVS, 15 artigos na base de dados do PUBMED e 6 artigos no Medline. Considerando o recorte, foram excluídos 24 artigos, de acordo com os demais critérios de inclusão e exclusão, foram analisados 41 artigos (Figura 1).

Figura 1– Fluxograma

4. DISCUSSÃO

Em estudo publicado no The Journal of the American Medical Association – JAMA em 2018 envolvendo 109.628 médicos em 45 países demonstrou notável variabilidade em estimativas de prevalência de burnout publicadas, com estimativas variando de 0% a 80,5%, refletindo a heterogeneidade marcante nos critérios usados ​​para definir e medir burnout na literatura, com pelo menos 142 definições distintas para definir o esgotamento geral ou critérios de subescala identificados. (10)

A maioria dos estudos utilizaram como base o Inventário Burnout de Maslach (MBI) que foi projetado para avaliar a Síndrome de Burnout, o qual descreve em 3 causas bases: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. (10)

Burnout é uma doença social relacionado à sobrecarga de trabalho, falta de tempo, falta de gestão no local de trabalho, com baixos níveis de produção pessoal, má qualidade de comunicação no trabalho, e recompensas insuficientes. Esses fatores são difíceis de controle porque lidam com a organização das instituições e suas disponibilidades econômicas. (7)

      As características de personalidade parecem desempenhar um papel fundamental no burnout, e o perfil de personalidade de alto risco é caracterizado por alto neuroticismo, baixa agradabilidade, introversão, e afetividade negativa. (7)

Burnout é o resultado de uma interação complexa entre estressores ambientais, vulnerabilidades genéticas e estilos de enfrentamento. Isso leva à exaustão emocional, despersonalização, e uma sensação de baixa auto-estima e realização pessoa. (7)

Diferentemente da depressão, o conceito burnout evita associar o conceito de doença as respostas emocionais dos trabalhadores para seus empregos. Compreendendo os profissionais de saúde como trabalhadores com queimaduras, em vez de pacientes com depressão, podemos ajudar a individualizar os fatores ambientais e culturais que podem afetar negativamente seu bem-estar e com isso incentivar a implementação de reformas estruturais que podem complementar o atendimento clínico em forma de psicoterapia e medicação. (10)

Uma das profissões mais afetadas pelo Burnout é a área da saúde. Estudos demonstram que os alunos entram na área médica com taxas relativamente baixas de burnout (17%), e progride durante escola de medicina. (9)

Trabalhos realizados com estudantes americanos: acadêmicos de medicina, residentes e médicos recém-formados, demonstram alta incidência de sintomas relacionados ao Burnout como depressão, ideação suicida e baixo senso de realização pessoal foram mais prevalentes durante a escola de medicina e em seguida, diminuiu gradativamente com cada estágio da carreira. Sintomas sugestivos de esgotamento geral, alta despersonalização e alta fadiga foram mais prevalentes durante a residência e menos incidentes em médicos recém-formados, assim com a exaustão emocional. (12)

Mulheres norte americanas mostraram ter 1,6 vezes mais probabilidade de relatar burnout em comparação aos homens. O mesmo autor também afirma que a média a renda relatada para médicas foi menor do que para seus colegas do sexo masculino. (7)

A descrição de que as mulheres também tiveram pontuações mais altas de burnout é consistente com a observação de que a insatisfação com equilíbrio entre vida pessoal e profissional é comum em médicas. Uma explicação pode ser que as mulheres costumam assumir maiores responsabilidades em casa. (10)

De acordo com trabalhos realizados na França com 3196 médicos, médicos de emergência são os mais predispostos a burnout atingindo 51,5% em comparação com 42,5% encontrado entre outras especialidades. (7)

Resultados semelhantes foram encontrados em médicos intensivistas italianos, com pediatras relatando o nível mais baixo de burnout e maior taxa de satisfação no trabalho. Oncologistas tendem a experimentar níveis mais elevados de burnout em comparação com outros. Médicos com altos níveis de estresse mostram níveis mais elevados de neuroticismo. (7)

Curiosamente, uma comparação entre os mais compassivos e empáticos médicos e outros médicos revelou que os médicos do grupo compassivo-empático são mais jovens, têm menos anos na prática médica e pontuam mais alto em pró-social, não estereotipando atitudes em relação aos pacientes e nas medidas de empatia, mas relatam mais exaustão emocional do que outros médicos. (7)

Direções futuras dada a falta de um consenso claro entre os estudos incluídos nesta revisão, os pesquisadores que estudam o burnout devem considerar as limitações associadas ao conceito e sua medição. (10)

5. CONCLUSÃO

Burnout tornou-se um problema e um desafio para a saúde pública. Infelizmente, a síndrome não possui consenso clínico e diagnóstico definido. (7,8,10,11)

A única certeza sobre burnout é o prejuízo causado ao profissional, à instituição e ao paciente. As situações de risco devem ser identificadas e medidas preventivas medidas devem ser implementadas precocemente para evitar danos futuros. Concluímos que mais estudos prospectivos e longitudinais são necessários para determinar especificamente as causas do burnout e identificar os instrumentos específicos para medir o bem-estar do médico.

Mudanças no padrão administrativo e gerencial do local de trabalho que promovam o bem-estar melhorem o atendimento e a satisfação do paciente devem ser pesquisados.

É importante ressaltar que o bem-estar pode depender de diferentes variáveis ​​e, portanto, são necessários estudos com foco específico em diferentes nichos populacionais.  A equipe que trabalha em ambientes de cuidados intensivos e no tratamento de doenças oncológicas é particularmente mais afetada.  (7,8,10,11)

Há evidências de meta-análises de que as questões organizacionais precisam ser abordadas, bem como as individuais, mas as estratégias mais eficazes para aplicar em cada indivíduo dual ainda precisam ser estabelecidas. Mais estudos são necessários para avaliar a eficácia das diferentes opções terapêuticas. (7,8,10,11)

REFERÊNCIA

1. Sanfilippo Filippo, et al. Prevalência de burnout entre médicos atuantes em terapia intensiva: uma revisão sistemática. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2020 May 25;

2. CID

3. Telles Stela, Pimenta Ana Maria. Síndrome de Burnout em Agentes Comunitários de Saúde e Estratégias de Enfrentamento. Saúde Soc. 2009 Apr 14;18:467-478.

4. Pignatti Marta. Saúde e ambiente: as doenças emergentes no Brasil. Revista Ambiente & Sociedade. 2003 Nov 21;7

5 – Estratégias e intervenções na síndrome de Burnout

6 – Silva R. P., Barbosa S. C., Silva S. S., Patrício D. F. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 67 (1): 130-145

7- Intervention for physician burnout: A systematic review. Brenda K Wiederhold, Pietro Cipresso, Daniele Pizzioli, Mark Wiederhold, Giuseppe Riva. 2017.

8- Burnout in Healthcare Workers: Prevalence, Impact and Preventative Strategies. Artigo publicado em Dove Press journal: Local and Regional Anesthesia Local and Regional Anesthesia. 2020.

9- Temporal Trends in Medical Student Burnout, Maggie W. Hansell, MD; Ross M. Ungerleider, MD, MBA; Courtney A. Brooks, BA; Mark P. Knudson, MD, MSPH; Julienne K. Kirk, PharmD; Jamie D. Ungerleider, PhD, MA, LCSW. 2019.

10- Prevalence of Burnout Among Physicians A Systematic Review Prevalence of Burnout Among Physicians. Lisa S. Rotenstein, MD, MBA; Matthew Torre, MD; Marco A. Ramos, MD, PhD; Rachael C. Rosales, MD; Constance Guille,MD, MSCR; Srijan Sen, MD, PhD; Douglas A. Mata, MD, MPH. 2018. 

11- Physician burnout: contributors, consequences and solutions . C. P. West , L. N. Dyrbye1 & T. D. Shanafelt. 2018.

12- Self-care as a professional imperative: physician burnout, depression, and suicide. C. P. West1,2 , L. N. Dyrbye1 & T. D. Shanafelt. 2016.

13- Executive Leadership and Physician Well-being: Nine Organizational Strategies to Promote. Tait D. Shanafelt, MD, and John H. Noseworthy, MD, CEO. 2017

14- Relationship Between Clerical Burden and Characteristics of the Electronic Environment With Physician Burnout and Professional Satisfaction Tait D. Shanafelt, MD; Lotte N. Dyrbye, MD, MHPE; Christine Sinsky, MD; Omar Hasan, MBBS, MPH; Daniel Satele, MS; Jeff Sloan, PhD; and Colin P. West, MD, PhD. 2016

15- Understanding the burnout experience: recent research and its implications for psychiatry. Christina Maslach1, Michael P. Leiter.2016.

16- Depression-Burnout Overlap in Physicians. Walter Wurm1*, Katrin Vogel1, Anna Holl1, Christoph Ebner1, Dietmar Bayer1, Sabrina Mörkl1, Istvan-Szilard Szilagyi2, Erich Hotter3, Hans-Peter Kapfhammer1, Peter Hofmann1. 2016.

17- Impact of Organizational Leadership on PhysicianBurnout and Satisfaction. Tait D. Shanafelt, MD; Grace Gorringe, MS; Ronald Menaker, EdD; Kristin A. Storz, MA; David Reeves, PhD; Steven J. Buskirk, MD; Jeff A. Sloan, PhD; and Stephen J. Swensen, MD.2015.

18- Burnout Among U.S. Medical Students, Residents, and Early Career Physicians Relative to the General U.S. Population . Liselotte N. Dyrbye, MD, MHPE, Colin P. West, MD, PhD, Daniel Satele, Sonja Boone, MD, Litjen Tan, MS, PhD, Jeff Sloan, PhD, and Tait D. Shanafelt, MD. 2014.


1UEPA (Universidade do Estado do Pará)

2Docente do Mestrado Profissional em Cirurgia e Pesquisa Experimental (CIPE-UEPA)

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