PREVALENCE OF CARDIOVASCULAR RISK IN PSYCHIATRIC PATIENTS ATTENDED AT THE CEUMA UNIVERSITY OUTPATIENT IN IMPERATRIZ FROM 2020 TO 2023
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202502102006
Enedino Pinheiro Danda¹; Giovanna Furlaneto Freire²; Mirela de Sousa Pimentel²; Thaís Marques Moreira Rego²; Miguel Emilio Sarmiento Gener³; Jocélia Martins Cavalcante Dantas⁴.
Resumo
As doenças crônicas estão se tornando um grave problema de saúde pública no Brasil, afetando uma grande parcela da população, com destaque para condições como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, obesidade e síndrome metabólica, todas relacionadas a complicações cardiovasculares. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca a depressão como uma das doenças mais incapacitantes globalmente, incluindo 300 milhões de afetados. Este estudo teve como objetivo caracterizar a prevalência da estratificação de risco cardiovascular em pacientes psiquiátricos atendidos no ambulatório da Universidade CEUMA em Imperatriz, MA, através de um estudo epidemiológico observacional descritivo. Os dados foram coletados de prontuários de 15022 pacientes no período de fevereiro de 2020 a agosto de 2023, com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa e utilizando a calculadora de risco cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Com um intervalo de confiança de 99% e margem de erro de 1,5%, foi obtida uma amostra mínima de 4957 prontuários, sendo avaliados 51 ao final. Os resultados mostraram predominância do gênero feminino (82,93%) com idades entre 30 e 84 anos, evidenciando hipertensão e diabetes como os fatores de risco mais comuns. Embora apenas 3 fumantes foram identificados, todas eram mulheres com transtornos depressivos e/ou de ansiedade. Aproximadamente 44% dos pacientes estavam classificados como alto risco cardiovascular, com maior incidência de transtorno de ansiedade generalizada e transtorno depressivo maior. A pesquisa conclui que é fundamental um manejo especial do risco cardiovascular nesses pacientes, com a necessidade de acompanhamento laboratorial e metabólico, visando um plano terapêutico individualizado que garanta anos a mais de vida e melhore a qualidade de vida.
Palavras-chave: Transtornos Mentais. Risco Cardiovascular. Prevalência.
1 INTRODUÇÃO
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) especialmente as doenças cardiovasculares – hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, obesidade e a síndrome metabólica, são um sério problema de saúde pública por elevarem os custos/despesas da assistência ambulatorial e/ ou hospitalar e apresentarem elevadas taxas de mortalidade, sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Dados do DATASUS sobre mortalidade no Brasil pelo grupo CID 10: Diabetes mellitus, Doenças hipertensivas mostram 38.007 óbitos, e pelo Grupo CID-10: Distúrbios metabólicos, 6640 óbitos somente no ano de 2022, estando o Maranhão entre os seis Estados que mais declararam mortes por essas causas.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (Departamento de Aterosclerose), orienta a estratificação de risco cardiovascular de indivíduos predisponentes, através do escore de risco global (ERG) de Framingham, a fim de se fazer prevenção efetiva e medidas terapêuticas assertivas, uma vez que o escore estima em 10 anos o risco de o indivíduo apresentar eventos coronarianos, cerebrovasculares, doença arterial periférica ou insuficiência cardíaca (IC). Concomitante, a prevalência de doenças psiquiátricas é uma realidade, entre 20% e 25% (Brunoni, 2022).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2022) quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019 e que depressão e ansiedade aumentaram mais de 25% no primeiro ano de pandemia. Mundialmente, 300 milhões de pessoas são afetadas pela depressão, 60 milhões por transtorno afetivo bipolar e 23 milhões por esquizofrenia, sendo o transtorno depressivo uma das principais causas de incapacidade em todo mundo. Não obstante, a doença cardiovascular (DCV) e a depressão têm estreita relação, aponta-se como sendo a DCV uma comorbidade frequente, bem como maior mortalidade por evento cardiovascular em indivíduos com transtornos psiquiátricos, especialmente nos depressivos (SCHUH, 2020).
Dada a magnitude dos distúrbios cardiovasculares e psiquiátricos e sua interrelação, este estudo tem como foco identificar a prevalência do risco cardiovascular utilizando o escore de Framingham nos pacientes psiquiátricos atendidos no ambulatório da Universidade CEUMA em Imperatriz, MA, nos anos de 2020 a 2023.
1.1 Problema da pesquisa
Sabe-se que há estreita relação entre doenças cardiovasculares e transtornos psiquiátricos, mas tal relação aplica-se aos pacientes atendidos no ambulatório da Universidade CEUMA de Imperatriz-MA?
E, ao aplicarmos o escore de risco global (ERG) de Framingham, qual a classificação de risco (baixo, intermediário ou alto) de o indivíduo apresentar eventos coronarianos, cerebrovasculares, doença arterial periférica ou insuficiência cardíaca (IC) em 10 anos?
1.2 Justificativa
As doenças cardiovasculares e os transtornos psiquiátricos são grandes problemas de saúde pública, ambas são causas comuns de incapacidade e de mortalidade, sendo os eventos cardiovasculares uma das comorbidades mais relacionadas com a depressão. Nesta seara, este estudo epidemiológico observacional descritivo e transversal, singular, factível de ser executado, é extremamente relevante uma vez que, ao se conhecer o perfil dos pacientes com transtorno psiquiátrico atendidos no ambulatório da universidade CEUMA de Imperatriz-MA e sua probabilidade de desenvolver doença cardiovascular, através da aplicação do ERG de Framingham, possibilitará a aplicação de um plano terapêutico individualizado e com metas claras e objetivas afim de se evitar eventos cardiovasculares não desejados e acrescentar anos de vida e qualidade para estes pacientes, além disso, este é um estudo piloto, uma novidade, com base de dados bem trabalhada, que servirá de referência para pesquisas posteriores, bem como propagar informações sobre o tema abordado.
1.3 Hipóteses
- Os pacientes psiquiátricos apresentam maior prevalência de risco de doenças cardiovasculares? Quais hábitos de vida estão implicados e sua estratificação?
- Quais doenças mentais são mais prevalentes entre os pacientes atendidos no ambulatório da universidade CEUMA Imperatriz-MA?
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Primário (geral)
Caracterizar a prevalência da estratificação de risco cardiovascular dos pacientes psiquiátricos atendidos no ambulatório da Universidade CEUMA em Imperatriz, MA, no período de fevereiro de 2020 a Agosto de 2023.
2.2 Objetivos Secundários (específicos)
- Identificar a prevalência dos fatores de risco e estratificá-los segundo a escala de Framingham;
- Estimar a prevalência de risco cardiovascular a nível de Imperatriz e região.
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo epidemiológico observacional descritivo e transversal através da análise documental, cujo dados foram coletados das informações disponíveis nos prontuários dos pacientes atendidos na especialidade de psiquiatria no ambulatório da universidade CEUMA da cidade de Imperatriz, Maranhão, no período de Fevereiro de 2020 a Agosto de 2023. Utilizamos como instrumento para a coleta de dados um formulário semiestruturado, o qual foi preenchido de acordo com as informações da análise documental (prontuário médico). Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Plataforma Brasil e qualificada em banca no V Simpósio de Educação e saúde Médica sendo aprovado em ambos. A coleta de dados ocorreu após a qualificação deste projeto, e com as devidas correções e orientações sugeridas pela banca avaliadora.
3.2 Ambiente da pesquisa
A pesquisa foi realizada no Ambulatório da Universidade CEUMA Imperatriz, MA, mediante a autorização do responsável pelo ambiente (coordenador) através da carta de aceite, assinada.
3.3 Quantificação da população alvo a ser analisada.
Sabendo-se que foi atendido 15.022 pessoas no ambulatório do Ceuma em diversas especialidades e estas organizadas em caixas contendo no máximo 150 prontuários de forma aleatória, foi realizado o cálculo de amostra considerando um intervalo de confiança de 99% e uma margem de erro de 1,5% conforme a Imagem X. Chegou-se a conclusão que a amostra necessária a ser analisada era de 4.957 prontuários. Calculo para tamanho de amostra conforme abaixo.
Figura 1: Fórmula do tamanho da amostra.
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3.4 Participantes da pesquisa
A população analisada foi de 5000 pacientes atendidos no período de Fevereiro de 2020 a Agosto de 2023 no ambulatório da universidade CEUMA Imperatriz e após análise documental e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, chegando a amostra de 51 prontuários que se enquadraram nos critérios de inclusão desta pesquisa.
3.5 Critérios e inclusão e exclusão
Inclusão: Todos os pacientes atendidos na especialidade de psiquiatria, cardiologia ou endocrinologia no período de Fevereiro de 2020 a Agosto de 2023 e que tenham pelo menos 1 (um) diagnóstico de doença mental, descrito em prontuário médico. Ainda, foi incluídos apenas os pacientes que tenham em registro no prontuário de gênero, idade, high density lipoproteins cholesterol (HDL- c), colesterol total (CT), pressão arterial sistólica (PAS) e se é tratada ou não com medicamentos, se o mesmo é ou nega tabagismo e diabetes.
Exclusão: Foi excluído da pesquisa os prontuários que não possuíam as informações descritas nos critérios de inclusão a qual são necessários para aplicação no Escore de Risco Global de Framingham e que não possuam diagnóstico de transtorno psiquiátrico descrito em prontuário. Também, foram excluídos os pacientes que possuem os dados laboratoriais de HDL-c e CT antes do diagnóstico psiquiátricos como também aqueles que não realizavam o uso da medicação psicotrópica prescrita.
3.6 Riscos e benefícios
Riscos: A Resolução CNS/MS № 466/12 – Diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas envolvendo seres humanos, versa em seu capítulo V.1, alínea a que o risco se justifique pelo benefício esperado, no entanto, concluímos que o risco às partes envolvidas será mínimo ou inexistente, uma vez que a coleta de dados será em prontuários, onde não haverá contato entre os pesquisadores e participantes da amostra, excluído qualquer desconforto advindo do contato pessoal, bem como asseguramos a confiabilidade dos dados coletados, em vista da ética profissional e que a pesquisa exige
Benefícios: Ao final da pesquisa objetiva-se identificar o risco que os pacientes psiquiátricos apresentam para desenvolver uma doença cardiovascular e uma vez identificado esse risco, medidas pontuais poderão ser tomadas a fim de evitar em desfecho grave e/ou desfavorável à população com doença mental. A amostra estudada poderá se beneficiar direta ou indiretamente uma vez que o campo de pesquisa é uma instituição de ensino em saúde, com disponibilidade para ações e intervenções educativas.
3.7 Instrumento de coleta de dados
Foi utilizado como instrumento de coleta de dados dois formulários auto-elaborado e previamente validado pelos pesquisadores. O primeiro formulário foi realizados para quantificar a quantidades de pronturários excluídos de acordo com os critérios e os selecionados. O segundo formulário continha as variáveis pertinentes e necessárias para a realização da estratificação de risco cardiovascular como gênero, idade, high density lipoproteins cholesterol (HDL- c), colesterol total (CT), pressão arterial sistólica (PAS), se é tratada ou não com medicamentos, tabagismo e diabetes, bem como o diagnóstico de doença mental, necessário para a inclusão na pesquisa, além de comorbidades e exames que fechem diagnóstico de doença cardiovascular e que enquadrem o paciente como alto risco no escore de Framingham.
3.8 Aspectos éticos da Pesquisa
De acordo com a resolução nº 466/12 da Comissão Nacional de Ética em pesquisa do Ministério da Saúde, esta pesquisa, que deu-se através de análise documental, dispensa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, no entanto, ratificamos a garantia do sigilo e preservação da privacidade dos pacientes (prontuários), durante todas as fases da pesquisa. Esta pesquisa encontra-se aprovada Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), através da plataforma Brasil, conforme o protocolo 68066723.6.0000.5084 e seguirá as normas da Resolução
CNS/MS № 466/12 – Diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas envolvendo seres humanos – e será interrompida, parcial ou total, temporariamente ou definitivamente, se houver qualquer indicativo de prejuízo a uma das partes, ou a critério do CEP.
3.9 Coleta de dados
Foi separado a análise do prontuário a cada 150 prontuários contidos em uma caixa enumerados aleatoriamente e previamente organizados pela coordenação do ambulatórios do CEUMA. Estas foram subdividas em montes de 10 prontuários a qual deveriam ser aplicados os critérios de exclusão e contabilizados conforme cada critérios. O primeiro critério utilizado foi pacientes que não possuíam atendimentos na especialidade de psiquiatria, cardiologia ou endocrinologia.
O segundo critério aplicado foi se este possuía algum diagnóstico psiquiátrico e estava utilizando psicotrópico em alguma das consultas. O terceiro e último critério aplicado foi se este possuía os dados do formulário semi estruturado da coleta de dados para Estratificação de risco.
O prontuário contendo as informações necessárias era transcrito para o formulário semi estrurado que posteriormente era transcrito para planilha em EXCEL. A quantificação dos incluídos e excluídos conforme cada critério também foi transcrita para planilha em EXCEL para posterior quantificação.
3.10 Processamento de dados
A partir dos dados em planilha do EXCEL foi quantificado por meio de fórmulas a quantidade de pacientes incluídos e excluídos conforme cada critério como também a quantificação conforme, gênero, idade, diagnóstico psiquiátrico, se toma estatina, se era tabagista, se era diabético, se este presença de doença aterosclerótica significativa (coronária, cerebrovascular, vascular periférica), com ou sem eventos clínicos ou obstrução ≥ 50% em qualquer território arterial, possui comorbidades, possuía LDL ≥ 190, PAS, se esta é tratada ou não e demais comorbidades.
A estratificação de risco foi realizada a partir dos dados coletados e aplicados na calculadora fornecida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia atualizada para o ano de 2020 disponível em <http://departamentos.cardiol.br/sbc-da/2015/CALCULADORAER2020/etapa5.html>.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram avaliados 4.957 prontuários, destes, 789 prontuários são das especialidades Cardiologia e Endocrinologia, mas sem diagnóstico psiquiátrico descrito em prontuário, portanto, excluídos. 479 prontuários são da especialidade Psiquiatria, mas não continham dados suficientes para serem incluídos, restando apenas 51 prontuários que se enquadraram nos critérios de inclusão desta pesquisa. Todavia, destes 8 possuíam menos que 30 anos não podendo avaliar a Estratificação de risco e portanto sendo excluídos, 1 não possuía a pressão arterial sistémica documentada e 1 não possuía o HDL-c registrado em prontuário. Totalizou-se 41 prontuários a qual podiam ser realizados a Estratificação de Risco juntamente com os critérios de inclusão e exclusão.
4.1 Gênero
Como resultado, o maior número de pacientes selecionados fora do gênero feminino, com base nos critérios de exclusão da pesquisa. Dados esses que vão de acordo com Lima (2011), a existência de uma frequência de diagnóstico de doenças psiquiátricas com percentual maior em mulheres do que em homens, e estreita relação dessas pacientes com síndrome metabólica e transtornos depressivos e de humor, além maior busca dessa população por serviços de saúde de forma preventiva.
Figura 2. Gênero dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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4.2 Idade
Entre os selecionados para a pesquisa, 82,93% da amostra foram mulheres com idade variando entre 30 e 84 anos com média de 55,64 ± 12,20, enquanto os homens representaram 17,07% dos dados, a idade variou entre 39 e 85 anos e média de 64,28± 17,97.
Figura 3. Idade dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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4.3 PAS + PAS tratada
Dentre 41 pacientes analisados, 20 pacientes possuem valores de pressão arterial sistólica dentro do valor de normalidade, 9 pacientes com valores entre 130-139 mmHg (pré-hipertensos), e os outros 12 possuem valores acima de 140 mmHg, classificados como hipertensos segundo a Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2020). Semelhante às pressões avaliadas, 23 pacientes fazem uso de medicação para tratamento da pressão arterial e 18 não utilizam nenhum fármaco. Apesar de não haver uma associação nítida entre distúrbios psiquiátricos e a doença hipertensiva, esta é um dos fatores de risco mais prevalentes para eventos cardiovasculares no brasil (Lima, 2011), e segundo estudo de Benseñor (1998), na amostra avaliada, há uma alta frequência de pacientes hipertensos com alguma condição psiquiátrica, o que destaca a importância da avaliação pressórica desses pacientes buscando evitar desfechos desfavoráveis.
Figura 4. Pressão Arterial Sistólica dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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Figura 5. Pressão Arterial Sistólica tratada ou não dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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4.4 Fumo
De acordo com o instituto nacional do câncer (INCA) e os dados do Vigitel 2021, no Brasil a partir dos 18 anos, 11,8% dos homens e 6,7% das mulheres são fumantes. Segundo Lima, o transtorno depressivo é o mais prevalente em pacientes tabagistas, sendo em frequência e intensidade semelhante em ambos os gêneros, e conforme Calheiros et al (2006) a depressão e a dependência de nicotina apresentam um comportamento bidirecional, sendo também relatado que em indivíduos depressivos ou com transtorno de ansiedade generalizada, os sintomas de abstinência são mais intensos. Nesta pesquisa, entre todos os selecionados, apenas 3 eram fumantes, no entanto todas eram mulheres e todas apresentavam transtorno depressivo e/ou de ansiedade generalizada.
Figura 6. Tabagismo dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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4.5 Diabetes
Embora apenas 9 pacientes selecionados apresentem o diagnóstico de Diabetes Mellitus, esta é a comorbidade mais importante associada aos pacientes psiquiátricos, uma vez que sua simples presença já leva o paciente à classificação de alto risco conforme os escores de Framingham. A conclusão de estudo de Nina et al (2015) determinou que pacientes com DM2 possui uma prevalência mais alta de depressão que a população em geral. Lima (2011) também estabelece essa relação e relata o aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade no brasil, assim como a observação que as mulheres apresentam maior frequência de diagnósticos, tanto para diabetes quanto para transtornos psiquiátricos, em especial depressão e ansiedade.
Figura 7. Pacientes diabéticos dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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4.6 Da estratificação de risco
Figura 8. Estratificação do Risco Cardiovascular dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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Ao aplicar, na calculadora de risco cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os dados coletados, observa-se, conforme a figura 1, os seguintes resultados: 44% dos pacientes são de alto risco cardiovascular, 22% são muito alto risco, 17% intermediário e 17% baixo risco cardiovascular.
De acordo com a diretriz brasileira que versa sobre o tema, é considerado alto risco cardiovascular aqueles que: apresentam ERG > 20% (homens) ou > 10% (mulheres) ou que apresentam condições agravantes de risco com base em dados clínicos ou de aterosclerose subclínica. Ainda, aqueles com LDL-c maior ou igual a 190mg/dl e/ou diabetes tipos 1 ou 2, com LDL-c entre 70 e 189 mg/dl e presença de estratificadores de risco ou doença aterosclerótica subclínica. A diabetes mellitus foi a segunda mais prevalente comorbidade encontrada neste estudo, justificando assim, um maior número de pacientes enquadrados em alto risco cardiovascular. Importante, paciente diabético sem doença aterosclerótica e sem fatores estratificadores de risco, são automaticamente incluídos na categoria intermediário risco (17%), sendo porcentagem igual encontrada entre os estratificados como baixo risco (17%). Os 22% da amostra classificados com muito alto risco cardiovascular, são aqueles com aterosclerose significativa (> 50% de obstrução) com ou sem eventos cardíacos ou cerebrais prévios, observou-se que o infarto agudo do miocárdio foi o evento mais descrito em prontuário.
4.7 Das especialidades médicas
Figura 9. Especialidades dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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Ao analisarmos as especialidades médicas que prestaram atendimento aos sujeitos da pesquisa, 34% são pacientes atendidos somente na psiquiatria, 29% somente na cardiologia, 15% na endocrinologia, 17% acompanhados pela psiquiatria e endocrinologia e apenas 5% faram consultados pela psiquiatria e cardiologia. Diante deste resultado, podemos inferir que há necessidade de maior orientação quanto a importância e adesão às consultas com o profissional da cardiologia, tendo em vista que 66% da amostra está estratificada como sendo de alto risco ou muito alto risco para evento cardiovascular nos próximos dez anos.
É importante salientar que, como critério de inclusão, era necessário que houvesse descrito em prontuário, pelo menos 1 (um) diagnóstico psiquiátrico.
4.8 Dos diagnósticos psiquiátricos
Figura 10. Diagnósticos psiquiátricos dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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Foram analisados os diagnósticos de transtornos mentais dos participantes da pesquisa, sendo o transtorno de ansiedade generalizada o mais prevalente (15), seguido do transtorno depressivo maior (12). Em estudo realizado na região metropolitana de São Paulo, os transtornos ansiosos foram os mais frequentes, dentre eles, está o TAG, mas ao se dissociar os transtornos ansiosos, o TDM é mais frequente em comparação ao TAG. A associação entre TAG e TDM (8) também chama a atenção e vai de encontro com os diagnósticos mais comuns, como citado acima.
4.9 Da relação entre risco cardiovascular e doença mental
Tabela 1. Relação Risco Cardiovascular e Doença Mental dos sujeitos da pesquisa, Imperatriz, 2023.
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Quando comparamos o escore de risco cardiovascular da população estudada e o transtorno mental diagnosticado, podemos observar que 50% dos pacientes com transtorno depressivo maior apresentam alto risco. A maior frequência dos pacientes com transtorno de ansiedade generalizada foi de 33,33% no risco intermediário. Quando diagnóstico duplo de transtorno ansiedade generalizada e transtorno depressivo maior, a frequência aumenta para 62,5 % no alto risco.
A depressão e a doença cardiovascular são doenças crônicas, com grande impacto na morbidade e mortalidade, não se podendo afirmar se a relação entre as duas é preditor para maior risco cardiovascular ou se é consequência. Sabe-se que o risco de doenças cardiovasculares em mulheres com diagnóstico de depressão ao longo da vida é entre 30% e 50% maior do que em homens, fatores como alterações hormonais do período da peri menopausa tem forte influência e se relaciona com maior risco de primeiro episódio de transtorno do humor, além de que fatores imunes e inflamatórios com desregulação do eixo hipotálamo-hipófise- adrenal, sistema renina-angiotensina-aldosterona, via serotoninérgica, incrementariam o estado inflamatório, cursando com disfunção endotelial, ativação plaquetária, ativação simpática. Estes fatores associados a flutuações hormonais do período reprodutivo da mulher, podem contribuir para o surgimento ou agravamento da relação depressão e doença cardiovascular (Rivera, 2022).
Quando falamos me medicação, pouco ou nenhum efeito é referenciado no ganho de peso ao uso de inibidores seletivos da recaptação de serotonina, nenhum efeito é mencionado nos duais – inibidores se serotonina e noradrenalina, muito baixo ganho de peso nos moduladores de serotonina e alto ganho de peso nos pacientes tratados com antagonistas do receptor alfa-1 adrenérgicos, segundo estudo publicado pela Sociedade Americana de Cardiologia em 2022. Depreende-se que o estilo e hábitos de vida influenciam sobremaneira no status do peso do paciente, não deixando de citar a falta de estímulo para as atividades básicas diárias, incluindo exercícios físicos, próprio do paciente com transtorno de humor.
Em relação aos transtornos ansiosos há pouca documentação, necessitando de mais estudos para afirmar ou não tal associação, segundo Bivanco. No entanto, o estudo ELSA traz, em especial a relação aumentada de evento cardíacos em indivíduos com diagnóstico associado de TAG e TDM, relatando ainda, risco 1,5 vezes maior do que a população geral, em professores universitários de evento de angina estável, resultado consoante com o encontrado nesta pesquisa, com maior prevalência de pacientes com duplo diagnóstico classificado como de alto risco cardiovascular.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, a prevalência foi do gênero feminino, com média de 55,64 ± 12,20. Os fatores de risco mais prevalentes em ambos os gêneros foram a hipertensão arterial sistêmica seguida de diabetes mellitus. Identificados apenas 3 fumantes, no entanto todos eram mulheres e todas apresentavam transtorno depressivo e/ou de ansiedade generalizada. Quanto ao escore de risco de Framinghan, 44% dos pacientes são de alto risco cardiovascular, 34% são pacientes atendidos somente na psiquiatria, sendo o transtorno de ansiedade generalizada o mais prevalente, seguido do transtorno depressivo maior. É importante salientar, que um número significativo de prontuário foi excluído da pesquisa por não conterem dados necessários para a aplicação do escore de risco, a saber, o lipidograma, essencial neste contexto do estudo.
Diante dos resultados, conclui-se que os pacientes atendidos no ambulatório da Universidade Ceuma, nas especialidades psiquiatria, endocrinologia e cardiologia, apresentam risco cardiovascular que merece atenção especial no seu manejo. Ainda, pacientes com diagnóstico psiquiátrico carecem de acompanhamento metabólico, sendo essencial a realização de exames laboratoriais de acompanhamento que avaliem tal sistema, para então, conhecendo o perfil do cliente, traçar metas e plano terapêutico individualizado.
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¹Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Ceuma Campus Imperatriz. E-mail: enedinodanda.123@gmail.com
²Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Ceuma Campus Imperatriz.
³Médico. Mestre em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília – UNB.
⁴Docente do Curso de Medicina da Universidade Ceuma Campus Imperatriz. Mestra em Gestão de Programas e Serviços de Saúde. E-mail: joceliadantas@uol.com.br