PREVALÊNCIA DE LESÕES NOS ATLETAS DE FUTEBOL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PREVALENCE OF INJURIES IN FOOTBALL ATHLETES: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8076187


José Igor França Rodrigues Lima
Gildson José Vale Junior
Francisco Valmor Macedo Cunha


RESUMO

INTRODUÇÃO: As lesões são acontecimentos comuns em atletas de futebol, sendo um comum motivo para inviabilizar que jogadores não participem de treinos e partidas. Atualmente, vários jogadores vivenciam um aumento de demanda física e com elas a prevalência de lesões é uma das maiores, até mesmo a maior, quando comparada os jogadores de futebol com jogadores de outros esportes de alta performance.
OBJETIVO: Identificar, a partir de revisão integrativa, a prevalência de lesões em atletas de futebol em comparações de artigos seguindo os critérios de inclusão e exclusão adotados.
METODOLOGIA: Revisão integrativa de literatura realizada a partir de questão científica  formulada conforme estratégia PICO. Os descritores “Football injuries” e “Prevalence” foram utilizados para a busca nas bases eletrônicas PubMed, Lilacs e SciELO. Os critérios de exclusão de artigos incluem: artigos duplicados; artigos que não apresentaram os termos indexadores no título ou no resumo; artigos que não apresentaram relação com prevalência de lesões em jogadores de Futebol; artigos que não sejam triagem clínica.
RESULTADOS: Os achados neste estudo enfatizam a alta frequência de lesões nos atletas de futebol, sendo acometidos principalmente em membros inferiores. Os estudos evidenciam que programas de prevenção a lesões e aquecimentos específicos do esporte ajudam na prevenção de lesões graves e melhoram o desempenho de atletas bem como diminuem o tempo de retorno deles ao esporte pós lesão. Depreende-se também por meio dos artigos selecionados a quantidade reduzida de pesquisas feitas no futebol feminino, onde dos 12 artigos tidos como base da pesquisa apenas 2 tem como alvo de amostragem mulheres e/ou homens e mulheres.

Palavras-chave: Lesões no futebol, Prevalência, Jogadores.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Injuries are common occurrences in soccer athletes, which is a common reason why players not to participate in training sessions and matches. Currently, many players experience an increase in physical demands whereby the prevalence of injuries is one of the highest, even the highest, when comparing soccer players with athletes of other high performance sports.
OBJECTIVE: To identify, from an integrative review, the prevalence of injuries in soccer athletes in comparisons of articles following the adopted inclusion and exclusion criteria.
METHODOLOGY: Integrative literature review based on a scientific question formulated according to the PICO strategy. The descriptors “Football injuries” and “Prevalence” were used to search in the electronic databases PubMed, Lilacs and SciELO. The exclusion criteria for articles were: duplicate articles; articles that did not present the index terms in the title or abstract; articles that were not related to the prevalence of injuries in Football players; articles that were not clinical screening.
RESULTS: The findings of this study emphasize the high frequency of injuries in soccer athletes, mainly in the lower limbs. Studies show that injury prevention programs and sport specific warm ups help in the prevention of serious injuries and improve athletes’ performance and decrease their time to return to the sport after the injury. The selected articles also show reduced amount of research done on women’s soccer, where of the 12 articles taken as the basis of the research, only 2 have women and/or men and women as sample targets.

Keywords: Football injuries, Prevalence, Soccer players.

1  INTRODUÇÃO

O futebol é um dos esportes mais praticados do mundo envolvendo cerca de 400 milhões de pessoas em mais de 200 países, sendo o Brasil em 2° colocação com 9.177 atletas profissionais confederados segundo a Federação Internacional de Futebol (FIFA), o que lhe atribui um importante papel socioeconômico, visto que sua prática recreativa é considerada um método legitimo, tanto efeito quanto corrida para manutenção da saúde populacional (FIFA, 2019). Entretanto, embora seja um esporte muito praticado com benefícios atestados, o futebol é esporte de alto desempenho e constante contato que envolve sérios riscos de lesão independente da modalidade, sendo ela profissional ou amadora, podendo ocorrer tanto nos treinos como em jogos. (KILIC et al, 2018).

Em relação a outros esportes, o futebol tem sido relacionado com alta incidência de lesões, bem como, deus eventos adversos associados como à combinação de estresse físico, emocional e a ser um esporte de alto rendimento (RAMALHO et al. 2018). Esses fatores podem agravar a incidência de lesões, causando efeitos negativos na saúde física, no desempenho esportivo e na carreira dos jogadores (DRUMMOND, et al. 2021).

Tem sido amplamente pesquisada nos campeonatos internacionais como, jogos olímpicos, copa do mundo e ligas confederadas, a epidemiologia das lesões e problemas que acometem os jogadores de futebol (BAYNE et al. 2017).

Segundo o Sistema Nacional de Lesões Esportivas dos Estados as lesões no futebol são definidas como qualquer acidente relacionado que ocorre durante uma partida ou treino (Muacevic, Alexander et, al, 2021). Sendo também um comum motivo que impossibilitar os jogadores de participarem nos treinos e nas partidas, o que pode ocasionar um impacto considerável na campanha da equipe na competição (HÄGGLUND, MARTIN et, al 2015).

O futebol possui destaque nas modalidades esportivas com sua expansão global, sendo mais acentuada nos países latino-americanos e europeus. Com o avanço tecnológico, há um aumento proporcional tanto no condicionamento físico dos atletas como nas imposições de melhores resultados (SILVEIRA et al., 2014). Os atuais jogadores estão vivenciando um aumento das demandas física, parte pelo pequeno intervalo entre as partidas disputadas e período de recuperação e a alta demanda neuromuscular. (SILVA et, al 2017).

A prevalência de lesões é uma das maiores, até mesmo a maior, quando comparada os jogadores de futebol com outros esportes.  Para que se possa reduzir o acometimento das lesões e melhorar a segurança dos jogadores é de extrema importância o conhecimento epidemiológico das lesões em atletas de futebol (ARABIA; MÁRQUEZ, 2016).

As lesões são classificadas com base no Suplemento do American Journal of sports medicine de 2000, que os divide com base nos dias de retorno a prática do esporte. Classificadas como de Grau I, ou leve, as que necessitam de 7 dias de afastamento esportivo; Grau II, ou moderado, de 7 a 21 dias de férias desportivas e Grau III, que precisam de um tempo maior que 22 dias de licença. (INTROCASO; LUIS, 2020).

Além de impactar o desempenho e saúde do atleta, as lesões que afetam os jogadores causam prejuízos econômicos significantes no clube, fazendo com que as equipes técnicas dos clubes e os próprios jogadores valorizem a importância do estudo epidemiológico das lesões, dado que esses estudos fornecerão informações para elaborações de estratégias e programas de intervenções preventivas (BAHR et al. 2016).

Nessa ótica, tendo em vista os dados e informações repassados anteriormente, este trabalho possui finalidade de averiguar a prevalência de lesões nos jogadores de futebol comparando os resultados de pesquisa e dados evidenciados nos artigos adquiridos.

2  METODOLOGIA

A Revisão Integrada de Literatura foi construída a partir dos padrões da pesquisa primária em rigor metodológico. A partir disto, essa revisão foi conduzida em etapas de construção.

Figura 1 — Etapas de elaboração da revisão integrativa

Fonte: Autores

Figura 2 –Fluxograma com informações ao processo de seleção dos artigos incluídos na revisão com base nos critérios de inclusão. Adaptação do Prisma Flow Diagram

A revisão integrativa foi construída com base em respaldo científica formulada conforme estratégia PICO (DA COSTA SANTOS; DE MATTOS PIMENTA; NOBRE, (2007): “Qual a prevalência de lesões encontrada em jogadores de futebol tendo como comparativo sexo e idade?” Para tanto, buscou-se artigos entre fevereiro e abril de 2023, em bases eletrônicas, como PubMed, Lilacs e SciELO. Os descritores utilizados foram: “Football injuries” e “Prevalence”. De acordo com os descritores de busca foram selecionados 2950 artigos originais, em inglês, português ou espanhol, publicados entre 2018 a 2023. Como critérios de exclusão foram considerados os artigos duplicados, artigos que não apresentaram os termos indexadores no título ou no resumo e, os artigos que não apresentaram relação com a prevalência de lesões em jogadores de futebol.

Os artigos que cumpriram os requisitos de revisão foram adicionados na sua forma original completa para estudo adicional. Após leitura crítica, 12 artigos foram incluídos e avaliados quanto à qualidade metodológica usando a escala Physiotherapy Evidence Database (PEDro, 2022), conforme quadro 1.

Quadro 1. Critérios de avaliação de qualidade PEDro (versão em português)

Critérios para Avaliação de Qualidade da Escala PEDro
1. Os critérios de elegibilidade foram especificados.
2. Aleatoriedade da distribuição dos sujeitos por grupo.
3. Houve uma distribuição cega dos sujeitos.
4. No que diz respeito aos fatores de prognóstico mais importantes, os grupos assemelham-se inicialmente.
5. Todos os sujeitos participaram de forma cega no estudo
6. Todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-no de forma cega
7. Todos os avaliadores que mediram pelo menos um resultado-chave, fizeram-no de forma cega
8. Mensurações de pelo menos um resultado-chave foram obtidas em mais de 85% dos sujeitos inicialmente distribuídos pelos grupos
9. Todos os sujeitos a partir dos quais se apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise dos dados para pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento”
10. Os resultados das comparações estatísticas intergrupos foram descritos para pelo menos um resultado-chave
11. O estudo apresenta tanto medidas de precisão como medidas de variabilidade para pelo menos um resultado chave

3  RESULTADOS

Existem 11 critérios na lista de verificação da escala PEDro, no entanto apenas 10 deles são pontuados. Um ponto é atribuído quando um requisito é cumprido de forma inequívoca e clara. Existe assim um total de 10 pontos disponíveis. Os estudos com classificação PEDro de 6 a 10 foram considerados de boa qualidade, enquanto os estudos com valores de 4 a 5 foram considerados de qualidade moderada, conforme Beardsley e Škarabot (2015).

Tabela 1 – Pontuação na escala PEDro para os estudos incluídos na Revisão Integrativa de Literatura

(1)  = elegibilidade; (2) = Alocação randomizada; (3) = Atribuição mascarada; (4) = Similaridade no início do tratamento; (5) = assuntos cegos; (6) = terapeutas cegos; (7) = avaliadores cegos; (8) = acompanhamento apropriado; (9) = análise por intuito de tratar; (10) = correlações intergrupos; (11) = uso de medidas de precisão e variabilidade. (S)= sim; (N) = não

Os estudos selecionados que permitem responder à questão da investigação foram organizados em autor/ano, design de estudo, método de avaliação e resultado acerca do tema proposto e, pontuação na escala PEDro (Quadro 2).

Quadro 2. Sumarização dos artigos incluídos na Revisão Integrada de Literatura

LEGENDA: BEP = Programas de Exercício Bouding; GC = Grupo Controle; ACWR = A Relação entre Carga de Trabalho Aguda e Crônica; NMT = Neuromuscular Training; LE = Extremidade Inferior;

DISCUSSÃO

O presente estudo tratou-se de uma revisão de literatura do tipo integrativa, onde buscou traçar uma análise sobre o conhecimento obtido em pesquisas anteriores sobre a prevalência de lesões nos atletas de futebol.

Sete estudos foram capazes de satisfazer os critérios de ocultação de sujeitos (critérios 5 da escala PEDro), cinco estudos capazes de satisfazer os critérios de ocultação de terapeutas (critérios 6 da escala PEDro) e, sete estudos relataram satisfazer os critérios de avaliadores de forma cega (critério 7 da escala PEDro). Os sete critérios restantes foram, em sua maioria, pontuados positivamente. Apenas quatro estudos pontuaram 5 pontos (AL ATTAR WSA et al., 2018; NETTO et al., 2019; DRUMMOND et al., 2021 e YONATHAN E ÁNGEL, 2022).  O restante dos estudos incluídos marcou 6 (2), 7 (3), 8 (3) e 9 pontos. De acordo com os critérios estabelecidos, a qualidade média dos estudos incluídos nesta revisão é, portanto, alta.

A revisão permitiu a síntese de numerosos estudos publicados anteriormente, possibilitando a criação de novos conhecimentos com base nos resultados de investigações anteriores. Os autores relacionam e observaram a prevalência de lesões em variados atletas, tomando em conta idade, sexo, nacionalidade, fatores de risco, reincidências de lesões prévias, como também análises de treinos ou programas especializados para a redução do quadro de lesões em jogadores.

Ramalho et al. concluiu que a maioria das lesões ocorreu nos membros inferiores, tendo as distensões como o tipo de lesão mais comum, seguido por entorses e contusões entre os jogadores com média de idade de 27,5 comparados na pesquisa no campeonato paulista brasileiro entre os anos de 2016 e 2017.

Mojtaba et al. (2022) efetuou um programa de aquecimento modificado, incluindo exercícios dinâmicos e específicos do futebol atuando na prevenção de lesões e melhora do desempenho de jovens jogadores subelite do sexo masculino. E teve a constatação de que tais programas não apenas podem abrandar lesões, mas também melhorar o desempenho de jogadores de futebol subelite jovens simultaneamente.

Rahlf e Zech (2020) estudaram a eficácia e comparação de resultados entre 10 minutos e 20 de treinamento neuromuscular na prevenção das lesões. Não foi descoberta qualquer diferença discernível entre os atletas que realizam um programa de treino neuromuscular de 20 minutos duas vezes por semana e os atletas que realizam um programa de 10 minutos em termos de ocorrência de lesões. Além disso, não houve diferenças nas taxas de incidência de localização, gravidade, tipo ou mecanismo de lesão entre os grupos.

Zarei et al. Demostraram que os efeitos do programa de prevenção de lesões “11+ podem ser relevantes para o desempenho específico do futebol. Destacando que o programa é capaz de induzir melhorias na potência das pernas, na potência anaeróbica e na agilidade jogadores de futebol adolescentes do sexo masculino durante um período de 30 semanas, em comparação com os jogadores que efetuam a sua rotina habitual de aquecimento.

Van De Hoef et al. (2019) analisou a forma como a BEP (Programas de Exercício Bouding) afetava a frequência e a gravidade das lesões nos isquiotibiais em jogadores adultos amadores de futebol masculino. A informação revelou que nem a ocorrência de lesões nos isquiotibiais nem a sua gravidade foram reduzidas pela BEP.

Dalen-Lorentsen et al. (2020) aplicaram uma estratégia de gestão de carga baseada no ACWR no que respeita à probabilidade de problemas de saúde entre jovens jogadores de futebol masculino e feminino. Constando que no futebol juvenil de elite, a gestão das cargas de treino com ACWR não parece ser uma estratégia preventiva eficaz.

Recentemente Drummond et al. (2021) realizaram um estudo obtendo resultados de alta prevalência de lesões na região da coxa, com a gravidade das lesões em sua maioria de gravidade média. Constatou também de que as lesões no campeonato regional de futebol masculino do estado brasileiro do Rio Grande do Sul na campanha de 2018 ocorreram com mais frequência durante os jogos do que durante o treinamento.

Hilska et al. (2021) relatam que as equipes de aquecimento da NMT (Neuromuscular Training) reduzem a incidência de lesões de LE por uso excessivo, mas não reduzem as lesões agudas de LE sem contato se assemelhando os resultados obtidos por Mojtaba et al. (2022) em programa de aquecimento na prevenção de lesões no futebol.

Lindblom et al. (2022) na busca da incidência e prevalência de lesões em comparativo das temporadas 2016 e 2017 do campeonato paulista, foi encontrada uma prevalência de lesões em membros inferiores corroborando com os achados de Drummond et al. (2021) que destacou uma maior prevalência de lesões em membros inferiores (coxa, joelho, pé/dedo do pé e quadril/virilha), como as mais comuns.

De modo geral os estudos destacados mostraram que a maior prevalência de lesões nos atletas foi aferida em membros inferiores, destacando-se joelho e isquiotibiais com distensões musculares mais vezes enunciada e, como demonstrado em resultados semelhantes na maioria dos autores, programas e treinos específicos de prevenção a lesões diminuem na incidência nos times de futebol.

5 CONCLUSÃO

Os achados neste estudo enfatizam a alta frequência de lesões nos atletas de futebol, sendo acometidos principalmente em membros inferiores. Os estudos evidenciam que programas de prevenção a lesões e aquecimentos específicos do esporte ajudam na prevenção de lesões graves e melhoram o desempenho de atletas assim como diminuem o tempo de retorno deles à atividade esportiva pós-lesão. Depreende-se também por meio dos artigos selecionados a quantidade reduzida de pesquisas feitas no futebol feminino, onde dos 12 artigos tidos como base da pesquisa apenas 2 tem como alvo de amostragem mulheres e/ou homens e mulheres.

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1Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Uninovafapi
Instituição: Centro Universitário Uninovafapi
E-mail: joseigorfranca@gmail.com

2Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Uninovafapi
Instituição: Centro Universitário Uninovafapi
E-mail: gildsonjunior96@gmail.com

3Doutor em Biotecnologia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Instituição: Centro Universitário Uninovafapi
E-mail: francisco.cunha@uninovafapi.edu.br