PREVALÊNCIA DE HIV/AIDS NO IDOSO: DESAFIO PARA O ENFERMEIRO FRENTE À PREVENÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410141309


Tatiana Elenice Cordeiro Soares1
Luziane Monteiro Ferreira2
Cynthia Griselda Castro Viegas3
Ailka Barros Barbosa4
Orientadora: Prof. Ma. Tatiana Elenice Cordeiro Soares5


ABSTRACT

A prevalência do HIV/AIDS na população idosa é uma preocupação crescente, apresentando desafios significativos para os enfermeiros na prevenção e tratamento dessa população na atenção primária à saúde. O objetivo deste artigo é investigar a prevalência do HIV/AIDS entre idosos e os desafios enfrentados pelos enfermeiros na prevenção e tratamento dessa população. O presente estudo baseou-se em uma revisão integrativa de literatura, de caráter descritivo. Os critérios de inclusão foram: artigos que abordassem a prevalência de HIV/AIDS em idosos e os desafios na atenção primária à saúde, publicados entre 2019 e 2023, em português ou inglês. Foram excluídos artigos incompletos, duplicados, anteriores a 2019, e que não se encaixassem na proposta da pesquisa. Utilizaram-se as bases de dados LILACS, BDENF e SciELO. Foram analisados 13 artigos selecionados. Os resultados evidenciaram um crescimento preocupante nos casos de HIV/AIDS entre idosos, com maior incidência em homens e transmissão predominantemente heterossexual. Fatores como baixa escolaridade, falta de conhecimento sobre o HIV, preconceito e acesso precário a serviços de saúde contribuem para a vulnerabilidade desse grupo. Enfermeiros desempenham papel crucial na educação, aconselhamento e suporte emocional, enfrentando desafios como inadequação das estratégias de prevenção e tratamento. Conclui-se que intervenções multifacetadas, considerando as necessidades específicas dos idosos com HIV/AIDS, são essenciais para garantir acesso à saúde e bem-estar.

Palavras-chave: HIV/AIDS. Idosos. Prevenção. Tratamento. Enfermeiros.

RESUMO

The prevalence of HIV/AIDS in the elderly population is a growing concern, presenting significant challenges for nurses in the prevention and treatment of this population in primary health care. The objective of this article is to investigate the prevalence of HIV/AIDS among the elderly and the challenges faced by nurses in the prevention and treatment of this population. This study was based on an integrative literature review, with a descriptive character. Inclusion criteria were articles addressing the prevalence of HIV/AIDS in the elderly and challenges in primary health care, published between 2019 and 2023, in Portuguese or English. Incomplete, duplicate, and pre-2019 articles, as well as those not fitting the research proposal, were excluded. The databases LILACS, BDENF, and SciELO were used. Thirteen selected articles were analyzed. Results showed a concerning increase in HIV/AIDS cases among the elderly, with higher incidence in men and predominantly heterosexual transmission. Factors such as low education, lack of HIV knowledge, prejudice, and poor access to health services contribute to the vulnerability of this group. Nurses play a crucial role in education, counseling, and emotional support, facing challenges such as inadequacy of prevention and treatment strategies. It is concluded that multifaceted interventions, considering the specific needs of elderly individuals with HIV/AIDS, are essential to ensure access to health care and well-being.

Keywords: HIV/AIDS, Elderly, Prevention, Treatment, Nurses.

INTRODUÇÃO

O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é um patógeno que compromete o sistema imunológico, levando à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), uma condição que enfraquece a capacidade do corpo de combater infecções e doenças. Desde a sua descoberta, o HIV/AIDS tem sido um dos maiores desafios de saúde pública, exigindo uma abordagem multifacetada para o seu controle e manejo, especialmente em populações vulneráveis como os idosos.1

Os dados sobre a disseminação do HIV/AIDS revelam um aumento preocupante de casos entre a população idosa, definido como indivíduos com 60 anos ou mais. Globalmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 38 milhões de pessoas vivem com HIV, sendo que, em 2021, aproximadamente 8% dos novos diagnósticos de HIV ocorreram em pessoas com 50 anos ou mais.2

No Brasil, o Ministério da Saúde reporta que, em 2022, mais de 40 mil novos casos de HIV foram registrados, com um crescimento notável na faixa etária acima de 60 anos. Na região Nordeste do Brasil, foi observado um aumento significativo na incidência de AIDS entre idosos, com 2.246 novos casos registrados entre 2018 e 2022. Isso revela uma tendência preocupante que contrasta com as taxas em outras faixas etárias e regiões do país.3

Este aumento reflete tanto a eficácia dos tratamentos antirretrovirais, que prolongam a vida dos portadores, quanto novas infecções devido a comportamentos de risco e falta de conscientização. Esse crescimento representa um desafio significativo para os sistemas de saúde, que precisam adaptar suas estratégias de prevenção e tratamento para atender a essa população específica.4

O diagnóstico de HIV em idosos pode ser particularmente complexo, pois os sintomas iniciais, como fadiga, perda de peso e problemas cognitivos, muitas vezes se confundem com os sinais comuns do envelhecimento. Os testes sorológicos, como o ELISA, seguidos por testes confirmatórios como o Western blot ou moleculares de carga viral, são utilizados para o diagnóstico. No entanto, a baixa percepção de risco e a semelhança dos sintomas com outras condições geriátricas podem atrasar a busca por diagnóstico e tratamento adequado.5

O tratamento do HIV/AIDS em idosos apresenta desafios únicos devido às comorbidades como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, que podem complicar a gestão da terapia antirretroviral (TARV). A polifarmácia, comum nessa faixa etária, aumenta o risco de interações medicamentosas adversas. Portanto, o tratamento deve ser cuidadosamente monitorado e personalizado para minimizar efeitos colaterais e garantir a adesão à terapia.6

O envelhecimento da população mundial coloca a terceira idade como um grupo de interesse crescente nas políticas de saúde pública. Os idosos com HIV/AIDS constituem um segmento vulnerável devido às mudanças fisiológicas do envelhecimento, à presença de múltiplas comorbidades e à possível diminuição da rede de apoio social. É crucial desenvolver abordagens de saúde que sejam sensíveis às necessidades específicas dessa população.7

O HIV na terceira idade é uma questão de saúde emergente que exige atenção especial. Além dos desafios biológicos e médicos, há barreiras psicossociais significativas, como preconceito e isolamento social, que podem impactar negativamente o manejo da doença. A conscientização e educação sobre prevenção de HIV devem ser ampliadas para incluir os idosos, que muitas vezes não se veem como grupo de risco.8

A assistência de enfermagem é fundamental no manejo do HIV/AIDS entre os idosos, sendo essencial tanto na prevenção quanto no tratamento. Os enfermeiros desempenham um papel crucial na educação em saúde, aconselhamento, adesão ao tratamento e suporte emocional. A atuação da enfermagem na atenção primária à saúde pode melhorar significativamente os resultados clínicos e a qualidade de vida dos idosos vivendo com HIV.9

Desse modo, consideramos realizar este estudo pois compreendemos que o HIV/AIDS entre os idosos é uma questão emergente de saúde pública. Com o aumento significativo de novos casos nessa faixa etária, torna-se crucial entender as particularidades do diagnóstico e tratamento desse grupo. Logo, este estudo se justifica pela necessidade de desenvolver estratégias de saúde pública que sejam eficazes e sensíveis às necessidades dos idosos vivendo com HIV/AIDS. Portanto, buscamos responder à seguinte pergunta norteadora: Qual a prevalência do HIV/AIDS em idosos e os desafios enfrentados pelos enfermeiros na prevenção na atenção primária à saúde?

Sendo assim, este artigo tem como objetivo geral investigar a prevalência do HIV/AIDS na população idosa e conhecer os desafios para os enfermeiros perante a prevenção na atenção primária à saúde, visando o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e centradas no paciente.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão integrativa com abordagem descritiva. A revisão integrativa consiste em um método que reúne os resultados obtidos de pesquisas primárias sobre uma mesma temática, objetivando sintetizar e analisar os dados, a fim de desenvolver uma explicação mais abrangente de um determinado fenômeno e fornecer subsídios para a melhoria da assistência à saúde.10

O estudo descritivo observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos sem manipulá-los10. Desta forma, procura-se comparar e explicar sua influência sobre outras variáveis. Para o desenvolvimento desta revisão integrativa foram percorridas seis etapas.

A primeira etapa foi a elaboração da pergunta norteadora: Qual a prevalência do HIV/AIDS em idosos e os desafios enfrentados pelos enfermeiros na prevenção na atenção primária à saúde?

Na segunda etapa, foi feita a busca na literatura de produções processadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), indexadas nas bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDENF (Base Especializada na Área de Enfermagem do Brasil) e SciELO (Scientific Electronic Library Online).

A terceira etapa envolveu o período de coleta, que foi realizada de março a maio de 2024. Foram utilizados os seguintes descritores: “HIV/AIDS”, “idosos”, “prevalência”, “enfermagem” e “atenção primária à saúde”.

Na quarta etapa, foram analisados os critérios de inclusão e exclusão. Os artigos selecionados passaram pelos seguintes critérios de inclusão: artigos que apresentaram em seu conteúdo abordagem sobre a prevalência de HIV/AIDS em idosos e os desafios e estratégias na atenção primária à saúde, com textos completos e disponíveis, escritos em português e inglês e publicados no período de 2019 a 2023. Para os critérios de exclusão: artigos incompletos, duplicados, que não tenham sido publicados antes de 2019, e que não se enquadravam na proposta da pesquisa ou não respondessem à questão norteadora.

Na quinta etapa, para extrair os dados dos artigos selecionados, todos os estudos foram lidos criteriosamente em sua íntegra e selecionados por atenderem rigorosamente aos critérios de inclusão, e seus conteúdos foram julgados suficientemente esclarecedores e pertinentes para fazerem parte do presente estudo.

Na sexta etapa da revisão integrativa, a análise dos dados ocorreu de forma organizada e crítica. À medida que se realizou leitura aprofundada dos conteúdos, foram incluídos aqueles que contemplavam a proposta da presente revisão. Identificou-se o título, autores, ano, tipo de estudo e principais resultados, onde os dados foram distribuídos na forma de quadros.

Os artigos estudados na presente pesquisa estão apresentados em quadros (contendo título, autores/ano, tipo de estudo e principais resultados); identificados através de categorias.

Ao seguir todas essas etapas, selecionou-se 150 artigos através da utilização dos descritores definidos. Após a aplicação dos critérios de exclusão e inclusão, 127 foram excluídos por indisponibilidade na base de dados, por duplicidade e por terem sido publicados fora do período temporal estabelecido, restando assim 23 estudos que tiveram o título e resumo lidos. Após análise da relação com o objeto de estudo, 13 fizeram parte da amostra da pesquisa, com a finalidade de sistematizar as informações, conforme demonstrado na figura 1 abaixo:

Figura 1 – Processo de busca dos artigos sobre prevalência do HIV/AIDS na população idosa e os desafios enfrentados pelos enfermeiros na prevenção na atenção primária à saúde. São Luis, 2024.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Serão apresentados a seguir os resultados das análises encontradas por meio da comparação entre os estudos selecionados, bem como os dados obtidos em quadros. Assim, um panorama geral dos estudos incluídos nesta revisão encontra-se distribuído por temas envolvendo os objetivos deste trabalho.

QUADRO 1: Artigos científicos sobre a prevalência do HIV/AIDS em idosos e os desafios enfrentados pelos enfermeiros na prevenção na atenção primária à saúde, São Luís – MA, Brasil, 2024.

Os estudos analisados também ofereceram uma compreensão abrangente da prevalência de HIV em idosos, abrangendo distintos períodos e regiões do Brasil. Com o intuito de identificar padrões e variações na incidência da infecção ao longo do tempo e em diferentes localidades, a tabela abaixo apresenta o número de casos de HIV em idosos registrados em cada estudo:

Os estudos abordam períodos variados, mas todos mostram um crescimento significativo no número de casos de HIV/AIDS entre idosos. Além disso, os resultados indicam que os idosos estão se tornando um grupo cada vez mais vulnerável à infecção pelo HIV. Os estudos revelam que a maioria dos casos ocorre em faixas etárias mais jovens dentro do grupo de idosos, sugerindo uma vida sexual ativa nessa população.11,16-18,21

Ao analisar os dados nacionais apresentados por Santos et al, observa-se uma prevalência consistente de casos de HIV/AIDS em idosos em todo o Brasil, totalizando 27.856 casos notificados entre 2007 e 2020. No entanto, ao comparar esses dados com os estudos regionais realizados no Piauí, Pará, Bahia e Alagoas, percebe-se uma variação significativa nos números. Essa disparidade ressalta a importância de considerar as particularidades regionais na formulação de políticas e estratégias de prevenção e tratamento do HIV/AIDS em idosos.16

No Piauí, foram notificados 262 novos casos entre 2008 e 2018, representando 4,5% dos casos novos em adultos. No Pará, a incidência entre pessoas com 50 anos ou mais aumentou drasticamente, com crescimentos de 2.203,85% no período, sendo 2.422,5% entre homens e 1.929,8% entre mulheres. Na Região Nordeste, a taxa subiu de 4,25% para 8,73% por 100.000 habitantes entre 2007 e 2020, com a Bahia apresentando aumento similar, de 2,87% para 4,29%.16, 17,18

No estado de São Paulo, entre 2010 e 2020, foram registrados 3.070 óbitos por HIV/AIDS em idosos, com uma taxa de mortalidade de 51,71 por 100 mil habitantes.21

A faixa etária de 60 a 69 anos é a mais afetada pelo HIV/AIDS entre os idosos, contradizendo estereótipos e destacando a existência de uma vida sexual ativa nesse grupo. Contudo, a maior taxa de crescimento nos novos casos de HIV/AIDS ocorre na faixa etária de 80 anos ou mais, seguida pela faixa de 70 a 79 anos, enquanto a faixa de 60 a 69 anos mostra uma estabilidade relativa. Essa diferenciação reforça a necessidade de políticas de saúde pública e programas de prevenção adaptados às especificidades etárias dos idosos.16,18,21

Segundo os autores Vieira et al e Souza et al18,21, a predominância de casos de HIV/AIDS entre idosos, especialmente em homens, está relacionada ao preconceito contra o uso de serviços de saúde e preservativos, além de comportamentos de risco como relações sexuais desprotegidas. Estudos também reconhecem a correlação entre baixa escolaridade e maior vulnerabilidade ao HIV/AIDS nessa faixa etária, destacando a importância crucial da educação na prevenção da doença, conforme Souza et al e Santos et al.11,16

A transmissão heterossexual é o modo mais comum de propagação do HIV/AIDS entre os idosos, destacando a necessidade urgente de promover práticas sexuais seguras e educação contínua sobre prevenção11,16-18. A distribuição étnico- racial dos casos varia entre os estudos, com alguns destacando uma predominância entre pardos e negros, refletindo desigualdades socioeconômicas e de acesso aos serviços de saúde, enquanto outros observam uma distribuição mais equitativa entre diferentes grupos étnico-raciais. Esses dados enfatizam a importância de abordagens inclusivas e sensíveis às disparidades sociais na prevenção e no manejo do HIV/AIDS entre idosos.11,16,18

Nierotka et al, ressaltam que a negligência no uso de preservativos é um fator crucial para a incidência de infecções por HIV entre idosos. Isso reforça a urgência de campanhas de conscientização sexual voltadas especificamente para essa faixa etária. A confiança em parceiros fixos e a busca pelo prazer imediato foram identificadas como principais motivos para a não utilização de preservativos entre os idosos.23

A falta de conhecimento sobre o HIV, suas formas de transmissão e prevenção é uma preocupação compartilhada por Nierotka et al. e Aguiar et al., que enfatizam a necessidade de iniciativas educativas direcionadas aos idosos para melhorar sua compreensão e práticas de autocuidado. Ambos os estudos identificam a inadequação das campanhas informativas voltadas para a terceira idade, sugerindo que as estratégias atuais podem não estar efetivamente alcançando essa população, devido a barreiras de comunicação ou uma abordagem inadequada.15,23

A baixa procura por serviços de saúde preventivos entre os idosos, especialmente pelos homens, é um padrão preocupante identificado por Aguiar et al. e Nierotka et al. Estereótipos de masculinidade, que associam a doença à fraqueza, contribuem significativamente para essa subutilização, refletindo a necessidade de uma abordagem mais inclusiva e sensível às questões de gênero na saúde dos idosos.15,23

Os idosos vivendo com HIV enfrentam desafios consideráveis devido ao preconceito e à discriminação, impactando negativamente sua saúde mental e adesão ao tratamento. Campanhas de conscientização pública e apoio psicológico adequado são essenciais para mitigar esses efeitos, melhorando tanto a adesão ao tratamento quanto a qualidade de vida desses indivíduos.15,22,23

O diagnóstico tardio do HIV entre idosos persiste como um problema significativo, influenciado por percepções errôneas sobre a sexualidade na terceira idade e estigma associado à doença. Estratégias como a inclusão de testes de HIV em exames de rotina, a capacitação de profissionais de saúde para abordagens não preconceituosas e campanhas de conscientização são cruciais para reduzir esse atraso diagnóstico e melhorar os resultados de saúde. 22,33

Um modelo de atenção à saúde mais integrado e preventivo para idosos vivendo com HIV é fundamental, como apontado por Nicaretta et al. e Nierotka et al., destacando a importância de abordagens educativas específicas e contínuas para melhorar a gestão do tratamento e a prevenção de complicações.m my 22,23

Brandão et al, reconhecem a religiosidade e a espiritualidade como fontes significativas de apoio para idosos vivendo com HIV, sublinhando a importância de uma abordagem holística no cuidado dessa população. O suporte emocional e prático proporcionado pela família e pela rede social também desempenha um papel crucial no bem-estar físico e psicológico desses pacientes 14

A adesão ao tratamento antirretroviral é crucial para a sobrevivência e qualidade de vida dos idosos com HIV. A confiança estabelecida entre pacientes e profissionais de saúde é essencial para promover essa adesão, mitigando preocupações como polifarmácia e efeitos colaterais dos medicamentos.14,22,23

A Atenção Primária à Saúde (APS) assume um papel fundamental na prevenção do HIV, especialmente para populações vulneráveis como os idosos. No entanto, os enfermeiros que atuam nesse cenário enfrentam diversos desafios para efetivar essa prevenção.12,13,19,20

Um dos principais desafios reside na falta de conhecimento e conscientização sobre o HIV entre os idosos. Segundo Brandão et al, a ausência de campanhas educativas específicas contribui para que os idosos subestimem sua vulnerabilidade ao HIV, resultando em uma menor adesão às práticas de prevenção como o uso de preservativos e a realização de exames regulares.20

Estudos de Costa et al. e Pimentel et al. reforçam que muitos idosos não consideram a possibilidade de contrair HIV, o que leva a diagnósticos tardios e tratamento inadequado, agravando o impacto da doença. As dificuldades em abordar a sexualidade na velhice, apontadas por Lima et al., também impedem a comunicação aberta sobre práticas sexuais seguras, perpetuando a desinformação e aumentando o risco de infecção.12,13,19

O acesso aos serviços de saúde é outro grande desafio. Em áreas rurais, a escassez de unidades de saúde e a falta de transporte dificultam a realização de testes, o recebimento de aconselhamento e o acesso ao tratamento para o HIV. Barreira financeiras, como os custos de consultas e medicamentos, também limitam o acesso dos idosos aos cuidados necessários. Os estudos de Costa et al e Pimentel et al, apontam que essas limitações geográficas podem resultar em diagnósticos tardios e tratamento inadequado, exacerbando a vulnerabilidade dos idosos ao HIV.12,13

O estigma e a discriminação associados ao HIV impedem muitos idosos de buscar ajuda e realizar testes. A falta de sensibilidade cultural dos profissionais de saúde também pode dificultar o cuidado individualizado. Além disso, dificuldades de comunicação, como déficits auditivos ou visuais, exigem adaptações nos métodos de comunicação para garantir a compreensão das informações.12,13,19,20

A presença de comorbidades e a polifarmácia entre idosos exigem um cuidado individualizado na avaliação dos riscos e das interações medicamentosas relacionadas ao HIV e à profilaxia pré-exposição (PrEP). Comorbidades como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares são comuns entre idosos e podem complicar o tratamento do HIV. A polifarmácia, caracterizada pelo uso simultâneo de múltiplos medicamentos, aumenta o risco de interações adversas, comprometendo a eficácia do tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.19,20

Estudos de Lima et al e Nierotka et al destacam a necessidade de um acompanhamento cuidadoso e integrado por parte dos profissionais de saúde, que devem revisar continuamente todas as medicações para evitar efeitos colaterais graves e garantir a adesão ao tratamento.19,20

Além disso, é fundamental abordar a saúde sexual na velhice de maneira holística, incluindo mudanças físicas e psicológicas relacionadas ao envelhecimento. Mudanças hormonais, disfunção erétil e outras condições podem afetar a vida sexual dos idosos, e o estigma associado ao HIV e à sexualidade na terceira idade pode impedir a busca de informações e cuidados preventivos. Uma abordagem educativa e aberta à saúde sexual dos idosos é crucial para promover comportamentos seguros e reduzir o risco de infecção pelo HIV. Programas de educação sexual voltados para idosos e suporte psicológico são essenciais para enfrentar esses desafios, melhorando a prevenção e o tratamento eficaz do HIV.20

A ausência de protocolos específicos para a prevenção do HIV em idosos nos serviços de saúde é um obstáculo significativo. Sem diretrizes claras adaptadas às necessidades dessa faixa etária, as intervenções se tornam menos eficientes e o cuidado individualizado é dificultado. A pesquisa de Lima et al, ressalta a importância de desenvolver protocolos que considerem as particularidades dos idosos, incluindo a gestão de comorbidades e as alterações fisiológicas que influenciam tanto a transmissão quanto o tratamento do HIV.19

A capacitação insuficiente dos profissionais de saúde acerca das especificidades do HIV em idosos limita a qualidade do atendimento prestado. Muitos profissionais não estão adequadamente preparados para discutir questões relacionadas à sexualidade ou para reconhecer os sinais e sintomas do HIV nessa população. A educação contínua e especializada é crucial para equipar os profissionais de saúde com o conhecimento e as habilidades necessárias para oferecer um cuidado verdadeiramente individualizado e eficaz, melhorando as estratégias de prevenção e tratamento para idosos vivendo com HIV.19

Sensibilizar a população sobre o HIV e a importância da prevenção na velhice é fundamental. Isso pode ser feito através de campanhas de mídia, palestras, grupos educativos e ações em comunidades, para combater o estigma e promover informações precisas e acessíveis sobre o HIV para a população em geral e para os próprios idosos. Promover a educação sexual na velhice de forma natural e positiva, desmistificando conceitos errôneos e incentivando a comunicação aberta entre idosos e seus parceiros, é crucial para a promoção de práticas sexuais seguras e prevenção do HIV.12,13,20

Ampliar a oferta de testagem de HIV em unidades de saúde, facilitando o acesso à testagem gratuita e sigilosa em locais de fácil acesso para idosos, é essencial para o diagnóstico precoce e o início oportuno do tratamento. Garantir o acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais e à PrEP, assegurando o fornecimento contínuo de medicamentos e acompanhamento médico regular, é fundamental para a qualidade de vida e o bem-estar dos idosos. Além disso, implementar políticas públicas que garantam o transporte gratuito ou subsidiado para consultas médicas, exames e acompanhamento do tratamento do HIV, especialmente em áreas rurais ou com carência de transporte público, é crucial.12,13

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo, ao investigar a prevalência do HIV/AIDS na população idosa e os fatores que influenciam a eficácia das estratégias de prevenção e tratamento empregadas pelos enfermeiros na atenção primária à saúde, alcançou seus objetivos com sucesso. Os resultados evidenciam um panorama preocupante do HIV/AIDS entre os idosos, com prevalência crescente e desafios específicos que exigem atenção redobrada. Fatores como negligência no uso de preservativos, falta de conhecimento sobre o HIV, preconceito e discriminação, acesso precário a serviços de saúde e inadequação das estratégias de prevenção e tratamento demonstram a necessidade urgente de ações mais eficazes e direcionadas a essa população. A atenção básica também desempenha um papel crucial na prevenção do HIV/AIDS entre os idosos, fornecendo serviços de saúde próximos às comunidades e abordando os determinantes sociais da saúde que afetam essa população. Enfermeiros e outros profissionais de saúde da atenção básica podem desempenhar um papel fundamental na educação, prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS entre os idosos, promovendo práticas de saúde sexual seguras e garantindo acesso aos serviços de saúde essenciais.

Com base nos achados, é crucial desenvolver intervenções multifacetadas que abordem as necessidades específicas dos idosos com HIV/AIDS, enfrentando desafios significativos como a negligência no uso de preservativos, o baixo nível de conhecimento sobre o HIV, o estigma e a discriminação associados à doença, bem como o acesso limitado aos serviços de saúde. Propõe-se, portanto, a implementação de campanhas de conscientização direcionadas para essa faixa etária, o fortalecimento da formação dos enfermeiros em saúde sexual do idoso, a adoção de modelos de atenção à saúde mais integrados e humanizados, e a promoção de um ambiente livre de preconceitos como medidas essenciais para combater o HIV/AIDS entre os idosos e garantir seu acesso pleno à saúde e ao bem-estar. Investir na prevenção e cuidado integral desses indivíduos não apenas melhora sua qualidade de vida, mas também contribui para uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todos, independentemente da idade, possam beneficiar-se de informação, testagem, tratamento e acompanhamento adequados.

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2 (IFES)
3 (UFMA)
4 (IFES)