REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410021639
Juliana Sousa Januário[1]
Estéfane Caroline Cortez Ferreira[2]
Alan Vitor Farias Linhares[3]
Resumo
As infecções intestinais por parasitas continuam a ser um desafio significativo para a saúde pública no Brasil, especialmente em regiões com condições socioeconômicas precárias. Este estudo teve como objetivo identificar e quantificar a presença de enteroparasitas em alfaces comercializadas em feiras livres na cidade de Porto Velho-RO, buscando compreender a relação entre a contaminação dos alimentos e as condições higiênicas do ambiente de comercialização. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa e caracterizou-se como um estudo experimental de abordagem quantitativa, com coleta de 22 amostras de alface em oito feiras representativas da cidade. A análise das amostras revelou que 59,1% estavam contaminadas, com o parasita Strongyloides stercoralis sendo o mais frequentemente encontrado. Além disso, a pesquisa aplicou questionários aos feirantes para investigar práticas de manejo, higiene e transporte das hortaliças. Os dados coletados indicaram que as condições de manipulação e armazenamento estão diretamente relacionadas à contaminação, com muitos feirantes não adotando medidas adequadas de higiene. Esses resultados destacam a necessidade urgente de intervenções direcionadas para melhorar as práticas de segurança alimentar nas feiras, como a promoção de treinamentos sobre boas práticas de higiene e manipulação de alimentos. A pesquisa enfatiza a relevância de garantir a segurança alimentar e a saúde pública, especialmente em um contexto onde a alface é um componente essencial da dieta da população. A implementação de medidas adequadas pode contribuir significativamente para a redução do risco de infecções parasitárias, protegendo a saúde dos consumidores e melhorando a qualidade dos produtos oferecidos nas feiras livres.
Palavras-chave: Alfaces. Enteroparasitas. Feiras livres.
Abstract
Intestinal infections caused by parasites continue to pose a significant challenge to public health in Brazil, especially in regions with precarious socioeconomic conditions. This study aimed to identify and quantify the presence of enteroparasites in lettuce sold at open-air markets in the city of Porto Velho-RO, seeking to understand the relationship between food contamination and the hygienic conditions of the sales environment. The research was approved by the Research Ethics Committee and was characterized as an experimental study with a quantitative approach, collecting 22 lettuce samples from eight representative markets in the city. Analysis of the samples revealed that 59.1% were contaminated, with the parasite Strongyloides stercoralis being the most frequently found. Additionally, the study applied questionnaires to vendors to investigate their handling, hygiene, and transportation practices regarding the vegetables. The collected data indicated that handling and storage conditions are directly related to contamination, with many vendors not adopting adequate hygiene measures. These results highlight the urgent need for targeted interventions to improve food safety practices in the markets, such as promoting training on good hygiene and food handling practices. The research emphasizes the importance of ensuring food safety and public health, particularly in a context where lettuce is an essential component of the population’s diet. The implementation of appropriate measures can significantly contribute to reducing the risk of parasitic infections, protecting consumer health and improving the quality of products offered in open-air markets.
Keywords: Lettuce. Enteroparasites. Open-air markets.
INTRODUÇÃO
As infecções intestinais por parasitos ainda representam um desafio relevante para a saúde pública no Brasil, especialmente em áreas em que as condições socioeconômicas são desfavorecidas e os sistemas de saneamento básico são ineficientes. Essas infecções são consequências das diferenças sociais e das deficiências estruturais que persistem em diversas regiões do país (UCHÔA, 2001). As infecções por parasitas intestinais são frequentemente usadas como um indicador do progresso socioeconômico de uma nação. Essas infecções são causadas por helmintos ou protozoários que habitam o sistema digestivo humano em algum estágio de seu ciclo biológico, resultando em várias doenças. Esses parasitas podem causar uma série de problemas de saúde no hospedeiro humano. (NUNES et al., 2019). Além disso, a detecção de enteroparasitas em hortaliças comercializadas em feiras livres é uma questão adicional que requer atenção especial, uma vez que esses microrganismos representam potenciais ameaças à saúde humana. A ingestão de alimentos com esses microrganismos pode causar diversas doenças gastrointestinais, desde infecções leves até casos mais graves que requerem intervenção médica (MOHAMED et al., 2016).
Parasitos intestinais são microrganismos que vivem no trato gastrointestinal, incluindo protozoários como Giardia lamblia e Cryptosporidium e helmintos como Ascaris lumbricoides e Taenia sp. A contaminação das alfaces por parasitas pode ser atribuída a vários fatores, incluindo a poluição do solo e da água, bem como práticas inadequadas durante o cultivo e a venda desses produtos (MACHADO et., 2018). O aumento das infecções parasitárias não se deve apenas a fatores biológicos, mas também a aspectos sociais e culturais que influenciam a origem e o desenvolvimento de várias doenças endêmicas. Fatores como o método de descarte de resíduos, movimentos migratórios e o grau de educação dos grupos sociais estão entre os elementos que contribuem para essa situação (BELO, V. S. et al., 2012).
As alfaces são componentes vitais da dieta humana, ricas em vitaminas, minerais e fibras essenciais para o funcionamento adequado do nosso organismo. Elas possuem várias atividades biológicas, incluindo ação antioxidante, graças à presença de carotenoides, vitamina C e flavonoides. Esses vegetais, especialmente quando consumidos in natura, são amplamente ingeridos pela população devido ao teor de nutrientes que fornecem, auxiliando na prevenção de doenças, redução e manutenção do peso, entre outros benefícios. (SIMÕES et al., 2001; FREITAS et al., 2004; LUZ et al., 2017).
A principal via de contaminação dessas alfaces ocorre através da água poluída por fezes humanas e animais, usada na irrigação das plantações. Além disso, o uso de adubo orgânico e o contato com animais como aves, moscas e ratos podem contribuir para a contaminação do solo. O manuseio e transporte inadequados também são fatores de risco significativos (CARMINATE et al., 2011).
No entanto, as alfaces podem abrigar cistos de protozoários, ovos e larvas de helmintos, atuando como um meio de transmissão de parasitas intestinais. Portanto, a investigação de parasitos presentes nas alfaces é de grande importância, pois fornece informações sobre as condições higiênicas envolvidas e, consequentemente, sobre os riscos de contaminação aos seus consumidores. Assim, apesar de sua relevância para a saúde pública, é essencial estar ciente dos possíveis riscos associados ao seu consumo. (VIEIRA et al., 2013; HELLER et al., 2004).
Tendo em vista isso, a pesquisa sobre esses microrganismos é de suma importância devido aos riscos que esses trazem à saúde. A infecção a partir da contaminação por esses parasitas podem ocasionar uma variedade de sintomas, incluindo diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos e perda de peso. Em casos mais graves, esta infecção pode ter consequências graves, especialmente para crianças, idosos e pessoas com sistema imunológico enfraquecido (BRASIL, 2004).
Discutir esse tema não só envolve tópicos relacionados à busca por esses parasitos, mas também traz discussões relacionadas à segurança e qualidade alimentar, o que é particularmente relevante para o contexto brasileiro. As feiras livres desempenham um papel importante no comércio agrícola, mas a falta de cuidados de saúde adequados pode levar à propagação de parasitos intestinais (GODOY et al., 2007). Isso não é diferente no estado de Rondônia, onde as condições ambientais são favoráveis ao desenvolvimento desses microrganismos. As condições sanitárias incertas e a falta de monitorização eficaz em algumas áreas podem aumentar o risco de contaminação dos alimentos.
No contexto da cidade de Porto Velho, capital de Rondônia, essas preocupações são ainda mais evidentes dada a alta densidade populacional e a diversidade de produtos vendidos nessas feiras. A falta de instalações adequadas para o armazenamento e manuseio adequado dos alimentos pode aumentar o risco de infecção por parasitas intestinais, colocando em risco a saúde dos consumidores.
Sendo assim, é importante enfatizar a importância de proporcionar acesso ao tratamento adequado para infecções parasitárias de órgãos. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece diversos medicamentos anti- helmínticos eficazes para o tratamento destas doenças, garantindo que os pacientes afetados recebam a assistência médica necessária. No entanto, a prevenção continua a ser a melhor estratégia e a detecção precoce de parasitas intestinais nos alimentos é essencial para a segurança alimentar e a saúde pública.
Assim, este estudo tem como objetivo identificar, quantificar e avaliar a relação entre a presença ou ausência de enteroparasitas e as condições higiênicas das alfaces no ambiente de comercialização nas feiras livres no município de Porto Velho-RO, visando contribuir para a promoção da saúde pública e a segurança alimentar da população.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) das Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA, conforme o parecer consubstanciado de número 7.023.904, vinculado ao CAAE 81620424.9.0000.0012.
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa experimental com abordagem quantitativa, realizada em oito feiras livres do município de Porto Velho – RO, sendo elas: Feira do Bairro Liberdade, Feira do Alphaville, Feira do Bairro Caladinho, Feira do Bairro Juscelino Kubitschek (SAMAGRIC), Feira do Bairro Nova Porto Velho, Feira Noturna do Conjunto Santo Antônio, Feira do Bairro Baixa União e Feira do Bairro Areal.
Imagem 01: Pontos de coletas via satélite evidenciando as 8 feiras livres de Porto Velho-RO
Fonte: Google Earth, 2024.
Os locais de coleta foram selecionados com base na sua representatividade na oferta de hortaliças à população da cidade e na viabilidade de comparar diferentes condições de higiene e manipulação das alfaces. O critério de escolha definido para a seleção das feiras baseia-se pela popularidade em cada zona do município de Porto Velho-RO.
Foram analisadas 22 amostras de alface crespa (Lactuca sativa) de diferentes pesos e tamanhos, em seis diferentes feiras do municiípio de Porto Velho – RO. As feiras do Bairro Baixa União e do Bairro Areal foram excluídas, pois os vendedores presentes nessas feiras também participavam de outras já incluídas na pesquisa, sendo fundamental a diversidade de vendedores para garantir a representatividade dos dados.
As amostras de alface foram acondicionadas separadamente em sacos limpos, devidamente identificadas com informações sobre o local de origem, data e horário da coleta. Em seguida, foram transportadas em sacos de armazenamento até o laboratório, onde passaram por técnicas de análise parasitológica e identificação morfológica de parasitas. Para a identificação e apresentação dos resultados, foi adotada uma codificação neste estudo; Alphaville (ALPHA), Areal (A.R), Baixa União (B.U), Caladinho (C.A.L), Conj. Santo Antônio (S.A), Liberdade (L.I.B), Nova PVH (N.PVH) e Juscelino Kubitschek (J.K).
Para identificação dos parasitas nas amostras de alface, utilizou-se o método de sedimentação espontânea de Hoffman, Pons & Janer. Foi realizada a desfolhação manual de cada pé de alface com o uso de luvas de procedimento. As folhas foram separadas uma a uma e lavadas em recipiente limpo, com aproximadamente 200 mL de água destilada. em cada folha. O lavado das folhas foi filtrado através de gaze dobrada em 2 camadas em um cálice de sedimentação, que foi deixado em repouso por 24 horas. Após esse período o sedimento foi examinado ao microscópio óptico com a confecção de três lâminas coradas com lugol e observadas em objetivas de aumento 100x e 400x.
Além da análise das amostras, também foram analisados dados sobre o manejo das alfaces pelos feirantes, bem como dados sobre o cultivo, transporte e acondicionamento. Para coleta desses dados foram aplicados questionários aos feirantes de cada barraca participante da do estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise das amostras revelou uma distribuição variada de enteroparasitas. Dentre as 22 amostras de hortaliças examinadas, 13 (59,1%) apresentaram resultados positivos para a presença de parasitas, enquanto 9 (40,9%) foram negativas. O parasita mais comum foi Strongyloides stercoralis, encontrado em 8 amostras (36,4%), seguido por Entamoeba coli, presente em 3 amostras (13,6%), e ancilostomídeos, detectados em 2 amostras (9,1%). Esses resultados destacam a prevalência significativa de Strongyloides stercoralis nas hortaliças analisadas.
A maioria das amostras positivas revelou a presença do helminto Strongyloides stercoralis, confirmando os achados de Silva et al. (2021), que reportaram a detecção desse parasita em 75% das amostras de Lactuca sativa analisadas em 2014 e em 83,3% das amostras de Lactuca sativa analisadas em 2015. É importante notar que, entre os helmintos, S. stercoralis possui uma significância clínica especial e preocupante do ponto de vista epidemiológico, especialmente para indivíduos com sistema imunológico comprometido. Assim como indicado em outros estudos, este parasita também foi o mais frequentemente encontrado nas amostras examinadas (ESTEVES & FIGUEIROA, 2009).
Para prevenir infecções por helmintos como o Strongyloides stercoralis, é crucial adotar medidas preventivas adequadas. Primeiro, a higiene das mãos deve ser uma prioridade: lave-as regularmente com água e sabão, especialmente antes de comer e após manusear alimentos crus. É igualmente importante lavar bem vegetais e frutas com água potável e, se possível, usar uma escova para remover sujeiras (WHO, 2017)
A Tabela 1 a seguir apresenta a distribuição dos enteroparasitas encontrados nas amostras analisadas por feira.
TABELA 1: Resultados da Análise parasitária das Amostras
AMOSTRA | RESULTADO | FEIRA |
ALPHA 01 | Larva de Ancylostoma sp. | Feira do Alphaville |
ALPHA 02 | Negativo | Feira do Alphaville |
ALPHA 03 | Negativo | Feira do Alphaville |
ALPHA 04 | Cisto de Entamoeba coli | Feira do Alphaville |
ALPHA 05 | Negativo | Feira do Alphaville |
C.A.L 06 | Negativo | Feira do Caladinho |
C.A.L 07 | Negativo | Feira do Caladinho |
C.A.L 08 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Caladinho |
C.A.L 09 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Caladinho |
C.A.L 10 | Cisto de Entamoeba coli | Feira do Caladinho |
S.A 11 | Negativo | Feira do Conj. Santo Antônio |
S.A 12 | Negativo | Feira do Conj. Santo Antônio |
S.A 13 | Negativo | Feira do Conj. Santo Antônio |
L.I.B 14 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Liberdade |
L.I.B 15 | Negativo | Feira do Liberdade |
L.I.B 16 | Ancilostomídeo | Feira do Liberdade |
L.I.B 17 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Liberdade |
L.I.B 18 | Cisto de Entamoeba coli | Feira do Liberdade |
J.K 19 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Juscelino Kubitschek |
N.PVH 20 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Nova Porto Velho |
N.PVH 21 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Nova Porto Velho |
N.PVH 22 | Larva de Strongyloides stercoralis | Feira do Nova Porto Velho |
FONTE: JANUÁRIO, 2024.
Na feira localizada no bairro Alphaville, foram identificados dois agentes infecciosos, possivelmente relacionados às condições inadequadas de higiene durante o manuseio e armazenamento dos alimentos, à proximidade com fontes de contaminação ou à utilização de água não tratada para irrigação das hortaliças. Esses fatores podem ter contribuído para a contaminação dos alimentos.
Em contraste, na feira do bairro Caladinho, foram detectados três diferentes enteroparasitos. Esse achado sugere possíveis diferenças nas práticas de cultivo ou no ambiente de comercialização entre as feiras. A contaminação pode estar associada a fatores ambientais, como esgoto a céu aberto ou descarte inadequado de resíduos sólidos.
As feiras que apresentaram a maior quantidade de parasitos foram as feiras dos bairros Nova Porto Velho e Caladinho, com seis resultados positivos, correspondendo a 27% do total de amostras contaminadas. Esse dado é significativo e indica um possível problema sistêmico ao longo da cadeia de produção e comercialização das hortaliças, com falhas nos processos de higienização ou transporte. A alta prevalência de parasitos nesse local demanda ações imediatas, incluindo a implementação de práticas adequadas de higiene e conscientização dos feirantes e consumidores.
A contaminação por parasitas em hortaliças, como evidenciado no estudo de Santos el al. (2021), levanta questões sobre por que algumas feiras apresentam taxas mais altas do que outras. Por exemplo, enquanto a Feira do Produtor Rural e o Mercado Municipal mostraram 100% de contaminação em alfaces, as feiras dos bairros Nova Porto Velho e Caladinho também se destacaram, com 27% das amostras contaminadas. Essas diferenças podem ser atribuídas a fatores como as práticas de manipulação, as condições de higiene do ambiente, e a origem dos produtos. Feiras que adotam medidas rigorosas de controle sanitário e que promovem a educação dos feirantes sobre boas práticas tendem a apresentar menores índices de contaminação. Portanto, a alta prevalência de parasitas em determinadas feiras não apenas indica falhas nos processos de higienização e transporte, mas também enfatiza a necessidade de intervenções direcionadas para uniformizar a segurança alimentar entre os diversos pontos de venda.
Para compreender os fatores que influenciam a contaminação por enteroparasitas nas amostras de alface coletadas em feiras livres, aplicamos um questionário aos feirantes. O objetivo foi obter informações sobre as práticas de manejo, higiene e procedimentos adotados na comercialização da alface. Essa análise é crucial, pois práticas inadequadas podem favorecer a contaminação, aumentando os riscos à saúde pública. A seguir, discutiremos os dados obtidos, explorando como cada aspecto do manejo pode impactar a presença de parasitas nas amostras.
Os dados coletados revelam que a frequência de compras de alface apresenta padrões significativos. Entre os entrevistados, 59,1% relataram compras diárias, 36,4% semanalmente e 4,5% em dias alternados. Essa alta frequência ressalta a importância da alface na dieta dos consumidores, mas também indica uma exposição constante ao produto, o que pode aumentar o risco de contaminação, especialmente em feiras livres, onde o controle de qualidade é frequentemente menos rigoroso. Estudos anteriores mostram que vegetais consumidos com frequência em mercados informais estão mais suscetíveis à contaminação por patógenos (CAMPOS et al., 2004).
As condições de transporte das alfaces também foram analisadas, e os dados indicam práticas que podem comprometer a segurança alimentar. Apenas 9,1% dos feirantes utilizam veículos refrigerados, enquanto 86,4% transportam as mercadorias sem refrigeração. Essa predominância levanta preocupações, já que a falta de controle de temperatura pode favorecer a deterioração e a contaminação por endoparasitas. Um estudo de Melo (2010) reforça essa ideia, indicando que práticas inadequadas de transporte e manipulação são fatores críticos que aumentam o risco de contaminação.
Adicionalmente, o armazenamento das alfaces também se mostrou relevante. Observou-se que o tempo e o tipo de recipiente utilizado para armazenar as alfaces variam consideravelmente entre os feirantes. Por exemplo, alguns armazenam os produtos por menos de uma hora, enquanto outros o fazem por mais de 6 horas. Esse armazenamento prolongado pode aumentar o risco de proliferação de parasitas, especialmente se as condições de higiene não forem adequadas. A hidroponia, adotada por muitos vendedores, pode reduzir a exposição a parasitas, mas o uso de esterco em plantações convencionais ainda pode representar uma fonte de contaminação.
As práticas de controle de qualidade entre os vendedores são igualmente importantes. Embora 72,7% afirmem realizar algum tipo de controle, a ausência de práticas por 27,3% dos feirantes é preocupante, pois pode aumentar o risco de contaminação. A discussão sobre o controle de qualidade em feiras livres é fundamental para assegurar que os consumidores tenham acesso a alimentos seguros. Um estudo de Leite et al. (2021) destaca a importância da qualidade higiênico-sanitária e a aplicação de Boas Práticas, que padronizam procedimentos e diminuem a possibilidade de contaminação.
Além disso, a higiene pessoal dos feirantes também merece atenção. Entre os entrevistados, 17 afirmaram lavar as mãos antes de manusear as alfaces, mas três não adotaram nenhuma prática de higiene. Essa falta de cuidados essenciais aumenta o risco de contaminação das alfaces, sublinhando a necessidade de orientações sobre boas práticas de higiene.
A maioria dos vendedores (95,5%) utiliza água para manter a umidade das alfaces, mas a ausência de gelo, utilizado por apenas 4,5%, pode limitar a eficácia na preservação dos produtos. Embora a água seja uma prática comum, seu uso inadequado pode contribuir para a contaminação. A escolha de métodos de armazenamento e preservação deve considerar o controle higiênico para evitar a proliferação de micro-organismos.
Nesse sentido, a análise das práticas de manejo, transporte, armazenamento e higiene entre os feirantes de alface destaca vulnerabilidades significativas que podem comprometer a segurança alimentar. A elevada taxa de contaminação por enteroparasitas encontrada nas amostras sinaliza a urgência de intervenções efetivas. Para assegurar a saúde dos consumidores, é essencial promover capacitações e a adoção de boas práticas entre os feirantes. Esse esforço não apenas garantirá que as alfaces comercializadas sejam frescas, mas também seguras para o consumo. Ao fortalecer essas práticas, podemos elevar a qualidade dos produtos e proteger a saúde pública, estabelecendo um padrão mais rigoroso de segurança alimentar nas feiras livres.
CONCLUSÃO
A análise das amostras de alface coletadas em feiras livres revelou uma preocupação alarmante com a contaminação por enteroparasitas, destacando a prevalência de Strongyloides stercoralis. A presença deste parasita, com evidências anteriores que corroboram sua detecção em diversas amostras, enfatiza a necessidade de atenção imediata às condições de higiene nas feiras. Fatores como transporte inadequado, armazenamento prolongado e práticas de manejo deficitárias contribuem significativamente para a contaminação.
Os dados sugerem que as feiras com maior taxa de contaminação enfrentam falhas sistêmicas ao longo da cadeia de produção e comercialização. A relação entre as práticas de manejo, o ambiente de venda e a qualidade do produto final é clara: feiras que implementam rigorosas medidas de controle sanitário e oferecem educação sobre boas práticas tendem a apresentar menores índices de contaminação. Por outro lado, a falta de ações adequadas em algumas feiras ressalta a urgência de intervenções.
Para mitigar os riscos associados à contaminação por enteroparasitas, é fundamental promover campanhas de conscientização e treinamentos direcionados aos feirantes. A implementação de boas práticas de higiene e o controle rigoroso nas etapas de manuseio e armazenamento das alfaces são essenciais para garantir que os produtos comercializados sejam seguros para o consumo.
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[1] Graduando em Biomedicina (UNAMA).
[2] Graduando em Biomedicina (UNAMA)
[3] Biomédico. Especialista em Microbiologia e Parasitologia Clínica. Docente orientador,