PREVALÊNCIA DE DOR MÚSCULOESQUELÉTICA EM PRATICANTES DE EXERCICIOS DE FORÇA MUSCULAR EM ACADEMIA DE “CROSSFIT” DE TERESINA – PI

PREVALENCE OF MUSCULOSKELETAL PAIN IN MUSCLE STRENGTH EXERCISES PRACTITIONERS AT A “CROSSFIT” GYM IN TERESINA – PI

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8076170


Arthur Fernandes Bezerra Portela Coelho¹
Luna Viana Borges²
Maria Clara Rocha de Oliveira Paes Landim³
Thalita Ellen Lima da Silva4
Victória Andrade Fernandes5
Wagner Feijó de Oliveira Filho6
Alice Lima Rosa Mendes7
Suely Moura Melo8
Ângela Maria Freitas Paiva9
Joelma Moreira de Norões Ramos10


RESUMO

OBJETIVOS: verificar a prevalência de dores musculoesqueléticas em praticantes de “Crossfit” e o local de maior predominância da dor em seus praticantes; e relacionar as características da dor com o perfil epidemiológico, associando o tipo de dor com a faixa etária dos praticantes desse método de atividade física e sexo, e se a dor já existia antes de iniciar o “Crossfit”. MÉTODOS: foi aplicado um questionário online que foi divulgado nas mídias sociais. Os participantes foram encorajados a distribuí-lo de forma mais efetiva nos locais que tem praticantes, e houve a adesão e um maior número de respostas de uma ampla rede de terminais de Teresina – PI. A coleta de dados ocorreu no período de setembro de 2022 a outubro de 2022. A análise de dados foi feita por meio de estatística descritiva percentual e a aplicação de Teste f e regressão. RESULTADOS e DISCUSSÃO: Um total de 58 participantes do Crossfit completaram a pesquisa e 51 preencheram os critérios de inclusão. A taxa geral de lesões foi determinada como sendo 33,33% (17/51), tendo como locais mais acometidos ombro, joelhos e região lombar. Quanto ao perfil epidemiológico dos praticantes de Crossfit, nosso estudo mostrou ser bastante variável, apesar do sexo feminino ter predominado na amostra global, outros aspectos foram: a faixa etária variando dos 26 aos 35 anos, e em relação à ocupação prevaleceram estudantes e advogados. Ao observar o perfil clínico percebeu-se que as lesões relatadas anteriormente ao Crossfit são as mesmas relatadas durante a sua prática, porém não foi possível afirmar que há uma relação significativa entre elas, a ponto de concluir-se que lesões prévias envolvem um fator de risco para lesões posteriores. Em relação a frequência dos treinos com a intensidade da dor, nosso estudo mostrou uma concordância entre ambos, podendo afirmar que quanto mais dias e tempo de treino, maior o risco para o desenvolvimento de lesões. CONCLUSÃO: Esse estudo revelou que o sexo feminino foi passível de sofrer mais lesões que o masculino, sendo que esta é uma variável não significativa, e levando em consideração outros estudos, apresentou-se contraditória aos dados de pesquisas anteriores, e quanto a faixa etária dos praticantes e a relação com lesões não ficou evidenciada uma associação significativa.

Palavras-chaves: Crossfit. Dor. Regiões acometidas. Fatores de risco.

ABSTRACT

OBJECTIVES: to verify the prevalence of musculoskeletal pain in “Crossfit” practitioners and the site of greatest pain prevalence in practitioners; and to relate the characteristics of pain with the epidemiological profile, associating the type of pain with the age group of practitioners and sex, and whether the pain already existed before starting “Crossfit”. METHODS: an online questionnaire was applied and disseminated on social media. Participants were encouraged to distribute it further, and as such, there were responses from a wide network of terminals in Teresina -PI. Data collection took place from September 2022 to October 2022. Data analysis was performed using percentage descriptive statistics, and application of f test and regression. RESULTS and DISCUSSION: A total of 58 CrossFit participants completed the survey, and 51 met the inclusion criteria. The overall rate of injuries was determined to be 33.33% (17/51), with the most affected sites being the shoulders, knees and lumbar region. As for the epidemiological profile of Crossfit practitioners, our study proved to be quite variable, although the female gender, the young age group, especially from 26 to 35 years old, and more frequented by students and lawyers, were more present in the research. When observing the clinical profile, it is noticed that the injuries reported before CrossFit are the same reported during its practice, but we cannot say that there is a significant relationship between them, to the point of concluding that previous injuries are a risk factor for injuries. later. Regarding the frequency of training with pain intensity, our study showed agreement between both, being able to state that the more days and time of training, the greater the risk for the development of injuries. CONCLUSION: This study showed that females suffer more injuries than males is a non-significant variable, and taking into account other studies, contradictory to data from previous research, and regarding the age group of practitioners and the relationship with injuries, it was not evident. a significant association.

Keywords: Crossfit. Pain. Affected regions. Risk factors.

INTRODUÇÃO

Exercícios físicos são, geralmente, associados à qualidade de vida, visto que eles colaboram para a prevenção e controle de doenças crônicas. Em especial, aquelas que são originadas por fatores de risco modificáveis e tidas como grandes problemas de saúde pública, tais como hipertensão arterial, sobrepeso, obesidade e níveis altos de colesterol. Desse modo, a ideia de que a atividade física serve somente para enaltecer a beleza física vem sendo contraposta pela nova concepção de inúmeros benefícios proporcionados à saúde devido à sua introdução na rotina dos indivíduos em geral (DALFRE, 2017).      Uma das novas modalidades de treinamento que vem atraindo adeptos mundialmente, desde sua criação por Glassman em 1995, é o Crossfit. Segundo Moran et al. (2017), Crossfit é um programa de força e condicionamento que é adotado por seus praticantes como filosofia de exercício ou como esporte competitivo devido a sua dinâmica ao incorporar uma ampla gama de atividades, incluindo variações emprestadas do levantamento de peso, ginástica e exercícios aeróbicos tradicionais, que normalmente, são realizados em formato temporizado, no formato de circuito ou ambos. (SZELES, 2020).

Tendo em vista o risco de lesões decorrentes da prática desse tipo de exercício físico, é importante ressaltar a necessidade de acompanhamento por um profissional da área com o objetivo de prevenir ou minimizar esse quadro. Contudo, além de muitas vezes isso não acontecer, existe a omissão do praticante sobre relatar a existência de algum sintoma tal como dor ao realizar determinado exercício (CARDOSO, 2011).

Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a um real ou potencial dano tecidual. Normalmente, encontra-se associada a uma condição subjacente, sendo, na maioria das vezes, o principal indicativo de que algo não está indo bem. A avaliação da presença de dor pode ser feita por meio de instrumentos avaliativos, por meio dos quais, o paciente é quem faz seu autorrelato visto que a experiência dolorosa é individual e subjetiva (CARDOSO,2011).

Decorrente disso, esse trabalho visa, por meio de um questionário, verificar a prevalência de dores musculoesqueléticas em praticantes de “Crossfit”, identificando qual o local de maior predominância de dor em seus praticantes ao realizar a atividade de Crossfit.

2. METODOLOGIA

Quanto a natureza dessa pesquisa, ela foi classificada como exploratória, já em relação ao problema, foi definida como qualiquantitativa, e acerca dos procedimentos é considerada como bibliográfica e de levantamento. A amostra foi composta por indivíduos que frequentam os terminais de Crossfit na cidade de Teresina – PI. Objetivou-se inicialmente alcançar a participação de 30 praticantes na pesquisa, no entanto participaram 58 praticantes dessa modalidade.

O grupo que compôs esse estudo apresentou os seguintes critérios de inclusão: homens e mulheres a partir dos 18 anos, matriculados em terminais esportivos de prática de Crossfit em Teresina – PI, que realizam essa modalidade por por no mínimo 3 meses, com uma frequência semanal de pelo três dias na semana e que se voluntariaram a participar do estudo. Foram excluídos aqueles indivíduos que não se adequaram a proposta desse estudo ou que apresentaram limitações que impossibilitam a comunicação e a expressão, ou seja, indivíduos com problemas neurológicos e/ou psicológicos que poderiam comprometer a realização da entrevista e preenchimento dos questionários.

Por ter se tratado de uma pesquisa na qual os dados utilizados foram provenientes de seres humanos, o estudo foi realizado de acordo com as exigências do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), respeitando a resolução 466/12, com isso todos os participantes tiveram que assinar o aceite do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A). Foram utilizadas fichas de entrevista online para facilitar o preenchimento pelos participantes (APÊNDICE B).

A pesquisa seguiu os critérios demonstrados quanto ao procedimento de coleta e análise dos dados. Após ser aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), do Centro Universitário UniFacid, sob o número de CAAE 34965420.5.0000.5211, foi iniciada a coleta dos dados antropométricos por meio do preenchimento dos questionários  que foi realizado através de formulários online que foram enviados para os praticantes de “Crossfit” de Teresina -PI de maneira eletrônica por Whatsapp e e-mail, mediante o aceite, por parte dos participantes do estudo, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os freqüentadores responderam às questões do questionário que foi realizado pela pesquisadora.

A coleta de dados ocorreu no período de setembro de 2022 a outubro de 2022, para tanto foi utilizado um questionário online, elaborado pelo próprio pesquisador, que foi preenchido com as seguintes variáveis: idade, gênero, profissão, frequência (quantos dias por semana),  há quanto tempo pratica, se possui indicação médica, se  apresenta alguma patologia, se possui diagnóstico de algum problema ortopédico; se possui alguma alteração congênita, se já possui algum tipo de dor antes, durante ou após a prática de atividade física; e a escala visual de dor.

A partir dos dados coletados na entrevista, esta pesquisa pretendeu identificar qual o local de maior predominância da dor em seus praticantes. Também buscou correlacionar as características da dor com o perfil epidemiológico, associando o tipo de dor com a faixa etária dos praticantes, sexo, profissão, e se a dor já existia antes de iniciar o “Crossfit” também será avaliada no presente estudo. Além de avaliar a intensidade da dor a partir da aplicação da escala visual de dor. Os dados foram armazenados na ficha de entrevista de cada um para a análise. Após a obtenção das respostas, foram calculadas as estatísticas descritivas para cada variável.

Os dados foram computados manualmente e, por fim, foi utilizado de estatística percentual para montar o perfil epidemiológico e clínico dos praticantes de Crossfit, além da indicação médica para a realização dessa atividade física. Testes F independentes foram utilizados ​​em variáveis ​​contínuas para comparar as lesões relatadas para o sexo feminino e masculino, além de comparar as mesmas entre as faixas etárias identificadas pela pesquisadora. A regressão logística múltipla foi utilizada para avaliar associações numéricas ajustadas, analisando dessa forma a relação entre a frequência nos treinos com a escala de intensidade da dor. Todos os testes estatísticos foram bilaterais e tiveram um valor de P inferior a 0,05 sendo considerado estatisticamente significativo. Após a análise dos dados, foram montadas tabelas e um gráfico apresentando os resultados encontrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, encontra-se o perfil epidemiológico dos praticantes de “Crossfit” divididos em idade, sexo e profissão. Foram questionadas 51 pessoas de diversos terminais de “Crossfit” de Teresina – PI. A idade mínima dos praticantes desse tipo de exercício físico foi de 18 anos e a máxima de 74 anos, o sexo feminino liderou entre os praticantes, sendo 36 (70,59%) dos 51 praticantes participantes mulheres, e entre os participantes, as profissões mais comuns foram a de estudante e advogado, com 8 (15,69%) participantes cada.

Tabela 1 – Perfil sociológico dos praticantes de “Crossfit”.

CaracterísticasFrequência n.º%
Idade
18-25 anos1325,49%
26-35 anos2141,18%
36-45 anos1223,53%
46-55 anos35,88%
>55 anos23,92%
Total51100,0
Sexo
Feminino3670,59%
Masculino1529,41%
Total51100,0
Profissão
Estudante815,69%
Professor35,88%
Psicólogo (o)47,84%
Arquiteta11,96%
Educador físico35,88%
Servidora Pública35,88%
Fisioterapeuta35,88%
Administrador (a)11,96%
Auxiliar de gestão11,96%
Advogado (a)815,69%
Empresária23,92%
Engenheiro Civil35,88%
Contador (a)23,92%
Fotógrafo11,96%
Policial Militar11,96%
Dentista23,92%
Jornalista11,96%
Fonoaudióloga11,96%
Cantora11,96%
Aposentado11,96%
Corretor11,96%
Total51100,0

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

Observou-se que, a média da idade dos praticantes de atividade física ficou entre a segunda e terceira década de vida, evidenciando que mesmo com a difusão de conhecimento sobre a importância da prática de exercícios em todas as idades, em especial quanto a uma vida saudável, esse hábito ainda é escasso na população brasileira. Percebeu-se também a variância quanto à profissão dos praticantes, não havendo uma área específica, mostrando uma versatilidade nesse âmbito. E quanto ao sexo, por ser uma amostra aleatória, não podemos afirmar que mulheres são a maioria nos terminais de “Crossfit”.

A Tabela 2 mostra a prática de Crossfit mediante indicação médica, evidenciando que a maioria dos praticantes exercem essa prática física sem a recomendação de um médico, a partir disso, podemos verificar que são poucos os praticantes que sabem se realmente tem as condições físicas necessárias para esse tipo de exercício, podendo, desta forma, piorar as lesões já existentes ou colaborar para o surgimento de alguma que já tenha predisposição a ter.

Tabela 2 – Indicação médica e a prática de Crossfit

Indicação MédicaFrequência%
Sim1937,25%
Não3262,75%
Total51100%

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

A Tabela 3, aponta o perfil clínico dos praticantes de “Crossfit” destacando a presença de dores anteriores ao início da prática do “Crossfit” e as dores durante ou após a atividade física com o respectivo local de dor de ambas. Dos 51 participantes da pesquisa 21 (41,18%) relataram dores anteriores ao “Crossfit”, sendo o local de maior acometimento a coluna (37,50%), em especial a dor lombar, outros locais relatados foram: joelho (29,17%), ombro (16,67%), punho (8,33%) e tornozelo/pé (8,33%). E em relação às dores durante ou após o exercício, 17 (33,33%) pessoas confirmaram sentir dores, principalmente na coluna, sobretudo na lombar (36,84%), seguida do ombro (26,32%), do joelho (21,05%) e do trapézio/escápula (15,79%).

Martins et al. (2018) ressalta o artigo de Chachula (2016) no qual ele mostrou que o histórico de lesões anteriores relacionadas com o aumento da prevalência de novas lesões em indivíduos que participavam do treinamento de Crossfit foi significante, em decorrência disso, ele afirmou que indivíduos já lesionados eram mais propensos a sofrer outra lesão no treinamento de Crossfit, atentando a esse público a suscetibilidade de lesão diante a prática. O que justifica isso, de acordo com Moran (2017) é o desequilíbrio da força muscular e a deficiência, flexibilidade diminuída, funcional e/ou instabilidade mecânica e a presença de tecido cicatricial. Segundo Dominski (2018), a presença de lesões anteriores é um fator associado importante, pois indivíduos com lesões prévias possuem 3,75 vezes maior probabilidade de retorno a partir da prática do Crossfit. Entretanto, pode-se também não haver uma correlação das lesões anteriores com um maior risco de lesões subjacentes.

Tabela 3 – Perfil clínico dos praticantes de “Crossfit”.

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

De acordo com Martins (2018) que indicou por meio de uma tabela os locais que mais foram referidos lesões nos trabalhos que ele revisou, sendo as regiões relatadas mais comuns nos 7 artigos analisados: ombro, costas, joelhos, braços e pulsos. Moran (2017) reportou que as regiões mais acometidas foram respectivamente: região lombar, joelho, punho, coxa, ombro, cotovelo e pé, indo de acordo com os resultados do estudo. Em Montalvo (2017) seguiu-se o mesmo padrão, tendo como regiões, mais reladas pelos participantes, lesionadas com mais frequência o ombro, os joelhos e a lombar.

Sobre o local de acometimento:

Essas regiões são mais lesionadas por estarem presentes praticamente em todos movimentos e gestos, compondo movimentos dinâmicos e/ou estabilizadores. Diversos fatores podem ocasionar essas lesões, desde um encurtamento muscular, uma falta de mobilidade, uma assimetria, uma carga excessiva, falta de técnica, falta de orientação e acompanhamento, entre outros. (MARTINS, 2018, p.3).

Segundo Brandão (2018), ombro, coluna e joelho foram as regiões mais acometidas nos artigos analisados por ele, devido à similaridade do Crossfit com os exercícios do levantamento de peso olímpico, power lifting e ginástica. Ele foca principalmente na lesão de ombro, alegando que o movimento de levar a barra acima da cabeça gera muita instabilidade nesta articulação e geralmente é realizado com uma carga alta, e por vezes os praticantes de Crossfit não estão acostumados com a execução desse movimento como os levantadores de peso, estando mais suscetíveis às lesões.

Na Tabela 4 têm-se a relação do local da dor com o sexo, evidenciando que o sexo feminino (16) foi o que mais relatou dores durante ou depois do exercício físico com foco na lombar, e somente 3 homens relataram sentir dores. Ao aplicar o Teste f sobre os valores, encontrou-se um P significativo (0,03), com isso, notou-se que esse resultado se deu pelo número maior de participantes da pesquisa serem pertencentes ao sexo feminino, a partir disso, não podemos afirmar que as dores estão mais relacionadas com mulheres que com homens.

Tabela 4 – Relação do local da dor com o sexo

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

Em contrapartida, Moran (2017) demonstrou em seu estudo que o sexo masculino é um importante fator de risco para o desenvolvimento de lesões, isso deveu-se ao sexo feminino apresentar mais predisposição a procurar ajuda dos treinadores, ou até mesmo a usarem pesos menores e mais apropriados ao exercício e/ou se preocuparem com a execução correta do exercício, colaborando para a diminuição do risco de lesões. Essa afirmação também esteve presente no trabalho de Dominski (2018), no qual ele conclui que o sexo tem associação com o predomínio de lesões, sendo o sexo masculino com o maior número de lesões em relação ao feminino.

Sobre os homens serem mais propensos a lesão do que as mulheres:

Demograficamente, os atletas do sexo masculino tendem a se lesionar com mais frequência do que as atletas do sexo feminino. Curiosamente, as mulheres eram mais propensas a procurar ajuda de um treinador e, portanto, isso pode explicar a diminuição da taxa de lesões (Weisenthal, 2014, p. 5)

Na Tabela 5 temos a relação do local da dor com a faixa etária dos praticantes de Crossfit, evidenciando que a faixa etária dos 26 aos 35 anos foram os que mais relataram dores, sendo o local mais acometido o ombro, em contrapartida, as pessoas com mais de 55 anos não referiram nenhuma dor. Entretanto, ao realizar o teste f, o valor do P mostrou-se significativo, concluindo que esse resultado se deve a idade da maioria dos participantes da pesquisa encontrar-se dentro da segunda faixa etária exposta.

Além disso, dos artigos encontrados, somente Weisenthal (2015) relacionou a idade com lesões, e concluiu que não houve diferença significativa na taxa de lesões ao longo da idade, com isso, o Crossfit, se realizado de forma segura, é um programa de treinamento que não apresenta perigo para atletas de diferentes faixas etárias. Dominski (2018) analisou 10 estudos, e em 5 deles a idade esteve entre os fatores que não estiveram associados às lesões.

Tabela 5 – Relação da faixa etária dos praticantes de Crossfit com o local da dor

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

O Gráfico 1 apresenta a associação da quantidade de dias em que é praticado o Crossfit com a escala de dor, demonstrando que tem uma correlação, embora fraca positiva (r=0,27), significativa (p=0,047) entre ambas, quanto maior a frequência dos treinos maior a intensidade de dor referida.

Gráfico 1 – Associação entre dias da semana versus escala de dor

Fonte: Coleta de dados realizada pela pesquisadora através da ficha de questionário.

Quanto a relação da frequência nos treinos e a intensidade de dor:

Com relação aos fatores de risco potenciais para a participação no Crossfit, os atletas lesionados tiveram uma exposição ao treinamento significativamente maior do que os atletas não lesionados. Maior exposição equivale a mais chances de lesão ocorrer. (Montalvo, 2017, p.5)

Outros estudos como Xavier (2017), Sprey et al (2016), Montalvo et al (2017), Garcia et al (2017) e Feito (2014) também demonstraram que quanto mais horas de treino e mais dias na semana maior é o risco significativo para novas lesões, em vista que se deve respeitar o tempo de descanso dos músculos, tendões e articulações entre os exercícios para que eles se recuperem totalmente.

Em contrapartida, alguns artigos demonstraram que essa associação não é tão forte:

A associação entre lesões e tempo de prática mostrou-se não estar clara, pois alguns estudos mostraram que os praticantes com maior tempo de prática sofrem mais lesões em relação aos com menor tempo6,27. Por outro lado, um estudo encontrou uma taxa de incidência de lesões entre atletas com menos de seis meses de experiência 2,5 vezes maior do que a de atletas com mais de seis meses de experiência, fator que pode ser explicado pela não execução da técnica correta dos movimentos26. (Dominski, 2018, p. 8)

Sprey et al. (2016) não encontrou diferença significativa nas taxas de lesões em relação à duração das sessões de treinamento, frequência semanal de treinamento, prática concomitante de outras atividades físicas e frequência de descanso. Entretanto, seu estudo, apresentou que apenas o tempo de prática do Crossfit afeta significativamente as taxas de frequência de lesões e que indivíduos que praticam o esporte há mais de 6 meses têm 70% mais chances de ter sofrido uma lesão, independentemente das outras características avaliadas.

O Crossfit é uma mistura de vários exercícios simultâneos de diversos esportes, dentre eles ginástica, levantamento de peso, levantamento olímpico e atividades de resistência, como corrida de curta distância. Esses movimentos de alta complexidade geralmente são realizados em elevada intensidade com pouco tempo de recuperação entre os exercícios, decorrente disso, estima-se uma maior taxa de lesões entre os praticantes (Keogh et al. 2016).

Levando isso em consideração, levantamos a hipótese de um índice superior de lesões entre os participantes, sendo elas concentradas nas articulações mais utilizadas, como o ombro. Em nossa pesquisa, descobrimos que o percentual de lesões no Crossfit foi de 33,33%. Essa taxa de lesões foi aferida apenas dos dados coletados pelo nosso questionário aos praticantes em geral dessa modalidade, e dependemos de seus relatórios com base em seus critérios de lesão para estabelecer essa taxa de lesão. Esse valor foi semelhante às relatadas anteriormente. Sprey et al. (2016) descobriram que 31% dos atletas de Crossfit que completaram sua pesquisa sofreram lesões durante a participação no Crossfit.

Com relação à localização da lesão, nossos resultados indicaram que o ombro, o joelho e a região lombar foram os locais mais frequentemente lesionados. O que se assemelha aos achados de Montalvo et al. (2017), Keogh et al. (2016) e Weisenthal et al. (2014). Montalvo et al. (2017) encontrou como locais de lesão mais frequentes ombro, joelho e região lombar; Keogh et al. (2016) indicaram ombro, lombar, joelho, cotovelo e punho/mão como regiões mais acometidas e Weisenthal et al. (2014) identificaram o ombro, a região lombar e o joelho como os locais mais frequentemente lesionados.

Em sua revisão, Keogh (2016) descobriu que os levantadores de peso olímpicos lesionam com mais frequência o joelho, a região lombar e o ombro, os powerlifters lesionam com mais frequência o ombro, a região lombar e o joelho e os homens fortes lesionam com mais frequência a região lombar, o ombro e o bíceps. Os atletas de Crossfit se assemelhavam mais aos powerlifters nesse sentido.

Entretanto, outros estudos, como o de Weisenthal (2014) mostram que os movimentos de levantamento de peso resultaram em mais lesões do que os movimentos de levantamento de peso olímpico, além disso, não somente o levantamento de peso, como movimentos derivados da ginástica também são responsabilizados por lesões, em especial no ombro. Isso deve-se aos levantadores de peso olímpicos estarem mais acostumados a levantar peso acima da cabeça do que os levantadores de peso e atletas de Crossfit, adquirindo maior habilidade, força e flexibilidade em relação aos últimos.

Outra explicação, segundo Dominski (2018) é diminuição da estabilização da articulação escapulo torácica. A discinesia escapular afeta a execução do movimento dessa articulação, sobrecarregando a articulação glenoumeral, esta geralmente está associada a um desequilíbrio muscular, principalmente pela fraqueza de serrátil anterior e trapézio fibras inferiores. Em decorrência da elevada incidência de lesões no ombro em diversos estudos, deve-se levar em consideração a inclusão dos exercícios relacionados ao levantamento de peso e ginásticas, e estes, ao serem inseridos no treino, devem ser realizados com maior cautela e supervisão dos profissionais da área, tendo em vista fatores como esforço excessivo e técnica inadequada.

Quanto ao perfil epidemiológico dos praticantes de Crossfit, o estudo mostrou ser bastante variável, embora tenha se mostrado mais presente na pesquisa o sexo feminino, a faixa etária jovem, em especial dos 26 aos 35 anos, e mais frequentado por estudantes e advogados. Ao observar o perfil clínico, percebe-se que as lesões relatadas anteriormente ao Crossfit são as mesmas relatadas durante a sua prática, porém não podemos afirmar que há uma relação significativa entre elas, a ponto de concluir que lesões prévias e um fator de risco para lesões posteriores.

 Em contrapartida, estudos como de Moran (2018) demonstraram que os participantes do Crossfit que sofreram uma lesão anterior nos últimos seis meses tiveram um risco de lesão quando comparados àqueles que não sofreram lesão anterior. Em relação a frequência dos treinos com a intensidade da dor, nosso estudo mostrou uma concordância entre ambos, podendo afirmar que quanto mais dias e tempo de treino, maior o risco para o desenvolvimento de lesões. Esse resultado é semelhante ao de outros estudos já mencionados anteriormente.

Esta pesquisa não foi isenta de limitações, pois o questionário foi distribuído eletronicamente, com o objetivo de atingir um público maior, o que pode gerar um viés de seleção, pois pessoas mais solícitas ou que se caracterizam com o tema por ter lesões podem se sentir mais inclinadas a responder o questionário. Além disso, dependíamos do atleta para a interpretação da lesão, que pode ser confundida erroneamente com uma dor muscular tardia. Ademais, o tamanho da amostra não permitiu relações claras sobre os fatores de risco estudados, como sexo e idade, desta forma um maior e/ou um estudo de coorte prospectivo mais longo é necessário, no qual planeje identificar quais exercícios, condições ou fatores modificáveis e não modificáveis ​​resultam em lesão, especialmente no ombro, região lombar e joelho.

Os resultados deste estudo podem ser utilizados ​​para orientar médicos, proprietários de Crossfit e treinadores à medida que possam implementar estratégias preventivas em suas academias e práticas. Dessa maneira, o Crossfit, que apresenta uma maior probabilidade de seus adeptos realizarem exercícios de força muscular e aeróbicos livres de alta intensidade e com movimentos rápidos possuem maior chance de lesões, uma vez que os exercícios necessitam de uma boa técnica de execução e alta consciência corporal para que sejam realizados satisfatoriamente e sem lesões por sobrecarga ou déficit de execução.

Consequentemente, à medida que a participação nos Crossfit vai aumentando, as lesões oriundas de seus treinos também elevaram, provavelmente. Em vista disso, os profissionais de saúde, como os médicos do esporte e fisioterapeutas, e os educadores físicos devem estar cientes disso e procurarem estar preparados para tratar os diversos padrões de lesão sofridos por seus atletas. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Crossfit está adentrando cada vez mais no mundo dos esportes como uma atividade dinâmica e popular de exercício competitivo focado no condicionamento físico, adquirindo vários adeptos, em especial aqueles que querem fugir dos métodos convencionais e monótonos de treinamento, incluindo musculação e outras atividades de academia.

As taxas de lesões no Crossfit são comparáveis com outros esportes recreativos ou competitivos, como ginástica e levantamento de peso. Além disso, os locais mais acometidos por lesões mencionados nessas atividades seguem a mesma linha: ombro, joelhos e coluna lombar.

Por fim, esse estudo também mostrou que o sexo feminino sofre mais lesões que o masculino e é uma variável não significativa, e levando em consideração outros estudos, contraditória aos dados de pesquisas anteriores, e quanto a faixa etária dos praticantes e a relação com lesões não foi evidenciada uma associação significativa.

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