PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE EM PACIENTES ONCOLÓGICOS

PRESERVING THE FERTILITY OF ONCOLOGY PATIENTS 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411261752


Souza, Jéssica
Santos, Mirian
Amparo, Patrícia
Ferraz, João


RESUMO 

As práticas que englobam a preservação da fertilidade em pacientes  oncológicos, vem ganhando notoriedade e atenção no ramo da medicina, isso  acontece devido aos grandes avanços tecnológicos que possibilitaram o  aprimoramento de novas técnicas e tratamentos na área oncológica,  aumentando a longo prazo, a cura e a sobrevivência desses pacientes, podendo  oferecer uma alternativa promissora de elevar as probabilidades desses  pacientes exercerem o desejo de serem pais. Essa revisão literária oferece como  objetivo, focar e explorar as possíveis estratégias que possibilitem a preservação  da fertilidade, avaliando e discutindo sobre seus métodos, suas indicações, a  sua eficácia e possíveis implicações atreladas a cada técnica, correlacionando e  identificando lacunas que possam surgir durante esse processo. 

Palavras-chave: oncofertilidade, fertilidade, oncológicos, técnicas, preservação.

ABSTRACT 

The process of preserving the fertility of oncology patients has been gaining  notoriety and attention in the field of medicine, this is due to major technological  advances that have enabled the improvement of techniques and treatments in  the oncology area, increasing the long-term cure and survival of these patients.  This literary review aims to focus and explore possible strategies that enable  fertility preservation, evaluating and discussing methods, indications, efficacies  and possible implications of each technique, correlating and identifying gaps that may arise during this process. 

Keywords: oncofertility, fertility, oncology, tecniques, preservation. 

INTRODUÇÃO 

O crescimento descontrolado de células é comumente chamado de câncer. Essas células realizam sua divisão e sua multiplicação desordenadamente, podendo invadir tecidos, órgãos e até se alastrando por todo o corpo  (metástase). O tratamento oncológico pode variar de acordo com suas técnicas,  a quimioterapia utiliza de medicamentos para destruir ou evitar que as células  cancerígenas sigam se desenvolvendo, a radioterapia utiliza de radiações  ionizantes para aniquilar as células tumorais e a intervenção cirúrgica utiliza de  meios cirúrgicos para a remoção da área afetada. Todo tratamento no combate  ao câncer gera danos irreversíveis, por se tratar de formas abruptas e muitas  vezes tóxicas. Com as grandes taxas de sobrevivência ao câncer, surge a  necessidade de avaliar a qualidade de vida dos pacientes pós-tratamento oncológico, isso inclui compreender o desejo e a necessidade de pacientes em  querer ter filhos. Essa vertente gerou e fermentou debates sobre essa importante  preocupação, que segue sendo discutidos constantemente.  

OBJETIVO 

Abordar as estratégias de preservação da fertilidade que incluem grandes  variedades de técnicas e métodos que visam principalmente, minimizar os danos  causados pelo câncer e pelo seu tratamento agressivo, oferecendo a  oportunidade e a possibilidade de reprodução. O melhor método ou técnica  deverá ser avaliado por uma equipe médica que escolherá a abordagem mais  eficaz para o caso do paciente, os critérios avaliados incluem: tipo de câncer,  tratamento ou idade.  

JUSTIFICATIVA 

INCIDÊNCIA DE CÂNCER EM MULHERES E HOMENS (%) E OS MAIS  RECORRENTES 

O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, figurando como  uma das principais causas de morte e, como consequência, uma das principais  barreiras para o aumento da expectativa de vida. Na maioria dos países,  corresponde à primeira ou à segunda causa de morte prematura, antes dos 70 anos. O impacto da incidência e da mortalidade por câncer está aumentando  rapidamente no cenário mundial. Tal aumento resulta principalmente das  transições demográfica e epidemiológica pelas quais o mundo está passando.¹ O envelhecimento, a mudança de comportamento e do ambiente, incluindo  mudanças estruturais, que têm impacto na mobilidade, na recreação, na dieta e  na exposição a poluentes ambientais, favorecem o aumento da incidência e da  mortalidade por câncer.² Nos países com alto Índice de Desenvolvimento  Humano (IDH), observa-se o impacto na redução das taxas de incidência e  mortalidade por câncer pelas intervenções eficazes para prevenção, detecção  precoce e tratamento. Já nos países em transição, essas taxas seguem  aumentando ou estáveis. Sendo, portanto, o desafio para esses países a melhor  utilização dos recursos e os esforços para tornar mais efetivo o controle de  câncer.¹ 

Foram estimados, para o ano de 2023, no Brasil, 704 mil casos novos de câncer.  Excluindo o câncer de pele não melanoma, espera-se a ocorrência de 483 mil  casos novos, sendo 49,5% em homens (239 mil casos novos) e 50,5% (244 mil  casos novos) em mulheres. O câncer infantojuvenil (de 0 a 19 anos) representará  7.900 casos, com discreto predomínio no sexo masculino com 4.200 (53,2%)  casos novos e 3.700 (46,8%) no sexo feminino.³ 

Com exceção do câncer de pele não melanoma, os tipos de câncer mais  incidentes corresponderão a cerca de 70,0% de todos os casos. Os cânceres de  mama feminina e próstata representa aproximadamente 15,0% dos casos  novos cada um, seguidos do câncer de cólon e reto (9,4%), traqueia, brônquio e  pulmão (6,7%), estômago (4,4%) e colo do útero (3,5%). A análise por gênero  mostra que o câncer de próstata é o mais frequente entre os homens (30,0%),  seguido dos cânceres de cólon e reto (9,2%), traqueia, brônquio e pulmão  (7,5%), estômago (5,6%) e cavidade oral (4,6%). O câncer de mama feminina é  o que mais acomete as mulheres (30,1%) e o câncer de cólon e reto é o segundo  mais frequente (9,7%). Na sequência, observam-se os cânceres do colo do útero  (7,0%), traqueia, brônquio e pulmão (6,0%) e tireoide (5,8%) (Figura 1).³ 

Figura 1: Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes  estimados para 2023 por sexo, exceto pele não melanoma. 

Fonte: Dados extraídos da Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil do  INCA. 

Para o Brasil, a estimativa para o triênio de 2023 a 2025 aponta que ocorrerão  704 mil casos novos de câncer, 483 mil se excluídos os casos de câncer de pele  não melanoma. Este é estimado como o mais incidente, com 220 mil casos  novos (31,3%), seguido pelos cânceres de mama, com 74 mil (10,5%); próstata,  com 72 mil (10,2%); cólon e reto, com 46 mil (6,5%); pulmão, com 32 mil (4,6%);  e estômago, com 21 mil (3,1%) casos novos. Estima-se que os tipos de câncer  mais frequentes em homens serão pele não melanoma, com 102 mil (29,9%)  casos novos; próstata, com 72 mil (21,0%); cólon e reto, com 22 mil (6,4%);  pulmão, com 18 mil (5,3%); estômago, com 13 mil (3,9%); e cavidade oral, com  11 mil (3,2%). Nas mulheres, os cânceres de pele não melanoma, com 118 mil  (32,7%); mama, com 74 mil (20,3%); cólon e reto, com 24 mil (6,5%); colo do  útero, com 17 mil (4,7%); pulmão, com 15 mil (4,0%); e tireoide, com 14 mil  (3,9%) casos novos figurarão entre os principais.4 

TRATAMENTOS PARA O CÂNCER QUE PODEM PREJUDICAR A  FERTILIDADE FEMININA E MASCULINA

Como já citado anteriormente, o câncer é o principal problema de saúde pública  no mundo3 e quando o assunto é o tratamento, os médicos optam por fazer aquilo  que é melhor para o paciente visando a cura, mas, deve-se destacar os efeitos  colaterais deixados nos pacientes, que é o prejuízo do tratamento,  principalmente se tratando da fertilidade. Além da cura, existe uma preocupação  atual com a qualidade de vida após o tratamento do câncer, o que inclui a  capacidade de conceber no futuro.5 

FEMININA  

Cirurgia 

A cirurgia pode ser necessária para um tumor que está dentro ou perto de outro  órgão reprodutor, como um ovário ou tuba uterina, ou o útero ou colo do útero,  nesse caso, pode-se citar a histerectomia, ooforectomia e traqueletomia, para  remoção do útero, dos ovários e o colo uterino, respectivamente. Algumas  mulheres com alto risco de câncer de mama, útero e ovário, ou que têm uma  síndrome de câncer hereditário podem optar por fazer uma histerectomia parcial  ou total como um meio de ajudar a prevenir o início dos cânceres. Também pode  ser necessário para um tumor que está em órgãos abdominais (barriga) ou  pélvicos próximos, como cólon, reto ou ânus. Às vezes, outros tipos de cirurgia  de câncer que é feita para tumores no abdômen ou pelve podem causar  cicatrizes dentro e ao redor dos órgãos reprodutivos. São as chamadas  aderências. Eles podem bloquear os ovários, as trompas de Falópio ou o útero,  impedindo que os óvulos viajem para encontrar os espermatozoides. Isso  significa que os óvulos não podem ser fertilizados e implantados no útero. Existem alguns tumores que acontecem perto do sistema nervoso, como o  cérebro ou a medula espinhal. Essas cirurgias podem afetar a fertilidade da  mulher.6 

Radioterapia 

Os tratamentos de radiação usam raios de alta energia para matar as células  cancerosas. A radiação que é direcionada para ou em torno dos órgãos  reprodutivos de uma mulher pode afetar a fertilidade.6

A radiação que é direcionada para ou ao redor dos ovários danifica-os o  suficiente para afetar sua função. Mesmo que a radiação não seja direcionada  diretamente para os ovários, os raios podem ser absorvidos e ainda podem  danificar os ovários. Quando a radiação é direcionada para dentro da vagina, os  ovários absorvem uma alta dose de radiação. Para uma mulher que recebe  radioterapia no abdômen (barriga) ou pélvis, a quantidade de radiação absorvida  pelos ovários determinará se ela se torna infértil. Altas doses podem destruir  alguns ou todos os óvulos nos ovários e podem causar infertilidade ou  menopausa precoce. A maioria das mulheres que recebem radiação pélvica  perderá sua fertilidade. Mas, alguns óvulos podem sobreviver se os ovários  forem movidos para mais longe da área alvo em uma pequena cirurgia para  preservá-los que pode ser feita antes do início da radiação.6 

A radiação para o útero pode causar cicatrizes, o que diminui a flexibilidade e o  fluxo sanguíneo para o útero. Também torna o útero incapaz de esticar até o  tamanho total durante a gravidez. Esses problemas podem limitar o crescimento  e a expansão do útero durante a gravidez. Mulheres que tiveram radiação no  útero têm um risco aumentado de aborto espontâneo, bebês de baixo peso ao  nascer e nascimentos prematuros.6 

Às vezes, a radiação para o cérebro afeta a glândula pituitária. A glândula  pituitária normalmente sinaliza os ovários para fazer hormônios, então interferir  com esses sinais pode afetar a ovulação (a liberação de óvulos dos ovários).  Isso pode ou não afetar a fertilidade, dependendo do foco e da dose da  radiação.6 

Quimioterapia 

A quimioterapia funciona matando as células do corpo que estão se dividindo  rapidamente. Os hormônios, como o estrogênio, necessários para liberar óvulos  a cada mês e preparar o útero para uma possível gravidez são feitos nas células  dos ovários (ovócitos). Os ovócitos tendem a se dividir rapidamente, por isso  muitas vezes são afetados pela quimioterapia. Isso pode levar à perda desses  hormônios importantes e pode afetar a fertilidade. Às vezes, uma mulher entrará em menopausa prematura ou precoce. Os riscos de infertilidade permanente são ainda maiores quando as mulheres são tratadas com quimioterapia e  radioterapia na barriga (abdômen) ou pelve6. 

MASCULINA 

Cirurgia 

A cirurgia pode ser necessária para um tumor que está dentro ou perto de um  órgão, como um testículo, ou o pênis, bexiga ou reto, nesse caso, pode-se citar  a orquiectomia, para remoção de um testículo, orquiectomia bilaterial, quando há  remoção dos dois testículos, muito recomendado em casos de câncer de  próstata que se espalhou além da próstata para tecidos próximos e  prostatectomia radical, é recomendada para os homens que têm câncer de  próstata que não se espalhou além da próstata, a cirurgia remove a próstata e  deixa os homens sem produção de sêmen e sem ejaculação de  espermatozoides. A cirurgia para tratar alguns cânceres de bexiga é muito  parecida com uma prostatectomia radical, exceto que a bexiga também é  removida junto com a próstata e vesículas seminais. Este procedimento é  chamado de cistectomia radical. Como essa cirurgia remove a bexiga e a  próstata, não há produção de sêmen e nem ejaculação de espermatozoides após  a cirurgia. Também pode ser necessário para um tumor que está dentro ou perto  do sistema nervoso, como o cérebro ou a medula espinhal. Alguns tipos de  cirurgia de câncer podem danificar os nervos que são necessários para ejacular  o sêmen. Eles incluem a remoção de gânglios linfáticos na barriga (abdômen),  que podem fazer parte da cirurgia para câncer de testículo e alguns cânceres  colorretais. Os nervos podem ser danificados quando os gânglios linfáticos estão  sendo removidos, e isso pode causar problemas com a ejaculação. Essas  cirurgias podem afetar a fertilidade do homem.7 

Radioterapia 

Os tratamentos de radiação usam raios de alta energia para matar as células  cancerosas. A radiação que é direcionada diretamente para os testículos, ou  para áreas pélvicas próximas, pode afetar a fertilidade de um homem. Isso ocorre porque a radiação em altas doses mata as células-tronco que produzem  espermatozoides.7 

Radioterapia para câncer de testículo 

A radiação é direcionada diretamente aos testículos para tratar alguns tipos de  câncer testicular e pode ser usada para tratar leucemia infantil. Homens jovens  com seminoma (um tipo de câncer do testículo) podem precisar de radiação para  a área da virilha depois que um testículo foi removido. A radiação é direcionada  muito perto do testículo restante, danificando-o. Mesmo quando um homem  recebe radiação para tratar um tumor em seu abdômen (barriga) ou pélvis, seus  testículos ainda podem acabar recebendo radiação suficiente para prejudicar a  produção de espermatozoides.7 

Às vezes, a radiação para o cérebro afeta o hipotálamo e a glândula pituitária. O  hipotálamo e a hipófise trabalham juntos para produzir dois hormônios  importantes chamados LH e FSH. Esses hormônios são liberados na corrente  sanguínea e sinalizam os testículos para produzir testosterona e para produzir  espermatozoides. Quando o câncer ou tratamentos de câncer interferem com  esses sinais, a produção de espermatozoides pode ser diminuída e a infertilidade  pode ocorrer.7 

Quimioterapia 

Certos medicamentos quimioterápicos administrados durante a infância podem  danificar os testículos e afetar sua capacidade de produzir espermatozoides.  Certos tipos de quimioterapia mais tarde na vida também podem afetar a  produção de espermatozoides.7 

A quimioterapia funciona matando as células do corpo que estão se dividindo  rapidamente. Como os espermatozoides se dividem rapidamente, eles são um  alvo fácil para danos causados pela quimioterapia. A infertilidade permanente  pode resultar se todas as células imaturas nos testículos que se dividem para  produzir novos espermatozoides (células-tronco espermatogoniais) forem  danificadas a ponto de não conseguirem mais produzir espermatozoides em maturação. Após o tratamento quimioterápico, a produção de espermatozoides  diminui ou pode parar completamente. Alguma produção de espermatozoides  pode retornar, mas pode levar muitos anos e, às vezes, não retorna.7 

Os riscos de infertilidade permanente são ainda maiores quando os homens são  tratados com quimioterapia e radioterapia no abdômen (barriga) ou pelve.7.  

Terapia alvo e imunoterapia 

Homens que tomam talidomida ou lenalidomida têm um alto risco de causar  defeitos congênitos em um feto exposto a essas drogas, que podem permanecer  no sêmen por alguns meses após o término do tratamento. Os oncologistas  recomendam que os homens e qualquer parceiro sexual que seja capaz de  engravidar usem formas extremamente eficazes de controle de natalidade, por  exemplo, um preservativo para o homem e um contraceptivo hormonal de longa  duração ou DIU para a mulher.7 

Terapia hormonal 

Algumas terapias hormonais usadas para tratar a próstata ou outros tipos de  câncer podem afetar hormônios que ajudam a desenvolver espermatozoides. A  produção e o número de espermatozoides podem ser menores. Isso pode afetar  sua capacidade de ter um filho. Essas drogas também podem causar efeitos  colaterais sexuais, como um menor desejo sexual e problemas com ereções,  enquanto os pacientes estão tomando-os. A diminuição na produção de  espermatozoides e os efeitos colaterais sexuais tendem a melhorar uma vez que  essas drogas são interrompidas.7 

MÉTODOS  

Após a realização de pesquisas em plataformas de dados nas bases de Scielo,  PubMed, e American Cancer Society utilizando as palavras chaves, foi possível  o acesso a artigos e revistas que mencionam e explicam as técnicas voltadas ao  intuito de preservar a fertilidade em pacientes oncológicos. Nos métodos mais  utilizados temos a Fertilização in vitro (FIV) que realiza a união de um óvulo e  dos espermatozoides em uma placa de petri, e, cria- se o ambiente ideal para que haja interação e a junção de ambos8, e a Injeção Intracitoplasmática de  Espermatozoides (ICSI) decorre através da administração do espermatozoide diretamente no ovulo, realizando a junção dos dois.8 

PROCEDIMENTOS PARA PRESERVAÇÃO DA FERTILIDADE ANTES DO TRATAMENTO ONCOLÓGICO 

Os tratamentos oncológicos podem afetar e causar danos irreparáveis nos  tecidos dos órgãos reprodutores, gerando comprometimento em diferentes graus  e interferindo na fertilidade9.  

A oncofertilidade é uma área da medicina que busca preservar a fertilidade de  pacientes oncológicos, nessa especialidade os médicos visam antecipar as  técnicas de preservação, aumentando as taxas de sucesso e a capacidade  reprodutiva de futuramente realizar a reprodução 9. 

A escolha mais adequada do método a ser utilizado é avaliada pelo médico onde  fatores como, a duração do tratamento, tipo, estágio e localização do câncer são  considerados e avaliados. 

FEMININA 

Criopreservação de óvulos  

É um dos métodos mais utilizados no Brasil e no mundo. De acordo com a Anvisa  o SisEmbrio (Sistema Nacional de Produção de Embriões) registrou 56.578  ciclos realizados através de fertilização in vitro por meio de criopreservação de  óvulos em 2023, observa-se um aumento de 9,45% comparado ao do ano  anterior.10 A mulher produz somente um óvulo por período menstrual, essa  técnica consiste em estimular a produção de óvulos durante o ciclo menstrual através de medicamentos administrados via oral ou injeções hormonais aplicadas no pé da barriga no intuito de aumentar a quantidade entre 10 e 15  óvulos. Após a estimulação a paciente deve aguardar um período de 12 dias  para que a formação de novos óvulos seja produzida, durante esse período a  paciente segue com acompanhamento diário com ultrassonografia para  avaliação da quantidade de óvulos. Assim que uma quantidade adequada e suficiente mesmo considerando as possíveis perdas é identificada, ela pode  retornar para realizar a coleta dos óvulos, que ocorre por meio de sedação e  procedimento cirúrgico onde os óvulos são aspirados, retirados cuidadosamente  e congelados em nitrogênio a cerca de 196º negativos e seguem preservados  por tempo indeterminado até que seja possível a utilização. Essa técnica criou  notoriedade rapidamente e atualmente é uma das técnicas preferidas entre  mulheres com menos de 35 anos que pensam em ser mãe futuramente.  Contudo, vale lembrar que nesses casos a idade da doadora dos oócitos é  fundamental para esses resultados satisfatórios.11 

Criopreservação de embriões 

A criopreservação de embriões é um processo consagrado pela literatura  médica. O primeiro caso relatado de nascimento vivo após a criopreservação e  descongelamento de embriões foi em 1983.12  Esse método consiste na utilização de os óvulos frescos coletados após a  estimulação ovariana, e realizar fertilização seja por meio de fertilização in vitro  (FIV) ou por Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) gerando  embriões que enfim serão criopreservados em nitrogênio por tempo  indeterminado. Em 2023 o Brasil avaliou o número de embriões congelados e  surpreendeu ao chegar à incrível marca de 115.318 registrados pela Anvisa10

Criopreservação do tecido ovariano 

Nesse método a paciente realiza uma laparoscopia onde se coleta fragmentos  do córtex ovariano, esses fragmentos são congelados. Após finalizar o  tratamento oncológico esse tecido é reimplantado possibilitando a restauração  da função hormonal ovariana, e a gestação natural ou por estímulo ovariano13 

Supressão da função ovariana 

É utilizado medicamentos conhecidos como análogos do GnRH, que tem como  função impedir a produção hormonal do ovário evitando assim o surgimento de  oócitos que adotam um meio de repouso, dessa forma a paciente deixa de  ovular, e seus folículos seguem protegidos durante todo o tratamento oncológico. 

A eficácia dessa abordagem ainda gera dúvidas e assuntos e segue sendo  questionada pela comunidade médica, sendo recomendada somente para pacientes jovens que não possuem grande intervalo de tempo antes de iniciar o  tratamento oncológico, e quando as pacientes não tiveram a oportunidade de  avaliar e de conhecer outras técnicas.14 

Transposição ovariana 

Através de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas os ovários são afastados  do local que ocorre a irradiação, evitando dessa forma a exposição direta a radioterapia. Ao término do tratamento oncológico a mesma cirurgia é realizada  novamente retornando os ovários ao seu local original.13 

MASCULINA 

Criopreservação do sêmen 

Esse método é o mais comum para os homens que manifestam o desejo de  serem pais, é um método simples e fácil de executar, o sêmen é coletado através  da masturbação ou por técnicas cirúrgicas (biópsia ou microdissecção testicular) na própria clínica, para que a amostra esteja fresca e seja possível avaliar o  desempenho dos espermatozoides, sendo possível averiguar problemas, más  formações e até infertilidade do paciente . Após a coleta, o material é congelado em nitrogênio e pode se manter assim por tempo indeterminado. Essa técnica é  normalmente utilizada quando há urgência em iniciar o tratamento oncológico. 

Criopreservação do tecido testicular 

Assim como a criopreservação do tecido uterino, esse método também consiste  na retirada de fragmentos do tecido testicular e seu congelamento. Após o  tratamento oncológico e comprovado a cura, o tecido é reimplantado novamente  possibilitando a formação de seus próprios espermatozoides. Essa técnica, no  entanto, ainda está sob pesquisas e até o momento é recomendada para  meninos pré-púberes15.  

A FERTILIDADE APÓS O TRATAMENTO ONCOLÓGICO

Se tratando de uma doença agressiva como o câncer, muitas vezes o paciente  e os médicos se preocupam unicamente com o tratamento oncológico, que, em  sua maioria, têm efeitos colaterais e um desses efeitos pode ser a fertilidade. Há  casos também em que o paciente não pode esperar para iniciar o tratamento  oncológico, devido a severidade da doença, dificultando a preservação prévia da  fertilidade. 

Não se pode dizer que será impossível pensar na fertilidade após o tratamento  oncológico, mas, evidentemente, o processo será mais difícil e as chances de  sucesso serão menores. Primeiramente, é necessário que haja uma avaliação  do caso pelo médico responsável, especializado em reprodução humana, que  irá solicitar exames necessários para avaliar a funcionalidade dos órgãos  reprodutivos. Essa avaliação mostrará o grau de agressividade do tratamento  que foi utilizado visando a cura do paciente. 

Os pacientes que permaneceram com as funções reprodutivas, após o  tratamento oncológico, têm a possibilidade de ter filhos pela forma natural. Nos  casos em que os pacientes tiveram danos na produção dos gametas apenas e  não em todo o órgão reprodutivo, pode ser indicada uma doação de óvulos ou espermatozoides, seguida de fertilização in vitro (FIV). Já nos casos em que o  paciente foi afetado em toda a funcionalidade reprodutiva, a adoção pode ser  uma alternativa. 

Gravidez de forma natural 

Quando o tratamento oncológico não afeta a produção dos óvulos ou dos  espermatozoides, é possível que a gravidez aconteça de forma natural, porém,  em mulheres, a idade da paciente é um ponto importante a ser considerado,  pois a partir dos 35 anos a taxa de fecundidade entra em declínio, se tornando uma gravidez com possíveis riscos, por ser tardia, diminuindo assim as chances  de engravidar naturalmente e com maior probabilidade de complicações para a  mãe e o bebê. 

Para que a gravidez de forma natural aconteça, é necessário, primeiramente, que após o tratamento ser finalizado a/o paciente aguarde a margem de  segurança. Essa margem se dá para que o paciente se recupere e aconteça uma gestação saudável. Com isso, procurar um médico especialista e verificar como  está a fertilidade feminina e/ou masculina, é muito importante. Um fator favorável  ao processo, é quando a paciente menstrua normalmente, pois será através da  menstruação, que haverá acompanhamento de melhores condições do ciclo.  Além disso, o especialista irá realizar exames de sangue e de imagem para  analisar o órgão de reprodução.  

Doação de gametas 

A doação de gametas é realizada com o banco de óvulos ou espermatozoides,  através de uma ovodoação compartilhada.  

A FIV convencional consiste na retirada dos ovócitos, localizados no interior dos  folículos ovarianos, e na coleta de sêmen do parceiro, para posterior interação  entre os gametas masculino e feminino, possibilitando a fertilização entre estes.  Essas interações ocorrem no laboratório, fora do corpo da mulher.16 

Ovócitos de mulheres jovens possuem grande potencial de fertilização, e é esse  potencial que é utilizado na ovodoação. Nesse tipo de terapia, ovócitos de uma  mulher doadora são fertilizados com o sêmen do marido da paciente (receptora),  e os embriões formados são transferidos para o útero da receptora. Os ovócitos  da doadora são estimulados e recuperados utilizando a técnica de fertilização in  vitro. A ovodoação costuma ser compartilhada, ou seja, a doadora também  necessita realizar FIV para obter gestação, geralmente por fator masculino ou  tubário, e doará metade dos seus ovócitos para uma receptora. Esse processo  de doação é anônimo, não havendo conhecimento entre os casais.16 

Trata-se de uma prática criada pela classe médica para auxiliar na obtenção de  gametas femininas e beneficiar pacientes que desejam alcançar a gravidez com  assistência profissional.17 

Já a fecundação assistida por ICSI consiste na injeção de um único  espermatozoide vivo, com mobilidade, no citoplasma do ovócito.18Isso ocorre  quando o material genético é limitado, em casos mais graves.  

Adoção

Embora a sociedade atual valoriza os laços consanguíneos, se tratando,  principalmente em ter filhos, a adoção se torna uma grande aliada em casos em  que há infertilidade. Com base nos estudos de Weber, em 2003, com 240 pais  adotivos, observou-se que a principal motivação para adoção foi devido à  infertilidade.19 

O processo de habilitação à adoção ocorre a partir do atendimento a um conjunto  de exigências do ponto de vista jurídico e de uma avaliação psicossocial dos  pretendentes, que não abrange o restante da família. Segundo Dias, em 2006, a  não aceitação da criança pelos demais familiares pode acarretar um fracasso na  adoção. Uma criança só é verdadeiramente adotada quando é introduzida na  tradição da família do pai e da família da mãe. Segundo Dolto, em 1989, “uma  criança é adotada por uma família, e não por duas pessoas… A adoção é a  família que cada um dos pais dá à criança, um lugar nas duas linhagens, um  lugar simbólico”.20 É importante destacar, que, independentemente da questão  biológica, quando a criação de filhos é um desejo, vale a pena tentar viabilizar a  adoção. 

CONSIDERAÇÕES GERAIS 

A partir deste trabalho, foi possível concluir a importância dos tratamentos  oncológicos, mesmo sendo essenciais na vida do paciente, possuem grande  impacto podendo gerar danos e comprometimento nas estruturas responsáveis  pela função reprodutiva. As técnicas apresentadas ao longo do trabalho  mostram- se como opções para os danos causados pelo tratamento oncológico, a fim de maximizar a esperança dos pacientes de realizar o desejo da  reprodução. 

Importância da preservação da fertilidade  

Preservar a fertilidade em pacientes com o diagnóstico de câncer se tornou uma  pauta muito abordada, principalmente em pacientes com idade reprodutiva. A  possibilidade de poder gerar após um tratamento delicado e agressivo como o  do câncer, gera benefícios para uma qualidade de vida e bem-estar psicológico desses pacientes. O trabalho evidenciou a urgência de abordar essa pauta, de  uma maneira responsável, sensível e empática.  

Métodos de preservação da fertilidade 

As técnicas de preservação da fertilidade para o sexo masculino e feminino  foram discutidas durante a realização desse trabalho, sendo possível identificar  que a eficácia de diversas metodologias varia de paciente para paciente, mas ao  decorrer dos tempos vêm se mostrando um promissor auxiliar da restauração da  fertilidade. 

Implicações 

A elaboração de métodos, técnicas e protocolos sobre a preservação da  fertilidade deve ser integrada ao planejamento e a abordagem de tratamentos oncológicos. Para isso se faz necessário um comitê de profissionais  especializados com oncologistas, ginecologistas e especialistas em fertilidade, atuando juntos para que seja possível oferecer uma solução viável priorizando a  qualidade de vida dos pacientes oncológicos. 

Limitações e desafio 

Embora o avanço da medicina tenha proporcionado outras opções para que se  preserve a fertilidade, existem desafios reais que ainda não foram superados, falta  de informações, fatores socioeconômicos e o tempo limitado dificultam o  planejamento prévio para o tratamento oncológico. 

O futuro da preservação de fertilidade 

Deve-se seguir com os estudos e pesquisas focadas no desenvolvimento de  novas metodologias e técnicas que contribuem significativamente para a  preservação da fertilidade. É essencial que sejam promovidas campanhas de  conscientização sobre a importância da preservação da fertilidade e os métodos  que possam garantir a realização da reprodução. Informações completas e  acompanhamento psicológico também serão necessários.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Por fim, a preservação da fertilidade em pacientes oncológicos é um tema  emergente que merece atenção contínua. As opções apresentadas proporcionam esperança e melhoram a qualidade de vida dos pacientes. A  colaboração entre profissionais de saúde, governo e órgãos responsáveis são  fundamentais.para.o.sucesso.dessa.prática. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

1. Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Laversanne M, Soerjomataram I, Jemal A.  Bray F Global cancer statistics 2020: GLOBOCAN estimates of incidence  and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin.  2021. 71(3):209-49. Disponível em: https://doi.org/10.3322/caac.21660 

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