PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS PARA LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM POLICIAIS: REVISÃO SISTEMÁTICA COM META-ANÁLISE.

EXERCISE PRESCRIPTION FOR MUSCULOSKELETAL INJURIES IN POLICE OFFICERS: SYSTEMATIC REVIEW WITH META-ANALYSIS.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409292224


Francielle Hoflinger 1
Cleonir Caldeira Júnior 2


Resumo

A natureza da atividade laboral realizada por policiais exige o uso exaustivo de força muscular, o que pode resultar em lesões musculoesqueléticas (LME), as quais são uma das principais causas de afastamentos no trabalho. O presente artigo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática com meta-análise, restrita a estudos experimentais a fim de verificar os protocolos de intervenção utilizados para a prevenção e tratamento de lesões musculoesqueléticas (LME) em policiais. Foram selecionados os artigos relevantes publicados nos últimos dez anos utilizando-se as bases de dados da PubMed, Medline e Cochrane. Conclui-se que aparentemente o treinamento deve conter exercícios para glúteos e abdominais (referente a dores lombares), rotadores internos e externos (para lesões no ombro), isquiotibiais e flexores de quadril (para lesões no joelho) sendo que carga selecionada deve propiciar de 8 a 20 repetições com uma frequência de 3 a 4 vezes por semana.

Palavras-chave: Policiais. Lesões musculoesqueléticas. Exercícios físicos. 

1 INTRODUÇÃO

As lesões musculoesqueléticas (LME) são patologias que afetam os músculos, ossos, articulações, tendões, ligamentos e cartilagens, podendo ter origem traumática, ou não, sendo uma das causas mais comuns de dor crônica e de incapacidade funcional e fadiga (Cruz et al., 2021). Vários fatores de risco podem dar causa a LME, podendo ser físicos e biomecânicos, organizacionais e psicossociais, bem como individuais (Eu-Osha, 2023).

A carreira policial possui características inerentes à profissão que demandam rotinas intensas e estressantes, exigindo que seus integrantes apresentem uma boa condição física e psicológica. As condições laborais dos policiais, como longas jornadas de trabalho e a sobrecarga de equipamentos, podem, com o decorrer do tempo, afetar a estrutura e a função do sistema musculoesquelético e predispor ao aparecimento de distúrbios (Tavares et al., 2020; Hoflinger et al., 2021; Grani et al., 2022).

A dor e fadiga no fim do turno de trabalho estão relacionadas ao uso dos equipamentos de proteção individual (colete, cinto de guarnição e armamento) e a condução dos veículos policiais (viatura e motocicleta) (Donnelly; Callaghan; Durkin, 2009; Santos et al., 2017). Sabe-se que para a rotina de patrulhamento os policiais militares usam vestes específicas e carregam equipamentos que podem pesar até 14kg, correspondendo a uma média de 10% do seu peso corporal (Sentone, Souza, 2016; Hoflinger et al., 2021).

 Mynayo et al. (2011) relatam que a predominância de LME está diretamente relacionada ao exercício da profissão, a qual exige que os policiais corram, saltem, deem tiro, sendo que a maioria dos pedidos de licença médica desses profissionais se deve a problemas ortopédicos por traumas físicos.

 A prevenção e tratamento das LME são fundamentais para a melhora do desempenho e da saúde dos policiais, consequentemente reduzindo os custos decorrentes do absenteísmo ao trabalho (Flanagan et al., 2018; Talbot et al., 2018;), mantendo uma maior quantidade policiais em prontidão para exercer suas funções constitucionais.

Vários estudos apontam a distribuição anatômica de LME em policiais militares no Brasil (Neto et al., 2014; Santos, Krueger, Neves, 2014; Trindade et al., 2015; Azeredo et al., 2021), no entanto, Dijksma et al., 2020, concluíram que há evidências de baixa qualidade sobre intervenções preventivas para LME nas forças armadas. Verifica-se que faltam revisões sistemáticas que sintetizem as evidências científicas para intervenções de prevenção e tratamento de LME, portanto o objetivo deste estudo é realizar uma revisão sistemática com meta-análise, restrita a estudos experimentais a fim de verificar os protocolos de intervenção utilizados para a prevenção e tratamento de LME em policiais, a fim de reunir informações relevantes para orientar a institucionalização de melhores práticas no ambiente de trabalho.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento do presente estudo, foi realizada uma revisão sistemática com a pesquisa bibliográfica iniciada em 02 de maio de 2023 com término em 2 de junho de 2023. A busca eletrônica de informações sobre “prescrição de exercício para lesões musculoesqueléticas em policiais”, foi realizada por meio de artigos originais publicados em algumas das principais bases de dados relacionadas a literatura internacional de ciências da vida e informações médicas: PubMed, Medline e Cochrane. Foram selecionados apenas trabalhos nos idiomas inglês ou português que foram publicados nos últimos 10 anos.

Previamente à busca dos estudos, houve a definição de termos chaves. Os descritores e os termos utilizados para a busca eletrônica na base de dados foram identificados mediante consulta ao Medical Subject Headings (MeSH), mediante o portal da U.S. National Library of Medicine (NLM) e ao Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), por intermédio do portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). 

Foram definidos em inglês os seguintes descritores e suas combinações para realizar o processo de pesquisa conforme os tipos de protocolos de exercícios: “Exercise”, “physical fitness”, “resistive training”, “resistance training”,“aerobic training”, “HIIT”, “crossfit”, “functional training”, “tactical training”. Na sequência “police” “military”,“police officer”,“soldier”, “military police officer”, “cadets”, “law enforcement officer”. Por derradeiro, “musculoskeletal diseases”, “musculoskeletal injuries”, “osteoarthritis”, “musculoskeletal pain”, “stress fractures”, “knee pain”, “shoulder pain” and “back pain”. Os descritores utilizados na busca, foram, quando possível, combinados com a aplicação de limites de acordo com as ferramentas de busca avançada, disponíveis na base de dados PubMed, Medline e Cochrane, sendo identificados nessa etapa 463 artigos.

Para a seleção dos artigos realizou-se, primeiramente, uma triagem pelo título, em seguida, pela leitura dos resumos das publicações encontradas, com o objetivo de refinar a amostra por meio de critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão para análise dos estudos foram: possuir como população alvo policiais da ativa, homens e/ou mulheres adultos; sendo estudos de desenho experimental que houvessem intervenções com exercício físico e que houvesse a descrição detalhada do protocolo de treino/intervenção (tipo de exercício, número de séries/frequência semanal, intensidade e outros). Os critérios de exclusão foram: não apresentar protocolo de treino como forma de intervenção (ex: ultrassom, telereabilitação, radiofrequência, magnética e outros); ter a amostra composta por militares que não são policiais (ex: exército, marinha e força aérea); estudos compilados de congressos ou não concluídos; estudos com militares deficientes; veteranos/idosos; haver intervenção medicamentosa junto ao protocolo de treino; não possuir a descrição detalhada do protocolo de treino. 

Inicialmente, foram selecionados 17 estudos (FIGURA 1), os quais foram lidos na íntegra para verificar todos os critérios de elegibilidade. Na sequência, foram excluídos 12 artigos os quais não atenderam os critérios de inclusão preestabelecidos. Restando, então, 5 estudos para a análise dos dados. Em posse destes, foram extraídos: referência e ano da publicação, tamanho, característica  e distribuição da amostra em diferentes grupos de intervenção, características do protocolo de exercícios/intervenção (frequência semanal, tipo de exercício, número de séries, intensidade da carga, número de repetições por série e intervalo entre as séries e outros); instrumentos utilizados para a avaliação das variáveis de força (isométrica ou dinâmica); capacidade funcional e nível de dor/desconforto; resultados para cada variável com efeito significativo.

Quando determinado estudo não apresentou o tamanho de efeito da variável analisado em questão, o mesmo foi calculado manualmente através da fórmula proposta por Cohen, (2013) onde: Média do pós-teste ou grupo experimental – Média pré-teste ou grupo controle / Desvio padrão do pré-teste ou grupo controle. Levando em consideração que os voluntários são altamente treinados (Rhea, 2004), o TE foi considerado trivial quando < 0,25; pequeno quando 0,25 e < 0,50; moderado quando 0,50 e < 1,0; e grande quando 1,0.

Figura 1 – Fluxograma de revisão 

Fonte: Os Autores (2023)

3 RESULTADOS/DISCUSSÃO

3.1 Dores/lesões na região lombar

Objetivo do estudo foi verificar através de revisão sistemática da literatura atual, quais seriam as configurações do protocolo de exercícios que melhor trariam aprimoramentos no tocante a diminuição dos níveis de dor/desconforto, aumento da capacidade funcional e aumentos força em policiais com condições adversas referente a lesões musculoesqueléticas. Sendo avaliadas 5 variáveis comumente observadas em protocolos de exercícios: a) frequência semanal; b) tipo de exercício; c) número de séries por exercício; d) intensidade de carga; e) número de repetições por série. Realizado todo o processo de filtragem, apenas 5 artigos científicos atenderam a todos os critérios de inclusão.

Grani et al. (2021) demonstraram que é possível aumentar a resistência isométrica dos músculos do tronco sem a perda concomitante na aptidão física geral de policiais militares utilizando um protocolo específico de treinamento com exercícios isométricos para o tronco. Durante 9 semanas, com sessões de 25 minutos, realizadas três vezes na semana, foi possível obter aumento significativo nos tempos dos testes de resistência de prancha lateral (TE= 1.90) e flexores do tronco (TE= 1.30), quando comparado com que realizou apenas treinamento tradicional. Os autores também encontraram um efeito de tamanho grande e significativo, no grupo que realizou o treinamento isométrico, na redução da percepção de dor geral (x² =22.880, p = 0.011) e lombalgia (x²= 26,226, p=0,003).

O protocolo de exercícios neuromusculares elaborado por Alvani, Shirvani e Shamsoddini (2021) avaliou policiais do Irã com lombalgia crônica inespecífica por 8 semanas, com sessões de 60 minutos, durante três vezes na semana. Tamanho de efeito moderado foram encontrados nas variáveis relacionadas com a redução significativa no erro de propriocepção (TE= 0.92) e nível dos escores de incapacidade na escala de Oswestry (TE=0,71) (TABELA 1).

Tabela 1 – Protocolo dos estudos relacionados a dores/lesões na região lombar.

Fonte: Os Autores (2023)

Fato curioso é que, ao analisar detalhadamente estes protocolos, pôde-se observar que os mesmos seguem um determinado padrão de configuração de suas variáveis no objetivo de surtir o efeito esperado. Por exemplo, todos os estudos apresentaram três elementos de enfoque comum: 1) exercícios para glúteo (máximo e médio); 2) exercícios para abdominais (versões isométricas e dinâmicas), 3) exercícios unilaterais envolvendo tronco e/ou MMII (ex: superman, flexão de coxa em pé e outros). 

Esta configuração está de acordo com outros trabalhos onde se verificaram a correlação positiva entre a execução correta de exercício unilaterais (técnica e amplitude de movimento) e força em musculaturas do core (protocolo FMS) para predizer lesões em militares (Lisman et al., 2013). Os autores relataram que baixos escores no FMS em somatório a baixa capacidade aeróbia no teste de 3 milhas aumenta em 4.2 vezes a probabilidade de o militar obter lesões nesta região (p < 0.05). Outro trabalho também apresentou efeito positivo (p < 0.05) na dor lombar crônica após intervenção com exercícios para as musculaturas de glúteo máximo e tronco (Kumar et al., 2015). Contudo no estudo Childs et al., (2010) a intervenção com protocolo de core training em militares, não foi capaz de trazer benefícios significativos (p > 0.05). Os autores não apresentaram um detalhamento completo do protocolo utilizado, não sendo assim possível fazer comparações com os demais estudos. 

Já no tocante a intensidade e repetições, aparentemente têm-se preconizado cargas desafiantes que propiciem de 6 a 12 repetições ou de 20 a 30 segundos quando na versão isométrica, e não necessariamente executados até a falha. O estudo de Perron et al., 2018, relatou adotar o critério em que o participante deveria cessar a execução do movimento caso houvesse perda do alinhamento postural e/ou sentisse dor/desconforto na região. A frequência semanal ideal parece estar entre 3 a 4 vezes, possuindo duração total de treino de 25 até 60 minutos. Assim cada sessão de treino deve permear um composto de 3 à 7 exercícios, executando de 2 à 3 séries para cada um deles.

Com relação aos tipos de exercícios, um protocolo executou apenas exercícios isométricos (Grani et al., 2021), outro apenas dinâmicos (Alvani et al., 2021) e o terceiro usando de contexto “híbrido” (dinâmicos + isométricas + de transferência operacional/funcional) (Perron et al., 2018). Sendo o último deles o que propiciou 

maior tamanho de efeito (1,92) e diferença significativa em relação a melhora da capacidade funcional. Assim podemos pressupor que a utilização conjunta de diferentes tipos de exercício parece ser um caminho mais assertivo em relação a lesões lombares. Vale a pena ressaltar que apesar de diferentes tipos de exercício, alguns padrões de movimentos específicos nestas prescrições parecem sempre estar presentes (FIGURA 2).

FIGURA 2 – Exercícios em comuns entre os estudos

3.2 Dores/lesões no joelho

Talbot et al. (2018) realizaram quatro protocolos de intervenção em membros do serviço militar com lesão no joelho. Durante 18 semanas um grupo recebeu tratamento fisioterapêutico habitual (PT) e outros três grupos além do PT receberam um Programa de Estimulação Elétrica Neuromuscular Autogerenciada (NMES) ou um Programa de Caminhada de Força Graduada (WALK) ou combinaram NMES com WALK (COMBO). Para a variável que avalia as Atividades da Vida Diária (ADLS), tamanho de efeito grande foram encontrados no escore dos itens que mensuram os sintomas comumente expressados durante as atividades de vida diária por um indivíduo com patologia e lesões no joelho para os grupos NMEs + PT (TE= 1,0), Walk + PT (TE=1,1) e COMBO + PT (TE=1,6), já para os escores dos itens que mensuram as limitações na realização de atividades típicas somente os grupos NMEs + PT e  COMBO + PT apresentaram TE grande, 1,4 e 2,9, respectivamente. Os achados demonstraram efetividade das intervenções conjuntas/” híbridas” para a melhora das funções e redução dos sintomas (TABELA 2). 

Neste estudo as variáveis intensidade, número de séries e musculaturas alvo não foram especificamente relatadas. O protocolo que a princípio seria equivalente aos exercícios de força (utilizando de halteres, elásticos e outros) apenas foi denominado “intervenção fisioterápica convencional”. Já com relação ao protocolo WALK, o mesmo consistiu em uma caminhada de 30 minutos/dia com progressão e correção de carga de treinamento através da contagem de passos (+10% a cada semana) e utilização de um colete de sobrecarga (+2% carga extra em Kg a cada semana a partir da 6ª semana).

Outros estudos com militares também tiveram efeitos positivos na melhora de comorbidades no joelho com a utilização de intervenções híbridas (p < 0.05). No estudo de Parkkari et al., (2011), foram utilizados exercícios como agachamentos simultâneo e unilateral, prancha lateral e frontal, drills de membros superior com 1 apoio podal; com enfoque no fortalecimento da musculatura isquiotibial, exercícios de alongamento para flexores de quadril e isquiotibiais. Foram utilizados 9 exercícios, executando de 10 a 16 repetições ou 60 segundos de duração por série. Para os exercícios de flexibilidade realizaram de 1 a 5 séries de 10 a 60 segundo a depender do exercício em questão. Já no estudo de Coppack et al., (2011), os autores testaram um protocolo de aquecimento e de “volta a calma” para prevenir lesões de joelho em militares. O mesmo foi composto por exercícios isométricos para abdutores da coxa, passadas à frente, reversas e isométricas em somatório a exercícios de flexibilidade para quadríceps, posterior de coxa, abdutores e panturrilhas. Sempre dispondo de 3 séries por exercício com 10 à 20 repetições ou 20” de isometria/sustentação. Há também o estudo de Dijksma et al., (2019) o qual verificou a eficácia de uma intervenção com exercícios de agilidade (6 exercícios de aquecimento + 3 exercícios principais para membros inferiores – 4 séries de 5 repetições ou 10 segundos cada) na melhora do risco de lesões no joelho em militares; obtendo efeitos significativos (p < 0.05).

Como visto nos protocolos de intervenção para dores lombares, aparentemente a utilização de intervenções híbridas parece ser a mais assertiva também para comorbidades no joelho. 

3.3 Dores/lesões no ombro

Apenas um estudo de caso, com policial, foi angariado na revisão trouxe protocolo de intervenção referente à dor/desconforto na articulação dos ombros. Crowell & Tragord, (2015) realizaram uma intervenção de 4 semanas com um total de 6 sessões contendo manipulações fisioterápicas manuais e exercícios de força de forma periodizada. Para avaliar sintomas de dor e a capacidade funcional, foram utilizados os testes SPADI (Shoulder Pain and Disability Index) e PSFS (Patient-Specific Functional Scale) respectivamente. No tocante ao SPADI foi observado uma diminuição de 39% na pontuação geral, sendo -54 pontos no escore da escala de dor e -29 pontos na escala de função após intervenção. Com relação ao PSFS, o estudo apontou uma melhora de 6 pontos (200%) no geral (TABELA 2).

Este protocolo possui enfoque em três elementos: 1) exercícios para rotadores externos e internos do ombro, 2) exercícios para retração e protração de escápulas, 3) exercícios de ação combinada/” transferência (ex: retração da escápula seguido de rotação externa na mesma repetição). Realizando 5 exercícios de 2 à 3 séries cada com uma carga que propiciasse de 10 a 20 movimentos ou 30 segundos quando para exercícios isométricos ou de alongamento.

Tabela 2 – Protocolo dos estudos relacionados a dores/lesões nas articulações do joelho e ombro.

Fonte: Os Autores (2023)

Este padrão de configuração de protocolo está de acordo com outros estudos em militares. Ager et al., (2019) realizaram 10 exercícios por sessão trabalhando de forma híbrida com movimentos para controle escapulo-torácico, reeducação neuromuscular e propriocepção, trabalho específico para as musculaturas de serrátil anterior e trapézio e exercícios de transferência funcional (lançamentos, push up, bench press, sandbag lift, Y balance test e outros para manguito rotador. Culminando em efeitos positivos e significativos na tendinopatia do manguito rotador em militares (p < 0.05). Já no trabalho de Murray et al., (2017) militares piloto de helicóptero, o protocolo de intervenção foi composto por dois exercícios de aquecimento, 6 exercícios específicos para pescoço (extensão, flexão – linear e oblíqua da cervical e flexão lateral da cervical) e 2 exercícios mais direcionados a região dos ombros (shrugs e crucifixo reverso) utilizando elásticos. Foram executados de 2 a 4 séries com 12 a 20 repetições cada. Produzindo efeitos significativos neste contexto (p < 0.05).

De forma similar ao encontrado em estudos de intervenção para dores lombares e joelho, o contexto híbrido referente ao tipo de exercício também pode ser observado para o tratamento de lesões no ombro; utilizando movimentos dinâmicos, isométricos e de transferência operacional/funcional.

4 LIMITAÇÕES

Este trabalho apresenta algumas limitações. A literatura carece de estudos experimentais na temática de lesões em policiais; assim não sendo possível pontuar um assertivo referente a configuração do protocolo de treino mais adequado. Alguns estudos conduzidos acabaram entrando no contexto de “sigilo militar”, não ficando disponível para consulta nas bases de dados convencionais, sendo apenas citados trechos do trabalho por terceiros. Algumas variáveis do treinamento não são detalhadamente descritas em alguns protocolos (ex: intervalo, falha ou repetições reserva, progressão de cargas, tipo de exercício e outros) deixando assim lacunas referente a correta execução do mesmo. Os instrumentos selecionados para medir níveis de dor e capacidade funcional ainda divergem bastante entre os estudos. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os artigos analisados demonstram que aparentemente o enfoque de treinamento deve conter de 3 a 7 exercícios, abrangendo as musculaturas de: glúteos e abdominais (referente a dores lombares); rotadores internos e externos (para lesões no ombro); isquiotibiais e flexores de quadril (no tocante a lesões no joelho). Dispondo de tipos de exercício no contexto híbrido/mesclado (exercícios dinâmicos e isométricos + simultâneos e unilaterais + utilizando materiais como elásticos, halteres + possuam alta transferência funcional).

No tocante a intensidade, a carga selecionada deve propiciar de 8 a 20 repetições desafiantes, desde que não se altere o padrão de movimento ou também limitado a questão do praticante sentir alguma dor durante a execução do exercício. A frequência semanal ótima parece girar em torno de 3 a 4. 

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1 Capitão da Polícia Militar do Paraná e Mestre pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: hoflinger@pm.pr.gov.br
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná, e-mail: ccaldeira.treinador@gmail.com