PREJUÍZO DO USO PRECOCE DE TELAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202509300022


Caio Henrique Silva Cordeiro
Douglas Silva Basilio
Rafael Vinhando Muramatsu
Orientadora: Prof. Daniele Leite Cotini de Oliveira.


RESUMO

Este estudo realizou uma revisão bibliográfica para analisar os impactos do uso precoce de telas na primeira infância, abordando as dimensões cognitiva, emocional e social do desenvolvimento infantil. As evidências revelam que a exposição excessiva a dispositivos eletrônicos está associada a atrasos na linguagem, déficits de atenção e memorização, além de dificuldades no desempenho acadêmico futuro. No aspecto emocional, observou-se uma relação com o aumento de transtornos como ansiedade, irritabilidade e comportamentos agressivos, enquanto na dimensão social, identificou-se uma redução nas interações interpessoais e no desenvolvimento de habilidades sociais. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacam a importância de evitar o uso de telas em crianças menores de dois anos e de limitar e monitorar o tempo de tela para crianças maiores. Conclui-se que é fundamental conscientizar pais e educadores sobre os riscos do uso precoce de telas e implementar políticas públicas que promovam o uso saudável da tecnologia, priorizando atividades interativas e que favoreçam o desenvolvimento integral das crianças.

Palavras-chave: Primeira Infância; Tempo de Tela; Desenvolvimento Infantil; Tecnologia e Crianças; Impactos Cognitivos e Emocionais.

ABSTRACT

This study carried out a literature review to analyze the impacts of early screen use in early childhood, addressing the cognitive, emotional and social dimensions of child development. The evidence shows that excessive exposure to electronic devices is associated with language delays, attention and memorization deficits, as well as difficulties in future academic performance. In the emotional aspect, a relationship was observed with an increase in disorders such as anxiety, irritability and aggressive behavior, while in the social dimension, a reduction in interpersonal interactions and the development of social skills was identified. The guidelines of the Brazilian Society of Pediatrics (SBP) and the World Health Organization (WHO) highlight the importance of avoiding the use of screens in children under the age of two and limiting and monitoring screen time for older children. The conclusion is that it is essential to make parents and educators aware of the risks of early screen use and to implement public policies that promote the healthy use of technology, prioritizing interactive activities that foster children’s full development.

Keywords: Early childhood; Screen time; Child development; Technology and children; Cognitive and emotional impacts.

 INTRODUÇÃO

A primeira infância, que abrange os primeiros seis anos de vida, é um período crucial para o desenvolvimento humano. Durante essa fase, ocorrem transformações significativas em várias áreas do desenvolvimento infantil, como a cognição, a linguagem, a motricidade e a socialização (Shonkoff e Phillips, 2000). As interações com o ambiente e com os cuidadores desempenham um papel fundamental nesse processo, criando as bases para o aprendizado e o comportamento ao longo da vida (VYGOTSKY, 1998; BRONFENBRENNER, 1996). No entanto, o advento da tecnologia e a crescente popularização de dispositivos eletrônicos, como smartphones, tablets e televisores, têm introduzido novos desafios no que diz respeito ao desenvolvimento infantil, especialmente quando esses dispositivos são introduzidos de forma precoce (WHO, 2019; SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019; UNICEF, 2019). 

O uso de telas por crianças na primeira infância tornou-se uma prática comum, muitas vezes impulsionada pela conveniência e pela promissão de conteúdos educativos oferecidos por aplicativos e programas. Contudo, estudos têm demonstrado que a exposição excessiva a dispositivos eletrônicos está associada a uma série de riscos para o desenvolvimento infantil, como atrasos na aquisição da linguagem, dificuldades no estabelecimento de habilidades sociais, alterações na regulação emocional e problemas relacionados ao sono (World Health Organization, 2019; Christakis et al., 2018). Além disso, o tempo excessivo diante de telas pode comprometer o engajamento em atividades essenciais para o desenvolvimento, como o brincar livre e as interações face a face com os cuidadores (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 2016; WHO, 2019; UNICEF, 2019; SBP, 2019).

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Academy of Pediatrics (AAP) recomendam que crianças menores de dois anos não sejam expostas a telas, e que, após essa idade, o tempo de uso seja limitado e supervisionado por adultos, com ênfase na qualidade dos conteúdos consumidos (World Health Organization, 2019; American Academy of Pediatrics, 2016). Apesar dessas orientações, a realidade das famílias muitas vezes contrasta com as recomendações, seja pela falta de informação, seja pelas demandas da vida cotidiana, que tornam os dispositivos uma alternativa prática para entreter as crianças (SBP, 2019; AAP, 2016; WHO, 2019; HINKLEY et al., 2019).  

Os efeitos do uso precoce de telas também são influenciados por fatores socioeconômicos e culturais, o que reforça a necessidade de abordagens contextualizadas para compreender o impacto dessa prática. Estudos têm destacado que crianças de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica podem ser mais expostas a telas devido à falta de acesso a outras formas de estimulação e lazer (Domingues-Montanari, 2017). Assim, torna-se fundamental analisar o fenômeno de forma abrangente, considerando os diferentes aspectos que influenciam a exposição precoce a telas e seus impactos (RADEMACHER; PARENTE, 2020; DOMINGUES MONTEIRO et al., 2021; WHO, 2019).

Neste contexto, é importante também reconhecer que a utilização de dispositivos eletrônicos não é inerentemente prejudicial, desde que ocorra de forma equilibrada e apropriada. A mediação dos pais no uso das tecnologias pode minimizar os riscos e maximizar os benefícios, promovendo experiências digitais que complementem o aprendizado e estimulem habilidades específicas. No entanto, essa mediação exige conhecimento e preparo, o que ressalta a importância de iniciativas educativas para pais e cuidadores. Campanhas de conscientização, programas de apoio e diretrizes claras podem contribuir para um uso mais consciente das telas na primeira infância (SBP, 2019; AAP, 2016; UNICEF, 2019; WHO, 2019).

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Investigar os prejuízos do uso precoce de telas na primeira infância, com ênfase nos aspectos cognitivos, emocionais e sociais do desenvolvimento infantil. Para isso, serão explorados estudos científicos recentes e diretrizes de órgãos internacionais, buscando compreender os mecanismos envolvidos nos efeitos do uso de telas e propor estratégias que promovam um desenvolvimento mais saudável. Ao destacar as implicações dessa temática, espera-se contribuir para a conscientização de pais, educadores e profissionais de saúde, bem como subsidiar políticas públicas voltadas ao bem-estar das crianças.

2.2 Objetivos Específicos

● Analisar os principais impactos do uso de telas no desenvolvimento cognitivo de crianças na primeira infância;

● Identificar as consequências do uso precoce de dispositivos eletrônicos na socialização e nas habilidades emocionais das crianças;

● Explorar os fatores socioeconômicos e culturais que influenciam a exposição precoce a telas;

● Propor estratégias de conscientização e orientação para pais e cuidadores sobre o uso adequado de dispositivos eletrônicos.

Este trabalho, ao destacar as implicações dessa temática, espera contribuir para a conscientização de pais, educadores e profissionais de saúde, bem como subsidiar políticas públicas voltadas ao bem-estar das crianças.

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 A Importância da Primeira Infância no Desenvolvimento Humano

A primeira infância é um período de grande plasticidade cerebral, no qual o ambiente exerce forte influência sobre o desenvolvimento da criança. Conforme apontado por Shonkoff e Phillips (2000), as experiências vivenciadas nos primeiros anos de vida são determinantes para a construção de habilidades cognitivas, emocionais e sociais. Durante essa fase, o cérebro desenvolve conexões neurais em um ritmo acelerado, moldando as bases para a aprendizagem e o comportamento ao longo da vida. 

As interações com os cuidadores, o estímulo ao brincar e o acesso a experiências ricas e diversificadas são fundamentais para um desenvolvimento saudável. Estudos têm mostrado que a qualidade das interações na primeira infância impacta diretamente o desempenho acadêmico, a saúde mental e as relações interpessoais na vida adulta (Britto et al., 2017). Nesse contexto, qualquer fator que interfira nesse processo pode ter repercussões significativas no futuro da criança.

3.2 A Popularização dos Dispositivos Eletrônicos e Seu Impacto na Infância

O avanço tecnológico das últimas décadas transformou o cotidiano das famílias, tornando os dispositivos eletrônicos uma presença constante na vida das crianças. Segundo dados da Common Sense Media (2020), o tempo médio diário que crianças de até oito anos passam diante de telas aumentou significativamente nos últimos anos. Esse aumento é especialmente preocupante na primeira infância, quando o cérebro está em um estágio crítico de desenvolvimento.

Embora dispositivos eletrônicos ofereçam possibilidades educativas, como aplicativos que promovem alfabetização inicial e habilidades matemáticas, seu uso excessivo tem sido associado a efeitos adversos. Christakis et al. (2018) destacam que a exposição prolongada a telas pode comprometer o desenvolvimento da linguagem e reduzir o tempo dedicado a interações sociais presenciais. Além disso, o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir está relacionado a distúrbios do sono, que, por sua vez, impactam negativamente o humor, a atenção e o aprendizado.

3.3 Aspectos Cognitivos e a Exposição Precoce a Telas

A literatura científica aponta que a exposição precoce a telas pode interferir no desenvolvimento cognitivo, especialmente em áreas relacionadas à linguagem e à atenção. Linebarger e Vaala (2010) sugerem que conteúdos audiovisuais inadequados ou excessivamente rápidos podem dificultar a compreensão e o processamento de informações, levando a atrasos no desenvolvimento da linguagem. Além disso, estudos longitudinais indicam que crianças expostas a telas por longos períodos apresentam maior risco de desenvolver dificuldades de atenção e hiperatividade (Hinkley et al., 2014).

Por outro lado, o impacto das telas sobre a cognição depende em grande medida da qualidade do conteúdo e do contexto em que ocorre o uso. Programas interativos, supervisionados por adultos, podem oferecer benefícios cognitivos, desde que sejam utilizados de forma limitada e equilibrada (Vandewater et al., 2007).

3.4 Consequências Emocionais e Sociais

Além dos efeitos cognitivos, a exposição precoce a telas também está associada a desafios emocionais e sociais. Crianças que passam muito tempo em frente a dispositivos eletrônicos podem apresentar dificuldades em interpretar expressões faciais e desenvolver empatia, habilidades essenciais para a convivência em sociedade (Uhls et al., 2014). A interação face a face, que é substituída pelo uso de telas, desempenha um papel crucial na construção dessas competências.

Ademais, estudos indicam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos está relacionado a problemas emocionais, como ansiedade e irritabilidade. Um estudo conduzido por Twenge et al. (2018) evidenciou uma correlação entre o aumento do tempo de tela e sintomas de depressão em crianças e adolescentes. Esses achados reforçam a necessidade de limitar o uso de telas, priorizando atividades que promovam o bem-estar emocional e social das crianças.

3.5 Fatores Socioeconômicos e Culturais na Exposição a Telas

A exposição precoce a dispositivos eletrônicos não ocorre de forma homogênea, sendo influenciada por fatores socioeconômicos e culturais. Famílias de baixa renda, por exemplo, podem recorrer mais frequentemente às telas como forma de entretenimento, devido à falta de acesso a outras atividades lúdicas (Domingues Montanari, 2017). Por outro lado, diferenças culturais também desempenham um papel importante, influenciando as atitudes dos pais em relação ao uso de dispositivos.

Iniciativas que visam reduzir os impactos negativos do uso precoce de telas devem levar em conta essas diferenças, promovendo estratégias que sejam adaptáveis a diferentes contextos e realidades. Programas comunitários, campanhas de conscientização e políticas públicas podem desempenhar um papel crucial nesse processo (SBP, 2019; WHO, 2019; UNICEF, 2019; HINKLEY et al., 2019).

3.6 Comparação dos Impactos em Diferentes Faixas Etárias

Um dos aspectos centrais na análise do impacto das telas é a diferença nos efeitos dependendo da faixa etária da criança. Pesquisas sugerem que crianças menores de dois anos são mais suscetíveis aos efeitos negativos devido à imaturidade do córtex pré-frontal, que é essencial para a regulação da atenção e do controle emocional (Barr, 2013). Já crianças em idade pré-escolar podem ser mais impactadas em suas habilidades sociais e na capacidade de resolução de problemas quando expostas a conteúdo inadequado.

Tabela 1: Comparação dos Impactos do Uso de Telas por Faixa Etária

Fonte: (CHRISTAKIS, 2019; VYGOTSKY, 1998); (AAP, 2016; WHO, 2019); (DOMINGUES-MONTEIRO et al., 2021); (SBP, 2019); (UNICEF, 2019); (HINKLEY et al., 2019).

Os dados indicam a necessidade de um uso mais consciente das telas, especialmente para crianças menores de dois anos. Para idades superiores, a qualidade do conteúdo e a supervisão continuam sendo fatores cruciais para minimizar riscos.

3.7 Possíveis Abordagens de Intervenção

Diante dos desafios apresentados, algumas abordagens têm mostrado eficácia na redução dos impactos negativos do uso precoce de telas. Por exemplo, programas educativos direcionados aos pais.

4. METODOLOGIA 

A metodologia adotada neste estudo consiste em uma revisão bibliográfica, com o objetivo de analisar os impactos do uso precoce de telas na primeira infância, a partir de documentos, artigos científicos e materiais institucionais. A escolha desse método baseia-se na necessidade de reunir e sistematizar informações de fontes confiáveis, oferecendo um panorama consolidado sobre o tema.

4.1 Fontes Utilizadas

A pesquisa bibliográfica foi realizada utilizando documentos da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o “Manual de Orientação do Departamento Científico de Pediatria”, bem como artigos publicados em periódicos indexados e relatórios de organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, foram incluídos estudos empíricos e revisões de literatura relacionados aos impactos das telas no desenvolvimento infantil.

A seleção de fontes seguiu critérios de relevância e atualidade, priorizando publicações dos últimos dez anos. Contudo, documentos clássicos ou com reconhecimento consolidado, como diretrizes da SBP, também foram considerados.

4.2 Procedimentos

A revisão bibliográfica foi realizada em quatro etapas principais:

1. Definição do Tema e Objetivos: Foram estabelecidos os parâmetros de pesquisa, delimitando o foco na análise dos prejuízos do uso precoce de telas, com ênfase nos aspectos cognitivos, emocionais e sociais do desenvolvimento infantil.

2. Levantamento de Fontes: A busca por materiais foi realizada em bases de dados acadêmicas, como SciELO, PubMed e Google Acadêmico, bem como no site oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Foram utilizados descritores como “uso de telas na infância”, “desenvolvimento infantil e tecnologia” e “tempo de tela”.

3. Seleção e Análise das Fontes: As fontes identificadas foram avaliadas quanto à relevância e à qualidade metodológica. Apenas materiais que atendiam aos critérios de rigor científico e alinhamento com os objetivos do estudo foram incluídos.

4. Organização e Sistematização: Os dados extraídos das fontes foram organizados em categorias temáticas, possibilitando uma análise integrada e coerente dos principais achados sobre o tema.

4.3 Análise de Dados

A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, destacando as evidências apresentadas pelas fontes consultadas. O “Manual de Orientação do Departamento Científico de Pediatria” e os documentos da SBP foram utilizados como referência central, complementados por estudos científicos que abordam os efeitos do uso de telas no desenvolvimento infantil.

A revisão também incluiu a comparação de diferentes abordagens e recomendações, buscando identificar convergências e divergências entre as fontes. Essa análise permitiu elaborar um quadro abrangente sobre as implicações do uso de dispositivos eletrônicos na primeira infância.

4.4 Considerações Éticas

Por tratar-se de uma revisão bibliográfica, este estudo não envolveu coleta de dados primários e, portanto, não exigiu aprovação de Comitê de Ética em Pesquisa. Todas as fontes utilizadas foram devidamente referenciadas, respeitando os direitos autorais e os princípios de integridade acadêmica.

Com essa abordagem metodológica, espera-se contribuir para uma compreensão aprofundada dos prejuízos associados ao uso precoce de telas na primeira infância, subsidiando futuras iniciativas educativas e políticas públicas voltadas ao bem-estar infantil.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nesta revisão bibliográfica revelam impactos significativos do uso precoce de telas na primeira infância, abordando diferentes dimensões do desenvolvimento infantil. Os principais achados foram organizados em categorias temáticas: cognitiva, emocional e social.

5.1 Dimensão Cognitiva

A exposição prolongada a telas durante os primeiros anos de vida está associada a atrasos no desenvolvimento da linguagem, déficits de atenção e dificuldades no desempenho acadêmico futuro. Estudos sugerem que crianças que passam mais de duas horas por dia em frente a telas têm maior probabilidade de apresentar atrasos na aquisição de vocabulário (WHO, 2019). Além disso, a multitarefa e o consumo passivo de conteúdo reduzem a capacidade de concentração e memorização (Cristakis et al., 2018).

Tabela 2: Uma tabela extraída de dados da SBP ilustra os riscos associados ao tempo excessivo de tela:

Fonte: (CHRISTAKIS, 2019; VYGOTSKY, 1998); (AAP, 2016; WHO, 2019); (DOMINGUES-MONTEIRO et al., 2021); (SBP, 2019); (UNICEF, 2019); (HINKLEY et al., 2019).

5.2 Dimensão Emocional

O uso desregulado de dispositivos eletrônicos está relacionado ao aumento de transtornos emocionais, como ansiedade e irritabilidade. Crianças expostas a telas em excesso têm maior dificuldade para regular suas emoções, o que pode levar a problemas de comportamento e dificuldades de relacionamento interpessoal (SBP, 2021).

Pesquisas indicam que a exposição a conteúdos inadequados ou violentos contribui para o aumento de respostas agressivas e diminuição da empatia (Linebarger & Vaala, 2010). As recomendações da OMS e da SBP reforçam a importância de monitorar os conteúdos e limitar o tempo de tela para proteger a saúde emocional das crianças.

5.3 Dimensão Social

O uso excessivo de telas impacta negativamente a interação social e o desenvolvimento de habilidades interpessoais. Crianças que passam muito tempo em dispositivos eletrônicos têm menos oportunidades de brincar com outras crianças, comprometendo a capacidade de resolver problemas e trabalhar em equipe (Guerra & Barros, 2018).

Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria mostrou que 67% das crianças que utilizam dispositivos eletrônicos por mais de três horas diárias apresentam dificuldades em interações sociais básicas (SBP, 2021).

Tabela 3: Utilização de dispositivos eletrônicos por mais de três horas diárias.

Fonte: (CHRISTAKIS, 2019; VYGOTSKY, 1998); (AAP, 2016; WHO, 2019); (DOMINGUES-MONTEIRO et al., 2021); (SBP, 2019); (UNICEF, 2019); (HINKLEY et al., 2019).

5.4 Recomendações Práticas

A partir das evidências apresentadas, é essencial que pais, educadores e profissionais de saúde atuem em conjunto para estabelecer limites e promover alternativas saudáveis ao uso de telas. Atividades ao ar livre, leitura e brincadeiras interativas são fundamentais para o desenvolvimento pleno das crianças (OMS, 2019).

6. CONCLUSÃO

A presente revisão bibliográfica destacou os inúmeros prejuízos associados ao uso precoce de telas na primeira infância, considerando as dimensões cognitiva, emocional e social do desenvolvimento infantil. Evidências consistentes mostram que a exposição excessiva a dispositivos eletrônicos, especialmente na ausência de supervisão e limites claros, pode comprometer habilidades fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2019; WHO, 2019).

Do ponto de vista cognitivo, observou-se que o uso prolongado de telas está relacionado a dificuldades de atenção, memória e aquisição de linguagem, além de impactar negativamente o desempenho escolar em etapas futuras (CHRISTAKIS, 2019; CHONCHOL et al., 2021). No âmbito emocional, a exposição precoce e desregulada às tecnologias pode intensificar sentimentos de ansiedade, irritabilidade e estresse, prejudicando a estabilidade emocional das crianças (AAP, 2016; UNICEF, 2019). Em termos sociais, as telas representam uma barreira significativa para interações interpessoais, diminuindo a empatia e o desenvolvimento de habilidades sociais essenciais (LINEBARGER; WALKER, 2005).

As recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) oferecem diretrizes importantes para minimizar os riscos associados ao uso de dispositivos eletrônicos na primeira infância. Essas orientações reforçam a necessidade de evitar completamente o uso de telas em crianças menores de dois anos e de estabelecer limites claros e conteúdos supervisionados para crianças acima dessa faixa etária (SBP, 2019; WHO, 2019).

Em síntese, os resultados apresentados ressaltam a importância de conscientizar pais, cuidadores e educadores sobre os riscos e as melhores práticas relacionadas ao uso de telas na infância. Políticas públicas e campanhas educativas são fundamentais para promover um uso responsável da tecnologia, priorizando o desenvolvimento integral e saudável das crianças. Este estudo espera contribuir para o debate sobre o tema, incentivando novas pesquisas e ações concretas que visem ao bem-estar infantil em um mundo cada vez mais digitalizado.

7. REFERÊNCIAS

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