PREDIÇÃO in silico DE TOXICIDADE DE ANÁLOGOS CUMARÍNICOS POTENCIAIS INIBIDORES ENZIMÁTICOS PARA A TERAPÊUTICA DA DOENÇA DE ALZHEIMER 

in silico TOXICITY PREDICTING OF POTENTIAL ENZYME INHIBITANT  CUMARIN ANALOGS FOR ALZHEIMER’S DISEASE TREATMENT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7793446


João Victor de Sousa Coutinho1
Juliana de Sousa Coutinho2


RESUMO 

A doença de Alzheimer (DA) consiste na principal causa de demência,  acometendo a população geriátrica. Grandes avanços foram estabelecidos  quando se diz respeito a formas de tratamento dessa patologia, todavia, na  ausência de uma cura se faz necessário a permanência de estudos visando  desenvolver novos medicamentos com potencial de bloquear enzimas  associadas a DA. Os compostos derivados de cumarinas demonstraram 

significativo poder terapêutico em estudos in silico, in vivo e in vivo em fases pré  cínicas. O objetivo desse estudo consistiu em avaliar o perfil toxicológico desses  análogos em potencial. Para isso, foram utilizadas ferramentas de modelagem  molecular e triagem farmacológica e toxicológica, por meio das bases Marvin e  ADMETlab, respectivamente, utilizando compostos descritos na literatura. Com  isso, foi possível notar que todos os protótipos apresentaram um valor  significativo de dano cardíaco, o que pode representar riscos por conta dos  comprometimentos geriátricos em níveis fisiológicos e bioquímicos. A mesma  aplicação quanto aos aspectos hepáticos é dimensionada, aplicada aos  protótipos B, C, D, E, e G, e apenas o A apresentou perfil de danos  carcinogênicos. Portanto é possível concluir a primordialidade de testes mais  avançados focados nos riscos de hepatotoxicidade e de danos cardíacos.  

Palavras-Chaves: Doença de Alzheimer, cumarinas, toxicologia e triagem in  silico. 

ABSTRACT  

Alzheimer’s disease (AD) is the leading cause of dementia, affecting the geriatric  population. Great advances have been established when it comes to treatment  of this pathology, however, in the absence of a cure it is necessary to continue  studies to develop new drugs with the potential to block enzymes associated with 

AD. Coumarin-derived compounds have shown significant therapeutic power in  in silico, in vivo and in vivo pre-clinical studies. The aim of this study was to  evaluate the toxicological profile of these potential analogues. To this end,  molecular modeling tools and pharmacological and toxicological screening were  used, through the bases Marvin and ADMETlab, respectively, using compounds  described in the literature. With this, it was possible to note that all prototypes  presented a significant value of cardiac damage, which may represent risks  because of geriatric impairments at physiological and biochemical levels. The  same application regarding liver aspects is scaled, applied to prototypes B, C, D,  E, and G, and only A presented a carcinogenic damage profile. Therefore, it is  possible to conclude the primordiality of more advanced tests focused on the risks  of hepatotoxicity and cardiac damage. 

Keywords: Alzheimer’s disease, coumarins, toxicology and in silico screening. 

1. INTRODUÇÃO  

A doença de Alzheimer (DA) consiste na principal causa de demência  presente na contemporaneidade. Diversos são os fatores associados a gênese  dessa patologia, indo desde questões genômicas a influências multifatoriais, e  tais multifatoriedades propiciam a oxidação e a inflamação dos sistemas  neuronais, a deposição proteica de β-amilóide, e a redução da atividade colinérgica (SERRANO-POZO; GROWDON, 2019).  

Esses processos tendem a ser cumulativos, até em determinado  momento gerar o acometimento das estruturas presentes no sistema nervoso  central superior, iniciando o processo de degeneração. Tendo em vista a  postergação da expectativa de vida do ser humano, é possível realizar uma  projeção de um drástico aumento nos casos da DA, bem como de outras  doenças neurodegenerativas (ESQUERDA-CANALS et al., 2017).  

Na eminencia desse cenário, torna-se necessário o desenvolvimento de  medidas terapêuticas que contribuam no controle da DA, visando evitar o agravo  drástico, e um prognóstico desfavorável. A inexistência de uma cura para essa  neuropatologia intensifica a primordialidade de estudos no campo químico medicinal, que auxiliem no desenvolvimento de potenciais fármacos que atuem  sobre os mecanismos fisiopatológicos dessa enfermidade (CAÑIZARES CARMENATE et al., 2022).  

Nesse contexto, ao longo dos anos, diversos pesquisadores  desenvolveram análogos estruturais a partir da cadeia heterocíclica de  cumarinas, denominada de 1,2 Benzopirona, que pode ser visualizada na figura  01. Esse composto é biossintetizado em diversas rotas metabólicas secundárias  no reino vegetal, todavia alguns fungos e bactérias também possuem a  habilidade de sintetiza-las, ao passo que na atualidade existam cerca de 1300  tipos de cumarinas oriundas de fontes naturais (FRANCO et al., 2021).  

FIGURA 01: Estrutura base de cumarinas 

Os metabólitos secundários vegetais são gerados por meio de um  desenvolvimento adaptativo, que caracteriza uma vantagem evolutiva da  espécie, permitindo que essa reaja a meios de estresse e defenda-se de  potenciais predadores e danificadores. No caso das cumarinas, há uma  atribuição dupla na bioquímica e fisiologia das plantas, onde essas moléculas  atuam como antioxidantes e/ou como inibidores enzimáticos, evitando o  desencadeamento de acometimentos nas estruturas vegetais.  

Essas atribuições vem sendo estudadas e adaptadas para a aplicação  sobre patologias humanas, e para tal, uma série de análogos estruturais foram  desenvolvidos, e dentre as enfermidades com viabilidade de aplicação dessas  moléculas está a DA. Essas têm demonstrado, in silico e in vitro, efeito inibidor  sobre a acetilcolinesterase (AChE) e a butirilcolinestere (BuChE), que são as  enzimas responsáveis pela a degradação do neurotransmissor acetilcolina (ACh). Com a inibição há um aumento na oferta de ACh na região da fenda  sináptica, reduzindo desregulações químicas que induzem e potencializam a DA (CARNEIRO et al., 2021).  

O objetivo da presente pesquisa consiste em avaliar a predição in silico de toxicidade de análogos cumarínicos descritos na literatura, e analisar a  viabilidade de aplicação desses na terapêutica clínica, passando anteriormente  por testes in vitro e in vivo pré clínicos.  

2. METODOLOGIA  

A presente obra caracteriza-se como um estudo experimental e descritivo,  de caráter quali-quantitativo. Para o seu desenvolvimento utilizou-se programas  computacionais, sendo o MARVIN®, da Chemaxon, para o desenho das  estruturas estudadas e a obtenção do sorriso canônico dessas, e a plataforma  ADMETlab® para predizer o perfil toxicológico e físico-químico desses  compostos. Dos muitos perfis de toxicidade possíveis de serem analisados, selecionou-se três de maior relevância, tendo em vista a realidade fisiológica da  maioria dos pacientes que possuem a DA. 

O primeiro parâmetro a ser analisado consiste na capacidade de atuação  dessas moléculas como bloqueadores hERG, podendo desencadear arritmias  cardíacas, e em casos graves a síndrome do QT longo, que pode gerar uma  irregularidade a nível fatal. O segundo é o DILI que permite avaliar o potencial  de gênese e agravo de danos hepáticos por conta do uso dessas substâncias.  Por fim, o terceiro é a toxicidade AMES, que indica a viabilidade de ocorrerem  mutações no material genético do tipo frameshift ou o desdobramento de  substituição dos pares de base, e com isso o desenvolvimento de carcinomas.  

Foram selecionadas moléculas que demostraram atividade in silico e in  vivo, em fase pré clínica contra as enzimas a AChE e a BuChE, nos ensaios computacionais relatados na literatura. Para a revisão literária foram utilizadas  trabalhos indexadas em bases de dados consolidadas, como PUBMED,  PUBCHEM, DROGBANK, SciELO e demais bases informacionais. Para isso,  foram utilizados os seguintes descritores “Coumarins”; “Alzheimer Disease” “Geriatrics”, todos devidamente padronizados como descritores em saúde  (DeCS). Ao todo foram encontrados 43 artigos, desses 7 possuíam maior  relevância pra a aplicação de revisão.  

Como critério de inclusão foram admitidos artigos que possuíssem datas  de publicação igual ou posterior ao ano de 2010, contendo os descritores ou termos similares em seus títulos e/ou resumos. Foram descartadas revisões narrativas, isentas de metodologia, e com problemas estruturais em seus  métodos de obtenção de dados e experimentos. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO  

A primeira molécula analisada, o protótipo A, pode ser visualizada na  figura 02, que segundo Franco e seus colaboradores (2021) possui um maior  poder de interação com a AChE, atuando nos receptores CAS e o PAS. Esse  processo gera uma maior potência inibitória. Ao avaliar os perfis de toxicidade  foi notório uma probabilidade entre 70% e 90% dessa molécula desencadear  irregularidades cardio-arrítmicas, e tendo em vista muitos dos pacientes com a  DA possuem problemas e fragilidades cardiovasculares é de suma importância  a avaliação de dosagem em estudos subsequentes, para a aplicação pré e  clínica.  

Quanto ao perfil de toxicidade hepática há um probabilidade entre 30% e  50%, o que é considerado relativamente moderado, e com o provável ajuste de  dosagem por conta dos danos cardíacos esse perfil hepático pode mitiga-se e  oferecer poucos riscos, todavia é essencial que o índice terapêutico em humanos  seja efetivo sem gerar possíveis danos toxicológicos.  

Um fator preocupante nessa análise está justamente ligado ao potencial  carcinogênico desse protótipo, possuindo esse uma porcentagem provável entre  90% e 100%, e novamente o fator de risco decorrente da idade torna-se algo  preocupante, havendo a necessidade de avaliar a dosagem efetiva para testes  clínicos, como demonstra Bednarczuk et al (2010). Os dados referentes as  análises toxicológicas podem ser visualizadas no quadro 01.  

QUADRO 01: Avaliação toxicológica do protótipo A 

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + (70% – 90%)
DILI (30% – 50%)
Toxicidade AMES + + + (90% – 100%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)

O protótipo B, C e D e E foram desenvolvido e testado in silico por Franco et al (2021), e demonstrou ação sobre a AChE e a BuChE, em testes in vitro. O  protótipo B pode ser vislumbrado na figura 03, onde evidenciou-se um alto índice  de probabilidade de agir bloqueando os receptores hERG, entre 90% e 100%,  oferecendo riscos significativos para a saúde, e que dependendo do índice  terapêutico apresentarão uma inviabilidade clínica.  

Os danos hepáticos apresentaram a mesma faixa de probabilidade, o que  comprometeria muitos processos metabólicos, já defasados no estado geriátrico como Mello et al (2022) demostram em sua obra. Um ponto positivo diz respeito  a probabilidade de ocorrência de tumores, que se estendeu na faixa mais baixa  de análise do programa, entre 0% e 10%, e isso pode ser visualizado no quadro  02. 

QUADRO 02: Avaliação toxicológica do protótipo B

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + + (90% – 100%)
DILI + + + (90% – 100%)
Toxicidade AMES – – – (0% – 10%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

Os protótipos C e D, expressos nas figuras 04 e 05, apresentaram  exatamente o mesmo índice toxicológicos, dentro dos padrões analisados, que  constam nos quadros 03 e 04. Logo os pontos positivos e negativos também  são similares. Obviamente há interferências da relação estrutura e atividade,  sobretudo quanto ao perfil físico-químico, onde a molécula D apresenta um  menor LogP, sendo esse igual a 3.99, enquanto o protótipo B possui um LogP  de 4.77, e o C igual a 4.26. 

QUADRO 03: Avaliação toxicológica do protótipo C 

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + + (90% – 100%)
DILI + + + (90% – 100%)
Toxicidade AMES – – – (0% – 10%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

QUADRO 04: Avaliação toxicológica do protótipo D 

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + + (90% – 100%)
DILI + + + (90% – 100%)
Toxicidade AMES – – – (0% – 10%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

O protótipo E possui um carbono a menos do que o D, como é possível  notar na figura 06. Essa alteração reduz a probabilidade dessa molécula interagir  com os receptores hERG, bloqueando-os, sendo essas de 70% a 90%.  Beneficiando esse perfil analítico em comparação aos demais protótipos com  estrutura similar.  

QUADRO 05: Avaliação toxicológica do protótipo E

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + (70% – 90%)
DILI + + + (90% – 100%)
Toxicidade AMES – – – (0% – 10%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

Na tabela 06, referente ao protótipo F, demostrado na figura 06, é notório  uma taxa considerável entre 70 a 90% de predição referente ao potencial de  interação com os receptores hERG, sendo similar ao protótipo demonstrado na  figura e tabela 07. Com isso torna-se essencial estudos mais específicos,  focados em avaliar segurança desses compostos com relação ao sistema  cardiovascular, por conta dos motivos supracitados, defendidos por Zaslavsky e  Gus (2022).  

QUADRO 06: Avaliação toxicológica do protótipo F 

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + (70% – 90%)
DILI (30% – 50%)
Toxicidade AMES (30% – 50%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

Quanto à possibilidade de danos hepáticos o protótipo F manifesta riscos  moderados, porém, o G apresentou um risco potencial alarmante, entre 90 e  100%. Já o potencial de carcinogênico do protótipo G é inferior ao F, todavia  ambos apresentam-se abaixo de 50%.  

FIGURA 07: Protótipo G

QUADRO 07: Avaliação toxicológica do protótipo G

PERFIL  ANALÍTICOAVALIAÇÃO DE  TOXICIDADE
Bloqueadores  hERG+ + (70% – 90%)
DILI + + + (90% – 100%)
Toxicidade  AMES– – (10% – 30%)
(AUTORES, Adaptado de ADMETlab, 2022)  

4. CONCLUSÃO  

A partir dos resultados obtidos foi possível concluir que todos os protótipos  apresentaram níveis significativos de interação com bloqueadores hERG, sendo  necessário mais estudos de viabilidade de aplicação. Já os protótipos B, C, D, E  e G apresentaram a capacidade de gerar danos hepáticos, e o protótipo A  apresentou alta habilidade de desenvolvimento carcinogênico, sendo também  necessário estudos mais avançados nos campos fisiológicos e bioquímicos.  

REFERÊNCIAS  

BEDNARCZUK, V. O. et al. TESTES IN VITRO E IN VIVO UTILIZADOS NA  TRIAGEM TOXICOLÓGICA DE PRODUTOS NATURAIS. Visão Acadêmica,  [s. l.], v. 11, n. 02, p. 1518-5192, 2010. 

CAÑIZARES-CARMENATE, Y et al. Ligand-based discovery of new potential  acetylcholinesterase inhibitors for Alzheimer‘s disease treatment. SAR and  QSAR in Environmental Research, [s. l.], v. 33, n. 01, p. 49-61, 2022. 

CARNEIRO, Aitor; MATOS, Maria João; URIARTE, Eugenio; SANTANA,  Lourdes. Trending Topics on Coumarin and Its Derivatives in 2020. Trending  Topics on Coumarin and Its Derivatives in 2020, [s. l.], v. 26, n. 02, 2021. 

ESQUERDA-CANALS, Gisela et al. Mouse Models of Alzheimer‘s  Disease. Journal of alzheimer‘s disease, [s. l.], v. 57, n. 04, p. 1171-1183,  2017. 

MELLO, Palloma Aline et al. Hepatotoxicidade e Alterações de Exames  Laboratoriais de Avaliação da Função Hepática por Fármacos. Revista Saúde  em Foco, [s. l.], v. 09, n. 02, 2022. 

SERRANO-POZO, Alberto; GROWDON, John. Is Alzheimer‘s Disease Risk  Modifiable?. Journal of alzheimer’s disease, [s. l.], v. 67, n. 03, p. 795-819,  2019. 

ZASLAVSKY, Cláudio; GUS, Iseu. Idoso: Doença Cardíaca e  Comorbidades. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [s. l.], v. 79, n. 06, 2022


1Graduando de Farmácia do centro universitário São Camilo e de processos químicos do centro universitário internacional

2Pós graduanda em estética avançada na universidade vila velha