PRÉ-ECLÂMPSIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA NA OBSTETRÍCIA DE UM HOSPITAL PÚBLICO NO ESTADO DO PARÁ

PRE-ECLAMPSIA: EXPERIENCE REPORT IN OBSTETRICS AT A PUBLIC HOSPITAL IN THE STATE OF PARÁ

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202504232110


Daiane Marcião Moreira1; Anna Carla Ferreira Soares2; Cleia Costa Gama3; João Paulo Lopes Mota dos Santos4; Rafaela Marques de Lima5; Sheila Neves Oliveira6; Ana Dirce Ferreira de Jesus7


Resumo

A pré-eclâmpsia é uma doença grave da gravidez caracterizada por hipertensão e falência de órgãos. A prevalência varia de acordo com fatores de risco conhecidos, incluindo história de pré-eclâmpsia, doença renal crônica, hipertensão, obesidade e gestações múltiplas, portanto, a causa exata ainda é desconhecida. Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, vivenciado como acadêmicos (a) do décimo semestre do curso de bacharelado em Enfermagem, durante a disciplina Estágio Supervisionado II:  no setor de obstetrícia do Hospital Municipal de Santarém Dr. Alberto Tolentino Sotelo (HMS), sendo referência para os municípios circunvizinhos. As atividades foram realizadas no período de 06 a 20 de março de 2025. A pré-eclâmpsia representa um desafio significativo na obstetrícia, sendo uma das principais causas de morbimortalidade materna e perinatal. Este relato de experiência em um hospital público no estado do Pará reforça a importância da vigilância constante, do diagnóstico precoce e do manejo adequado dessa complicação durante a gravidez.

Palavras-chave: Enfermagem obstétrica; Pré-eclâmpsia; Humanização da assistência.

1 INTRODUÇÃO

Define-se Pré-Eclâmpsia (PE) como o desenvolvimento de hipertensão, com proteinúria e/ou edema de mãos ou face. A PE é uma doença grave da gravidez caracterizada por hipertensão e falência de órgãos em mulheres prematuras. A prevalência varia de acordo com fatores de risco conhecidos, incluindo história de préeclâmpsia, doença renal crônica, hipertensão, obesidade e gestações múltiplas. A causa exata ainda é desconhecida, mas acredita-se que doenças genéticas, imunológicas e sanguíneas   desempenhem um papel (Neto et al., 2024).

Segundo a Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, a pré-eclâmpsia é uma das principais causas de morbidade materna e fetal, caracterizada pelo surgimento de hipertensão arterial e proteinúria (presença de proteínas na urina) após a 20ª semana de gestação. Essa condição pode afetar tanto a mãe quanto o feto, e se não for tratada adequadamente, pode levar a complicações graves, como eclâmpsia (convulsões), síndrome HELLP (que envolve hemólise, elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas) e problemas de crescimento fetal (SBGO, 2020).

A pré-eclâmpsia, complicação gestacional grave, envolve hipertensão e disfunção de órgãos após a 20ª semana, com etiologia complexa.  Classificada em leve e grave, esta última apresenta sintomas intensos como hipertensão severa, proteinúria e disfunção orgânica (De Oliveira et al., 2021).

Diante o exposto, o objetivo desse estudo é descrever através do estágio supervisionado, o relato de experiência durante assistência a uma gestante com diagnóstico de pré-eclâmpsia, a identificação dos sintomas, acompanhamento do pós parto, com intuito de compreender os desafios enfrentados e as estratégias de manejo utilizadas.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, vivenciado como acadêmicos (a) do décimo semestre do curso de bacharelado em Enfermagem, durante a disciplina Estágio Supervisionado II:  no setor de obstetrícia do Hospital Municipal de Santarém Dr. Alberto Tolentino Sotelo (HMS), sendo referência para os municípios circunvizinhos. As atividades foram realizadas no período de 06 a 20 de março de 2025. No decorrer dos atendimentos, foi realizado todos os cuidados de enfermagem, que incluem a aferição dos níveis pressóricos quatro vezes ao dia, orientação quanto ao repouso no leito, avaliação cotidiana da proteinúria, controle da diurese nas 24 horas, orientações para verificação materna diária dos movimentos fetais e observação pelos profissionais de saúde dos sinais e sintomas clínicos da SHEG, ausculta de batimentos cardíacos fetais (BCF), primeiros cuidados com a puérpera. Nos primeiros cuidados com o Recém Nascido, foram Berço Aquecido, limpeza corporal, troca de campos úmidos, Avaliação do índice de Apgar no 1º e 5º minuto, contato pele a pele com a mãe, secção do cordão umbilical em tempo oportuno,  e colocado em berço aquecido para realizar os demais cuidados, avaliação do pediatra e os reflexos e exame físico, administração de vitamina K, curativo do coto umbilical com álcool a 70%, medidas antropométricas: Perímetro cefálico , Perímetro torácico, Estatura, reavaliação do pediatra e encaminhado ao ALCON (alojamento conjunto).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Gestante, R.D.G. (G10, PV9, A0) IG- 34S 4D, feminino, 44 anos, natural e procedente do município de Alenquer-Pará, compareceu ao hospital municipal com diagnóstico de pré-eclâmpsia apresentando edema em MMII e dor pélvica, relata que teve eclâmpsia nas gestações anteriores, em uso de metildopa 500mg de 12/12 h e AAS 100 mg 24/24 h, realizou 7 consultas de pré-natal, ABO RH: B+. Parturiente, com bom estado geral, lúcida e orientada, respirando ar ambiente, escleras anictéricas e mucosas coradas. Nega febre, náuseas, vômitos, dor abdominal, dispneia, oligúria e hipoestesia. Ao exame físico: Couro cabeludo integro e sem presença de sujidades. Exame do aparelho respiratório dentro da normalidade com tórax normal, sem abaulamento, retrações ou cicatrizes. Eupneica com expansibilidade preservada em ápices e bases, com presença de frêmitos tóraco-vocal. Ausculta com som claro pulmonar e murmúrios vesiculares presentes e bem distribuídos com ausência de ruídos adventícios. O exame cardíaco apresenta Bulhas rítmicas, normofonéticas em dois tempos, sem sopros. Ao que tange ao exame obstétrico evidencia feto em situação longitudinal, apresentação cefálica e dorso à esquerda materna. Altura uterina de 34 cm sendo compatível com a idade gestacional e BCF 156 bpm. Abdome gravídico com ausência de retrações, simétrico, abaulamentos e circulação colateral, exibindo cicatriz umbilical protusa sem sinais flogísticos, presença de linha nigra. Apresenta ruídos hidroaéreos bem distribuídos com fígado e baço não palpáveis. Abdome indolor à palpação superficial e profunda. EVI: Diurese e Evacuações presentes. Realizado os testes rápidos intra hospitalar de HIV (NR), SÍFILIS (NR), HCR (NR) e HBSAG (NR). SSVV: PA: 150×90 mmHg; FC: 98 bpm; Temperatura axilar: 36,8ºC; FR: 20 irpm; Saturação O2: 98%.

De acordo com Phipps et al. (2019) a literatura atual fornece fortes evidências da correlação de fatores de risco com o desenvolvimento da Pré-Eclâmpsia (PE), como por exemplo: a idade materna avançada, nuliparidade, história prévia de PE, IMC ≥ 30, descolamento prematuro de placenta, restrição do crescimento intrauterino, história clínica de hiperglicemia na gravidez atual, hipertensão crônica pré-existente.

Contudo, salienta-se que a paciente apresentava histórico de pré-eclâmpsia nas últimas gestações, deu entrada com queixas de dor pélvica, apresentando edema de MMSS e MMII. A pré-eclâmpsia é uma doença da gestação que é descrita, de forma simplificada, pela elevação dos valores pressóricos, juntamente com a presença de proteinúria após a 20ª semana. Diversos fatores de risco podem estar relacionados com o surgimento da doença, dentre eles, pode-se citar o histórico familiar de PE, predisposição genética, tabagismo, idade materna, nuliparidade, fertilização in vitro, hipertensão arterial crônica, diabetes, doença renal crônica, obesidade e doenças autoimunes (Melillo et al., 2023).

É importante destacar que foram realizados todos os cuidados assistenciais necessários para contribuir com a melhora do quadro clinico da paciente. Enfatiza-se Quanto ao diagnóstico, utilizam-se critérios clínicos e exames como medição da pressão, análise de urina e ultrassonografia. O diagnóstico de pré-eclâmpsia necessita de acompanhamento com exames laboratoriais para identificar precocemente o comprometimento de órgãos-alvo e diagnosticar a síndrome HELLP ainda em seu estágio inicial (apenas alterações laboratoriais, sem sinais e sintomas clínicos) (Neto et al., 2024).

A propedêutica laboratorial dependerá da gravidade de cada caso e das possibilidades para sua realização e incluem: Hemograma completo com contagem de plaquetas, proteinúria de fita e/ou de 24 horas, uréia e creatinina, urina tipo I, ácido úrico, perfil hemolítico (DHL), enzimas hepáticas (TGO e TGP) e bilirrubinas totais e frações (Kahhale et al., 2018).

Para Guida et al. (2017) durante todo o acompanhamento obstétrico, é necessário manter o controle adequado da PA, monitorar sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia e acompanhar parâmetros laboratoriais (hemograma, função renal e função hepática).  A monitorização do bem-estar e desenvolvimento fetal deve ser realizada semanalmente ou em caso de alterações clínicas ou descontrole pressórico.  A combinação de avaliação biofísica, através da cardiotocografia, e hemodinâmica, através da doppler velocimetria, é a mais indicada. O manejo expectante é recomendado até as 37 semanas de gestação, quando a resolução da gestação é indicada, visando a redução da morbimortalidade materno fetal sem impactar nos desfechos perinatais.

Em concordância, Lima et al. (2024) destaca que é fundamental ressaltar que a identificação precoce de fatores de risco e o acompanhamento pré-natal adequado são ferramentas essenciais na prevenção e no controle da pré-eclâmpsia. A conscientização das gestantes sobre os sinais de alerta e a busca por assistência médica imediata diante de qualquer sintoma suspeito também são de suma importância.

4 CONCLUSÃO 

A pré-eclâmpsia representa um desafio significativo na obstetrícia, sendo uma das principais causas de morbimortalidade materna e perinatal. Este relato de experiência em um hospital público no estado do Pará reforça a importância da vigilância constante, do diagnóstico precoce e do manejo adequado dessa complicação durante a gravidez.

Dessa forma, a experiência vivenciada no estágio supervisionado, certamente expôs a complexidade do quadro da pré-eclâmpsia, suas diversas manifestações e a necessidade de uma equipe multidisciplinar bem treinada para lidar com as emergências que podem surgir. A atuação dos profissionais de saúde, incluindo médicos obstetras, enfermeiros (a) obstétricos e outros especialistas, é crucial para garantir a segurança da mãe e do bebê. O cuidado após o parto também é essencial para que novos agravos não ocorram e que, em uma nova gestação, a mulher possa vivenciá-la de maneira qualificada e assistida.

Em um contexto de hospital público, onde os recursos tornam-se limitados, a organização dos serviços, a implementação de protocolos clínicos atualizados e a otimização do fluxo de atendimento são cruciais para garantir a melhor assistência possível às gestantes com pré-eclâmpsia.

Este relato de experiência contribui para a compreensão da realidade da assistência obstétrica, à pré-eclâmpsia, podendo servir de base para aprimorar as práticas clínicas, a capacitação profissional e a qualidade do atendimento oferecido às gestantes da região. A troca de experiências e a análise de casos são valiosas para a construção de um cuidado mais seguro e humanizado na obstetrícia.

REFERÊNCIAS

DE OLIVEIRA, L. G. et al. Pre-eclampsia: Universal Screening or Universal Prevention for Low and Middle-Income Settings? Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 43, n. 01, p. 061–065, jan. 2021.

GUIDA, J.P.S. et al. Preterm preeclampsia and timing of delivery: a systematic literature review. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v.39, n. 11, p 622631, 2017.

KAHHALE, S.; FRANCISCO, R. P. V.; ZUGAIB, M. Pré-eclampsia. Revista de Medicina, São Paulo, Brasil, v. 97, n. 2, p. 226–234, 2018. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v97i2p226-234. Disponível em: https://revistas.usp.br/revistadc/article/view/143203. Acesso em: 10 mar. 2025.

LIMA, L. H. de M et al. Qualidade do pré-natal e a pré-eclâmpsia: Estudo transversal. Research, Society and Development, v. 13, n. 7, 2024.

MELILLO, V. T. et al. Pré-eclâmpsia: fisiopatologia, diagnóstico e manejo terapêutico. Revista Brasileira de Revisão de Saúde, v. 4, p. 14337–14348, 2023.

NETTO, P. R. de S. et al.  Prevalência e fatores de risco para a pré-eclâmpsia em gestantes. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, [S. l.], v. 6, n. 7, p. 832–841, 2024. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n7p832-841. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/2535. Acesso em: 10 mar. 2025.

PHIPPS, E. A., THADHANI, R., BENZING, T., KARUMANCHI, S. A. Pre-eclampsia: pathogenesis, novel diagnostics and therapies. Nat Rev Nephrol, v.15, n.5, p.275289, 2019.

Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (SBGO). (2020).  Diretrizes para o diagnóstico e tratamento da pré-eclâmpsia e eclâmpsia. Disponível em: [SBGO](https://www.sbgo.org.br/wp-content/uploads/2020/08/DiretrizesPreeclampsia-e-Eclampsia-2020.pdf).


1Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)- enf.daianemoreira@gmail.com;
2Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)annacarlaferreira@outlook.com;
3Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)- gamacleia6@gmail.com;
4Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)- jpaulo.lopesmota@gmail.com;
5Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)- rafaellamarqueslima01@gmail.com;
6Discente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário da Amazônia (UNAMA)- cheilaooliveira@gmail.com;
7Enfermeira e Docente da Universidade Estadual do Pará (UEPA)-enf.anadirce@hotmail.com;