PRÁTICAS PARA O CONTROLE DO AEDES AEGYPTI NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA – MG

PRACTICES FOR CONTROL OF AEDES AEGYPTI IN THE MUNICIPALITY OF UBERLÂNDIA – MG

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10075485


Wesleyana Maressa Manuel da Silva1
Winston Kleiber de Almeida Bacelar2


RESUMO

O combate ao Aedes aegypti é desafiador, o que pode ser comprovado pelos altos índices de notificações compulsórias das doenças provocadas pelo vetor. Visto que a dengue é uma doença endêmica e por saber o impacto que esse vírus causa na qualidade de vida da população, gerando perdas econômicas e sociais, é de suma importância que haja iniciativas para reduzir a sua incidência. Essa pesquisa se refere a um estudo de abordagem quanti-qualitativa. A pesquisa aconteceu realizando uma análise dos dados epidemiológicos e da busca das ações realizadas pela prefeitura de combate ao Aedes aegypti. Nos resultados os dados epidemiológicos mostraram entre 2018 e 2022 ocorreram 57917 notificações de dengue. Sendo o ano de 2019 o que mais apresentou casos de dengue. Sobre as ações foram publicados no período de 2018 a 2022 trinta e sete boletins sendo selecionados para compor o corpus da pesquisa 7. O ano de 2018 se sobressaiu com 5 (62,5%) das publicações sobre ações para o combate de Aedes aegypti. Os anos de 2020 e 2021 não apresentaram nenhum boletim que retratasse as arboviroses. Os boletins de vigilância em saúde abordaram poucas ações no período de 2018 a 2022, demonstrando capacitações e envolvimento da população para o combate do Aedes aegypti. Porém ao verificar as reportagens percebeu-se que o município de Uberlândia tem desenvolvido regularmente atividades inovadoras que objetivam controlar o Aedes aegypti.

Palavras-chave: Vetor; Arboviroses; Aedes aegypti

ABSTRACT

Combating Aedes aegypti is challenging, which can be proven by the high rates of compulsory notification of diseases caused by the vector. Since dengue is an endemic disease and knowing the impact that this virus has on the population’s quality of life, generating economic and social losses, it is extremely important that there are initiatives to reduce its incidence. This research refers to a quantitative-qualitative study. The research took place by analyzing epidemiological data and searching for actions carried out by the city council to combat Aedes aegypti. In the results, epidemiological data showed between 2018 and 2022 there were 57,917 reports of dengue. 2019 was the year with the most cases of dengue. About the actions, thirty-seven bulletins were published between 2018 and 2022 and were selected to compose the research corpus 7. The year 2018 stood out with 5 (62.5%) of publications on actions to combat Aedes aegypti. The years 2020 and 2021 did not present any bulletins that portrayed arboviruses. The health surveillance bulletins addressed few actions in the period from 2018 to 2022, demonstrating training and involvement of the population to combat Aedes aegypti. However, when checking the reports, it was noticed that the municipality of Uberlândia has regularly developed innovative activities that aim to control Aedes aegypti.

Keywords: Vector; Arboviruses; Aedes aegypti

1. INTRODUÇÃO

As arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti constituem um grande problema de saúde pública. O combate ao vetor é desafiador, o que pode ser comprovado pelos altos índices de notificações compulsórias das doenças provocadas pelo mosquito. Em 2022 o Brasil registrou 1,4 milhão de casos de Dengue, 174,5 mil casos de Chikungunya e 9,2 mil casos de Zika (BRASIL, 2023).

O Aedes Aegypti é um mosquito de hábito doméstico, que tem predominância na zona urbana, pois necessita dos seres humanos para se alimentar e de condições climáticas favoráveis para se reproduzirem, tendo suas preferências por áreas tropicais, quentes e úmidas (COSTA et al., 2016).

Neste contexto, existem vários fatores que colaboram para sua multiplicação, como a mobilidade urbana, aglomeração de pessoas, moradias precárias, falta de água potável, urbanização acelerada, planejamento desordenado, processos migratórios e condições ecológicas favoráveis à doença (CAMASMIE ABE; MIRAGLIA, 2018; COSTA et al., 2019; COSTA; SILVEIRA; DONALÍSIO, 2016; NASCIMENTO et al., 2017; SKALINSKI; COSTA; TEIXEIRA, 2018).

Em virtude disso, as notificações das doenças provocadas pelo Aedes aegypti são preocupantes, em 2022 percebeu-se um aumento de 197,9% em relação ao mesmo período de 2021, sendo os estados de Minas Gerais, Goiás, Espírito Santos, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, foram os mais acometidos (OLIVEIRA, 2022).

Nesse cenário, no continente americano, até junho de em 2023 foram confirmados quase 3 milhões de casos de arboviroses, dos quais 90,0% foram de dengue, 9,6% Chikungunya e 0,4% de zika. Sendo que o Brasil é o país mais afetado das américas responsável por 2,3 milhões de ocorrências a nível mundial, em 2023 (OPAS, 2023).

Devido a esses números alarmantes, pode-se afirmar que a doença além de gerar desgaste para a população acometida ainda provoca grandes consequências econômicas, com gastos de cerca de US$164 milhões por ano para o combate da epidemia, bem como, o enfraquecimento do mercado de trabalho em razão dos altos índices de morbimortalidade (BÖHM et al., 2016; CAMASMIE ABE; MIRAGLIA, 2018; NASCIMENTO et al., 2017).

Outrossim, há muitas décadas que esse vírus da dengue assola o país. Teixeira, Barreto e Guerra (1999) apontam que há ocorrências desde a década de 1980, quando houve uma expansão geográfica da dengue, resultado de uma circulação exponencial e intensa da doença, com registro de grandes epidemias e de transmissão endêmica em diferentes centros urbanos.

Sendo a primeira epidemia registrada em Boa Vista (RR), no ano de 1982 e logo após em 1986 a doença começou a se espalhar, culminando em epidemias por várias regiões do país, chegando até Minas Gerais, em 1987, na região da Zona da Mata próxima à capital mineira (CATÃO, 2011).

Nesse cenário, não demorou para a epidemia chegar ao Triângulo Mineiro, sendo as ocorrências pioneiras registradas nos municípios de Fronteira, Frutal, Nova Ponte, Prata e a partir de 1992 a dengue se expandiu para os grandes centros da região (LEITE, 2023).

Logo após, a primeira epidemia de dengue foi registrada oficialmente em Uberlândia, a situação foi agravada pelo município estar localizado em uma região estratégica, no centro do Brasil, e ser cortada por uma intensa malha rodoviária (BR 050, BR 365, BR 452, BR 497), pela Ferrovia Centro Atlântica e por possuir um dos primeiros aeroportos de sua região. Ademais, existia um contexto urbano crítico, onde o saneamento era precário e inadequado em muitas áreas da cidade (FERREIRA, 2017).

E nos anos que seguiram a situação se manteve com oscilações, inclusive, em 2019 foram registrados mais de 30 mil casos. E no ano de 2022 de janeiro a setembro, foram registrados 4.329 casos confirmados de dengue. Esse fato colocou a cidade no ranking de altos índices do Triângulo Mineiro de acordo com o boletim epidemiológico do município (UBERLÂNDIA, 2022a).

Visto que a dengue é uma doença endêmica e por saber o impacto que esse vírus causa na qualidade de vida da população, gerando perdas econômicas e sociais, é de suma importância que haja iniciativas para reduzir a sua incidência, seja por meio do controle do vetor, seja com a melhora da assistência aos pacientes e aos planos de controle epidemiológicos. Por isso, o objetivo do presente estudo conhecer o perfil epidemiológico das notificações de dengue e as ações realizadas para controle do Aedes aegypti no município de Uberlândia.

2. MÉTODOS

Essa pesquisa se refere a um estudo de abordagem quanti-qualitativa, de natureza básica, descritivo quanto aos objetivos, bibliográfico e documental quanto aos procedimentos (GIL, 2017). O local de pesquisa foi o município de Uberlândia, que está localizado na região do Triângulo Mineiro, ao sudoeste do Estado de Minas Gerais. Ocupa uma área total de 4.115,206 km2, sendo que 172,85 km2 são ocupados pela zona urbana e 4.097,921 km2 pela zona rural. O clima é tropical semiúmido com verão chuvoso, inverno seco, sendo que a precipitação média anual é de 1500mm, com forte concentração de chuvas nos meses de dezembro a fevereiro (IBGE, 2022; LEITE, 2023).

A pesquisa aconteceu realizando uma análise dos dados epidemiológicos e das ações de combate à dengue, realizadas no município, no período de 2018 a 2022 e relatadas nos boletins de vigilância à saúde. As etapas para seleção consistiram nos dados epidemiológicos, disponibilizados no Sistema de informação de agravos de notificação (SINAN) e fornecidos pela Vigilância Epidemiológica do município de Uberlândia. A pesquisa contou também com a leitura de todos os boletins epidemiológicos da prefeitura municipal de Uberlândia, sendo selecionados os que continham ações para o combate ao Aedes aegypti.

A análise dos dados ocorreu por meio da metodologia de Salvador (1986) e abarcou as leituras de Reconhecimento – a qual abrange uma leitura rápida, buscando selecionar o material que pode conter informações para a pesquisa; Leitura Exploratória – consiste em uma leitura que objetiva verificar se o material selecionado é realmente interessante para a pesquisa; Leitura Seletiva – busca relacionar o material aos objetivos da pesquisa; Leitura Reflexiva ou crítica – consiste em uma leitura analítica do material buscando ordenar e sumarizar as informações; Leitura Interpretativa – é a leitura que busca relacionar as ideias expressas na obra com o problema de pesquisa. Essa metodologia de análise permitiu a seleção e definição das categorias abordadas

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados epidemiológicos mostraram entre 2018 e 2022 ocorreram 57917 notificações de dengue. Sendo o ano de 2019 o que mais apresentou casos de dengue. O Gráfico 1 apresenta a relação das notificações de dengue em Uberlândia no período estudado.

Gráfico1. Notificações de dengue em Uberlândia no período de 2019 a 2022.

Fonte. Dados do SINAN, 2023. ORG: SILVA,W.M.M (2023).

Em relação aos dados sociodemográficos a Tabela 1 apresenta as principais características da população notificada com dengue entre 2018 e 2022.

Tabela 1. Dados sociodemográficos das notificações de dengue no município de Uberlândia-MG (2018-2022).

VariávelFrequência absoluta (N= 57917)Frequência relativa (%)
Sexo

Feminino3214355,5
Masculino2577444,5
Faixa etária

0 – 5 anos28284,9
6 – 15 anos588510,2
16 – 30 anos1841831,8
31 – 60 anos2537543,8
61 -80 anos48398,3
Acima de 80 anos5721
Raça

Branca2076435,9
Preta24184,2
Amarela5891,0
Parda2631445,4
Indígena650,1
Ignorada776713,4
Escolaridade

Analfabeto530,1
Ensino fundamental incompleto25664,4
Ensino fundamental completo20823,6
Ensino médio incompleto15102,6
Médio completo822514,2
Superior incompleto7521,3
Superior completo19473,4
Ignorado e não se aplica4078270,4

Fonte. Dados do SINAN, 2023. ORG: SILVA,W.M.M (2023).

Das notificações houveram 1829 internações. Sendo 152 em 2018; 503 em 2019, 133 em 2020, 98 em 2021 e 784 em 2022. O ano de 2022 apresentou menos notificações que 2019, porém mais internações. O maior número de internações está relacionado à maior gravidade da doença, que em 2022 vitimou fatalmente 1016 pessoas, sendo considerado o ano mais mortal da doença (PAGNO; PUTINI, 2023).

No período de 2018 a 2022 tiveram 662 gestantes notificadas com dengue, sendo 101 com período gestacional ignorado, 171 no primeiro trimestre, 222 no segundo trimestre, 167 no terceiro trimestre. A Dengue, Zika e Chikungunya são doenças preocupantes durante a gestação, pois podem evoluir de maneira grave, com hemorragias na gestante e também serem transmitidas ao feto de forma vertical, podendo ocasionar mal formação e óbito (VIANA; BARRETO, 2023).

Em virtude dos dados alarmantes das arboviroses provocadas pelo A. aegypti e buscando responder aos objetivos dessa pesquisa, apresenta-se as principais ações relatadas nos boletins e site da Prefeitura Municipal de Uberlândia. Foram publicados no período de 2018 a 2022 trinta e sete boletins sendo selecionados para compor o corpus da pesquisa 7. O Quadro 1 representa a seleção do material de acordo com o ano.

Quadro 1. Boletins de vigilância em saúde e as ações realizadas no município de Uberlândia (2018-2022).

TítuloAnoAções
Situação epidemiológica da Dengue, Chikungunya e Zika2018Oficinas com os profissionais da saúde
Arboviroses2018Elaboração do plano de contingência, realização de vistorias, tratamento biológico e mobilizações sociais.
Situação epidemiológica da Dengue, Chikungunya e Zika2018Capacitações com os profissionais das Unidades de Atendimento Integral
Consolidado 2ª pesquisa do LIRAa Levantamento de infestação do Aedes aegypti2018Ações estratégicas em pontos específicos
Boletim de vigilância em saúde: Consolidado 3ª pesquisa do LIRAa 2018 – A2018Ações estratégicas em pontos específicos
Arboviroses2019Ações para atuação consciente e permanente da população.
Arboviroses2022Ações de prevenção e controle da dengue, assistência aos pacientes, combate ao vetor, mutirões de limpeza e comunicação/ mobilização social.

Fonte. SILVA, W.M.M (2023).

O ano de 2018 se sobressaiu com 5 (62,5%) das publicações sobre ações para o combate de Aedes aegypti no município de Uberlândia. Os anos de 2020 e 2021 não apresentaram nenhum boletim que retratasse as arboviroses, provavelmente em virtude da pandemia provocada pelo SARS-CoV 2, em que as ações de vigilância estavam voltadas para a Covid-19 (BRASIL, 2020).

A maioria dos boletins abarcou ações de vigilância em saúde, tanto com a população como com os profissionais da saúde. Esse tipo de atividade é importante, pois promove a conscientização com consequente mudanças de atitudes (FREIRE, 1979).

Colaborando com esses dados, dentre as iniciativas com o objetivo de eliminar o vetor, Goulart et al. (2016) citaram em seu estudo que a educação em saúde da população através de ações educativas realizadas pelo Ministério da Saúde com veiculação através da mídia, como rádios comunitárias e produção de material gráfico com linguagem de fácil entendimento, passou a estimular a participação consciente e voluntária da população a respeito das medidas domiciliares de combate ao mosquito, como o descarte ou reutilização adequada de vasilhames pequenos, pneus, latões e o fechamento adequado de caixas d’água.

Os boletins abarcam as ações de maneira superficial e ainda falha pois, foram desenvolvidas mais ações que não são apresentadas nos mesmos. Em virtude disso foi pesquisado no site da Prefeitura municipal de Uberlândia reportagens que continham informações sobre Dengue, Zika, Chikungunya e o Aedes aegypti.

A Prefeitura Municipal de Uberlândia, com apoio de organizações privadas e da população, está sempre em busca de desenvolver projetos que buscam erradicar o vetor. Desde 2018 acontecem constantemente palestras educacionais, rodas de conversa, e apresentações interativas junto às escolas, Centro de referência da Assistência Social (CRAS) e locais em que se reúne a população (UBERLÂNDIA, 2023b).

O processo de capacitação e trabalho em redes é fundamental para o sucesso no combate ao Aedes aegypti. Em 2015 foi realizado, em Uberlândia, uma ação que envolveu a Universidade Federal de Uberlândia, profissionais das Unidades básicas de saúde da família, agentes de endemias e agentes escolares, além de instituições e organizações não governamentais. No projeto houve capacitação dos profissionais de saúde e educação que posteriormente foram disseminadores da informação e atuaram em conjunto com a comunidade buscando combater o mosquito. Uma das ações foi premiada pelo Ministério da educação, mostrando a importância da atuação em redes para a promoção de saúde e prevenção de doenças e agravos (LIMA; SANTOS, 2018).

O sistema de controle ambiental é uma área fundamental do trabalho dos profissionais de saúde. Em geral, esse sistema avalia a relação entre teoria e prática, atua na formação profissional para implementar medidas de controle, diminuir seu impacto na saúde da população, reduzir o risco ou propagação de epidemia para novas áreas geográficas e informar a comunidade sobre as condições de saúde (CRUZ; SOCA, 2021).

Em uma forma de inovar e fazer do avanço tecnológico um aliado na luta contra a dengue, foi disponibilizado para a população uberlandense um aplicativo (APP) disponível para androids®, denominado “UDI SEM DENGUE” este, permite uma interação direta com a equipe do Programa de Controle da Dengue, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), no qual a população pode enviar fotos, vídeos e mensagens de texto ou voz alertando as equipes sobre possíveis criadouros do mosquito (UBERLÂNDIA, 2020a). A Figura 1 mostra o template do aplicativo.

Figura 2. Layout do aplicativo UDI sem dengue (2023)

Fonte. CREPALDI, 2020. ORG: SILVA,W.M.M (2023).

Devido à sua mobilidade e usabilidade atrativa, a tecnologia móvel possui grande potencial a ser explorado em diversas áreas, o que promove a flexibilidade e precisão deste recurso (VENÂNCIO et al., 2021).

Além disso, o Programa de Controle de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde, fez a instalação de ovitrampas que é uma armadilha constituída por um vaso de planta preto, cheio de água, posicionado em um local estratégico e dentro do recipiente, há uma palheta de madeira que facilita que a fêmea bote os ovos. Essas armadilhas espalhadas pela cidade possibilitam acompanhar em tempo real o comportamento dos mosquitos tornando mais efetivo o seu controle e através da coleta do material, realizada semanalmente para a contagem dos ovos, possibilita a definição da população do mosquito num raio de nove quarteirões. Onde está a maior infestação é direcionada de forma mais precisa as ações (UBERLÂNDIA, 2020b). A Figura 2 mostra uma agente de endemias instalando o ovitrampra.

Figura 3. Agente de endemias instalando ovitrampas (2023)

Fonte. UBERLÂNDIA, 2020b. ORG: SILVA,W.M.M (2023).

Em estudo com ovitrampas, realizado em Brasília, notou-se que a coleta de amostras de ovos por ovitrampas confirma a potencialidade dessas armadilhas como tecnologia de monitoramento das populações vetorial e viral, proporcionando a detecção precoce da circulação do vírus antes de abranger proporções epidêmicas, o que pode contribuir como medida eficaz de controle do vetor (SOUSA, 2021).

Aliado ao trabalho realizado junto a população existe o uso do termonebulizador, que trata-se de um aparelho acoplado a um veículo pulverizando nas ruas óleo mineral e adulticida, que é o veneno específico para matar o Aedes aegypti na fase adulta. Segundo a instituição, o produto além de levar as gotículas do veneno, faz o mosquito se movimentar, indo ao encontro da pulverização. Fato que foi significativo na redução de 79% das notificações entre maio e julho de 2022 (UBERLÂNDIA, 2022c).

Figura 4. Termonebulizador (2023)

Fonte. BORGES, 2023. ORG: SILVA,W.M.M (2023).

O uso de óleos tem sido relatado na literatura como forma de controle das populações de Aedes aegypti, além disso se mostra como uma alternativa ambientalmente correta, que diminui os casos das arboviroses (ABANTO ROJAS; ALVAREZ TORRES, 2022; CASTILLO-CARRILLO et al., 2022).

Assim, a forma de combate químico e físico já é rotina em vários municípios através da sua eliminação em forma imatura, aplicando larvicidas em recipientes de acumulam água e não podem ser eliminados, e aplicação do fumacê para combate aos mosquitos adultos pulverizando um inseticida específico para o mosquito Aedes aegypti, em dosagens seguras aos humanos (SANTOS; SANTOS; UEHARA, 2020).

Dentre as ações desenvolvidas ao longo dos últimos cinco anos faz parte da força-tarefa promovida pela Prefeitura de Uberlândia, que possui a intenção de ampliar as atividades de combate ao mosquito Aedes aegypti a ação de visitação, na qual o Núcleo da Coleta Seletiva do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) realiza, de tempos em tempos, ações de conscientização porta a porta nos bairros de Uberlândia, informando aos moradores sobre a importância de separar os materiais recicláveis para serem coletados pelos caminhões de coleta seletiva, presentes no Mutirão Cidade Limpa (UBERLÂNDIA, 2023a).

Durante o primeiro semestre de 2023, foram desenvolvidas cinco etapas do Mutirão Cidade Limpa, que abarcaram ações em diferentes regiões dos bairros São Jorge, Shopping Park, Morumbi, Jardim Ipanema e Mansour. O desenvolvimento dessa ação conseguiu eliminar mais de 130 mil criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e outras doenças (UBERLÂNDIA, 2023c).

Além da ação porta a porta e dos caminhões disponíveis para coleta seletiva, o DMAE também integrará o Mutirão Cidade Limpa da Prefeitura de Uberlândia com hidrojateamento para limpeza das vias e canaletas, bem como, com o desentupimento de esgoto. O trabalho é feito em parceria com as secretarias municipais de Serviços Urbanos, Saúde, Obras, Trânsito e Transportes (UBERLÂNDIA, 2023a).

Dito isso, foi possível verificar que o município de Uberlândia, através do Programa Municipal de Controle da Dengue tem diversas linhas de atuação para combater o mosquito Aedes aegypti como: a utilização do fumacê para a eliminação dos mosquitos; o bloqueio de casos suspeitos de Dengue, realizado com equipamento UBV leve costal; a instalação de ovitampas que simulam o ambiente de procriação do Aedes aegypti, atraindo o mosquito, para o posterior combate do transmissor; e a manutenção do Comitê de Combate ao Aedes, que realiza reuniões para discutir e planejar estratégias de combate ao mosquito.

4. CONCLUSÕES

O perfil epidemiológico da dengue no município de Uberlândia-MG mostrou maior prevalência de infecção em mulheres. No período de 2017 a 2022 o ano que apresentou mais infecções foi 2019 com o número de notificações maior que a soma dos outros anos. Embora o ano de 2019 tenha apresentado mais casos de dengue, observou-se que 2022 matou mais pessoas, tendo em vista a maior gravidade da doença o que corroborou para esses dados assim como para maiores internações.

É importante salientar que os anos de 2020 e 2021 apresentaram poucas notificações de dengue, o que pode ser em virtude da pandemia provocada pela Covid-19, em que as ações epidemiológicas estavam voltadas para a pandemia o que pode ter corroborado para subnotificações. Notou-se a dificuldade de se encontrar boletins no período sobre a Chikungunya e Zica estando muito fragmentados.

Acerca das ações desenvolvidas para o combate das arboviroses, em 2020 e 2021 não houve publicação de nenhum boletim com ações voltadas para as arboviroses, acredita-se que seja em função da pandemia. Os boletins de vigilância em saúde abordaram poucas ações no período de 2018 a 2022, demonstrando capacitações e envolvimento da população para o combate do Aedes aegypti.

A importância da participação comunitária levando em consideração a diversidade de cada território no combate ao Aedes Aegypti é necessária. Trabalhar o território como um todo, pode acarretar em uma mudança de hábitos e transformação do cidadão em sujeito transformador de sua comunidade

A implementação de novas tecnologias para o combate ao Aedes Aegypti é de extrema importância, ao verificar as reportagens percebeu-se que o município de Uberlândia tem desenvolvido regularmente atividades inovadoras que objetivam controlar o Aedes aegypti por meio do desenvolvimento de tecnologias que são capazes de apontar locais com foco proporcionando o desenvolvimento de atividades in locus.

REFERÊNCIAS

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1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (PPGAT), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Brasil.
E-mail: wesleyana.silva@ufu.br. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-3930-9407

2 Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (PPGAT), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Brasil.
E-mail: winston.bacelar@ufu.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8984-3490.