PRÁTICAS FISIOTERAPÊUTICAS APLICADAS AOS JOGADORES DE FUTEBOL PARA A PREVENÇÃO DE LESÕES DE TORNOZELO: REVISÃO DE LITERATURA

PRÁTICAS FISIOTERAPÊUTICAS APLICADAS AOS JOGADORES DE FUTEBOL PARA A PREVENÇÃO DE LESÕES DE TORNOZELO: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291027


Guilhermina de Melo Terra1
Sérgio Deniel Gomes de Souza1
Thaiana Bezerra Duarte2


Resumo

Introdução: O futebol, enquanto modalidade esportiva, foi originado na Inglaterra, no século XIX. Com os marinheiros e operários, o esporte foi, progressivamente, espalhando-se ao ponto de se tornar a modalidade esportiva mais praticada no mundo. Comparando-se a outras modalidades esportivas, o futebol apresenta uma elevada taxa de lesões, sobretudo, junto à região do tornozelo. Objetivo: Verificar na literatura científica quais as práticas fisioterapêuticas mais utilizadas na prevenção de lesão de tornozelo em jogadores de futebol. Materiais e método: Trata-se de uma revisão de literatura, a qual verificou quais as práticas fisioterapêuticas eram aplicadas aos jogadores de futebol, como prevenção de lesões de tornozelo, junto às publicações científicas divulgadas nas bases de dados PubMed, PEDro e Scielo, publicadas no período de 2014 a 2024, em língua portuguesa e inglesa, sob a forma de ensaio clínico randomizado, a partir das palavras-chave “Fisioterapia”, “lesão”, “tornozelo”, “futebol” e “prevenção” nos idiomas português e inglês. Resultados: Dos 27 artigos identificados, pelos critérios de exclusão, foram selecionados 02, verificando que a manipulação fascial e o treinamento excêntrico com um dispositivo isoinercial contribuem para a mobilidade, força e estabilidade do tornozelo dos jogadores de futebol e prevenção da lesão de tornozelo, diferentemente das bandagens que não contribuíram com a melhora e inibição do quadro álgico dos jogadores. Conclusão: Afirma-se que as práticas fisioterapêuticas são essenciais para o fortalecimento da musculatura da região do tornozelo dos jogadores de futebol e, assim, previsão de lesões reincidentes ou futuras.

Palavras-chave: Futebol. Práticas fisioterapêuticas. Lesão de tornozelo. Prevenção de lesões.

Abstract

Background: Soccer, as a sport, originated in England in the 19th century. With sailors and workers, the sport gradually spread to become the most practiced sport in the world. Compared to other sports, soccer has a high injury rate, especially in the ankle area. Pourpose: Analyze which physiotherapeutic practices are most used to prevent ankle injuries in soccer players. Methods: This is a literature review, which verified which physiotherapeutic practices were applied to soccer players, as prevention of ankle injuries, with scientific publications published in the PubMed, PEDro and Scielo databases, published in the period from 2014 to 2024, in Portuguese and English, in the form of a randomized clinical trial, using the keywords “Physiotherapy”, “injury”, “ankle”, “soccer” and “prevention” in Portuguese and English. Results: Of the 27 articles identified, 02 were selected using the exclusion criteria, verifying

that fascial manipulation and eccentric training with an isoinertial device contribute to the mobility, strength and stability of the ankle of soccer players and the prevention of ankle injuries, unlike bandages which did not contribute to the improvement or inhibition of pain. Conclusion: It is stated that physiotherapeutic practices are essential for strengthening the muscles of the ankle region of soccer players and thus predicting future or recurrent injuries. Keywords: Football. Physiotherapeutic practices. Ankle injuries. Injury prevention.

1  INTRODUÇÃO

Quando se fala na origem do futebol, erroneamente, uma parte da população acredita que foram os brasileiros os responsáveis pela sua criação. Outra parte da população cita a Inglaterra como a criadora dessa categoria esportiva. Todavia, o deslocamento da bola com os pés, como forma de distração, fazia parte das antigas civilizações, assim como o deslocamento da bola com as mãos, uma vez que cada jogo variava em suas regras (Souza, 2023a).

Os ingleses ganharam o título de criadores do futebol, devido a criação da Football Association, no ano de 1863, a qual com o objetivo de unificar as regras do futebol, tomou para si tal responsabilidade, tornando-se a primeira entidade a governar o futebol, passando a proibir o uso de mãos, quantitativo maior que onze jogadores por time, entre outras medidas que marcaram o nascimento do futebol como esporte estruturado e organizado (Souza, 2023b).

Durante o final do século XIX e início do século XX, o futebol começou a se globalizar, emergindo como o esporte dominante em diversos países ao redor do mundo, tonando-se o esporte mais popular do planeta (Giulianotti, 2012). Com o propósito de aliviar a rotina estressante, marinheiros e operários ingleses, durante suas raras folgas, organizavam-se em times para jogar algumas partidas de futebol onde, progressivamente, tal prática foi se estendendo até atingir as camadas mais humildes da sociedade. Em 1904, uma das fábricas no Rio de Janeiro criou The Bangu Athletic Club, conhecido como Bangu, cujo time, formado pelos trabalhadores começaram a jogar o futebol, enquanto modalidade esportiva e não mais lazer (Rezer, 2005).

Afirma-se isso, pois, como modalidade esportiva, o futebol ganhou não só força, mas também passou a ser utilizado como ferramenta social, perpassando a ideia de ser apenas um jogo de diversão (Crossley et al., 2020), resultando na ideia de competições estruturadas, cujo caráter festivo fora substituído pelo caráter competitivo (Souza, 2023b). Jogar futebol, no entanto, envolve um risco substancial de lesões, sendo as mais comuns lesões nos ligamentos do joelho/tornozelo e distensões musculares da coxa, ou seja, nos Membros Inferiores (MMII), devido a própria natureza da modalidade esportiva (Jacobsonl, 2007; Ekstrand et al., 2011).

Conforme o Sistema Nacional de Lesões Esportivas dos Estados, as lesões no futebol são caracterizadas como quaisquer incidentes que podem ocorrer durante os treinos ou competições (Mariano, 2021). Comparado a outras modalidades esportivas, pode-se afirmar que o futebol apresenta uma elevada taxa de lesões, sobretudo, junto aos MMII (Ramalho et al., 2018), impactando negativamente no desempenho dos jogadores, uma vez que essas lesões acabam sendo uma das principais causas de afastamento dos jogadores de suas atividades, gerando impactos diretamente ao rendimento de toda a equipe durante as competições (Waldén et al., 2015; Drummond et al., 2021).

Souza (2015) frisa que durante o movimento da corrida, do salto e movimentos de giro, acrescido de alguns fatores associados a tais movimentos, podem resultar em múltiplas lesões musculoesqueléticas, em decorrência de eventos traumáticos ou por sobrecarga, o que é definido pelo autor como microtraumas de repetição.

Seguindo esse pensamento, em nível biomecânico, afirma-se que as lesões nos MMII podem estar relacionadas a desequilíbrios musculares, amplitude de movimentos, execução de movimentos, posturas e outros, tornando-se fundamental o olhar focado à execução dos movimentos, no sentido de diagnosticar e corrigir erros, visando a prevenção de lesões esportivas (Fernandes et al., 2011; Brandolini et al., 2019).

Em nível de tornozelo, Santana (2021) destaca a entorse como sendo a lesão mais comum a ocorrer entre os jogadores de futebol, podendo ser classificada em leve (grau I), moderada (grau II) e severa (grau III), dependendo da intensidade do movimento brusco, voltados para mudança de direção, imediatamente no momento da aterrissagem, a fim de desviar dos adversários. Isso reforça o que Moré-Pacheco et al. (2019) afirmam sobre a entorse de tornozelo, pois, segundo os autores, este tipo de lesão é considerado o principal motivo de afastamento dos jogadores de campo.

Walls et al. (2016) frisam que a maior taxa de entorse ocorrida no mundo esportivo, dá- se no futebol, com a média de 61% de jogadores afetados. Ademais, entorses recorrentes de tornozelo são extremamente comuns em jogadores de futebol, assim como é comum uma alta prevalência de lesões no ligamento lateral externo de tornozelo (Allois et al., 2021; Lubberts et al., 2019). Em nível de estatística, afirma-se que, aproximadamente, 62% das lesões de tornozelos em jogadores de futebol são recorrentes, enquanto os 38% restantes são devido à instabilidade mecânica (Shiravi et al., 2017; Thompson et al., 2017).

Small et al. (2009) observaram que em determinada fase do jogo, devido à fadiga, a coordenação muscular, flexibilidade e força dos MMII são afetados e à medida que a partida de futebol avança, o centro de gravidade muda, diminuindo a estabilidade articular, refletindo em uma maior incidência de tornozelo (Greig et al., 2014), bem como assimetrias funcionais na força dos músculos flexores da articulação do tornozelo promovem o desenvolvimento de entorse até em jogadores profissionais, os quais estão preparados a se manterem em campo por um determinado período de tempo. Da mesma forma, a perda de flexibilidade muscular pode reduzir a mobilidade articular ativa do jogador, dando espaço para a respetiva lesão (Fousekis et al., 2012).

Nesse contexto, esse estudo apresentou o seguinte problema: Quais são as práticas fisioterapêuticas aplicadas aos jogadores de futebol, em prol da prevenção de lesão na região do tornozelo? Defende-se tal problemática, pois, há fortes evidências de que, após uma entorse inicial de tornozelo, os jogadores de futebol correm o dobro do risco de sofrer outra entorse, especialmente durante o primeiro ano pós-trauma (Fernandez et al., 2007), tornando-se necessário o jogador apresentar não só um bom condicionamento físico, mas também a execução dos movimentos em campo de forma correta, de modo a não gerar stress às estruturas, sobrecarregando e desgastando os membros inferiores, levando a dores e/ou lesões mais graves (Santos, et al., 2020).

Nessa perspectiva, cita-se a relevância desse estudo, pois, ao mesmo tempo em que o futebol traz inúmeros benefícios, por ser um esporte que acaba exigindo certo tipo de contato entre os jogadores, de acordo com a explosão muscular estabelecida pelo jogador, contra o adversário durante determinada jogada, para proteger ou recuperar a bola, pode resultar em choque entre os adversários, acarretando em riscos significativos de lesões, independentemente de ser jogado em nível profissional ou amador, podendo essas ocorrer tanto durante os treinos, quanto durante as competições (Kilic et al., 2018), necessitando, portanto, de práticas fisioterapêuticas capazes de reduzir os riscos de lesões de tornozelo.

Defende-se tal posicionamento, pois as lesões esportivas representam não só o afastamento dos treinos e competições, mas também a queda no rendimento ou, mesmo, aposentadoria precoce dos jogadores, defendendo a relevância da Fisioterapia na ação preventiva à saúde e ao sucesso dos mesmos Santos et al. (2020). Acredita-se, portanto, que as práticas fisioterapêuticas aplicadas aos jogadores de futebol poderão fortalecer as musculaturas das articulações do MMII, sobretudo do tornozelo, uma vez que os jogadores necessitam constantemente, realizar movimentos de corrida, salto, giro e mudança brusca de direção. Assim, o objetivo primário desse estudo foi: verificar na literatura científica quais as práticas fisioterapêuticas aplicadas aos jogadores de futebol, em prol da prevenção de lesão na região de tornozelo. Dentre os objetivos secundários, citam-se: refletir sobre como desenvolver formas de prevenção de lesão na região do tornozelo em jogadores de futebol e compreender como as formas de prevenção de lesões na região de tornozelo poderão melhorar o desempenho dos jogadores de futebol.

2  MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão de literatura, de caráter descritivo, com natureza qualitativa, a qual buscou verificar quais as práticas fisioterapêuticas estão sendo aplicadas, junto aos jogadores de futebol, no sentido de prevenir lesões de tornozelo, junto às publicações científicas divulgadas nas seguintes bases de dados: PubMed, PEDro e Scielo, utilizando-se como descritores, nas línguas portuguesa e inglesa: “Fisioterapia”, “lesão”, “tornozelo”, “futebol” e “prevenção”, os quais foram trabalhados de forma combinada, por meio do operador booleano AND. A pesquisa foi conduzida em outubro de 2024.

Dentre os critérios de inclusão, citam-se: artigos publicados no período de 2014 a 2024; artigos publicados nos idiomas português e inglês; artigos do tipo ensaio clínico randomizado e/ou estudo de caso e; artigos localizados, exclusivamente, nas bases de dados PubMed, PEDro e Scielo. Quanto aos critérios de exclusão, foram desconsiderados os artigos que apresentaram duplicidade e; artigos não disponíveis na íntegra.

Para organizar o estudo, após a identificação dos artigos que tratavam sobre práticas fisioterapêuticas como forma de prevenção de lesão de tornozelo, iniciou-se a leitura dos títulos e resumos onde, pelos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados os artigos a serem apresentados e analisados. Com o propósito de visualizar as etapas do processo, foram reunidos os dados acerca do processo de seleção dos artigos em um fluxograma e os dados coletados em um quadro.

3  RESULTADOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, encontrou-se o total de 27 artigos científicos, cujo foco se voltou para a prevenção de lesão nas regiões de joelho e tornozelos de jogadores praticantes de futebol, independente da categoria e nível profissional, sendo selecionados 02. Tais artigos foram coletados das bases PubMed, PEDro e Scielo, sendo que o processo de seleção se deu, conforme fluxograma a seguir.

Figura 1 – Processo de seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos autores

Dos 02 artigos selecionados, ambos apresentaram práticas fisioterapêuticas com o objetivo de prevenir futuras lesões na região do tornozelo dos jogadores de futebol, sendo relevante frisar que tais condutas não se voltaram, exclusivamente, para o processo preventivo, conforme demonstrado no quadro 1.

Quadro 1 – Práticas voltadas para a prevenção de lesão de tornozelo

Autor/AnoAllois et al. (2021)
Tipo de estudoEnsaio clínico randomizado cego simples.
  ObjetivoAvaliar a eficácia de um programa de terapia fascial e treinamento de força, combinado com kinesiotaping, na melhora da amplitude de movimento, dor, força e estabilidade do tornozelo em jogadores de futebol com entorses recorrentes.
    MetodologiaO estudo trabalhou com 36 jogares, divididos em 2 grupos: Grupo de controle (uso de técnicas miofasciais na articulação subastragalina e treinamento excêntrico com um dispositivo isoinercial) e Grupo experimental (uso de técnicas miofasciais aplicadas à articulação subastragalina, treinamento excêntrico com um dispositivo isoinercial e bandagem neuromuscular).
  ResultadosO estudo comprovou que a aplicabilidade de técnicas miofasciais e treinamento excêntrico tem melhorias nos quesitos mobilidade, força e estabilidade do tornozelo dos atletas, todavia não foi possível afirmar que o uso de bandagens contribuiu com a melhora ao desempenho do atleta e inibição do quadro álgico.

Fonte: Elaborado pelos autores

No quadro 2 estão descritos dados dos estudos inclusos nesta revisão que são um total de 65 jogadores de futebol, selecionados por seus técnicos e que apresentavam histórico de entorse de tornozelo para participarem de ensaios clínicos randomizados, com o objetivo de

verificar quais protocolos apresentariam resultados significativos, quanto à diminuição do tempo de recuperação e, portanto, retorno aos gramados, como visto a seguir.

Quadro 2 – Descrição do Total de Jogadores com as Intervenções Fisioterapêuticas Incluídas na Revisão

Total de atletasQueixa principalIntervenção fisioterapêutica
Um total de 65 jogadores do sexo masculinoInstabilidade crônica de tornozelo ou falta de funcionalidadeCom o objetivo de melhorar o quadro de instabilidade crônica da região tornozelo-pé dos jogadores de futebol que apresentavam histórico de entorse traumática de tornozelo nos últimos 5 anos, Brandolini et al. (2017) aplicaram na região acometida dos atletas a manipulação fascial, por acreditam que tal protocolo garantiria o retorno dos jogadores mais rápido aos gramados, bem como serviria como medida preventiva, quanto ao equilíbrio, à amplitude de movimento e à diminuição de risco de novas lesões. Com esse mesmo intuito, Allois et al. (2021) visaram aplicar um programa de terapia fascial e treinamento de força, combinado com kinesiotaping aos jogadores de futebol que apresentavam histórico de entorses recorrentes, de modo a melhorar a amplitude de movimento, dor, força e estabilidade do tornozelo dos respectivos jogadores.

Fonte: Elaborado pelos autores

4  DISCUSSÃO

Essa revisão apresenta resultados referentes a 65 jogadores de futebol, com idade entre 18 e 35 anos, os quais foram acometidos por entorses na região tornozelo-pé, passando a apresentar instabilidade crônica de tornozelo ou falta de funcionalidade, devido a problemas com Amplitude de Movimento (ADM), força ou quadro álgico, necessitando, dessa forma, auxílio para o retorno aos gramados.

Para isso, foram aplicadas práticas fisioterapêuticas, com o objetivo de diminuir o tempo de reabilitação, ao mesmo tempo em que restabelecesse a estabilidade do tornozelo, pois a instabilidade crônica do tornozelo é uma das condições mais comuns que se desenvolvem após uma entorse inicial do tornozelo, retardando o retorno do jogador ao campo, sobretudo, quando passa a envolver tanto fatores biomecânicos, quanto psicológicos.

Nessa perspectiva, com base em Brandolini et al. (2017), para o recrutamento dos jogadores, os atletas foram entrevistados individualmente, após a aprovação do treinador de cada time. Todos os participantes seguiram um programa de treinamento por 4 semanas, onde a manipulação fascial passou a ser a base para o protocolo, onde foi possível demonstrar sua eficácia na redução da rigidez e no aumento da ADM do tornozelo dos participantes do estudo. No estudo 2, trazido por Allois et al. (2021), também inclui a terapia fascial no protocolo a ser aplicado nos atletas que apresentaram quadro recorrente de entorse de tornozelo. Todavia, acrescentaram a combinação de treinamento de força, com ou sem a aplicação de bandagem nos pés acometidos dos atletas, com o objetivo de verificar qual protocolo traria melhora na ADM, na inibição do quadro álgico, no aumento da força e estabilidade dos tornozelos dos jogadores.

Para isso, o primeiro protocolo associava as técnicas miofasciais na articulação subastragalina ao treinamento excêntrico com um dispositivo isoinercial, enquanto o segundo protocolo repetia o tratamento, acrescentando a aplicação de bandagem neuromuscular junto aos tornozelos dos atletas. Os protocolos foram aplicados durante 4 semanas, onde os jogadores receberam 2 sessões semanais de 50 minutos.

Dos protocolos apresentados, o uso de técnicas miofasciais foi o que se manteve presente em todos eles, sendo válido frisar que de forma isolada ou associada, a manipulação fascial apresentou resultados estatisticamente favoráveis, no que tange à diminuição do tempo de reabilitação dos jogadores acometidos por entorse de tornozelo, apresentando-se como uma estratégia eficaz de tratamento.

Levando-se em consideração os dados coletados e analisados em Allois et al. (2021), observou-se que a combinação de técnicas fasciais ao treinamento excêntrico isoinercial também trazem benefícios ao tratamento de entorse de tornozelos, resultado não atingido com a aplicação de bandagens na região do tornozelo durante os exercícios.

Afirma-se isso, pois, por mais que o uso da kinesiotapping, junto aos tornozelos dos jogadores, sobretudo, aos que apresentam instabilidade recorrente nessa região, auxiliar na tentativa de estabilização local, mas, não contribui com o fortalecimento da musculatura local, permanecendo instável. Por isso, a bandagem não impedirá o movimento brusco de supinação, ou seja, inversão do pé durante a execução do movimento, por parte do atleta, resultando em entorse do tornozelo (Guerra-Pinto et al., 2022; Esposito et al., 2021).

Corroborando ao exposto, Lin et al. (2021) afirmam que a instabilidade de tornozelo impacta, diretamente, no desempenho dos jogadores, haja vista que altera a propriocepção, o equilíbrio e o padrão de movimento, além de causar fraqueza muscular e alterações no reflexo

bilateral, bem como acaba contribuindo para a redução da ADM, limitando a osteocinemática, podendo levar, também, a lesões adicionais. Assim, por mais que a kinesiotapping apresenta a ideia de estabilização total do tornozelo, observa-se que essa estratégia foi a que menos apresentou resultados satisfatórios, quanto à prevenção de lesões na região do tornozelo dos jogadores.

Diante o exposto, verifica-se que os protocolos aplicados para o tratamento de entorse de tornozelos dos jogadores de futebol atingiram resultados positivos e satisfatórios, demonstrando o quanto a Fisioterapia pode proporcionar resultados relevantes para a melhoria do desempenho dos atletas que apresentam reincidências ou venham apresentar lesões futuras de tornozelos.

Todavia, nota-se a necessidade da realização de mais estudos dessa natureza, no sentido de ser obtido resultados cada vez mais qualitativos, tomando por base a participação de um número maior de participantes, de modo a demonstrar quais são as práticas fisioterapêuticas aplicadas aos jogadores de futebol para a prevenção de lesões de tornozelo.

5  CONCLUSÃO

Para o ambiente esportivo, a hipótese de serem lesionados leva os atletas a um índice de preocupação elevado, pois entorse de tornozelo, para os jogadores de futebol, representa afastamento dos gramados por um tempo significativo. Ademais, entorse tratada de forma inadequada significa possíveis reincidências e, portanto, novos afastamentos e prejuízos ao time como um todo.

Nessa perspectiva, a Fisioterapia deve ser introduzida ao contexto esportivo, pois demonstrou que, se aplicada aos jogadores de futebol, em prol da prevenção de lesão na região do tornozelo, atinge resultados significativos, junto à diminuição do quadro álgico, aumento da força e ADM, promovendo melhorias no desempenho dos referidos atletas.

Para isso, em relação à ausência de algia na região do tornozelo, melhora na ADM e prevenção de lesão, um dos protocolos apresentados fez uso da manipulação fascial durante seis meses e acompanhamento de um ano, apresentando melhoras estatisticamente significativas, comprovando que essa técnica é eficaz para o tratamento de entorse de tornozelo, bem como também obteve resultados positivos no quesito aumento da ADM dos jogadores, sintomatologia e prevenção de lesões na região tornozelo-pé, região tão exigida para o cumprimento de suas profissões. Seguindo o mesmo objetivo, o segundo protocolo apresentado, acrescentou às técnicas miofasciais, treinamento excêntrico e kinesiotapping, sendo que apenas as bandagens não apresentaram melhoras no quadro de entorse dos jogadores.

Posto isso, afirma-se que foi possível não só verificar na literatura científica quais as práticas fisioterapêuticas aplicadas aos jogadores de futebol, em prol da prevenção de lesão na região de tornozelo, mas também refletir sobre como desenvolver formas de prevenção de lesão na região do tornozelo em jogadores de futebol, bem como compreender como as formas de prevenção de lesões na região de tornozelo foram aplicadas para melhorar o desempenho dos referidos jogadores.

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